Harry Kane segue capaz de produzir magia pela Inglaterra, mas Thomas Tuchel ainda deveria buscar alternativa para posição de camisa 9

Kane brilhou novamente em Wembley, decisivo na vitória sobre a Irlanda. Aos 50 minutos, seu passe preciso encontrou Jude Bellingham, que foi derrubado por Liam Scales dentro da área. O árbitro marcou o pênalti, e Kane, com a habitual confiança, converteu, chegando ao seu 69º gol pela Inglaterra.

A situação piorou para a Irlanda quando Scales foi expulso após receber o segundo amarelo. Com um jogador a mais, a Inglaterra aproveitou a vantagem e deslanchou, com Anthony Gordon, Conor Gallagher, Jarrod Bowen e Taylor Harwood-Bellis marcando seus primeiros gols pelos Três Leões.

A vitória colocou a Inglaterra de volta ao topo da Liga das Nações e encerrou bem a gestão interina de Lee Carsley. Kane foi chave, mostrando sua classe tanto como artilheiro quanto como armador, abrindo espaço para os jovens talentos brilharem no ataque.

Seria errado tomar a última atuação de Kane pela Inglaterra como prova de que ele é insubstituível, no entanto. O oposto é verdade, com base em sua exibição desanimadora no primeiro tempo.

Kane não conseguiu realizar uma única finalização, drible ou desarme, e tocou na bola apenas 11 vezes no total. Além de um empurrão em Jayson Molumby que rendeu a Kane um cartão merecido, o ex-atacante do Tottenhampassou completamente despercebido.

Ninguém duvidaria que Kane continua sendo um finalizador letal com um cérebro brilhante e um pé direito habilidoso, mas ele está mostrando sinais claros de declínio físico. Ele parece lento e ponderado com e sem a bola, não pressiona, e na maior parte do tempo, ele deixa a Inglaterra sem uma solução adequada na frente, recuando constantemente para o meio-campo.

A Euro 2024 foi provavelmente a última chance de Kane conquistar um título como principal jogador da Inglaterra, mas ele não conseguiu. Embora tenha marcado três gols na Alemanha e ganhado a Chuteira de Ouro, foi o ponto fraco do time de Southgate durante todo o torneio.

Foi um milagre que a Inglaterra tenha chegado à final com Kane presente em todos os jogos. A única esperança surgiu quando ele foi substituído nas semifinais contra a Holanda por Ollie Watkins, que trouxe energia ao time e marcou um gol decisivo.

Na final, Southgate manteve Kane, que novamente foi mal, e a Espanha dominou a Inglaterra. A falta de mobilidade de Kane ficou evidente, mas o treinador ignorou, e o capitão insistiu que não havia problemas físicos.

Nada mudou desde então. As pernas de Kane estão falhando, e a Inglaterra não vai alcançar seu potencial máximo se ele continuar sendo o titular.

Para o alívio de Carsley, ele pelo menos reconheceu que Kane não é a única opção da Inglaterra no ataque. O ex-jogador da Irlanda optou por Watkins para começar na vez de Kane contra a Grécia na semana passada, o que foi um grande choque após a crítica pública do capitão aos jogadores que dispensaram a convocação da Inglaterra.

Carsley foi imediatamente inocentado, no entanto, já que Watkins marcou com seu primeiro toque na bola no sexto minuto, colocando-se no lugar certo para aproveitar a oportunidade. Watkins não se envolveu muito no jogo em geral, mas foi uma ameaça constante com suas corridas inteligentes nas costas dos adversários e deu a Bellingham, Curtis Jones e Gallagher uma opção de passe.

“Foi brilhante para Ollie conseguir um gol. É importante que, se vamos colocar esses jogadores em uma posição onde vamos vencer a Copa do Mundo, esses jogadores precisam ter o máximo de experiências possíveis", disse Carsley após a vitória por 3 a 0 da Inglaterra. Ele está absolutamente certo.

Atacantes com a velocidade e vigor de Watkins e Dominic Solanke, que foram restritos a apenas 15 minutos de ação nos últimos jogos da Liga das Nações da Inglaterra, devem ter a chance de mostrar seu valor e ganhar confiança. Não faz sentido para eles ficarem no banco enquanto Kane trabalha em todos os jogos, dependendo de oportunidades para mostrar o que sabe fazer em vez de ajudar os Three Lions a melhorarem como um coletivo.

A contratação de Tuchel é empolgante pela sua mentalidade vencedora e estilo ofensivo. Nos seus melhores times, como Borussia Dortmund, PSG e Chelsea, ele dominava a posse de bola e pressionava sem a bola.

No Bayern, porém, não teve sucesso. Em sua única temporada completa, o time não ganhou títulos e terminou em terceiro no Campeonato Alemão, 18 pontos atrás do Leverkusen, apesar do investimento de 100 milhões de euros (R$ 728,8 mil reais) em Kane.

Kane não foi o culpado, mas ao construir o time ao redor dele, Tuchel não conseguiu impor seu estilo. Se cometer o mesmo erro na Inglaterra, seu contrato pode não ser renovado. Para ter sucesso, Tuchel precisará ser mais flexível taticamente.

Deixar Kane de fora não é uma decisão fácil. Ele é provavelmente o maior atacante da história da Inglaterra e seu início impressionante no Bayern mostra que continua determinado ao sucesso.

Tuchel já tem um vínculo com Kane e é difícil imaginar o novo técnico afastando-o logo no início. No entanto, ao ser perguntado sobre manter Kane como capitão, Tuchel disse: "Lutei muito para trazê-lo ao Bayern. Ele está se tornando uma lenda, mas é cedo para decidir sobre a capitania."

Tuchel não deixou claro se Kane continuará como líder, mas vai avaliar todos os aspectos do time. Kane pode ficar com a braçadeira, mas isso não significa que terá todos os privilégios. Ele ainda pode ser uma liderança, mesmo em um papel reduzido, como mostrou contra a Irlanda.

Os Três Leões não precisam mais depender apenas de Kane. Tuchel tem um time talentoso e não será um único jogador que quebrará 60 anos de jejum.