Gareth Southgate está certo em sair: a Inglaterra precisa buscar um novo rumo após mais um fracasso glorioso na Eurocopa

No fim, o futebol meio que voltou para casa. O gol de Mikel Oyarzabal deu à Espanha seu quarto título de Eurocopa, colocando-a à frente da Alemanha como a seleção mais vitoriosa da história do torneio. A ideia de que a Inglaterra tinha um direito divino ao troféu parecia cada vez mais absurda à medida que a diferença de qualidade entre as duas equipes se tornava clara, e a única decepção para a Espanha foi não ter vencido por um placar muito mais amplo.

Sim, a Inglaterra fez um bom trabalho em sufocar a equipe de Luis de la Fuente no primeiro tempo, mas ofereceu muito pouco perigo no ataque. Foi mais um exemplo da aparente relutância de Southgate em levar o jogo para o adversário, priorizando a disciplina em vez da expressão criativa.

Southgate pode até ter sentido que as estrelas estavam se alinhando quando a Espanha perdeu Rodri devido a uma lesão no intervalo, mas essa ilusão de conforto foi rapidamente desfeita. Nico Williams ganhou vida logo no reinício e colocou a Fúria na frente, após um passe perfeito de Lamine Yamal, que comemorou seu primeiro dia após completar 17 anos com estilo.

A Espanha tomou total controle a partir daí, e apenas algumas finalizações imprecisas impediram que dominassem o jogo. No entanto, assim como em todos os seus seis jogos anteriores, a Inglaterra lutou bravamente, enquanto Southgate foi proativo em suas substituições, introduzindo Ollie Watkins e Cole Palmer na tentativa de mudar o jogo.

Assim como fizeram na vitória nas semifinais contra a Holanda, ambos os jogadores deram à Inglaterra uma injeção necessária de velocidade e astúcia, com Palmer fazendo o impacto decisivo desta vez, marcando um gol de longa distância após uma assistência de Jude Bellingham. A Espanha ficou em choque, e a seleção inglesa deveria ter ido com tudo. Mas, como todos sabemos agora, Southgate simplesmente não é assim.

Ninguém poderia reclamar do gol da vitória da Espanha quando finalmente veio, com Oyarzabal vindo do banco e completando com maestria um cruzamento de Marc Cucurella para o fundo da rede, após mais uma falha de Kyle Walker. Ao contrário de três anos atrás contra a Itália em Wembley, essa derrota não foi decidida por detalhes; a Inglaterra simplesmente foi superada por uma equipe muito melhor.

Isso não quer dizer que a Espanha tenha mais talento à sua disposição. Harry Kane, Phil Foden e Jude Bellingham foram, sem dúvida, os melhores jogadores da Bundesliga, Premier League e La Liga, respectivamente, na última temporada. Southgate também poderia contar com o ponta do Arsenal, Bukayo Saka, e o novo especialista em cobranças de falta, Declan Rice, com Palmer, Watkins, Ivan Toney e Anthony Gordon esperando entre os reservas.

A Espanha não tem esse tipo de profundidade ofensiva, assim como nenhuma das outras seleções que competiram no torneio. Mas a Inglaterra não soube aproveitar sua vantagem. Aqueles jogadores não fizeram o que costumam fazer semana após semana em seus clubes, e Southgate tem que assumir uma boa parte da culpa por isso.

A mentalidade cautelosa do treinador reflete na equipe, e sua falta de conhecimento tático gera confusão. A Inglaterra não teve padrões de jogo claros e, em vez disso, contou com momentos individuais para alcançar sua segunda final consecutiva da Euro.

A seleção inglesa terminou em 10º lugar na tabela de gols esperados (xG) e, antes da final, estava na mesma posição em chutes a gol. Southgate não maximizou o potencial do grupo, é simples assim. Ele trouxe um verdadeiro espírito de equipe, que faltava há décadas, mas não sabe como transformar a Inglaterra em vencedora.

Muitos dos nomes conhecidos da Inglaterra foram culpados por um desempenho abaixo do esperado na Alemanha, mas nenhum mais do que Kane. Embora o atacante do Bayern tenha conquistado dividido a artilharia do torneio com três gols, ele foi o elo mais fraco da seleção, não conseguindo liderar a pressão, segurar a bola ou ter qualquer envolvimento real no jogo em geral.

Quando Kane saiu para a entrada de Watkins aos 15 minutos do segundo tempo contra a Espanha, a maioria dos torcedores provavelmente respirou aliviada. “Fisicamente, tem sido difícil para ele”, admitiu Southgate após o jogo. “Ele chegou ao torneio com poucos jogos e não conseguiu atingir o nível que todos esperávamos.”

Mas por que ele começou a final se não estava em forma? E em todos os jogos anteriores da Inglaterra? Watkins, Toney e Palmer mostraram muito mais em suas aparições rápidas do que Kane em 545 minutos na Alemanha, mas o capitão ainda foi escolhido, o que é imperdoável.

A lealdade cega de Southgate a Kane segurou a Inglaterra. Não é a primeira vez que o treinador mantém um de seus favoritos, apesar da pressão esmagadora por uma mudança. Jordan Henderson, Raheem Sterling, Kalvin Phillips e Harry Maguire também tiveram uma posição similar na equipe em torneios anteriores, com Southgate sempre enfatizando a necessidade de continuidade.

