Da zona do Chelsea à bagunça do Milan: Christian Pulisic troca uma crise por outra

Paolo Maldini chamou o triunfo do Milan no campeonato italiano 2021/22 de "obra-prima" - e foi mesmo. Durante os três anos que assumiu o posto de diretor técnico, adquiriu 21 jogadores a um custo líquido de €75 milhões. Nesse sentido, o sucesso do Scudetto do Milan parecia mais um pequeno milagre. Ninguém esperava que eles lutassem pelo título naquela temporada - muito menos que o vencessem.

Mas Maldini também estava temeroso. Ele sabia muito bem que o Milan havia alcançado mais do que o esperado, que o sucesso sustentado no mais alto nível é impossível na era moderna saturada de dinheiro sem investimento sério e contínuo na equipe. E ele não hesitou em dizer isso.

"Este é o momento em que os proprietários, Elliott ou quem quer que chegue, precisam perceber que este projeto de três anos está completo e descobrir que estratégia desejam para o futuro. Com duas ou três contratações importantes e a consolidação dos jogadores que temos, podemos competir por algo maior na Champions League."

E na última temporada, eles o fizeram, alcançando de forma sensacional as semifinais pela primeira vez desde que ergueram o troféu em 2007. Mas, na verdade, o Milan não tinha estrutura para estar lá.

As dificuldades enfrentadas na Serie A refletiram com muito mais precisão a força da equipe de Stefano Pioli - eles terminaram em quarto lugar devido à dedução de pontos da Juve - e a falta de profundidade do elenco foi eventualmente exposta pela Inter, que passou por cima do Milan no dérbi dos dérbis.

Maldini também não ficou nem um pouco surpreso após declarações ao Mediaset. "Como dissemos na temporada passada, ainda não estamos preparados para lidar com duas competições".

"Você nunca está saciado no Milan, isso não é permitido. Acredito que existam oportunidades a serem aproveitadas, então chegar à semifinal de uma Champions é algo que devemos aproveitar economicamente também."

Maldini estava decidido que o dinheiro obtido com a campanha europeia precisava ser reinvestido no elenco. Se não fosse, Maldini disse à Amazon Prime Italia, "o Milan correria o risco de dar dois passos para trás". Nessa altura, ficou claro que Maldini tinha visões muito diferentes sobre como administrar um clube de futebol em relação a Gerry Cardinale, fundador da RedBird Capital Partners, que adquiriu o Milan da Elliott no verão passado. O americano não escondeu o fato de que foi "educado" por Billy Beane, o homem por trás da abordagem "Moneyball" para recrutamento de jogadores que revolucionou o beisebol.

Ainda assim, quando o fim chegou, foi surpreendentemente abrupto. De acordo com La Repubblica, as conversas decisivas entre Maldini, o diretor esportivo Ricky Massara e Cardinale duraram apenas 35 minutos. As saídas de Maldini e Massara foram confirmadas apenas alguns dias depois, com declarações frias e sucintas.

"Em relação aos eventos dos últimos dias, gostaríamos de agradecer sinceramente a Paolo pelo trabalho que ele fez ao longo dos anos", disse a Curva Sud em um comunicado. "Reconstruir a relação que foi interrompida no dia da despedida do futebol certamente foi o trecho mais bonito do caminho percorrido juntos nas últimas temporadas, que trouxe o Milan de volta às vitórias na Itália e à competitividade na Europa.

"E grande parte desses resultados certamente deve ser atribuída a Paolo e ao trabalho incansável realizado, sempre marcado pelo amor às nossas cores. Uma demissão nunca apagará a história de Paolo Maldini com os Rossoneri, um grande capitão em campo e um exemplo de Milanismo para todos nós." Esse deve ser o único objetivo dos proprietários e daqueles que cuidarão d."

A questão agora é se Cardinale & Cia. são capazes de cuidar da área técnica e construir uma equipe forte capaz de lutar em todas as frentes.

Quando o ex-técnico da Itália, Cesare Prandelli, foi questionado sobre a saída de Maldini, ele disse à Gazzetta: "Precisamos entender o que essas pessoas dos fundos de investimento querem. Eles querem ganhar dinheiro."

