Contratações reafirmam Arsenal na luta pelo título... mas o suficiente para superar o Manchester City?

Não é injusto esperar que o Arsenal esteja firme na brigas pela Premier League nesta temporada. O time gastou, na campanha passada, incríveis 248 dias no topo da tabela antes de cair para o segundo lugar no fim da temporada - um recorde para um time não campeão.

Além de terras inglesas, o Arsenal está retornando à Champions pela primeira vez desde 2016. Tem sido doloroso para a torcida dos Gunners esperar tanto tempo e é difícil imaginar como vão reagir. O sucesso na Premier League nem sem se traduz em sucesso continental, e o Arsenal pode ter momentos dignos de ranger dentes, agora de volta à disputa com os melhores.

Vencer a Premier League. Simples assim. Se você oferecesse, hoje, aos torcedores do Arsenal o título inglês e uma campanha longa na Champions, 99% deles assinaria esse contrato agora. O próprio Arteta certamente gostaria de evitar que seu mentor, Pep Guardiola, possa conquistar um histórico tetracampeonato também.

Se o espanhol for muito ambicioso, poderia pedir uma final de copa, além do caneco da liga. Mas conquistar a primeira Premier League desde 2004 é a prioridade.

Sobrecarregado pela Liga dos Campeões e enfraquecido por lesões de peças-chave do elenco, as esperanças de título já foram ralo abaixo antes do Natal e, em quinto lugar, a briga é garantir lugar no G-4, estando atrás do rival Tottenham.

Tudo bem, talvez eu esteja sendo muito extremo, mas a Premier League é impiedosa. Manchester United, Newcastle, Chelsea e Tottenham... estão todos mais forte. O Liverpool pareceu ameaçador na pré-temporada e Aston Villa e Brighton esperam ser boas surpresas.

Não é totalmente absurdo ver o Arsenal caindo fora do top-4 se uma série de situações adversas aparecerem. É assim na Premier League atual: competitividade ao extremo.

Este atual time do Arsenal carece de uma superestrela, de alguém que atraia mais atenção do que seus colegas. William Saliba foi muito bem lá atrás na campanha passada, Oleksandr Zinchenko, atuando de maneira única, é ótimo de assistir e Gabriel Martinelli pode ser 'imarcável' quando está nos seus melhores dias. Ainda, o capitão Martin Odegaard é, além de ser o cara para fazer as engrenagens rodarem, ainda começou a marcar gols recentemente.

Um pouco acima de todos esses, contido, está Bukayo Saka. Toda torcida sonha em ter no seu time um jogador como Saka. Ele, que já até fez faculdade, é capaz de vencer jogos do seu jeito e não é desfalque em uma partida de Premier League há duas temporadas.

Vai ser difícil superar a marca de 14 gols e 11 assistências que registrou na última campanha, mas, se há alguém que pode fazer isso, é Saka.

O Arsenal foi bem no mercado nesta janela. Arteta informou a direção de futebol quais jogadores queria e teve pedidos atendidos a tempo de mandar alguns desses reforços a campo ainda na pré-temporada. Outros clubes podem aprender com isso, aliás.

Jurrien Timber chega para trazer profundidade de elenco na primeira linha - lição aprendida após ter que usar Rob Holding como alternativa a Saliba na reta final da temporada passada - e um sortudo Kai Havertz chega para se provar ao Chelsea. David Raya deve, em breve, ser confirmado um Gunner também e brigará pela titularidade debaixo das traves com Aaron Ramsdale.

A grande chegada, no entanto, foi a de Declan Rice. As negociações se arrastaram, e o West Ham conseguiu uma quantia local recorde pelo meio-campista. Mas Rice fará valer a pena. Vários rivais do Arsenal também se interessavam no jogador, incluindo o Manchester City, e o fato do jogador ter escolhido o Emirates Stadium como seu novo estádio diz muito sobre o incrível trabalho que Arteta vem fazendo para reabilitar a reputação do clube.

Rice oferecerá muito reforço ao meio-campo dos Gunners. Além de ter notória presença defensiva, se tornou recentemente em um ótimo passador, comandante de transições e driblador. Não se engane: é uma gigantesca adição para o Arsenal.

As expectativas são altas para as 'crias de Hale End'. O ponta Amario Cozier-Duberry, o dinâmico meia Myles Lewis-Skelly e o atacante batedor de faltas Omari Benjamin estão entre os que impressionaram na última temporada, quando o sub-18 chegou à final da Youth FA Cup. Mas nenhum deles já entrou em campo pela Premier League.

Ethan Nwaneri, por outro lado, já o fez. Nwaneri se tornou o mais jovem a entrar em campo no Inglês quando saiu do banco na vitória por 3 a 0 sobre o Brentford, em setembro do ano passado. Desde então, oz jovem foi muito cotado no Manchester City e no Chelsea, mas acabou optando por permanecer no Emirates. Continuando com as boas atuações na base, Arteta pode acabar dando mais minutos ao meio-campista nesta temporada.

