Frank Lampard volta a ser "super"! Como a lenda do Chelsea restaurou sua reputação como técnico na segunda divisão da Inglaterra

Vale destacar que nada disso é obra do acaso. Quando Lampard foi contratado, em novembro de 2024, o Coventry estava apenas dois pontos acima da zona de rebaixamento, na 17ª colocação, e precisava substituir o carismático Mark Robins, demitido de forma abrupta após anos de serviço.

Depois de um início difícil, o time começou a acumular resultados expressivos no início de 2025 e subiu rapidamente até as zonas de play-off, mantendo-se entre os seis primeiros mesmo com uma leve queda de rendimento no fim da temporada.

A disputa pelos play-offs, contudo, terminou em frustração: o Sunderland levou a melhor na semifinal após um gol de Daniel Ballard aos 122 minutos do jogo de volta, que selou a classificação dos Black Cats.

Ainda assim, o Coventry não se deixou abater pela decepção. O time manteve o embalo e começou a temporada 2025-26 em ritmo avassalador, assumindo a liderança e se colocando desde cedo na briga direta pelo acesso automático.

Como o maior meio-campista artilheiro da história da Premier League com impressionantes 177 gols marcados, não é surpresa que Lampard tenha implantado uma filosofia ofensiva como base do sucesso nesta temporada.

Com uma proposta propositiva e baseada na posse de bola, o Coventry cria mais chances, finaliza mais e acerta mais chutes no alvo do que qualquer outro time da acirrada segunda divisão inglesa. O resultado disso é uma enxurrada de gols: 27 até aqui, pelo menos 12 a mais do que qualquer outro clube da competição. O saldo de gols é absurdo: +20 em apenas nove partidas, impulsionado por uma goleada de 7 a 1 sobre o QPR e vitórias expressivas contra Birmingham, Millwall e Sheffield Wednesday.

O time ainda conta com três dos cinco principais artilheiros da Championship: o norte-americano Haji Wright, líder isolado com oito gols em nove jogos, além de Brandon Thomas-Asante e Viktor Torp, ambos com cinco tentos cada. O lateral direito Milan van Ewijk também é destaque, liderando a liga em assistências, com cinco.

O esquema 4-2-3-1 montado por Lampard encaixa perfeitamente com o elenco. Thomas-Asante atua atrás de Wright, enquanto Torp contribui vindo de trás, com movimentação intensa e chegada na área. Todos evoluíram sob o comando do técnico: Wright melhorou na finalização e no empenho tático, Thomas-Asante vem suprindo bem a ausência do lesionado Ephron Mason-Clark, e Torp se tornou muito mais eficiente no ataque em comparação com a temporada passada.

Embora Lampard nunca tenha tido dificuldades para implementar uma filosofia ofensiva, os problemas defensivos foram, em grande parte, o motivo de suas quedas nas passagens anteriores por Chelsea e Everton. No Coventry, porém, ele parece finalmente ter encontrado o ponto de equilíbrio.

O time venceu as últimas três partidas com um placar agregado de 12 a 0. O zagueiro Bobby Thomas tem se destacado tanto pelo alto quanto pelo chão, formando uma dupla sólida com Liam Kitching, enquanto o goleiro Carl Rushworth, emprestado pelo Brighton, vem chamando a atenção com grandes atuações (ele lidera a Championship em jogos sem sofrer gols, com nove até aqui).

A solidez defensiva é tamanha que três dos sete gols sofridos pela equipe ocorreram em uma única partida: a vitória por 5 a 3 sobre o Derby County, ex-time de Lampard, em meados de agosto.

O lendário meio-campista tem trabalhado intensamente para fortalecer o sistema defensivo. “Quando você chega, precisa analisar rapidamente os problemas, e nós estávamos sofrendo muitos gols”, contou o treinador ao programa Football Focus na temporada passada.

“Não éramos compactos o suficiente, nem agressivos o bastante. Então tentamos priorizar o trabalho sem a bola. Os jogadores compraram a ideia e executaram tudo o que pedimos. Tenho que dizer: este grupo é incrível, pela humildade e pela dedicação que mostra no dia a dia.”

