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Liverpool Tottenham VAR farce GFXGOAL

Erro colossal contra o Liverpool é a gota d'água: precisamos repensar o VAR no futebol

Virgil van Dijk relutou em dizer essas palavras. Ele não queria contribuir para a polêmica que já girava em torno do Tottenham Hotspur Stadium na noite de sábado (30), mas ainda estava com os nervos à flor da pele após os erros patéticos cometidos pela arbitragem na derrota por 2 a 1 para o Tottenham. O capitão admitiu estar "perdendo a fé" no VAR.

“É tudo bem estranho”, disse o holandês, quando questionado sobre o gol anulado de Luis Díaz no norte de Londres. "Não sei quem estava na sala do VAR tomando essa decisão. Não é coisa boa. Também não parece bem. Mas é o que temos pra hoje. Perdemos".

Comentarista da Sky Sports, Gary Neville afirmou acreditar que o Liverpool deveria ter seguido o exemplo de Van Dijk e ter apenas 'superado' "a mais injusta" das derrotas, como o técnico da equipe, Jürgen Klopp, afirmou após o confronto. No X (antigo 'Twitter'), Neville argumentou que o pedido de desculpas emitido pela PGMOL (Professional Game Match Officials Board), órgão de arbitragem da Premier League, logo após o apito final, deveria ter sido suficiente para reprimir o sentimento de injustiça do Liverpool.

Mas não foi o suficiente - e, sinceramente, por que seria? Não dá para pedir perdão e achar que dá para simplesmente seguir em frente.

Chegou a hora de nos livrarmos do VAR.

  • Referee Tony Harrington checks VAR Jonny Evans goal Burnley Man Utd 2023-24Getty

    O VAR pode ser quase tudo - mas não é efetivo

    A introdução da tecnologia no futebol foi saudada como um passo certo em direção ao futuro. Ela já existia há um tempo no futebol americano e no basquete, tendo provado seu valor com um processo de tomada de decisão rápido, transparente e eficaz. Mas, no futebol, não tem sido bem assim.

    A esperança era que o Video Assistent Referee (VAR) pudesse não apenas ajudar os árbitros a realizar a tarefa mais ingrata do futebol, mas também a trazer um nível de objetividade à aplicação das regras que tornasse o jogo mais justo, além de reduzir significativamente a quantidade de acusações de parcialidade por parte da arbitragem por torcedores furiosos.

    E aqui, no entanto, estamos nós: com o Liverpool alegando que a “integridade esportiva” foi “minada” pelos acontecimentos no clássico de sábado.

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  • Jurgen Klopp Liverpool 2023-24Getty

    "Integridade esportiva minada"

    “Entendemos totalmente a pressão sob a qual os árbitros trabalham, mas essa pressão deve ser aliviadas, e não exacerbada, pela existência e implementação do VAR”, disse o clube, através de comunicado. "Não é, portanto, satisfatório que não tenha sido concedido tempo suficiente para permitir que a decisão correta fosse tomada".

    "Também não dá para aceitar que essas falhas tenham sido categorizadas como um 'erro humano significativo'. Todos e quaisquer resultados devem ser estabelecidos apenas pela revisão e com total transparência. Isto é vital para a confiança nas tomadas de decisão, uma vez que isso se aplica a todos clubes e esses aprendizados servirão para futuras melhorias nesse processo, a fim de garantir que esse tipo de situação não ocorra novamente. Enquanto isso, exploraremos como podemos seguir com a situação, dada a clara necessidade de uma resolução".

    Neville argumentou que o texto da declaração do clube era “perigoso” - e com alguma justificativa. Certamente, não dá para haver uma insinuação de que 'algo a mais' aconteceu no clássico. Foi, como reconheceu o PGMOL, simplesmente um “erro humano”.

    Mas é exatamente por isso que o VAR, no seu formato atual, tem que acabar. Não é a tecnologia que está errando aqui - mas aqueles que a operam.

