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Cristiano Ronaldo Portugal.jpgGetty/GOAL

Cristiano Ronaldo pode restaurar seu legado em Portugal abrindo mão do sonho da Copa do Mundo: é hora de dar adeus?

“Se eu não marcar e outra pessoa marcar, para mim é a mesma coisa", declarou Cristiano Ronaldo após a derrota de Portugal por 1 a 0 para a Dinamarca, pelo jogo de ida das quartas de final da Liga das Nações. "Se Portugal tiver que vencer e eu não jogar, assino meu nome agora, aviso o treinador e não jogo. Defenderei estas cores até a morte".

Ronaldo também afirmou que já jogou "50 mil partidas ruins" na carreira: "Às vezes, as coisas simplesmente não dão certo."

E foi bom ouvir o cinco vezes vencedor da Bola de Ouro baixar a guarda, em vez de manter seu padrão habitual de arrogância prevalecer.

No entanto, ações falam mais alto que palavras, e o que vemos em campo sugere que a percepção de realidade de Ronaldo continua um pouco distorcida. Na realidade, se o craque de 40 anos realmente levasse a sério a ideia de priorizar as ambições de Portugal, ele não continuaria se colocando à disposição de Roberto Martínez.

As coisas não têm funcionado para Portugal há pelo menos três anos, e não há como fugir: Ronaldo é o principal motivo disso. O astro do Al Nassr ainda tem fôlego para marcar gols na Saudi Pro League, mas está claro que não consegue mais acompanhar o ritmo do futebol de elite – o que é para lá de compreensível dada sua idade.

Mas se Ronaldo se recusa a aceitar isso, então temos um problema. Ninguém pode contestar que ele é um dos maiores jogadores da história do futebol – mas também não dá para negar que o português tem causado sérios danos ao seu legado escolhendo prolongar tanto sua carreira na seleção. Ainda há tempo para rapar esse legado, mas apenas se Cristiano Ronaldo estiver disposto a sair de cena e tomar uma decisão altruísta: abrir mão do sonho de conquistar a Copa do Mundo.

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    Ataque de insegurança

    Ronaldo teve apenas uma chance clara de gol na partida de ida contra a Dinamarca, na semana passada (uma cabeçada fraca para fora), e passou a maior parte do jogo bem apagado. Isso deveria ser o bastante para ele ter ficado no banco no jogo de volta, no Estádio José Alvalade.

    Mas Martínez reluta em considerar tirar Ronaldo do ataque do time. "Nossas equipes são muito flexíveis taticamente, já jogamos com dois atacantes. Precisamos usar nossos jogadores dependendo do adversário. Mas não se trata de falar sobre Cristiano em todo jogo", disse o técnico de Portugal, em coletiva pré-jogo. "Se Cristiano Ronaldo marca, ele é o jogador mais importante do time. Quando não marca, dizem que é por causa da idade. Essa avaliação não é justa".

    E, realmente, Ronaldo voltou ao time titular neste domingo (23) e, logo aos três minutos, teve a chance de justificar sua titularidade. Ele caiu em uma dividida dentro da área e foi para a cobrança com sua postura característica, ombros para trás e bochechas cheias.

    No entanto, o camisa pareceu sofrer um ataque de insegurança, já que hesitou e acabou batendo muito fraco, facilitando para o goleiro dinamarquês Kasper Schmeichel defender. Um dos piores pênaltis da carreira do português, tamanha a falta de convicção.

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    Muita entrega, mas pouca mobilidade

    Para crédito do português, porém, ele reagiu bem após aquele momento humilhante. Continuou ativo e testando Schmeichel e teve um papel crucial no primeiro gol de Portugal, saltando para tentar alcançar um cruzamento de Bruno Fernandes, o que levou ao gol contra de Joachim Andersen.

    A Dinamarca empatou, com Rasmus Christensen, pouco antes dos 15 minutos do 2° tempo, mas então Portugal retomou a liderança, quando um chute de longa distância de Fernandes acertou a trave e rebateu em Schmeichel, caindo nos pés de Ronaldo, que marcou, mesmo com um ângulo difícil.

    Seus instintos de artilheiro parecem intactos, é verdade, mas sua mobilidade já não é a mesma. Há algum tempo. O fato de ter 'sumido' na reta final do jogo e, ao que parece, pedido para ser substituído devido a uma lesão evidenciam isso. No fim das contas, restou ao camisa 7 atuar como assistente técnico à beira do campo durante a prorrogação, 'à la' Euro 2016. E ao apito final da vitória por 5 a 2, restou comemorar.

    No entanto, Portugal talvez não tivesse saído vencedor se Ronaldo tivesse permanecido em campo pelos 120 minutos. Foi apenas após sua saída que a equipe ganhou ritmo e a Dinamarca começou a ceder, com o ataque português finalmente livre da obrigação de jogar sempre em função do capitão.

  • Ronaldo-MartinezGetty

    Insistência

    Ronaldo agora soma seis gols em oito jogos na edição mais recente da Nations League, um número impressionante, mas quatro desses gols foram contra Escócia e Polônia, enquanto os outros dois aconteceram nas vitórias sobre Croácia e Dinamarca, seleções que já não são tão fortes como antes. Portugal enfrentará seu primeiro grande teste contra a Alemanha de Julian Nagelsmann, que bateu a Itália nas quartas de final.