É totalmente possível que Kane esteja em declínio à medida que se aproxima dos 31 anos. Mas, se Southgate tive permanecido, o atacante praticamente teria garantido outro papel de destaque na Copa do Mundo de 2026. Ser titular pela Inglaterra deve ser um privilégio baseado em mérito, e por essa razão, acima de todas as outras, Southgate não deve levar a seleção a um quinto torneio importante.

A Euro 2024 ficará marcada como mais uma grande oportunidade perdida. Southgate tem a segunda melhor porcentagem de vitórias entre todos os treinadores da Inglaterra desde Sir Alf Ramsey, e é o único a ter chegado a duas finais importantes, mas mais uma vez se beneficiou de um sorteio favorável na Alemanha.

A Espanha venceu equipes como Itália, Croácia, Alemanha e França até chegar à grande final em Berlim, enquanto a Inglaterra passou por Sérvia, Eslováquia e uma das piores seleções da Holanda na história recente. Quando finalmente enfrentou uma equipe de primeiro nível, foi facilmente dominada.

A história se repetiu nas Copas do Mundo de 2018 e 2022, onde Croácia e França, respectivamente, superaram a Inglaterra nas fases finais. Na final da Euro 2020, pelo menos estavam à altura da Itália em termos de qualidade, mas a superioridade mental dos Azzurri foi o que fez a diferença.

“É incrivelmente difícil para os jogadores, para os torcedores da Inglaterra, para nós, porque parece uma história sem fim onde simplesmente não conseguimos ultrapassar a linha,” disse o ex-lateral Gary Neville, na ITV Sport.

Os torcedores não aceitarão outro torneio como este; a campanha da Inglaterra foi mais agonizante do que agradável. Parte das críticas que Southgate enfrentou no último mês foi inaceitável, mas teriam piorado se ele tivesse se agarrado ao cargo.

Quando questionado sobre seu futuro imediatamente após a derrota de domingo, Southgate respondeu à BBC Sport: "Agora não é o momento para eu falar sobre isso. Preciso conversar com as pessoas certas e dar um tempo a mim mesmo." Ele acrescentou: "A Inglaterra está em uma posição realmente boa em termos de experiência. A maioria deste elenco estará presente na próxima Copa do Mundo e talvez na próxima Euro. Há muito o que esperar, mas neste momento, isso não é um consolo."

A escolha de Southgate em usar a palavra "eles" em vez de "nós" sugere, no mínimo, que ele está considerando a possibilidade de deixar o cargo. A tentação de continuar e tentar acabar com 60 anos de frustrações na Copa do Mundo de 2026 será forte, pois, como está, ele será lembrado como o homem do quase. No entanto, ele percebeu que levou a seleção o mais longe que podia.

Kane, Rice e Bellingham foram alguns dos que defenderam Southgate em meio à ampla hostilidade durante a Euro, o que é um testemunho da união que ele criou no vestiário. No entanto, a maioria das pessoas do lado de fora acreditava que a era Southgate havia chegado ao fim antes do anúncio oficial da saída.

“Eu acho que ele foi a pessoa certa para unir a nação em termos de seleção de futebol,” disse Gary Lineker no último episódio de seu popular podcast "The Rest Is Football". “E agora, talvez seja a hora de alguém com um estilo de futebol mais moderno e ofensivo. Porque acho que o jogo se afastou da ideia de que é possível ser bem-sucedido sendo muito defensivo.”

Enquanto isso, Rio Ferdinand declarou à BBC: "É preciso olhar para o talento que temos e não sinto que estamos colocando esses jogadores na melhor posição possível."

Southgate corria o risco de estragar parte do seu trabalho se tivesse permanecido. Mas, ao reconhecer suas limitações e deixar o cargo, ele coloca o futuro da Inglaterra em primeiro lugar: um ato que consolida seu status como um nome importante na história da seleção.

Segundo o The Telegraph, a Federação Inglesa queria que Southgate permanecesse no comando além do término de seu contrato, que acabava vem dezembro. Ele era um porta-voz perfeito: um treinador bem-educado e conservador que raramente expressa suas frustrações ou preocupações internas em público.

Eles também poderiam apontar para seu recorde imbatível diante de qualquer crítica e a falta de candidatos ingleses adequados prontos para substituí-lo. Graham Potter surge como um dos principais candidatos, mas é difícil imaginar que os torcedores recebam o ex-treinador do Chelsea de braços abertos, dado o quão ruim foi sua primeira experiência treinando em alto nível.

Eddie Howe estaria em primeiro lugar na fila há um ano, mas seu prestígio caiu consideravelmente após uma campanha decepcionante em 2023/24 com o Newcastle, enquanto o atual treinador da seleção sub-21 da Inglaterra, Lee Carsley, não tem experiência como técnico principal. No entanto, há muitas opções na lista de treinadores estrangeiros neste momento, incluindo duas lendas da Premier League.

Jürgen Klopp está disponível após encerrar sua passagem de nove anos pelo Liverpool, enquanto Pep Guardiola está no último ano de seu contrato com o Manchester City. Parece que a Inglaterra precisa de alguém desse nível para alcançar o próximo patamar.

Southgate proporcionou muitos ótimos momentos aos torcedores da Inglaterra, mas o progresso não estava mais acontecendo. A familiaridade gera desprezo, e o ambiente da seleção poderia se tornar tóxico novamente se ele não fizesse a escolha certa. É hora de um novo rosto assumir o comando.