Fiasco contra a Grécia mostra que Inglaterra não está pronta para viver sem Harry Kane

Mais do que qualquer outra coisa, a noite de quinta-feira foi um lembrete oportuno de quão bem a Inglaterra tem estado desde que Harry Kane fez sua estreia na seleção principal em março de 2015, quando marcou um gol apenas 79 segundos depois de sair do banco contra a Lituânia.

Avançando nove anos e mais 99 convocações, Kane é o capitão de seu país e o maior artilheiro de todos os tempos, tendo sido uma presença constante no que tem sido o período mais prolongado de sucesso relativo na história da seleção masculina da Inglaterra.

A participação relativamente discreta do atacante na Euro 2024 indiscutivelmente resultou em críticas exageradas, com questionamentos e matérias dedicadas a debater se ele ainda era o homem certo para liderar o ataque no torneio e além. Um Kane um tanto lento ainda marcou três vezes na Eurocopa, apesar de claramente não estar em plena forma, após apressar sua volta de um problema nas costas no fim da temporada, depois de ter balançado as redes impressionantes 44 vezes pelo Bayern em 2023/24.

De volta à plena forma, ele já respondeu a muitos de seus críticos nesta temporada, marcando 10 vezes pelo clube alemão e mais duas pela seleção em apenas 11 jogos, além de ter seis assistências. O primeiro dois gols em sua 100ª partida contra a Finlândia refletiu que ele ainda está no auge de sua forma, escapando de dois defensores antes de acertar um forte chute.

Quando se trata de Kane – um criador de jogadas que também é matador –, há uma sensação de que, como torcedores da Inglaterra, nunca apreciaremos verdadeiramente o que tivemos até que se vá – e esse dia não está muito longe, já que o artilheiro completou 31 anos no fim de julho.

Outra pequena lesão deu a Lee Carsley a oportunidade de vislumbrar o mundo pós-Kane quando a seleção inglesa recebeu a Grécia na quinta-feira – um confronto favorável para algumas experiências no ataque, com Ollie Watkins e Dominic Solanke merecidamente convocados após iniciarem bem a temporada na Premier League.

No entanto, todos ficaram perplexos quando as escalações foram divulgadas, pois o técnico arriscou com um time ao estilo "Garth Crooks' Team of the Week", em um esquema ofensivo 4-2-2-2 – sem atacantes de ofício.

Watkins e Solanke foram obrigados a assistir do banco até os últimos 30 minutos, enquanto uma equipe que tinha Jude Bellingham, Cole Palmer, Phil Foden, Bukayo Saka e Anthony Gordon espremidos juntos inevitavelmente falhou em se entrosar, com a Grécia repetidamente explorando os espaços nas costas de um meio-campo desarticulado para conquistar uma histórica vitória no Wembley por 2 a 1.

Essa deveria ter sido a chance de Watkins para provar seu valor (mais uma vez) e dar a todos uma ideia de como seria a era pós-Kane para a Inglaterra, mas foi uma oportunidade que Carsley deixou escapar.

Se essa foi a ideia de Carsley de como a Inglaterra deveria se configurar no futuro, ele provavelmente não impressionou seus possíveis chefes. Na verdade, ele pode muito bem ter desperdiçado suas chances de garantir o cargo de forma permanente, já que se desviou da filosofia de futebol mais pragmática de seu antecessor, Gareth Southgate, e jogou toda a cautela ao vento.

"Nunca em nenhum momento pensei que tivesse tudo resolvido. Foi um caso de tentar algo diferente, e estou disposto a aceitar a culpa por isso. Foi totalmente minha ideia", disse ele após o jogo. "Pensei muito e com cuidado, em termos de como poderia parecer, como poderia se desenvolver e como poderia ser. Foi algo que não funcionou, mas não acho que devamos descartar a oportunidade de tentar algo diferente."

