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Ten Hag's Leverkusen sackingGetty/GOAL

Como a passagem de Erik ten Hag no Bayer Leverkusen durou apenas três jogos antes de demissão - e o alerta que fica para Rúben Amorim no Manchester United

Ole Gunnar Solskjaer foi o primeiro a cair na sequência de demissões de ex-treinadores do Manchester United que ocorreu em apenas quatro dias. Ele foi dispensado pelo Besiktas minutos depois de o clube fracassar na tentativa de se classificar para a Conference League desta temporada. Menos de 24 horas depois, seu antecessor nos Red Devils, José Mourinho, perdeu o cargo no Fenerbahçe após o time não conseguir alcançar a fase de liga da Champions League.

Nenhuma das duas decisões surpreendeu muito, já que ambos comandaram eliminações desastrosas nas competições europeias, enquanto Mourinho ainda acumulou confusões e polêmicas ao longo dos seus 12 meses em Istambul. Mas, quando Erik ten Hag se tornou o terceiro ex-treinador do Manchester United a perder o emprego em poucos dias — demitido pelo Bayer Leverkusen na última segunda-feira, após apenas três jogos no comando — a notícia causou surpresa generalizada. Bem, em todos os lugares, menos na Alemanha.

O alerta para Ten Hag já vinha de algum tempo. Ele aceitou o mais espinhoso dos desafios ao suceder Xabi Alonso — o maior treinador da história do Leverkusen — justamente no momento em que o clube também se desfez de vários jogadores que haviam ajudado o carismático técnico espanhol a entrar para a história, conquistando, duas temporadas antes, o primeiro título da Bundesliga do clube como parte de uma dobradinha doméstica invicta.

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  • Granit Xhaka LeverkusenGetty

    Perdendo muitos líderes

    O talismã Florian Wirtz e o influente lateral-direito Jeremie Frimpong se transferiram para o Liverpool, enquanto o imponente zagueiro Jonathan Tah foi para o Bayern de Munique. Ten Hag, porém, acreditava que conseguiria manter o pilar do meio-campo, Granit Xhaka.

    “Este clube perdeu três jogadores importantes e não vai perder mais”, declarou ele no fim de julho. “Granit é um líder. Ele assinou um contrato de cinco anos e ainda faltam três. É importante demais para nós vendermos.”

    A diretoria do clube não gostou de ver o treinador tratar uma transferência de forma tão pública e, apenas uma semana depois, minou completamente Ten Hag ao vender Xhaka para o Sunderland. O Leverkusen reinvestiu o dinheiro recebido, gastando €198 milhões dos €230 milhões arrecadados em vendas para contratar 17 novos jogadores.

    Lucas Vázquez, Claudio Echeverri, Loïc Badé e Jarrell Quansah estiveram entre os reforços, ao lado das habituais apostas de Ten Hag no futebol holandês, como Ernest Poku e Malik Tillman. Mas o treinador queria ter mais influência na política de transferências e pressionou pela contratação de Quinten Timber — irmão de Jurrien, do Arsenal — do Feyenoord. No entanto, o Leverkusen não atendeu à pedida de €20 milhões do clube holandês e recusou vender outro jogador para abrir espaço para ele.

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  • Erik ten Haggetty

    Teimoso e sem paixão

    A revista alemã Kicker descreveu Ten Hag como “teimoso” e relatou que ele perdeu credibilidade com a hierarquia do clube ao falar publicamente sobre suas transferências desejadas. Já o jornal holandês De Telegraaf afirmou que o treinador teve dificuldades de comunicação com jogadores, comissão técnica e membros da diretoria, além de carecer do entusiasmo externo que caracteriza muitos técnicos alemães.

    Isso não deveria surpreender quem acompanhou suas aparições na mídia durante o período à frente do Manchester United. O treinador frequentemente tinha dificuldade para se expressar em coletivas de imprensa e, em diversas ocasiões, a equipe do clube precisou esclarecer aos jornalistas o que ele quis dizer.

    A falta de entusiasmo também foi um problema em Old Trafford, como explicou seu ex-auxiliar Benni McCarthy no ano passado: “No futebol moderno, acredito que os jogadores querem ver um pouco mais de paixão no treinador. Eles precisam sentir que ele está com eles e disposto a lutar ao lado deles. Taticamente, sinto que Erik é excelente. Mas falta-lhe um pouco daquele fogo, daquela paixão.”

    Ten Hag estava, de certo modo, condenado desde o início no Leverkusen, já que não era a primeira escolha do clube para o cargo. Essa era Cesc Fàbregas que, assim como Xabi Alonso, tinha apelo de estrela e estava no início de uma carreira de treinador promissora. Mas o Como não quis liberar seu técnico facilmente e, assim, Ten Hag — livre desde sua demissão do Manchester United em outubro do ano passado — acabou sendo escolhido.