  • Luis Diaz Tottenham Liverpool 2023-24Getty

    Desculpas que não servem para nada

    E o Liverpool não é a primeira vítima do VAR. Foram 14 pedidos de desculpas emitidos pelo PGMOL desde agosto de 2022 e que, como Klopp aludiu, não servem para nada. Afinal, o Liverpool não vai recuperar o gol de Luis Díaz. E os Wolves, por exemplo, também não poderão cobrar aquele pênalti não marcado no Old Trafford no início da temporada.

    É claro que é simpático da parte dos árbitros reconhecerem os seus erros, mas isso não ajuda as equipes que perderam pontos valiosos em decorrência deles. Rebaixamentos por uma diferença de saldo de gols podem ser concretizados e títulos por um ponto de diferença, também - como bem sabe o Liverpool. Estas decisões, então, são de grande responsabilidade.

  • Jonny Evans offside goal Man Utd 2023-24Getty

    A tecnologia acaba com a alegria e deixa o jogo lento

    Erros polêmicos e decisões controversas não são novidade, é claro. O esporte jamais estará completamente livre de erros. Há um grande campo de interpretação em torno do que constitui uma mão na bola ou uma falta mais agressiva.

    O debate sobre o cartão vermelho de Curtis Jones é um exemplo perfeito. Neville, por exemplo, entendeu que o meio-campista só merecia o amarelo, pois não viu maldade na dividida; outros comentaristas insistiram que Jones foi corretamente expulso já que havia exagerado. Cada argumento tem seus méritos.

    Mas o problema é que até as decisões de impedimento - que, em teoria, deveriam ser simples - estão causando indignação, devido ao posicionamento das linhas. Fora a demora, o que só serve para provar que não estamos falando de erros "claros e óbvios" aqui. Pelo contrário, estamos gastando tempo com as linhas para determinar se o ombro de um jogador estava ou não em posição de impedimento. Isso é ridículo e vai contra o espírito do jogo.

    Na maioria das vezes, os torcedores continuam dispostos a aceitar que os árbitros tomem decisões erradas. Afinal, errar é humano. Mas o que é difícil de engolir é árbitros tomando decisões confusas quando têm à disposição vários e vários replays.

    Se eles vão cometer erros como o de sábado, então qual é o sentido de ter a tecnologia? Ela já está acabando com a alegria de comemorar gols e resultando em revisões incrivelmente lentas.

  • Simon Hooper VAR Tottenham Liverpool 2023-24Getty

    "Dia horrível para os árbitros e para o VAR"

    Quando o VAR foi introduzido pela primeira vez, o espírito era de “interferência mínima, benefício máximo”. Mas, agora, vemos jogos sendo interrompidos em intervalos maiores e chamadas incorretas sendo realiadas. Os aspectos positivos simplesmente não superam mais os negativos.

    O que aconteceu no Tottenham Hotspur Stadium foi, como destacou Alan Shearer, ídolo da Premier League e comentarista da BBC Sport, "incompreensível". “Foi um dia horrível para os árbitros e para o VAR”, disse o ex-atacante. "Vimos alguns shows de horrores, mas esse é o maior. A confiança será algo importante no futuro".

    Uma maior transparência e uma melhor comunicação ajudariam, claro, mas o problema é que Van Dijk não está sozinho. Vários e vários outros jogadores e treinadores já perderam a fé em todo o processo.

  • liverpoolGetty Images

    Liverpool está certo em buscar uma "solução"

    O VAR foi criado para facilitar a vida dos árbitros – mas na verdade está piorando as coisas. Só nesta temporada, já ficou bastante claro que a tecnologia só pode ser usada de forma eficaz para determinar se a bola cruzou ou não a linha do gol. Todo o resto é muito subjetivo e sujeito a erros humanos.

    O Liverpool obviamente sofrerá muitas críticas por ser um 'mal perdedor' - mas, verdade seja dita, é a decisão certa, isso precisa ser discutido. Se nada for feito, erros ainda mais ridículos serão cometidos. Isso é óbvio - e inevitável.

    Outros clubes, treinadores, jogadores e adeptos deveriam realmente dar um passo à frente para apoiar o Liverpool neste caso. Uma "resolução" é muito necessária e, neste momento, a única "solução" possível é abandonar o VAR enquanto as autoridades e quem elabora as regras do futebol descobrem como - e se realmente - podem usá-lo.