"Tem sido duro, cara. Definitivamente, minha temporada mais difícil até aqui", disse Emile Smith Rowe à Sky Sports, em abril. Naquele momento, o Arsenal seguia forte na briga pelo título, mas Smith Rowe vinha sendo nome recorrente no banco de reservas. Depois de brilhar em 2021/22, não foi titular uma vez sequer no Inglês em 2022/23.

As lesões têm sua parcela de culpa, verdade, mas estava claro que ele havia caído na escala hierárquica no norte de Londres.

Ele não abriu contagem ainda, contudo, conforme recente entrevista ao The Times: "Foi duro, uma longa temporada, não vou mentir. O Arsenal é o meu clube e não vou desistir até que me digam que não me querem. Mas não é o caso. Eles me querem como parte do time, e eu vou lutar para recuperar minha vaga".

Se continuar frustrado, é possível que diga adeus ao seu clube da infância em janeiro. Smith Rowe não quer que chegue a esse ponto e só depende dele mesmo para voltar à escalação titular nesta temporada.

O Arsenal merece muito crédito por ter seguido com Mikel Arteta ao longo dos períodos complicados - e não foram poucos desde que assumiu o cargo, em dezembro de 2019. Mas, após dois oitavos lugares seguidos, os Gunners 'confiaram no processo' e foram recompensados na última temporada. Para esta campanha, trata-se de dar o passo final e conquistar o caneco da Premier League.

Arteta foi apoiado nesta janela, tendo todos os seus grandes pedidos atendidos e, como resultado, o Arsenal espera mais uma campanha de briga pelo título. Não vai ser simples, mas o espanhol já se recuperou de momentos conturbados antes e provou que possui talento.

Graças à ótima composição física de Saka nas últimas campanhas, Arteta nunca precisou se preocupar em trazer alguém que pudesse substituí-lo e seguisse marcando gols e dando assistências. Porém, se o amuleto tiver problemas com contusão nesta temporada, há alguns temores.

Vindo do Brighton em janeiro, Leandro Trossard teve um início de passagem sensacional - a prova de sua importância para o time foi o gol de empate crucial na Community Shield. Mas é questionável se ele renderia tão bem na direita.

Reiss Nelson é outra opção a Saka. Mostrou potencial na última temporada, mas ainda seria um 'downgrade'. Em um mundo ideal, outro atacante que já atue pelo lado direito poderia chegar ao Emirates antes do fim da janela, mas não parece o caso.

Inesperadamente, o cargo de goleiro titular já não é mais seguramente de Ramsdale, que se vê ameaçado com a chegada de Raya. Se todos estiverem saudáveis, a defesa é praticamente uma unanimidade, mas Ben White vai ser uma boa sombra para Timber neste início.

Ainda não é certo se Havertz será utilizado como meio-campista quando Gabriel Jesus retornar. Isso deve acontecer em jogos mais tranquilos, mas Thomas Partey deve atuar ao lado de Declan Rice em um 4-2-3-1 em jogos maiores. Mais à frente, Trossard também será sombra para Martinelli.

(4-3-3): David Raya; Jurrien Timber, Gabriel, William Saliba e Oleksandr Zinchenko; Declan Rice, Kai Havertz e Martin Odegaard; Bukayo Saka, Gabriel Jesus e Gabriel Martinelli.

Todos sabemos que Arteta tende a ser um pouco 'esquentado' na beira do campo. Na verdade, ele foi o primeiro técnico da Premier League a receber um cartão amarelo nesta temporada, durante a Community Shield.

E agora, com as novas regras propostas pela Professional Game Match Officials Limited (PGMOL, em sigla, entidade que regulamenta as regras na Inglaterra), que visam a punir treinadores que deixem a área técnica, é pouco provável que tenha sido a última vez que o comandante dos Gunners se desentende com árbitros.

E ajustar-se a esta nova realidade pode ser complicado para Arteta.Não se surpreenda caso, no fim da temporada, ele acabe tendo maior número de cartões vermelho que de outros técnicos ou até mesmo jogadores.

No papel, o Arsenal está em ótima posição para lutar pela Premier League. Este jovem time praticamente não errou até os últimos meses da temporada 2022/23 e as boas movimentações no mercado só fizeram o elenco evoluir.

Como isso tudo vai acabar só depende de como todo mundo vai reagir depois das decepções da última temporada. A vitória na Community Shield sobre o 'grandão' City certamente dá confiança de que podem medir forças com os melhores.

A Liga dos Campeões é outro desafio para Arteta, mas, no geral, o Arsenal aparenta estar muito bem. Se o City não for tão perfeito quanto tem sido sob o comando de Pep Guardiola, Arteta e cia. limitada estarão só esperando para confirmar o título desta vez.