Por sua própria admissão, o plano foi mal elaborado: "Tentamos algo diferente e tentamos sobrecarregar o meio-campo. Tentamos isso por 20 minutos ontem, experimentamos e estamos decepcionados que não funcionou. É irrealista esperar demais, e teremos que tentar novamente. Definitivamente é uma opção para o futuro. Isso não muda nada."

Portanto, a Inglaterra ainda tem um problema no ataque, mas não na posição de centroavante. Carsley – ou quem substituir Southgate permanentemente – precisará encontrar o equilíbrio certo atrás do camisa 9, seja ele Kane ou outro jogador.

O debate sobre quem deve ser titular entre Bellingham, Foden e Palmer só vai se intensificar após essa atuação desarticulada de um grupo de jogadores considerados o futuro da Inglaterra. O primeiro é intocável, já que brilhou mais uma vez com um gol de empate tardio em Wembley, e a incrível forma do segundo pelo Chelsea significa que ele está se tornando indispensável – o que deixa Foden lutando por seu lugar.

Contra a Grécia, o meia do Manchester City não conseguiu registrar um único chute, criar chances ou completar dribles – destacando-se imediatamente como o menos impactante do trio que busca seu espaço. Já se passaram 15 meses desde seu último gol ou assistência pela seleção.

Em teoria, os gols de Bellingham e a consistência criativa de Palmer significam que a Inglaterra deve conseguir lidar com a ausência de Kane a longo prazo, sempre que ele não estiver disponível. No entanto, essa partida serviu como um lembrete de que a equipe precisa de uma referência ofensiva.

À medida que entramos no início de um período de transição para o ataque da Inglaterra, com a aposentadoria de Kane na seleção no horizonte, há certamente algum consolo no fato de que a vida após o capitão parece significativamente menos sombria do que foi nos últimos anos.

Embora as coisas raramente aconteçam da maneira que você espera, Watkins está atualmente em uma posição perfeita para assumir a função de principal artilheiro de seu país enquanto alcança seu auge no Aston Villa – exemplificado por sua substituição de Kane na semifinal da Euro 2024 contra a Holanda, onde marcou o gol da vitória.

Enquanto isso, Solanke parece pronto novamente para brigar por espaço após uma transferência significativa, e ele está começando a se firmar no Tottenham. Assim como Kane, ele é habilidoso em recuar para fazer a ligação entre as jogadas e em fazer movimentos bem cronometrados na grande área adversária.

Fora da seleção atual, Liam Delap finalmente recebeu a oportunidade de se provar na Premier League, e o Ipswich está colhendo os frutos disso. O ex-atacante do Manchester City já tem quatro gols no campeonato nesta temporada e parece capaz de marcar muitos mais.

Quando você considera as contribuições para os gols de jogadores como Bellingham, Palmer e Saka, a aposentadoria eventual de Kane da seleção não precisa ser o evento catastrófico que tem sido amplamente retratado ao longo dos anos.

Mas não vamos nos precipitar. Por enquanto, Kane está aqui para ficar. A menos que haja uma ascensão incrível de um dos jogadores que estão à espera, a Inglaterra planejará para que Kane seja seu camisa 9 no próximo grande torneio, a Copa do Mundo de 2026.

O atacante do Bayern completará 33 anos poucos dias após a final em Nova York, e ele estará absolutamente determinado a ir até o fim, após ter chegado angustiantemente perto do título em três grandes eventos (2018, 2021 e 2024).

Talvez levantar o troféu seja o suficiente para convencê-lo a encerrar sua carreira pela seleção inglesa, mas, até agora, ele não deu nenhuma indicação de que planeja isso. Muitos dos grandes artilheiros ao longo dos anos – Robert Lewandowski, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, para citar apenas alguns – demonstraram que podem se adaptar e continuar marcando gols bem depois dos 30 anos, e o atacante da Inglaterra vai querer seguir esse exemplo.

O tempo de Kane deve chegar ao seu desfecho natural conforme ele queira. Por enquanto, devemos apenas aproveitar enquanto o temos – há poucos melhores no que ele faz.