    Não será surpresa se Portugal for eliminado nesse confronto, pois a equipe ainda carece de uma identidade clara sob o comando de Martínez. Sua insistência em construir o time ao redor de Ronaldo tem dificultado ainda mais as coisas.

    Fora de campo, Ronaldo também exerce uma influência muito grande sobre o elenco. Cada declaração é analisada minuciosamente. Antes do segundo jogo contra a Dinamarca, ele chegou a virar manchete ao exigir que um repórter olhasse diretamente em seus olhos ao fazer uma pergunta.

    Explosões de ego como essa eram aceitáveis quando Ronaldo ainda fazia a diferença em alto nível, mas agora servem apenas como distração. Martínez está permitindo que ele continue no time apenas por conta de seu passado, ignorando o óbvio: CR7 está em declínio – seja por medo ou, pior, por pura negligência.

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  • Cristiano Ronaldo Euro 2024Getty

    "O futebol não precisa de CR7 na Copa de 2026"

    Ronaldo participou de todas as dez partidas de Portugal nesses torneios, mas marcou apenas uma vez – de pênalti. Fernando Santos ao menos o colocou no banco contra Marrocos na Copa do Qatar, o que deveria ter sido o ponto final para o jogador formado no Sporting, que saiu de campo em lágrimas após a derrota por 1 a 0.

    No entanto, a primeira decisão de Martínez ao assumir o comando foi, inexplicavelmente, reafirmar Ronaldo como peça central da equipe. O craque foi titular de todos os jogos da Euro, sendo substituído apenas uma vez (contra a Geórgia, quando Portugal já estava classificado às oitavas de final), apesar de sua falta de impacto no setor ofensivo.

    Portugal, de certa forma, parece um time ainda pior do que quando Martínez assumiu, e é difícil imaginar que os torcedores aceitarão mais um ano dessa insistência com Ronaldo. Nem os torcedores mais neutros querem ver o astro se expondo ao ridículo novamente, incluindo o ex-jogador de Chelsea e da seleção holandesa Jimmy Floyd Hasselbaink.

    "O futebol não precisa de Ronaldo na Copa do Mundo de 2026", disse, em recente entrevista ao Gambling Zone. "Ronaldo foi um dos melhores jogadores por muito tempo; um dos melhores da história. Mas acho que, neste momento, ele está mais prejudicando do que ajudando ao continuar jogando por Portugal".

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    Muito poder de fogo

    Essa inexplicável confiança de Martínez em Ronaldo seria perdoável se Portugal estivesse carente de opções no ataque, mas definitivamente não é esse o caso. Ele tem à disposição um dos melhores ataques do futebol de seleções.

    Astros de Liverpool e Paris Saint-Germain, respectivamente, Diogo Jota e Gonçalo Ramos não vivem suas melhores temporadas em seus clubes, é verdade, mas ambos são camisas 9 de qualidade e plenamente capazes de ocupar o lugar de CR7. Ramos, com apenas 23 anos, já soma sete gols em apenas oito partidas como titular pela seleção portuguesa, o que indica que ele pode carregar essa responsabilidade de marcar gols nos próximos anos.

    Com uma série de jogadores versáteis à sua disposição, como Bruno Fernandes, Rafael Leão, Pedro Gonçalves, Francisco Conceição, Pedro Neto e Trincão, Martínez também poderia adotar um esquema de falso 9. E, se ainda há alguma dúvida sobre a profundidade do elenco de Portugal, basta lembrar que João Félix, emprestado ao Milan pelo Chelsea, sequer tem espaço sob o comando do treinador, enquanto Geovany Quenda, joia do Sporting, ainda aguarda sua estreia na equipe principal.

    A questão não é que Portugal não queira mais Ronaldo, mas sim que ele simplesmente não é mais necessário. Portugal tem talento suficiente para brigar pelos maiores títulos, mas não enquanto a última relíquia da geração passada continuar bloqueando a evolução da nova.

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    Última chance de recuperar sua dignidade

    Se Ronaldo realmente tiver a humildade de abrir mão de jogar para que Portugal possa seguir em frente, agora é a hora de provar isso. Martínez claramente não deixará de convocá-lo, então cabe a ele anunciar sua aposentadoria da seleção antes que cause mais danos.

    Não será fácil pendurar as chuteiras sem uma Copa do Mundo no currículo, claro – fator que muitos acreditam dar a Lionel Messi a vantagem no debate sobre o maior de todos os tempos. No entanto, sua última chance real de conquistar o troféu foi em 2018, quando Portugal foi surpreendido pelo Uruguai nas quartas de final. Não haverá um desfecho glorioso nos Estados Unidos, Canadá e México, porque Ronaldo já é apenas uma sombra do jogador que foi naquela época.

    Ele resistiu ao tempo de forma admirável após deixar o Real Madrid rumo à Juventus e até teve um retorno positivo ao Manchester United. No entanto, é inegável que seu desempenho tem caído desde o início da temporada 2022/23 – ele apenas se recusou a admitir.

    Não há mais chance de Ronaldo encerrar sua trajetória com glórias, mas ele pode recuperar parte de sua dignidade se permitir que Portugal inicie uma nova era sem ele. Isso, porém, exigiria mudar um hábito de toda uma vida – e, infelizmente, ainda parece que isso seria pedir demais para o craque...

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