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Paul Mullin Wrexham GFXGOAL

De herói de Hollywood a dispensável: como o conto de fadas de Paul Mullin no Wrexham chegou ao fim

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A história de conto de fadas do Wrexham ainda tem muitos capítulos por vir, mas terá que seguir sem um de seus principais protagonistas até aqui. O lendário atacante Paul Mullin foi emprestado ao Wigan e, embora a saída seja oficialmente temporária, ela praticamente marca o fim de sua trajetória no Racecourse Ground.

Aos 30 anos e vindo de sua pior temporada em número de gols desde a pandemia, Mullin foi, na prática, relegado à história dos Red Dragons. Ele pertence a uma categoria rara de jogadores: tornou-se uma sensação mundial e astro em Hollywood mesmo sem jamais ter jogado acima da terceira divisão do futebol inglês. Todas as partes envolvidas — dos coproprietários Ryan Reynolds e Rob McElhenney ao próprio Mullin — concordam, ao menos, que é lamentável ter chegado a esse ponto.

Por que, então, Mullin está deixando o Wrexham? Por que esse conto de fadas terminou com um tom melancólico? Abaixo, a GOAL destrincha estes acontecimentos no norte do País de Gales...

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  • FBL-ENG-NATIONAL LEAGUE-WREXHAM-BOREHAM WOODAFP

    'Quem é esse cara?'

    Desembolsar o dinheiro para contratar Mullin foi, sem dúvida, um dos marcos mais importantes na trajetória recente do Wrexham. Após levar o Cambridge United ao acesso para a terceira divisão inglesa (chamada de League One), com 32 gols em 46 partidas na temporada 2020/21, ele recebeu uma nova proposta de contrato para permanecer no Abbey Stadium. No entanto, os Red Dragons, sob a então recente gestão de Reynolds e McElhenney, queriam demonstrar sua ambição ao tentar deixar a quinta divisão inglesa, conhecida como National League, e alçar voos maiores.

    Comentando a saída de Mullin nesta semana, McElhenney revelou uma troca de mensagens com o diretor executivo Humphrey Ker, perguntando sobre os rumores que ligavam o clube ao atacante em 2021. “Quem é esse cara?”, escreveu o ator. “E temos condições de contratar jogadores desse nível?”

    Três semanas depois, Mullin já era jogador do Wrexham — e ele reconheceu que McElhenney teve papel decisivo ao apresentar o projeto e fazê-lo se sentir à vontade para descer uma divisão: “Rob McElhenney me ligou algumas noites atrás — na época, eu ainda estava em dúvida sobre a mudança. Mas, quando ele explicou os planos para o clube e o que estava projetado para mim no futuro, tornou-se algo do qual eu realmente queria fazer parte. Fiquei tão empolgado que senti que precisava vir. Ele realmente me convenceu. O que eles estão planejando para o clube é incrível, e quero estar nisso.”

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  • Wrexham v Notts County - Vanarama National LeagueGetty Images Sport

    Herói instantâneo

    A revolução do Wrexham realmente teve início em 2021/22, quando Mullin marcou logo em sua estreia, em um empate por 2 a 2 contra o Solihull Moors. Esse foi o primeiro de uma sequência de sete gols em suas dez primeiras partidas, quebrando o recorde do clube desde o retorno à quinta divisão em 2008 quanto ao maior número de gols em um período tão curto.

    Tudo relacionado a Mullin — para o bem ou para o mal — dava a sensação de que ele era o protagonista dessa história. Quando Reynolds e McElhenney finalmente puderam assistir ao seu primeiro jogo do Wrexham, uma derrota por 3 a 2 diante do Maidenhead, foi Mullin quem marcou, escapando de um cartão vermelho após um raro caso de identidade trocada. Quando o time perdia por 5 a 2 para o Dover alguns meses depois, foi ele quem marcou o gol decisivo em uma virada histórica por 6 a 5. E quando o adversário nas semifinais do FA Trophy era o Stockport County, foi Mullin quem anotou dois belos gols por cobertura nos acréscimos para garantir os Red Dragons na final.

    Mullin terminou sua primeira temporada no Wrexham como artilheiro da National League e eleito o melhor jogador da campanha, embora o time tenha ficado pelo caminho como vice tanto nos playoffs de acesso quanto no FA Trophy. Mas eles voltariam com sede de revanche.

  • Sheffield United v Wrexham: Emirates FA Cup Fourth Round ReplayGetty Images Sport

    Fama mundial

    O Wrexham foi levado ao limite na temporada seguinte por um Notts County extremamente determinado, em uma disputa intensa pela única vaga de acesso automático à quarta divisão, chamada de League Two — o que tornou a segunda temporada do documentário "Bem-vindos ao Wrexham", da FX, ainda mais envolvente. Com impressionantes 47 gols em todas as competições, os feitos de Mullin, somados à crescente fama global do clube, o transformaram, sem dúvida, no maior astro do futebol fora das ligas profissionais.

