É a Messi Mania! O que a MLS tem a aprender e desenvolver com a presença do astro argentino

Messi, ao assinar com o Inter Miami, quebrou de muitas maneiras o molde da liga. Em outros aspectos, no entanto, foi uma história familiar para quem acompanhou a MLS na última década, mesmo que o jogador envolvido seja o mais renomado até agora.

Ainda existe um teto salarial na MLS, e ainda há limites para Designated Players, embora a introdução do Targeted Allocation Money tenha ajudado bastante a compor os elencos. No entanto, ainda existem todo tipo de regra que qualquer pessoa que não seja um fã dedicado e acompanhe a liga semanalmente nunca entenderá realmente.

É aqui que estamos agora, em uma fase muito semelhante àquela em que David Beckham, chefe de Messi no Inter Miami, mudou a liga com sua própria chegada ao LA Galaxy. No entanto, enquanto Beckham tornou a MLS um destino popular para algumas das maiores estrelas do jogo, Messi garantiu que o interesse na liga nunca tenha sido tão alto, já que jogadores de todo o mundo estão buscando suas próprias oportunidades de jogar com ou contra o oito vezes eleito melhor do mundo.

"A importância da decisão de se juntar à MLS não pode ser exagerada", disse o comissário da MLS, Don Garber. "Ele está jogando em nossa liga. Agora, não fazemos apenas parte da conversa global dos esportes, mas somos uma das maiores histórias do mundo e certamente uma das maiores histórias deste meio de ano. Os olhos do mundo estão agora na Major League Soccer porque o melhor jogador da história está aqui e conquistando sucesso".

Nomes conhecidos como Luis Suárez, Antoine Griezmann, Hirving Lozano, Alexandre Lacazette, Luka Modric e Olivier Giroud estão entre aqueles que foram associados à liga desde a chegada de Messi - e não serão os últimos. O interesse certamente aumentará durante a janela de transferências deste início de 2024 e, no meio do ano, após a Eurocopa e a Copa América.

Para contratar esses jogadores, no entanto, as equipes precisarão encaixá-los na estrutura de teto salarial da liga.

Para entender por que a MLS está atualmente da forma como está, é preciso entender que essa liga é construída sobre uma história de fracassos. Todas as ligas que a antecederam falharam, geralmente devido à falta de limitações nos gastos. As equipes gastaram até a falência, jogando dinheiro em um esporte que ainda não estava pronto. A MLS não estava disposta a deixar isso acontecer e, em menos de 30 anos desde sua fundação, essa ainda é a situação.

Agora, o outro aspecto da liga que você precisa entender é que seus proprietários geralmente estão divididos em dois grupos. Um quer ultrapassar os limites, gastar muito e perseguir a ideia de competir com os maiores times do mundo. O outro busca crescimento constante e não está disposto a realmente ultrapassar os limites quando se trata de gastos.

Essa divisão causou problemas antes. Houve debates sobre gastos com salários, taxas de transferência e até mesmo viagens, enquanto os maiores clubes da liga foram pegos várias vezes contornando as regras para atender às suas ambições. No entanto, por mais ambiciosos que sejam alguns proprietários, sempre houve outro lado que está mais do que satisfeito com a liga e sua competitividade permanecendo como está.

Isso tem servido bem à MLS desde sua criação, já que times em cada cidade têm uma esperança realista de competir no topo da liga. Não há um 'Bayern de Munique' ou um 'Manchester City', não existem superclubes que dominam ano após ano - há dois anos, o FC Cincinnati era o pior time da liga; em 2023, eles tiveram o melhor desempenho na temporada regular, e não porque gastaram muito, mas porque gastaram bem.

Realisticamente, a liga ainda está andando de bicicleta 'de rodinhas', mas, agora com Messi envolvido, parece que a liga está prestes a fazer maratonas de bicicleta. O primeiro passo para isso é flexibilizar as regras para permitir mais liberdade aos clubes.

Garber deixou muito claro em um discurso antes da MLS Cup: qualquer mudança que possa estar a caminhon não alterará o número de Jogadores Designados. No entanto, isso não significa que não haverá alterações em termos de construção de elenco.

“Não planejamos adicionar um quarto JD, mas haverá anúncios vindos de nossa reunião do conselho - que é na próxima semana", disse. "Haverá algumas coisas emocionantes que vamos anunciar na próxima semana, mas tudo isso precisa passar ainda por um grupo de proprietários. Não temos planos para uma votação para um quarto DP".

Mas quais seriam, então, essas mudanças "emocionantes"? Houve relatos e rumores de que as reuniões do Conselho de Governadores da MLS seriam particularmente intensas nesta intertemporada, e, mesmo sem uma mudança no número de DPs, poderiam haver decisões importantes.

Haverá um grande aumento no teto salarial? Se sim, para quanto? As equipes receberão mais Targeted Allocation Money (TAM) para terem mais flexibilidade dentro da configuração atual? Descobriremos em breve.

No momento, tudo o que está acontecendo na MLS está sendo imediatamente comparado ao que está ocorrendo na Saudi Pro League, o Campeonato Saudita. A MLS trouxe o seu 'GOAT', verdade. Mas a Arábia Saudita também tem o seu 'GOAT' - Cristiano Ronaldo. E, enquanto a MLS teve uma resposta mais direta a essa contratação, os clubes da Saudi Pro League não deram all in para a chegada de um ícone do futebol moderno, mas apostaram em trazer vários dos maiores nomes do mundo para garantir que Ronaldo não fosse a única estrela brilhando no Oriente Médio.

