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Barcelona stadium feature GFXGOAL

Como o sonho de ter um novo Camp Nou virou um pesadelo sem fim para o Barcelona e seu presidente

Na ensolarada manhã de segunda-feira, 29 de maio de 2023, no Camp Nou, o presidente do Barcelona, Joan Laporta, reuniu autoridades locais e figuras-chave do clube para um evento que marcou o início das obras de reconstrução de um dos estádios de futebol mais icônicos do mundo. O primeiro tijolo foi colocado, uma cápsula do tempo foi enterrada sob o gramado e não faltaram fotos cheias de rostos sorridentes.

“Desde a inauguração do Camp Nou, em 1957, ele tem sido nossa casa e motivo de orgulho para todos os torcedores do Barça, e queremos que continue assim”, disse um sorridente Laporta. “O novo Spotify Camp Nou se tornará realidade, um sonho coletivo para todos os torcedores do Barça e, ao mesmo tempo, um legado para nossos filhos e netos."

“Agora teremos de passar por um processo — o processo de construção — e devemos encará-lo com entusiasmo. Quando voltarmos aqui, estaremos mais fortes do que nunca. Isso coincidirá com o aniversário de 125 anos do nosso clube (29 de novembro de 2024), quando o estádio estará pronto para entregar tudo o que desejamos dele.”

No entanto, mais de dez meses após o primeiro de vários prazos perdidos, o novo Camp Nou ainda não está pronto para reabrir — e essa é uma das duas razões pelas quais o Barcelona fez seu primeiro jogo em casa na temporada em um estádio para apenas seis mil pessoas ao lado de seu centro de treinamentos. A outra razão envolve Post Malone…

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  • FBL-ESP-LIGA-BARCELONAAFP

    Nova esperança

    Laporta descreveu a Assembleia Geral Ordinária de 17 de outubro de 2021 como “uma das mais importantes da história do clube”. O Barcelona estava mergulhado em desordem financeira, ainda contabilizando o custo colossal das “graves deficiências” da administração anterior. Segundo Laporta, seu antecessor, Josep Maria Bartomeu, havia deixado “as piores contas da história do Barça”.

    Ele falou sobre pacotes de refinanciamento e renegociações de contratos de jogadores para enfrentar de imediato a situação econômica crítica. No entanto, argumentou que a chave para uma recuperação completa era a conclusão do projeto Espai Barça — focado na transformação do Camp Nou e de toda a área ao seu redor.

    “Isso já era necessário há muito tempo”, disse. “Seremos responsáveis e pedimos que nos deem um voto de confiança, pois é absolutamente essencial crescer e competir com nossos rivais.”

    Laporta recebeu o apoio que buscava e, em 19 de dezembro de 2022, os sócios do clube votaram massivamente a favor do projeto de €1,5 bilhão.

    “É uma conquista para todos os torcedores do Barcelona e para a singularidade do clube”, declarou Laporta na época. “Fico entusiasmado e até extasiado ao ver as maquetes do Camp Nou e da nova arena. Será um passo à frente em nossas vidas.”

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  • FBL-ESP-BARCELONA-STADIUMAFP

    "Menor tempo possível ao melhor preço"

    Quatro meses após a votação, o conselho local concedeu permissão para o início das obras do projeto Espai Barça, em junho de 2022, “com foco nos segundo e terceiro níveis, tecnologia, áreas externas do estádio e planejamento urbano”.

    Ao mesmo tempo, o Barça anunciou que o “processo de licitação para as obras” havia sido antecipado, com abertura prevista para julho e concessão “o mais tardar em outubro”. No entanto, o clube só comunicou, em 9 de janeiro de 2023, que a empreiteira turca Limak Construction seria a responsável pela construção da nova arena.

    “Queremos que o Spotify Camp Nou seja construído no menor tempo possível e ao melhor preço — duas coisas que esta empresa pode oferecer”, afirmou a vice-presidente Elena Fort aos repórteres. “O trabalho começará em junho de 2023 e retornaremos ao Spotify Camp Nou antes do aniversário de 125 anos… A velocidade da construção garante o menor impacto econômico.”

