Ethan Nwaneri está pronto para ser uma estrela do Arsenal - mas qual vai ser o papel do garoto após o mercado agitado dos Gunners?

Ethan Nwaneri já era um nome quente no cenário do futebol juvenil antes mesmo de se tornar o jogador mais jovem a estrear na história da Premier League, em setembro de 2022, aos 15 anos e 181 dias. Para se ter uma ideia do quão precoce foi o feito, ele teve que entregar a lição de casa de inglês no dia seguinte.

Após escalar o adolescente naquela vitória por 3 a 0 sobre o Brentford, Mikel Arteta comentou:

"No primeiro dia em que o conheci, olhei nos olhos dele e todos estavam me falando sobre o garoto — o Per [Mertesacker, gerente da academia] me falou sobre ele. E, por conta das lesões, tínhamos apenas 12 ou 13 jogadores do elenco principal disponíveis, então decidimos levá-lo. E foi isso.

"É um passo, uma experiência. Então, aproveite — parabéns! Mas é apenas um passo. Nem todos os passos na carreira são para frente, e é preciso entender isso. Você avança, recua, volta a avançar. Você cai, levanta — essa é, infelizmente, a realidade da indústria e da carreira de qualquer jogador de futebol."

Como Arteta indicou, jogar pela equipe principal em idade tão jovem não garante, necessariamente, o cumprimento de todo o potencial. Basta olhar para os outros nomes que completam a lista dos 10 estreantes mais jovens da Premier League: Jeremy Monga, Harvey Elliott, Matthew Briggs, Izzy Brown, Aaron Lennon, Jose Baxter, Rushian Hepburn-Murphy, Gary McSheffrey e Reece Oxford. Não é exatamente um grupo de estrelas consolidadas.

Arteta está claramente impressionado com Nwaneri e já prometeu acompanhar de perto sua evolução. Em novembro, o técnico dos Gunners afirmou:

"Vou tentar educá-lo, orientá-lo e oferecer o caminho que acreditamos ser o melhor. A família dele, o agente, os amigos — todos terão um papel importante. O mais importante é que ele não se deixe levar pelo barulho externo. Que se concentre no que faz de melhor, que é jogar futebol. E ele ama cada minuto disso. Se mantiver esse foco, coisas boas certamente acontecerão."

De fato, Nwaneri encerrou a temporada 2024/25 com números expressivos: 37 partidas disputadas em todas as competições, nove gols e duas assistências. O desempenho rendeu uma indicação ao prêmio de Jogador Jovem do Ano da Federação Inglesa. Durante o inverno europeu, quando o time principal do Arsenal enfrentou uma grave crise de lesões, chegaram até a circular rumores sobre uma possível convocação para a seleção inglesa — tamanha era sua influência em campo.

Seu grande momento veio em uma goleada por 5 a 1 sobre o Manchester City, quando marcou o quinto gol cortando para dentro e finalizando com precisão — um movimento que já começa a se tornar sua marca registrada.

"Eu sabia que faria algo se a bola chegasse até mim", contou ao The Athletic no mês passado. "O Dec [Declan Rice] me viu, felizmente. Você não pensa muito na hora, só faz. Pensa depois. Esse chute vem desde criança, jogando no parque por muito tempo. Sempre atuei mais pela direita, então costumava cortar para dentro com o pé esquerdo. Foi algo que desenvolvi naturalmente ao longo dos anos."

Essa experiência é fundamental para sua transição ao futebol profissional. Nwaneri já apresenta um drible refinado, sabe criar espaço na entrada da área e possui um dos chutes mais potentes da equipe principal. Não por acaso, foi classificado em sexto lugar na lista NXGN de 2025, que destaca os jovens mais promissores do futebol mundial.

Quando o The Athletic noticiou que as negociações entre Arsenal e Nwaneri para a renovação contratual estavam em fase final, o veículo fez questão de destacar que o plano para o futuro do jovem envolve testá-lo em uma função mais central, em vez da habitual atuação pelas pontas.

A chegada de Noni Madueke, contratado junto ao Chelsea, também indica que as oportunidades no lado direito — posição de Bukayo Saka — serão ainda mais escassas. Por outro lado, a versatilidade de Nwaneri em zonas centrais o torna uma opção interessante para o lado esquerdo do ataque, uma posição que ainda não tem dono fixo na equipe titular de Arteta. E essa é uma proposta para a qual ele parece estar pronto.