    Embora houvesse um toque de Hollywood no norte do País de Gales, esse brilho começava a se infiltrar no futebol inglês como um todo e a provocar mudanças no esporte. Quando o Wrexham empatou em 3 a 3 com o Sheffield United, na quarta fase da Copa da Inglaterra, a partida se tornou uma das mais assistidas nos Estados Unidos, transmitida pela ESPN. Mullin, é claro, deixou sua marca no jogo e, mais tarde, receberia a Chuteira de Ouro da competição por seus nove gols, premiado durante a final entre Manchester City e Manchester United.

    Apesar da campanha no torneio ter terminado com a eliminação no replay diante do Sheffield United, o Wrexham garantiu o título da National League com um recorde histórico de 111 pontos.

  • FBL-FRIENDLY-MANCHESTERU-WREXHAMAFP

    Temendo a morte

    O apelo do Wrexham foi tão grande que conseguiu atrair gigantes da Premier League como Chelsea e Manchester United para disputarem amistosos durante suas respectivas turnês pelos Estados Unidos, em 2023. E foi justamente contra os Red Devils que Mullin enfrentou sua primeira grande adversidade no clube, ao sofrer fraturas nas costelas e um pulmão perfurado após colidir com o goleiro Nathan Bishop. A lesão foi tão séria que ele precisou permanecer nos EUA enquanto o restante da equipe voltava para casa, a fim de ter tempo suficiente para se recuperar.

    “Eu tentava respirar, mas nada acontecia”, relatou Mullin após o incidente. “Não conseguia fazer o ar entrar nos pulmões. Foi aí que percebi a gravidade. Naquela luta por ar, com os lábios ficando azuis, pensei que aquilo poderia ser o fim. Era assim que me sentia. Passei alguns minutos sem conseguir respirar direito. Pensava no meu filho pequeno, Albi. Odeio ficar longe dele e da minha parceira, Mollie, por muito tempo, mas me disse que seriam só duas semanas e logo estaria de volta. Acabou durando bem mais, mas sou muito grato por não ter sido pior.”

    O carinho incondicional de Reynolds e McElhenney por Mullin os levou a fazer de tudo para apoiá-lo nesse momento difícil. Ele revelou: “Ryan se ofereceu para trazer toda a minha família de avião, e o Rob disse que eu podia ficar na casa dele em Los Angeles. Tenho certeza de que ele tem espaço, mas preferi não atrapalhar. Então eles providenciaram um apartamento para nós. O Rob me visitou lá antes de ir para o País de Gales para o jogo de estreia da temporada contra o MK Dons. Eu adoraria ter pegado aquele voo com ele, mas precisei ficar e descansar. Não conseguia andar por muito tempo, e toda vez que me movimentava, doía.”

    Mullin ficou de fora do restante da pré-temporada e só retornou aos gramados em setembro, saindo do banco. Mas demorou a reencontrar o ritmo: marcou em apenas quatro partidas da quarta divisão até o fim do ano. O Wrexham entrou em 2024 fora do grupo dos três primeiros — que garantiriam o acesso automático pela segunda temporada seguida — e Mullin ainda não havia reencontrado sua melhor forma. Uma sequência negativa o deixou sete jogos sem marcar, entre janeiro e o fim de fevereiro, mas, quando mais importava, ele apareceu.

    Com 14 gols nos últimos 13 jogos da temporada, o Wrexham disparou rumo ao segundo lugar e conquistou o acesso à League One — e Mullin, mais uma vez, foi o herói. Ele estava prestes a merecer, com justiça, o título de super-herói.

  • Welshpool & Wolverine

    Ryan Reynolds é uma das celebridades mais reconhecidas do planeta — um astro de Hollywood cujo sucesso comercial muitas vezes supera qualquer crítica negativa que seus filmes possam receber. Isso ficou evidente mais uma vez com o lançamento em 2024 do filme Deadpool & Wolverine. Apesar de não ter sido unanimidade entre os críticos, a obra arrecadou mais de 1,3 bilhão de dólares nas bilheterias, provando que o carisma de Reynolds continua a atrair multidões.

    Os espectadores mais atentos notaram um detalhe curioso no terceiro ato do longa: uma variante do Deadpool aparece usando uma bandeira do País de Gales no peito. À primeira vista, parecia apenas uma discreta homenagem ao envolvimento de Reynolds com o Wrexham. No entanto, ele depois revelou que quem estava por trás daquela icônica máscara vermelha era ninguém menos que Paul Mullin.