  • FBL-ESP-BARCELONA-STADIUMAFP

    Os primeiros problemas aparecem

    De acordo com o plano original, a maior parte das obras seria realizada durante a temporada 2023/24, enquanto o Barcelona mandava seus jogos no Estadi Olímpic Lluís Companys, em Montjuïc. A ideia era que, no retorno ao Camp Nou para as comemorações do centenário, em novembro de 2024, o estádio já tivesse capacidade inicial para 62 mil torcedores — número que aumentaria para 105 mil após a conclusão da segunda e última fase de construção, prevista para antes do meio de 2026.

    No entanto, durante meados de 2024 ficou claro que a Limak estava atrasada no cronograma, o que deixava o Barça com poucas esperanças de celebrar seu centenário em casa.

    Inevitavelmente, começaram a surgir questionamentos sobre a Limak, que anteriormente havia construído apenas um estádio — a Arena Mersin, com capacidade para 25 mil pessoas. Também se notou que todos os arquitetos, engenheiros e consultores que tinham iniciado o projeto sob Bartomeu haviam se afastado desde então.

    Mesmo assim, Fort ainda falava de forma otimista sobre o retorno dos catalães ao Camp Nou “antes do fim do ano”. Em janeiro de 2025, essa previsão mudou para “o fim da temporada”. Infelizmente, nem esse objetivo pôde ser alcançado.

  • FC Barcelona v Como1907 - Joan Gamper TrophyGetty Images Sport

    Reviravolta no Troféu Gamper

    Diante da incerteza contínua, foi uma surpresa quando o Barcelona anunciou que o Camp Nou receberia o Troféu Gamper contra o Como, no dia 10 de agosto, com capacidade reduzida para 27 mil torcedores. A empolgação inicial gerada pelo slogan “Estamos de volta” não durou muito: em 18 de julho, o clube revelou que precisou transferir seu tradicional jogo de abertura para o Estádio Johan Cruyff, localizado ao lado do centro de treinamento e que serve como casa do time feminino, dos reservas e do sub-19.

    “Essa decisão se deve ao fato de que o trabalho necessário para cumprir os requisitos da Ordenança que Regula os Procedimentos de Intervenção Municipal em Obras de Construção impossibilitou a conclusão dos trâmites necessários para a concessão da licença inicial”, dizia o comunicado do clube. “Especificamente, devido à escala das obras, não foi possível atender a todas as condições estabelecidas pelos regulamentos que regem essa licença, apesar da intenção do clube de reabrir o estádio remodelado setor por setor."

    “O clube está em estreita comunicação com o Conselho Municipal de Barcelona e demais autoridades para avançar no cumprimento dos diferentes requisitos e manterá seus sócios e torcedores informados sobre quaisquer novidades a respeito da data de retorno. Esse atraso não afeta o cronograma planejado para o reembolso da dívida do Espai Barça.”

    "A menção ao custo do projeto foi significativa, já que crescia a preocupação com o impacto financeiro dos atrasos constantes — especialmente após Laporta admitir que “todos os compromissos que temos sob o contrato de financiamento estão vinculados ao retorno ao Spotify Camp Nou”.

  • General Aerial View Of The Estadi Olimpic Lluis CompanysGetty Images Sport

    Perda de receita

    Em janeiro de 2023, Fort afirmou que, além de dar “garantias” de que todos os prazos do projeto seriam cumpridos, a Limak também concordou com um “preço máximo que jamais poderia ser ultrapassado”. Essa cláusula importante protegia efetivamente o clube contra a possibilidade de custos de construção fora de controle.

    No entanto, o Barça continua pagando caro por ter que jogar em qualquer lugar que não seja o Camp Nou. Segundo especialistas financeiros, atuar em Montjuïc custou ao clube cerca de €90 milhões em receitas comerciais e de dia dos jogos durante a temporada 2023/24 — e acredita-se que essas perdas tenham dobrado desde então, uma situação longe do ideal para um clube financeiramente fragilizado, que há muito tempo enfrenta dificuldades para registrar novos jogadores devido às restrições econômicas.

    Também não ajuda o fato de que o contrato de naming rights com o Spotify para o Camp Nou só renderá o valor total de €20 milhões por ano quando o estádio estiver totalmente aberto, e foi relatado que o Barça arrecadou apenas €5 milhões enquanto ele permaneceu fechado na última temporada.