Desde a gastança que trouxe jogadores como Neymar, Sadio Mané, Karim Benzema, N'Golo Kanté e Roberto Firmino, muitos esperavam uma resposta da MLS. Na verdade, porém, a MLS não pode e não responderá a gastos dessa magnitude.

"Acredito que qualquer liga emergente precisa tomar as decisões que fizerem sentido para tentar fazer parte da conversa global, e é isso que os sauditas fizeram," disse Garber, ao USA Today. "Já vi isso tantas vezes antes, e, em alguns desses casos, funcionou. No caso da China e da liga chinesa, não funcionou. O tempo dirá se o plano deles será eficaz ou não.

"Isso serve como prova de que não se trata apenas das grandes ligas da Europa, mas sim do restante do mundo - e fazemos parte do restante do mundo. Então, espero que tenham sucesso. Não temos medo ou preocupação com isso".

Embora os times da MLS possam não se esforçar ao máximo para competir com a contratação de Messi como aqueles na Arábia Saudita, está claro que mudanças são necessárias. E a liga parece estar ciente disso, buscando capitalizar o atual aumento do interesse pelo futebol.

O primeiro passo, claro, é o poder das estrelas. Os fãs adoram astros, e nada chama mais atenção do que um rosto conhecido. Messi é a figura principal, obviamente, mas é provável que você veja nomes além de Sergio Busquets e Jordi Alba para jogar com - ou contra - a estrela argentina.

O Inter Miami, com certeza, gostaria de adicionar mais estrelas ao seu elenco. Esta intertemporada será uma das mais movimentadas da história recente, agora que eles buscam formar uma equipe ao redor de Messi, Alba e Busquets. Suárez, ex-Grêmio, pode ser uma dessas peças. Mas quais outras, além dele?

Se dependesse de Beckham e seus coproprietários, o Miami traria uma equipe legítima de All-Stars capaz de competir com os melhores do futebol europeu. No entanto, não depende deles, então teremos que ver que liberdade as novas regras lhes darão para completar o elenco.

Não é apenas o poder das estrelas, no entanto. A MLS, como um todo, precisa melhorar em termos de qualidade. Deve haver um aumento em todos os elencos, proporcionando equipes mais talentosas no geral. Fazendo isso, permitirá que os times da MLS além dos EUA, sobretudo contra equipes da Liga MX. Também dará às equipes da MLS a chance de disputar futuros Mundiais de Clubes.

A liga tem muitas coisas a seu favor ao olhar para 2024: estádios lotados, um grande contrato de televisão e Messi como o centro de tudo. Porém, se a MLS pretende continuar crescendo dentro e fora do país, a qualidade real do jogo precisará dar um salto à frente. Os torcedores precisam ser convencidos de que o produto em campo é tão bom - ou, ao menos, próximo - quanto o que podem assistir na Europa, pela TV.

Elevar a esse nível, é claro, é mais fácil dito do que feito - mas dinheiro geralmente é um bom começo. Flexibilizar restrições e aumentar os gastos quase certamente renderão um produto melhor, e, dado o dinheiro que entra e entrará na liga graças à chegada de Messi, é seguro dizer que a MLS está em um lugar melhor do que nunca para finalmente superar os fracassos do passado e entrar em uma nova era.

Messi, é claro, é apenas uma parte desse grande plano. Ele é uma parte muito, muito grande, obviamente, mas há tantas outras coisas prontas para elevar o futebol nos Estados Unidos para um novo patamar.

A Copa do Mundo de 2026 está logo ali, e, se 1994 servir de referência, milhões de novos fãs serão cativados pelo torneio. Antes disso, a Copa América é a bola da vez, uma espécie de aperitivo para a Copa. É possível, ainda, que Copa do Mundo Feminina volte ao país em 2027, então o jogo feminino também pode estar crescer ainda mais.

O ponto é: Messi é apenas uma parte de um quebra-cabeça. Ele pode nem mesmo estar por tempo suficiente para ver esse quebra-cabeça concluído, com contrato previsto para expirar em 2025.

“Eu não diria que o momento é quando Lionel Messi sai da MLS," disse Garber. "É realmente [sobre] o que queremos ser até 2027. O mundo estará de olho em nós [para a Copa do Mundo de 2026], e o mercado de futebol aqui nos Estados Unidos será exposto à comunidade global do futebol. Qual é o produto que vamos entregar? Esse produto não é apenas os jogadores e a experiência em campo. É tudo ao redor deles: é a competição em si e o formato da competição. Todas essas coisas exigem um processo de avaliação.

"Então, primeiro, espero que Lionel decida ficar mais tempo do que até 2025, e, aí, talvez 2025 não seja o prazo final. Nosso plano é tornar a liga no molde ideal até 2027".

Em apenas algumas semanas, isso estará a apenas três anos de distância. Pode parecer muito tempo, mas chegará antes que você perceba. Como será a MLS então? Será reconhecível em comparação com a liga que vemos hoje?

Pode ser, pode não ser, mas, independentemente disso, a mudança está perto. Enquanto isso, a MLS busca aproveitar a chegada de Messi e surfar essa onda rumo a um novo futuro.