    “Ryan me perguntou com bastante antecedência, antes de começarmos a filmar, se eu queria participar do filme. Ele chegou a se desculpar por me fazer esse convite”, revelou Mullin no início deste ano. “Tenho certeza de que ele não precisava se desculpar. Era algo que eu ficaria imensamente feliz em fazer, e sou eternamente grato por isso.”

    “Foi surreal ver o local de filmagem e tudo mais, mas, ao mesmo tempo, eu não tive muito tempo para absorver aquilo. As filmagens aconteceram durante a temporada, tudo num único dia, então não pude ficar por lá por muito tempo. Ryan e toda a equipe se certificaram de que tudo fosse rápido, que eu entrasse e saísse o quanto antes. Acho que recebi tratamento de rei, como se fosse o próprio Ryan Reynolds. Tudo aconteceu muito rápido, em poucas horas. Foi algo de que realmente gostei. Achei fácil, e ao mesmo tempo revigorante. Foi diferente. Eu adorei.”

    Jogadores que atuam fora das principais ligas raramente têm a oportunidade de seguir no futebol em tempo integral ao longo da carreira. Mas Mullin não apenas construiu uma vida marcando gols — ele também conquistou um lugar nas telonas.

  • Harrogate Town v Wrexham AFC - Emirates FA Cup First RoundGetty Images Sport

    Início do fim

    A segunda metade de 2024 representou o auge de Paul Mullin como ícone do Wrexham. Mais uma vez, ele começou uma nova temporada em recuperação — desta vez após passar por uma cirurgia para tratar um problema crônico na coluna. “É algo com que venho lidando há algum tempo”, admitiu após o procedimento. “Como eu conseguia jogar com a lesão, não tinha certeza se deveria operar, mas a dor estava piorando. Chegou ao ponto em que eu nem conseguia calçar as meias no dia seguinte a um jogo. Não gosto de tomar analgésicos, mas precisei usá-los. Foi aí que decidimos que a cirurgia era necessária — e acabou sendo a escolha certa.”

    Após marcar apenas uma vez nos primeiros nove jogos da temporada 2024/25, Mullin reconheceu que ainda precisava se recuperar do tempo parado: “Nunca tinha feito uma cirurgia antes, mas me disseram que não seria fácil. E, sendo quem sou, ingenuamente pensei: ‘vou me recuperar mais rápido do que esperam’. Voltei a treinar rapidamente, mas você nunca se sente 100% por um bom tempo.”

    Depois de encerrar o jejum, Mullin disputou mais 17 partidas da League One, mas balançou as redes apenas mais uma vez. Esse gol — o de empate em uma virada por 2 a 1 sobre o Blackpool no Boxing Day — acabou se tornando o último com a camisa do Wrexham. A partir de 1º de fevereiro até o fim da temporada, ele entrou em campo apenas uma vez: uma participação de 23 minutos, saindo do banco, na derrota para o Peterborough pelo EFL Trophy.

  • Charlton Athletic FC v Wrexham AFC - Sky Bet League OneGetty Images Sport

    Fora do time

    Mullin havia sido, na prática, afastado — e não voltou a ser relacionado para uma partida da League One desde a derrota para o Stevenage, em 28 de janeiro. A combinação de uma recuperação lenta após a cirurgia e a dificuldade em acompanhar o ritmo intenso da terceira divisão acabaram tirando-o do radar do técnico Phil Parkinson. A chegada de reforços como Sam Smith e o experiente Jay Rodriguez, no meio da temporada, deixou o atacante de 30 anos à margem, como uma peça do passado.

    Humphrey Ker, sempre acessível ao comentar os assuntos do clube, afirmou que Mullin ainda tinha espaço no norte do País de Gales: “No fim das contas, esta temporada não saiu como esperávamos, nem como gostaríamos que fosse para o Paul. Mas acredito que ele ainda tem um futuro importante aqui no clube.” Logo em seguida, o próprio Parkinson reforçou que o atacante ainda fazia parte de seus planos para 2025/26: “Mulls e Ollie (Palmer) sempre serão lendas neste clube pelo que fizeram. Ambos têm contrato para a próxima temporada e voltarão para a pré-temporada prontos para recomeçar.”

    Ainda assim, os rumores não diminuíam. A cobertura da imprensa em torno do Wrexham raramente foi negativa durante a era Reynolds e McElhenney, em grande parte por conta do sucesso notável do clube — mas o futuro de Paul Mullin continuava sendo pauta constante, mesmo em meio a uma histórico terceiro acesso consecutivo.

  • Huddersfield Town AFC v Wrexham AFC - Sky Bet League OneGetty Images Sport

    Racha com Parkinson?