Maldini obviamente concordaria. Ele sentia que os proprietários estavam mais preocupados em gerar lucros do que em levantar troféus. Profetizando sua própria saída, Maldini declarou em maio de 2022: "Eu não sou a pessoa certa se você quer construir um projeto que não seja voltado para vencer. Eu nunca poderia fazer isso."

O Milan nem sequer tentou esconder o fato de que houve um choque de ideologias, com o presidente Paolo Scaroni sugerindo efetivamente que o papel de Maldini tinha se tornado redundante, que seu poder de persuasão - tão crucial para atrair jogadores para o San Siro durante um momento difícil para o clube - não era mais necessário.

No entanto, Scaroni reconheceu que vários jogadores estrelas ficaram profundamente chateados com a demissão de Maldini. Jogadores como Mike Maignan, Theo Hernandez e Rafael Leao haviam reconhecido publicamente que o ex-diretor técnico foi crucial para convencê-los a se mudarem para o Milan.

Dúvidas persistem e apenas serão dissipadas por meio de contratações de destaque nesta janela de transferências, porque, após a saída de Sandro Tonali para o Newcastle, há uma preocupação em comum entre os torcedores de que o Milan se tornou um clube mais vendedor do que contratante - e que os proprietários não têm problemas com tais status. Ou pior, veem isso como um modelo de negócio perfeitamente aceitável para um clube de futebol.

Cardinale argumentaria que ao dar para Maldini €32 milhões para gastar em um jogador no verão passado, esse investimento foi completamente desperdiçado em Charles De Ketelaere, um dos maiores fracassos da temporada.

Antes do último jogo da temporada passada, os torcedores protestaram com uma faixa no San Siro que dizia: "Mais um ano passou, é hora do mercado de transferências. Queremos subir mais um degrau na escada."

Pulisic certamente pode ajudar nesse sentido. Sua transferência não está sendo vista como uma jogada de "aposta" - apesar dos terríveis números na última temporada.

Ele também é capaz de jogar em várias posições, o que se encaixa perfeitamente na predileção de Pioli por jogadores multitarefas. Dadas as péssimas alternativas do Milan, provavelmente será utilizado na ala direita, mas também existe uma forte possibilidade de que seja solicitado que jogue como a camisa 10, especialmente com Brahim Diaz voltando para Madri.

Como está atualmente, o meio-campo do Milan está muito fraco, para dizer o mínimo. Apenas Ruben Loftus-Cheek (outro reserva do Chelsea) chegou até agora para fortalecer um setor devastado pela venda de Tonali e por uma grave lesão de Ismael Bennacer, que pode não retornar este ano.

A ideia é trazer Tijjani Reijnders, mas há uma preocupação crescente de que o Milan possa não estar disposto ou ser capaz de atender ao preço exigido pelo AZ de €25 milhões (R$ 137 milhões) - e o mesmo vale para seu principal alvo no ataque, Alvaro Morata, com o Atlético de Madrid exigindo um pouco mais de €20 milhões pelo espanhol. O fato de o Milan estar agora explorando alternativas mais baratas diz tudo o que você precisa saber sobre a abordagem dos proprietários ao mercado de transferências.

Maldini ajudou a arrumar a bagunça deixada pelos antigos proprietários chineses do clube, fazendo uma contratação melhor que a outra, mas mesmo ele fez questão de ressaltar que há uma linha tênue entre prudência e parcimônia, e que no futebol moderno você eventualmente será punido por esta última. Uma equipe só pode superar as expectativas por tanto tempo, especialmente na era dos superclubes patrocinados pelos estados.

Pulisic, então, espera-se que esteja bem ciente do que está se envolvendo. Sua vontade de se mudar para o San Siro é totalmente compreensível - afinal, quem não gostaria de atuar na Scala do calcio? E o Milan ainda está entre os maiores clubes do futebol mundial.

A questão chave, no entanto, é se eles ainda estão sendo administrados como um - e deveríamos ter nossa resposta muito antes do encerramento da atual janela de transferências.