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Ruben Amorim Man Utd Liverpool GFXGetty/GOAL

Dados acima do carisma: rejeição a Ruben Amorim mostra quanto o Liverpool está acima do Manchester United

O United adora uma boa narrativa. O fato de Amorim ter resgatado o Sporting ao conquistar o primeiro título português do clube em 19 anos caiu como uma luva para um time que, desde a aposentadoria de Sir Alex Ferguson em 2013, busca desesperadamente reencontrar o caminho das glórias. Os principais responsáveis pela decisão, Sir Jim Ratcliffe e Omar Berrada, queriam um treinador jovem, carismático e promissor, e em Amorim viram ecos de Mikel Arteta e Pep Guardiola.

Sempre que Ratcliffe fala sobre Amorim, ele exalta a personalidade do técnico, chamando-o de “inteligente” e “ponderado”, lembrando com bom humor de conversas no centro de treinamentos de Carrington, onde o empresário dizia ao técnico “o que está errado”, e ouvia como resposta: “vá se f*der”.

Mas o que faltou ao United, no processo de escolha, foi justamente uma análise profunda sobre o traço mais marcante de Amorim: sua fidelidade ao sistema 3-4-3. O Liverpool, ao contrário, enxergou essa teimosia tática como um grande sinal de alerta e desistiu dele para apostar em Slot.

Slot vive talvez seu momento mais turbulento no comando do Liverpool, às vésperas de enfrentar o maior rival em Anfield após três derrotas seguidas. Ainda assim, o holandês já provou que foi uma escolha acertada, o oposto de Amorim, que em menos de um ano de trabalho conseguiu piorar a bagunça que encontrou no United.

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  • Liverpool FC v Crystal Palace FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Processos e resultados opostos

    O esquema preferido de Amorim foi questionado desde o início, já que o elenco do United vinha sendo montado há anos para jogar com uma linha de quatro defensores. Mas, segundo o próprio técnico, a conversa sobre isso foi curtíssima. Em agosto, ele revelou: “Perguntaram antes de eu chegar: ‘Você pode jogar com esse sistema?’ Eu respondi: ‘Vou usar o meu sistema, custe o que custar’.” Estranhamente, isso bastou para o United se convencer de que ele era o nome certo. Nenhum outro candidato foi sequer entrevistado.

    O Liverpool também havia cogitado Amorim como sucessor de Jürgen Klopp, mas o departamento de análise do clube concluiu que o estilo do português seria um entrave, já que o elenco dos Reds também foi montado para atuar com uma defesa de quatro. Para o cientista de dados Will Spearman e o diretor esportivo Richard Hughes, contratar Amorim significaria romper totalmente com o modelo construído ao longo de quase uma década sob Klopp. Assim, preferiram buscar uma transição suave — e o modelo de dados apontou que o Feyenoord de Slot era o time mais parecido com o Liverpool de Klopp.

    O título inglês conquistado pelo Liverpool logo na primeira temporada de Slot, igualando o recorde de 20 conquistas do United, validou a decisão. Amorim, em contrapartida, comandou o pior campeonato do United em 51 anos, com menos pontos, menos gols e sem classificação para competições europeias pela primeira vez em mais de uma década. No início de sua segunda temporada, perdeu três dos sete primeiros jogos da Premier League e ainda foi eliminado da Copa da Liga pelo modesto Grimsby Town, da quarta divisão, em um vexame inédito.

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  • Ruben Amorim Manchester United 2025Getty

    Escolher o carisma antes da competência

    Segundo a Sky Sports, houve apenas uma voz dissonante dentro da diretoria do United antes da contratação de Amorim: o diretor esportivo recém-chegado, Dan Ashworth. Ele previa uma “disrupção enorme” caso o português fosse contratado e defendia a aposta em Thomas Frank, do Brentford. Mas a cúpula de Old Trafford estava obcecada pela ideia de um técnico carismático, acreditando que Amorim poderia ser o “novo grande estrategista da geração”.

    De acordo com o The Athletic, Ashworth ainda sugeriu que o clube copiasse o modelo analítico do Liverpool, terceirizando para uma empresa de dados a busca pelo substituto de Erik ten Hag. Ratcliffe recusou a proposta de imediato, alegando que Ashworth deveria saber de cabeça quem eram os melhores nomes — além de não querer gastar mais dinheiro em um momento de corte de custos.

    Pouco mais de um mês depois da contratação de Amorim, Ashworth foi demitido, com o United desembolsando £ 4,1 milhões (cerca de R$ 31 milhões) entre indenizações e taxas para tê-lo por apenas cinco meses. Ironicamente, após ignorar sua sugestão de usar dados na escolha do treinador, Ratcliffe reclamou do atraso do clube nesse campo, afirmando à revista United We Stand: “Precisamos ter o melhor departamento de recrutamento do mundo. A análise de dados anda junto com o recrutamento. Aqui, praticamente não existe. Estamos no século passado em termos de análise. Há uma quantidade imensa de informações úteis que poderíamos extrair e, nesse quesito, somos muito fracos.”

  • FBL-ENG-PR-LIVERPOOL-WEST HAMAFP

    Guiados pelos dados

    O Liverpool se orgulha de estar na vanguarda quando o assunto é análise. O clube começou a investir pesado em dados em 2012, ao contratar Ian Graham como diretor de pesquisa. Ele estruturou o departamento interno de estatísticas e ajudou a criar o modelo de “valor de posse”, que mede quanto cada toque de um jogador aumenta a probabilidade de o time marcar um gol. Esse modelo levou o Liverpool a contratar Sadio Mané e Mohamed Salah, e a desistir de Julian Brandt e Mario Gotze, que eram as preferências iniciais de Klopp.