"Às vezes dá para perceber que sou um meio-campista nato", disse ele no mês passado. "Mas acho que, se o treinador quer que você jogue em uma posição, cabe a você fazer o melhor possível. Não me importo de atuar por ali, porque, honestamente, jogar em qualquer lugar pelo time principal do Arsenal já me deixa feliz. Quero dar o meu melhor pela equipe. Já joguei como falso nove algumas vezes, inclusive. Acredito que posso contribuir em qualquer função em que o treinador precisar."

A chegada de Madueke certamente influenciará o uso de Nwaneri, mas o impacto maior pode vir de Martin Zubimendi — o cerebral meio-campista contratado da Real Sociedad. Em teoria, o espanhol deve aliviar o peso criativo dos meias mais avançados, como Martin Ødegaard ou o próprio Nwaneri, permitindo que eles joguem mais próximos do gol e se tornem ameaças ofensivas mais diretas.

Esse ajuste já foi decisivo para Ødegaard em 2022/23, quando marcou 15 gols na Premier League. Nas duas temporadas seguintes, no entanto, seus números caíram — somando apenas 11 gols — muito por ter sido recuado para participar mais da construção de jogadas. Nwaneri, que é um finalizador mais agressivo e um driblador nato, pode se beneficiar bastante se Zubimendi assumir esse papel de sustentação no meio-campo e se firmar como titular.

O Arsenal tem tradição em promover jovens talentos, especialmente por conta da reputação de sua base, a Hale End. Mas quando clubes como Borussia Dortmund e Chelsea demonstram interesse em contratar um jogador, é sinal de que se trata de um prospecto de elite.

Esses dois clubes foram os mais fortemente associados a Ethan Nwaneri nos últimos meses, especialmente quando as negociações contratuais pareciam se arrastar — ou, ao menos, não seguir o cronograma ideal para o Arsenal. Ainda assim, mesmo com a possibilidade de encontrar um caminho mais direto para o time titular em outro clube, Nwaneri optou por permanecer no norte de Londres. Sua família, inclusive, negou categoricamente que ele tenha feito qualquer tipo de exigência ao Arsenal durante as conversas para renovação.

O ex-atacante galês e comentarista da TalkSPORT, Dean Saunders, chegou a sugerir que Nwaneri "ainda não havia feito nada no futebol" para impor condições ao clube. No entanto, ele voltou atrás recentemente, explicando o mal-entendido:

"Estava no putting green, em Effingham, quando o Jay Bothroyd — que estudou com o pai do Nwaneri — me pediu para falar com ele. Então, conversei com o pai do garoto e, com razão, ele disse que [exigir mais tempo de jogo] nunca aconteceu."

"Respondi: 'Se isso foi dito, foi com base em algo publicado no jornal'. Então ele deveria resolver com o jornal, porque foram eles que escreveram a história. Eles são todos torcedores do Aston Villa e me disseram: 'Recebemos críticas do Jamie O’Hara e do Jason Cundy, mas quando vem de você, dói'. E eu disse: 'Não estou criticando o menino. Ele é um jovem jogador talentoso. Mas se ele realmente estivesse exigindo minutos de Arteta...' — o que, pelo visto, nunca aconteceu. Enfim, falei com o pai dele. Um cara adorável."

A ascensão de Ethan Nwaneri tem sido comparada à de Bukayo Saka, outro talento lapidado em Hale End que caminha para se tornar o maior da história formado da base do Arsenal.

"Isso cria confiança dentro do clube, para todos na academia e para os jovens jogadores — mostra que há um caminho claro. Daremos oportunidades e, se eles merecerem, serão tratados como qualquer outro", disse Mikel Arteta anteriormente, ao usar Saka como exemplo para a nova geração. É irônico, portanto, que o atual camisa 7 dos Gunners seja justamente um dos maiores obstáculos para que Nwaneri conquiste espaço no time titular.