    É natural que um jogador fique insatisfeito com seu treinador ao passar de protagonista a excluído da lista de relacionados em menos de um ano. Embora Mullin tenha dito que os rumores sobre um desentendimento com Parkinson eram “pura invenção”, ele não escondeu a frustração com a situação.

    Durante a temporada mais recente de "Bem-vindos ao Wrexham", Mullin falou sobre o seu afastamento: “Sendo honesto, isso me afetou — sair de onde eu estava para, de repente, jogar apenas quatro partidas e me ver fora do time. Fiquei ressentido e carreguei esse sentimento por semanas, porque achei injusto.”

    “Acho que estou ainda mais irritado agora. É a frustração de treinar todos os dias, dar o meu máximo, e lembrar de tudo que fiz. Sinto que fui parte fundamental para chegarmos até aqui, e agora não estou tendo a chance de voltar e contribuir novamente. É difícil. Não sei o que fez com que ele (Parkinson) perdesse a confiança em mim, mas claramente ela diminuiu.”

    “Já deixei para trás o ressentimento e a raiva. Daqui para frente, a única coisa que posso controlar sou eu mesmo. Ultimamente, só estou tentando garantir que, ao chegar em casa, eu esteja satisfeito com o meu dia — sem tentar agradar ninguém além de mim.”

    De forma tocante, Mullin também confessou: “Disputar sequer uma partida na Championship (segunda divisão inglesa) com o Wrexham já valeria absolutamente tudo. Seria a cereja do bolo nesta história — e quem sabe onde isso nos levaria. Aproveitei cada minuto aqui e, se conseguíssemos chegar à Championship, seria algo fenomenal. Do ponto de vista pessoal, no entanto, não acho que terei qualquer papel nisso daqui em diante.”

  • Despedida emocionante

    Na última segunda-feira (23), a saída de Paul Mullin foi enfim confirmada, com destino ao Wigan por empréstimo. Nenhum outro jogador que deixou o Wrexham havia recebido uma despedida tão simbólica quanto a dele — quase como uma guarda de honra não oficial.

    Ryan Reynolds foi ao Instagram prestar homenagem ao atacante que se despedia, em uma mensagem aos seus 52 milhões de seguidores: “Não consigo imaginar ver Mulls emprestado e vestindo outra camisa. Não estaríamos onde estamos sem seu coração, talento e ética de trabalho. Amamos você, Paul Mullin.” Rob McElhenney, por sua vez, escreveu: “Em quatro anos, Paul Mullin fez história... dentro e fora de campo. Sou profunda, verdadeiramente, loucamente e profundamente grato por tudo o que Paul deu a este clube... Há muito a dizer, mas vou resumir... Só existe um Super Paul Mullin.”

    A mensagem de despedida do próprio Mullin foi bem mais contida: simplesmente publicou, “Tudo de bom a todos no Wrexham nesta temporada, continuem com o ótimo trabalho.” Ainda assim, ele parte como um herói único na história do clube.

  • Paul Mullin Ryan ReynoldsGetty

    'Próxima parte da minha história'

    É assim que a história de Mullin com o Wrexham praticamente chega ao fim. A menos que ocorra um novo milagre ao estilo de Hollywood, ele provavelmente nunca mais vestirá aquele icônico uniforme vermelho.

    “Foi triste sair do jeito que aconteceu, de certa forma — mas isso faz parte do futebol, você acaba deixando os clubes”, disse ele após concretizar sua transferência. “Foi a maneira como tudo se desenrolou que foi decepcionante. Mas dizem que quando uma porta se fecha, outra se abre, e estou pronto para um novo capítulo. Estou animado para estar aqui e para sair todo fim de semana para jogar pelo Wigan. Estou ansioso para essa próxima parte da minha história.”

    Para Mullin, a decisão foi uma questão de cabeça contra coração ao sair em busca de mais oportunidades no time titular. Ele afirmou na quarta-feira: “É, obviamente, uma situação estranha. O ano passado foi difícil para mim. Wrexham é um lugar que eu amo, eles mudaram minha vida e me proporcionaram muitos momentos felizes. A carreira é curta e, por mais que eu ame o Wrexham, eu quero jogar futebol. Não quero ficar em casa todo fim de semana. As pessoas dizem que ser jogador de futebol é um sonho, mas é muito difícil quando você treina todos os dias e, no final da semana, não consegue fazer o que treinou. Isso é realmente complicado.”

    No Wigan, Mullin terá a chance de jogar com muito mais regularidade e, com uma pré-temporada completa pela primeira vez em três anos, pode muito bem reencontrar sua melhor forma. Para o Wrexham, a Championship será o maior desafio da gestão de Ryan Reynolds e Rob McElhenney até agora. Talvez os caminhos se cruzem novamente, mas é improvável que seja em um momento mais feliz do que qualquer um dos últimos quatro anos.