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Gabriel Jesus Arsenal GFX GOAL

Gabriel Jesus pode ser o astro que lidere o Arsenal à conquista da Premier League?

Durante o primeiro tempo do dérbi do norte de Londres do mês passado, com o Arsenal merecidamente liderando por 1 a 0, Gabriel Jesus roubou a bola de James Maddison na entrada da área do Tottenham. O atacante dos Gunners ficou cara a cara com Guglielmo Vicario, mas chutou a bola por cima do travessão.

Foi, sem dúvidas, o momento-chave da partida, que acabou empatada em 2 a 2. Certamente, se o Arsenal, que estava dominando as ações até ali, ampliasse a vantagem, teria ficado em ótima posição para vencer o jogo. Nunca saberemos ao certo, é claro, mas não dá para esquecer do fato de que Jesus desperdiçou uma oportunidade gigantesca de deixar sua equipe bem perto do triunfo.

Foi uma chance que ele mesmo criou, mas, aos olhos de muitos, incluindo alguns preocupados torcedores, toda a jogada resumiu bem o estilo de Jesus: um excelente esforço na criação, uma finalização ruim.

Comentarista da ESPN, Steve Nicol disse na época: "[Erling] Haaland não desperdiça essa oportunidade; esta é a diferença. Se fosse o Haaland, a bola estaria no fundo da rede. Jesus simplesmente não pode fazer o que fez ali. Foi horrível, não é bom o suficiente".

A avaliação pode ter sido direta, e a comparação com Haaland um tanto injusta, dado que o norueguês é um número 9 muito diferente, mas Nicol certamente não está sozinho com a tese de que Jesus "não é bom o suficiente" para liderar uma equipe com aspirações de título(s).

  • Frank Lampard Chelsea 2004-05Getty Images

    Um time campeão não precisa de um camisa 9

    Vale ressaltar, no entanto, que ter um centroavante de área não é um requisito para uma equipe ser campeã da Premier League. Eric Cantona nunca marcou mais de 18 gols em uma única temporada durante parte da dinastia do Manchester United na Inglaterra. Também já vimos Frank Lampard, um meio-campista, ser a fonte mais confiável de gols naquela primeira equipe do Chelsea sob o comando de José Mourinho.

    Mesmo o Manchester City, que sempre teve Sergio Agüero como centro do ataque, principalmente no último dia da temporada 2011/12, e agora conta com Haaland batendo o recorde de gols em uma única temporada do Inglês, nunca foi excessivamente dependente de um atacante. Yaya Touré (20 gols), Ilkay Gündogan (13) e Kevin De Bruyne (15) já foram os principais artilheiros de equipes campeãs no Etihad Stadium.

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  • Martin-Odegaard(C)GettyImages

    Dividindo a responsabilidade

    E certamente existem algumas semelhanças entre o Arsenal de Mikel Arteta e a era de sucesso pré-Haaland no City. Claro, isso não é surpreendente, dado que o espanhol foi o auxiliar de Pep Guardiola por três anos. No Emirates, a ideia agora é semelhante à daquela época em Manchester.

    Além de Jesus (11), Bukayo Saka (14), Martin Odegaard e Gabriel Martinelli (ambos com 15) alcançaram os dois dígitos nas estatísticas de redes balançadas temporada passada - uma das principais razões pelas quais os Gunners se lançaram como grandes favoritos ao título.

    E é bem provável que Jesus teria marcado muito mais gols, não tivesse sido afastado por quatro meses devido a uma lesão no joelho sofrida na Copa do Mundo de 2022, no Qatar.

  • Gabriel Jesus Brazil WC 2022Getty

    Jesus fez muita falta na temporada passada?

    Os bastidores do Arsenal ficaram bem pesados depois da notícia de que sua contratação de £45 milhões (hoje, quase R$ 275,9 milhões) ficaria um bom um tempo afastado, em dezembro passado. O medo era a ausência de um jogador que Arteta afirmou recentemente ter "mudado nosso mundo" pudesse complicar a luta pelo título - seu impacto inicial foi instantâneo, marcando cinco vezes e distribuindo três assistências em seus primeiros oito jogos da Premier League.

    Mas não devemos esquecer que essa ausência forçada não foi tão desastrosa assim. Os Gunners teriam gostado de tê-lo disponível? Sem dúvidas. Mas quando ele se machucou, o Arsenal estava cinco pontos à frente do City na liderança da tabela, e quando ele voltou, essa vantagem ainda estava intacta.

    Sua lesão, portanto, não teve um efeito devastador no desafio pelo título dos Gunners como a de William Saliba, por exemplo. O Arsenal ainda tinha força suficiente no ataque para lidar sem Jesus - mas saiu dos trilhos sem o zagueiro francês.