    Os Blaugranas esperavam que a venda de cadeiras VIP no novo estádio ajudasse a aliviar seus já conhecidos problemas financeiros — mas o dinheiro arrecadado não pôde ser incluído no orçamento mais recente, já que os assentos ainda não haviam sido instalados.

  • FC Barcelona v AS Monaco - Trofeu Joan GamperGetty Images Sport

    Transferindo a culpa

    Intrigantemente, o jornal catalão Ara afirmou que o pedido do Barça para priorizar a seção VIP acabou contribuindo para os atrasos — junto com fatores externos, como burocracia, reclamações de moradores e até mesmo a guerra entre Rússia e Ucrânia, que afetou o custo e a disponibilidade de materiais de construção.

    Nesse contexto, é notável que Laporta continue relutante em culpar a Limak pelos atrasos, mesmo com a construtora sendo responsável por €1 milhão por cada dia de atraso do projeto.

    “Espero que não chegue ao ponto de aplicarmos penalidades, porque é verdade que algumas multas se acumularam devido a atrasos em certas fases do projeto, mas não podemos culpá-los diretamente”, disse Laporta em julho. “Houve atrasos, mas isso é normal em um projeto desse porte."

    “Também somos compreensivos. O que queremos é concluir a obra, não aplicar penalidades. Queremos que tudo termine o mais rápido possível. Temos uma empresa muito motivada, como a Limak. Estamos todos no mesmo barco. É como uma família. Nos encontramos a cada duas semanas. O proprietário da Limak vem, a CEO, que é sua filha, vem com os filhos, que trabalham na empresa."

    “Eles sabem que acumularam penalidades, mas estão confiantes de que, se os objetivos forem alcançados, isso será negociável. E acredito que não haverá problemas nesse sentido, porque o que queremos é que o projeto seja concluído, bem feito, com o nível de qualidade e segurança que todos desejamos.”

  • Austin Post Runway ShowGetty Images Entertainment

    A pré-reserva do Post Malone

    O resultado é que o Barcelona não disputou seu primeiro jogo competitivo da temporada 2025/26 no Camp Nou — e também não recebeu o Valencia no Estádio Olímpico. Por motivos logísticos, o clube não conseguiu atuar em Montjuïc neste domingo (14), já que o rapper americano Post Malone se apresentou lá na sexta-feira — o que, de certa forma, resume a natureza inusitada da situação.

    A grande questão permanece: quando exatamente o Barça retornará ao Camp Nou? A resposta continua a mesma: ninguém sabe ao certo.

    Uma exceção foi feita às regras de LaLiga para permitir que o Barcelona jogasse contra o Valencia no Estádio Johan Cruyff. O regulamento exige que o local tenha capacidade mínima de oito mil assentos, e a tecnologia do VAR também foi instalada a tempo para a partida.

    Felizmente para o clube, o contrato de Montjuïc vai até fevereiro, e nenhum outro show está programado nesse período. Isso é importante, já que Fort não tem certeza se um Camp Nou com capacidade reduzida estará pronto para o jogo seguinte em casa, contra o Getafe, no próximo domingo (21).

    O que é absolutamente crucial é que o estádio esteja aberto para o compromisso contra a Real Sociedad, em 28 de setembro, já que as regras da UEFA determinam que um clube deve ter disputado ao menos uma partida em casa em um local para poder usá-lo em competições continentais. O Barça está desesperado para receber o Paris Saint-Germain no Camp Nou em 1º de outubro, mas até mesmo esse objetivo pode ser irrealista, já que o jogo contra a Sociedad pode coincidir com um show de fogos planejado em Montjuïc como parte das festividades de La Mercè.

    Diante de tudo o que aconteceu até agora, Fort não se arrisca mais a fazer previsões. “Não posso garantir que estaremos no Camp Nou contra o Getafe”, disse à RAC1 no início desta semana. “Esperamos ter a autorização, mas tentaremos chegar lá o mais rápido possível. Estamos trabalhando para começar no Camp Nou em 1º de outubro.”

    Se esse prazo será cumprido, é uma questão em aberto. Tudo o que se sabe com certeza é que, dois anos depois daquela manhã ensolarada no Camp Nou, as obras ainda estão em andamento. O sonho do Barcelona se transformou em um pesadelo pessoal para Laporta, e a fonte de orgulho prevista se tornou mais uma preocupação para o clube catalão, já fragilizado financeiramente.

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