Saka é hoje um dos jogadores mais indispensáveis do futebol mundial — e isso por si só já é um bom motivo para o Arsenal tentar desenvolver Nwaneri em uma função mais central, como meio-campista ofensivo. O problema? Essa função pertence a Martin Ødegaard, o capitão do time. Como mencionado anteriormente, há elementos no jogo de Nwaneri que se alinham ao papel de um clássico camisa 10, mas ele ainda não possui a intensidade sem a bola nem a mesma visão refinada de passes do internacional norueguês, que segue à frente na hierarquia.

Arteta, por sua vez, vem sendo criticado por depender demais de Ødegaard, mesmo quando o jogador atravessa fases de baixa forma física ou técnica. Para que Nwaneri tenha uma sequência real na equipe, seria preciso uma mudança significativa na abordagem tática do treinador — especialmente agora, com o Arsenal sob pressão por títulos e diante da necessidade de construir entrosamento sólido no setor de criação.

O estrondoso sucesso de Lewis-Skelly em sua primeira temporada com o time principal, estabelecendo-se como um dos melhores laterais esquerdos da Premier League — mesmo nunca tendo atuado nessa posição antes de dezembro de 2024 — levou alguns torcedores a questionarem por que Ethan Nwaneri ainda não teve liberdade semelhante para brilhar no time titular. Mas é importante lembrar que, muitas vezes, a carreira de um jogador depende de circunstâncias fora de seu controle.

Lewis-Skelly, originalmente um meio-campista nas categorias de base, foi deslocado para a lateral esquerda por conta de seu perfil técnico, que se encaixava bem na função. Arteta deu a incumbência de fechar por dentro quando o time tivesse a posse, e o jovem rapidamente elevou todos os aspectos do seu jogo para garantir sua vaga. Mérito total do atleta.

Com Nwaneri, no entanto, a equação é mais complexa. Se fosse destro, provavelmente já estaria consolidado na ponta esquerda — mas a vida, como se sabe, não é perfeita. Além disso, ele não possui, pelo menos por enquanto, a mesma fisicalidade e explosão de Lewis-Skelly, seu melhor amigo. Ainda assim, é visível que Nwaneri está mais forte e musculoso nos treinos em comparação com a temporada passada.

Colocar os dois lado a lado em uma comparação direta seria injusto. Cada jogador tem seu próprio tempo, características e trajetória.

Nwaneri completou 18 anos apenas em março e, potencialmente, tem mais duas décadas pela frente atuando no mais alto nível do futebol. Embora seja compreensível a pressão para vê-lo em campo com mais frequência, o desenvolvimento de jovens talentos, por vezes, exige paciência. E no contexto atual do Arsenal — disputando títulos na Premier League e na Champions League —, o progresso de Nwaneri pode continuar a ser gradual, especialmente considerando o desejo ardente de Mikel Arteta por conquistas imediatas após cinco anos sem levantar um troféu.

"O mais importante é empurrá-lo para frente e, quando ele estiver avançando, segurá-lo por trás para garantir que esteja estável e protegido. Um talento como esse precisa ser impulsionado," explicou Arteta.

"A proteção é necessária, manter um olhar atento, mas ele também precisa sentir que pode voar — sem que cortem suas asas. Posso falar o quanto ele é bom agora, e o simples fato de estar em uma posição tão avançada em um dos maiores clubes da Europa já diz muito sobre seu nível.

"O que acontecer no futuro vai depender dele — e do quanto ele deseja isso. Neste momento, ele quer muito, e está cercado pelas pessoas certas. Se teremos uma bola de cristal para prever onde ele estará em dois ou três anos? Não. Mas minha previsão é extremamente positiva."

Nwaneri, por sua vez, demonstra a mesma confiança:

"Quero jogar mais à frente. Quero ser um jogador positivo, que impacta, que controla o jogo, que marca gols — esse é o meu estilo. Ainda posso adicionar muitas coisas ao meu jogo: defender melhor, atuar mais por dentro, melhorar minha capacidade física. Há muito espaço para evolução."

O Arsenal, aliás, deu um voto claro de confiança ao jovem ao reduzir o interesse em meio-campistas ofensivos como Eberechi Eze e Xavi Simons, justamente diante da expectativa de evolução de Nwaneri. Agora, o que ele precisa é de oportunidades — e de tempo — para corresponder a essa aposta.