Mas qual é o segredo? O Coventry certamente não gastou muito para transformar o elenco, algo que preocupou parte da torcida durante a janela do meio do ano. Rushworth chegou do Brighton, e os defensores Luke Woolfenden e Kaine Kesler-Hayden foram contratados de Ipswich e Aston Villa, respectivamente, mas nenhum deles tem sido titular absoluto.

Em vez disso, Lampard parece ter injetado confiança no elenco enxuto que já tinha e tirado o melhor de cada jogador. Manter peças importantes, como o meia ofensivo Jack Rudoni e o lateral Milan van Ewijk, ambos cotados para sair, foi fundamental. “É incrível ver a confiança com que nosso ataque está jogando no momento”, disse o meio-campista Matt Grimes, uma das contratações de janeiro, à BBC CWR recentemente.

“Temos sido fortes nas duas áreas, não apenas pelos gols marcados, mas também por termos mantido o gol zerado nas últimas quatro partidas. São ótimos sinais. Estamos jogando com a mistura perfeita entre estrutura e liberdade, e isso se reflete em campo. Nossos jogadores de ataque estão imparáveis.”

Grimes foi nomeado capitão em setembro, e desde então o Coventry somou 13 pontos em 15 possíveis. “Foi um ótimo começo para todos nós”, completou. “Muita gente comentou no meio do ano sobre o quanto costumávamos demorar a embalar nas temporadas anteriores, mas dessa vez começamos bem. Agora é seguir trabalhando e manter o foco.”

A mais recente vitória dessa sequência, que levou o Coventry à liderança da Championship, veio no fim de semana, com um 5 a 0 sobre o Sheffield Wednesday. Haji Wright e Brandon Thomas-Asante voltaram a marcar, e o time de Lampard segue como o único invicto em toda a Inglaterra na temporada 2025/26.

O resultado mudou a percepção geral: os Sky Blues agora são vistos como candidatos reais ao acesso, não apenas como sensação passageira. Lampard, porém, prefere manter os pés no chão e quer que o grupo apenas continue no mesmo ritmo, aproveitando o embalo em uma competição tão desgastante.

“Não poderíamos pedir mais: três vitórias, três jogos sem sofrer gols e muitos gols marcados”, disse Lampard à BBC após a goleada em Hillsborough. “Trabalhamos duro e começamos bem a temporada. O importante é manter a humildade, aproveitar o momento, descansar e tentar continuar com esse desempenho.

“Minha mensagem aos jogadores antes do jogo foi simples: quando você está em boa fase, não pode desperdiçar. Grandes equipes aproveitam isso, e senti esse espírito no grupo durante a semana. O resultado está aí.”

É sempre difícil prever o que vai acontecer na Championship. Restam ainda 37 rodadas, praticamente uma temporada inteira da Premier League, então ninguém quer se antecipar. Ainda assim, há motivos claros para otimismo.

O Coventry não enfrentará outro adversário do atual G-6 até o dia 8 de novembro, quando visita o Stoke antes da Data Fifa. Com exceção do Watford, que ocupa o meio da tabela, os próximos oponentes estão todos na metade inferior da classificação, o que representa boas oportunidades para o time de Lampard manter a sequência positiva. Ele sabe que manter o embalo será essencial nas próximas semanas e meses.

Glen Johnson, ex-companheiro de Chelsea e seleção inglesa, aposta no sucesso do amigo. “Há muitos times capazes na Championship”, disse à 10bet. “Mas quem consegue emendar uma boa sequência é quem acaba subindo. Há uns oito ou dez times que podem cair e uns oito que podem subir.

“É impossível prever agora quem vai vencer ou conseguir o acesso, mas não vejo motivo para que o Frank não leve o Coventry para a Premier League, desde que mantenha o time jogando bem e somando pontos.”

Ao engolir o orgulho e dar um passo atrás para recomeçar na segunda divisão, Lampard reconstruiu sua imagem e já tem o nome especulado em vagas da Premier League e até na seleção inglesa. Mas se continuar no mesmo ritmo no Coventry e mantiver a consistência, poderá voltar à elite do futebol inglês como técnico de uma das equipes mais empolgantes do país.