  • Gabriel Jesus Arsenal 2023-24 HIC 16:9Getty

    "Estou preocupado com Nketiah e Jesus"

    Como resultado, houve pedidos no meio do ano para que o Arsenal contratasse um goleador. Os comentaristas Paul Merson e Gary Neville estavam entre aqueles que questionaram se os Gunners realmente poderiam vencer a liga com Jesus e Eddie Nketiah como suas únicas opções para liderar o ataque.

    "Essa é minha única dúvida", disse Neville em seu podcast, Stick to Football. "Se eles tivessem um Haaland, um Kane eu estaria dizendo que o Arsenal [seria o favorito], se conseguissem manter Saliba, Gabriel e Declan Rice em forma. Mas honestamente, estou preocupado com Nketiah e Jesus. Eles são inconsistentes".

    Jesus definitivamente não é clínico na frente do gol, como indicam as estatísticas. Ele marcou apenas 12 em 32 jogos pelo Arsenal, e o que chama a atenção é sua taxa de conversão de chutes, de apenas 14,3% - que está não apenas bem abaixo de Haaland (28,4%), mas também de atacantes como Callum Wilson (25%) e Ivan Toney (21,3%). Seu percentual de conversão de "grandes chances" (39,3%) também é significativamente mais baixo do que o desses mesmos jogadores.

  • Gabriel Jesus Manchester City 2021-22Getty/GOAL

    "Fui direto para o quarto chorando"

    É claro que há muito tempo sabemos que Jesus não é um grande finalizador. Ele marcou apenas um gol pela seleção brasileira nos últimos quatro anos, enquanto, nas seis temporadas no City, só alcançou dois dígitos na liga duas vezes, em 2017/18 (13) e 201920 (14). Também nunca teve mais do que 21 partidas como titular, simplesmente porque não era confiável para liderar o ataque por Guardiola, que acabava o escalando mais como um ponta.

    De fato, Jesus deixou claro durante as negociações de sua transferência com Arteta e Edu Gaspar que só se mudaria para o Arsenal se fosse utilizado como centroavante, profundamente frustrado com sua falta de oportunidades no Etihad.

    Ele também admitiu que a gota d'água foi quando Guardiola optou por escalar Oleksandr Zinchenko como "falso nove" em um confronto da Liga dos Campeões contra o Paris Saint-Germain, ao invés de usá-lo como atacante.

    Um dia antes [do jogo], ele não o colocou para treinar lá [no ataque]. Eu estava treinando de atacante", contou, ao podcast Denilson Show. "[Quando] ele deu o time [que iria para o jogo], eu nem comi. Fui direto para o quarto chorando. Liguei para minha mãe: 'Quero ir embora. Vou para casa'".

    "O Zinchenko até brinca comigo: 'Fiquei mal por você'", relembrou.

    Mas Jesus respondeu da melhor maneira possível: saindo do banco e marcando um gol e participando da jogada do outro, na vitória por 2 a 1. Sua decisão, contudo, já estava tomada.

    Ainda assim, é significativo que Guardiola não teve medo de deixar Jesus sair - e não é como se ele parecesse se arrepender da decisão, dada Haaland a máquina de gols que Haaland é e a versatilidade de Julián Alvarez, que até desempenha papel semelhante ao de Jesus, mas com mais faro de gol.

  • Gabriel Jesus Arsenal 2023-24Getty

    "Ele contagia os companheiros"

    Mas isso não significa que o Arsenal não estava certo em contratá-lo. Como Merson argumentou, o brasileiro pode acabar se tornando o Roberto Firmino dos Gunners: um camisa 9 esforçado e inteligente que nunca sai marcando uma chuva de gols, mas ainda assim contribui muito.

    "Ele vai ser um cara que vai marcar 25, 30 gols? Não", reconheceu o ícone do Arsenal Thierry Henry na CBS Sports, no ano passado. "Mas ele contagia os companheiros. E você ainda tem jogadores como Gabriel Martinelli e Bukayo Saka, que podem fazer maravilhas".

    Arteta também explicou que Jesus, com sua constante pressão sobre os defensores, cria o tipo de caos na frente que ele adora. "Obviamente, ele chama muita atenção dos adversários com a maneira como joga e cria espaços", disse o treinador aos repórteres, no início desta temporada. "Esta é uma grande qualidade dele".

    E ele tem várias outras qualidades. Como ele próprio destacou, "a versatilidade para jogar em todas as três posições ofensivas" é uma delas, bem como poder atuar na ala-direita no importante encontro da Premier League deste fim de semana com o Chelsea, no Stamford Bridge. Nesse sentido, o valor dele para Arteta e sua equipe vai muito além do seu número de gols.

    Jesus não é um grande artilheiro. Ele nunca será. Sua finalização realmente não é "boa o suficiente". Mas isso não significa que, no geral, não seja bom o suficiente para desempenhar um papel fundamental na conquista do objetivo final do Arsenal: um título da liga após 20 anos.