    Os dados também levaram à melhor decisão da era moderna do clube: contratar o próprio Klopp, em 2015. Apesar de ter levado o Borussia Dortmund a dois títulos da Bundesliga e a uma final de Champions League, o alemão chegava desgastado, após uma temporada em que o time ficou em sétimo e perdeu 14 de 34 jogos.

    Graham e sua equipe, porém, identificaram nos números que o Dortmund havia sido “azarado” em várias partidas e criava muito mais chances do que convertia. Ao conhecer Klopp, Graham explicou isso, e o técnico ficou surpreso com a quantidade de partidas que ele teria assistido. “Nenhuma”, respondeu Graham. “Eu só olhei os dados.”

  • Mohamed Salah Liverpool Burnley 2025-26Getty

    Abismo de gols

    A abordagem guiada por dados do Liverpool não resultou em uma política de contratações perfeita. Embora Salah e Mané tenham sido negócios espetaculares, houve alguns tropeços. O principal deles, o atacante Darwin Núñez, comprado por £ 64 milhões (R$ 484 milhões). Ainda assim, o uruguaio, que marcou 40 gols em três temporadas pelos Reds, é a exceção que confirma a regra.

    No mesmo período, o Manchester United acumulou uma longa lista de fracassos caros no ataque: Antony, Jadon Sancho, Rasmus Hojlund... enquanto isso, o Liverpool montou uma linha ofensiva de elite na última década, que faz o elenco do United parecer um amontoado de apostas inconsistentes. Salah soma 248 gols e 116 assistências em 411 jogos; Mané participou de 166 gols em 269 partidas; Roberto Firmino registrou 187 participações diretas em oito temporadas; Diogo Jota tem média de um gol ou assistência a cada dois jogos; e Luis Díaz e Cody Gakpo foram peças fundamentais na conquista do título inglês da temporada passada.

    Os cinco principais artilheiros do Liverpool nos últimos dez anos (Salah, Mané, Firmino, Jota e Díaz) marcaram juntos 434 gols na Premier League. Já os cinco mais produtivos do United no mesmo período (Marcus Rashford, Bruno Fernandes, Anthony Martial, Paul Pogba e Romelu Lukaku) balançaram as redes 268 vezes, uma diferença de 166 gols.

  • Manchester United's English forward WaynAFP

    Problema de quinze anos

    "Eu acho que isso não foi resolvido desde 2010", disse Wayne Rooney ao ex-companheiro Rio Ferdinand, no mês passado, ao falar sobre as más contratações ofensivas do United. Naquele ano, Rooney chegou a pedir para sair do clube, após confrontar Alex Ferguson sobre a falta de reposições para Cristiano Ronaldo e Carlos Tévez, que haviam deixado o clube em 2009. Ele acabou renovando, mas ainda acredita que tinha razão, e que muitos torcedores que o criticaram à época, em parte por ele ter cogitado ir para o City, hoje concordam com ele.

    "Desde que perdemos Ronaldo e Tévez, o clube nunca mais teve um grupo de atacantes capaz de ganhar jogos por conta própria”, afirmou. “Isso é o Manchester United — aquele grupo de quatro caras que podem decidir uma partida. Pensa em 2010: você tinha o [Dimitar] Berbatov no banco. Você sabia que o Tévez estava no banco. Então você pensava: ‘Preciso jogar bem’. Isso nunca mais foi resolvido."

    O Liverpool, por sua vez, está longe de ser acusado de subestimar o ataque. Na última janela, gastou £ 300 milhões (R$ 2,26 bilhões) para contratar Florian Wirtz, Hugo Ekitike e Alexander Isak. Wirtz e Isak ainda estão se adaptando ao time de Slot, mas ninguém duvida que foram apostas corretas.

  • Manchester City v Manchester United - Premier LeagueGetty Images Sport

    Acúmulo de decisões ruins

    "O modelo de contratações deles (do Liverpool) é realmente muito bom", disse o ex-zagueiro do United Phil Jones à GOAL via BetMGM. “Trazer o Jürgen Klopp, com toda aquela paixão… você olha pra ele na beira do campo e pensa: ‘Eu atravessaria uma parede por esse cara’. Eles acertaram em tudo, dentro e fora de campo, inclusive na base.”

    Jones chegou ao United em 2011, quando o clube era atual campeão inglês e vice da Champions League. Mas quando fez seu último jogo, em 2022, o time já estava em queda livre sob o comando de Ralf Rangnick, com a pior pontuação da era Premier League até então. Perguntado com frequência sobre o que explica a decadência, o ex-defensor da seleção inglesa diz que o problema não é um só.

    “Não existe uma causa única, é o acúmulo de pequenos 1%”, explicou. “É sempre aquela mentalidade de ‘vamos resolver isso depois’, ‘vemos isso na próxima janela’, ‘ajustamos mais pra frente’… Nenhuma dessas decisões é terrível sozinha, mas o conjunto delas é o que destrói o clube.”

    “Vestir a camisa do United é um peso enorme, mas também é um privilégio. Espero que eles consigam construir um pouco de embalo e recuperar aquele algo a mais, aquele fator X. Mas vai levar tempo até voltarem a ser o Manchester United que todos nós conhecemos e amamos.”

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