  • FBL-ENG-GER-CHELSEA-LEVERKUSEN-FRIENDLYAFP

    'Não dou a mínima'

    O holandês teve a chance de voltar ao Ajax, onde construiu sua reputação, mas optou por um rompimento completo com o passado e decidiu continuar a trabalhar nas cinco principais ligas da Europa. No entanto, um sinal precoce de que Ten Hag não estava se entrosando bem com os jogadores do Leverkusen surgiu logo no início de sua gestão, quando sua equipe foi goleada por 5 a 1 pelo time sub-20 do Flamengo, em seu primeiro amistoso de pré-temporada no Brasil.

    A reação de Ten Hag a um placar tão surpreendente chamou a atenção dentro do clube: “O resultado parece ruim, mas eu realmente não dou a mínima para resultados de pré-temporada.” Sua equipe venceu três dos quatro amistosos seguintes, além da estreia na Copa da Alemanha contra o Sonnenhof Grossaspach, mas a campanha na Bundesliga começou mal, com uma derrota em casa por 2 a 1 para o Hoffenheim, que havia terminado em 15º na temporada anterior.

    A imagem de um time em desordem que se formou ao longo do tempo foi reforçada pelo novo contratado Mark Flekken que, de forma tipicamente holandesa, criticou os companheiros: “Muitos erros, erros simples”, disse ele, acrescentando que a equipe estava “jogando mais contra nós mesmos do que contra os adversários.”

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  • FBL-GER-BUNDESLIGA-BREMEN-LEVERKUSENAFP

    'Pensando apenas em si mesmos'

    A ideia de que o time era formado por indivíduos sem uma força unificadora ficou ainda mais evidente na partida seguinte, contra o Werder Bremen, quando Patrick Schick discutiu com Exequiel Palacios para decidir quem cobraria um pênalti. Schick venceu a disputa e converteu para fazer 3 a 1 diante do Bremen, que jogava com 10 homens, mas o Leverkusen desperdiçou a vantagem e cedeu o empate por 3 a 3.

    O capitão Robert Andrich não escondeu sua revolta após o jogo: “Não podemos ficar em campo jogando pedra, papel e tesoura por dois minutos. Temos muita gente preocupada com outras coisas, muitos pensando apenas em si mesmos.”

    Ten Hag também ficou irritado, classificando a disputa entre Schick e Palacios como “inaceitável” antes de dizer aos jogadores que eles deveriam estar “envergonhados” e que haviam jogado “como meninos, não como homens”.

    O mau início de temporada não foi exatamente uma surpresa. Afinal, Ten Hag perdeu seus dois primeiros jogos no comando do Manchester United para Brighton e Brentford por um placar agregado de 6 a 1, mas permaneceu no cargo por mais dois anos e conquistou dois títulos. A diretoria do Leverkusen, porém, não teve a mesma paciência.

    “Simplesmente tivemos a sensação de que as coisas estavam indo na direção errada”, afirmou o diretor administrativo Simon Rolfes após a demissão de Ten Hag. “Antes de chegarmos a esse destino errado, decidimos agir agora.”

    O Leverkusen nunca saberá se Ten Hag poderia ter revertido a situação, e a decisão deixou o holandês compreensivelmente furioso com o que chamou de medida “sem precedentes”.

    “Sinto que isso nunca foi um relacionamento baseado em confiança mútua”, declarou ele. “Ao longo da minha carreira, todo ano em que consegui completar meu trabalho como treinador trouxe sucesso. Os clubes que confiaram em mim foram recompensados.”

  • SV Werder Bremen v Bayer 04 Leverkusen - BundesligaGetty Images Sport

    Reputação em queda

    O Manchester United foi recompensado por não demitir Ten Hag imediatamente em 2022, já que ele acabou levando o time ao terceiro lugar na Premier League, vencendo todos os grandes rivais em casa. Também encerrou um jejum de seis anos sem títulos ao conquistar a Copa da Liga Inglesa. Mas, em meados de 2024, o clube demonstrou confiança excessiva ao mantê-lo no cargo mesmo após um oitavo lugar na Premier League, sustentado apenas pela surpreendente vitória sobre o Manchester City na final da Copa da Inglaterra.

    O fato de o Leverkusen tê-lo contratado mostrava que ele ainda conservava bastante prestígio, apesar do que havia acontecido no clube inglês — e que seu período em Manchester talvez estivesse sendo visto de forma mais positiva devido à piora do cenário em Old Trafford sob o comando de Rúben Amorim. Mas, em vez de reconstruir sua reputação, ela se deteriorou ainda mais: Ten Hag agora detém o indesejado recorde de ser o primeiro treinador da história da Bundesliga a ser demitido após apenas duas partidas da liga no comando.

    É difícil prever seus próximos passos. Um retorno ao Campeonato Holandês — a liga onde obteve mais sucesso e na qual costumava buscar reforços — parece o caminho mais natural, ainda que com um certo sabor de humilhação. Ele, porém, sempre será bem-vindo no Ajax, onde o novo técnico Johnny Heitinga vai tendo um início de temporada pouco inspirador.

  • AmorimGetty Images

    Só existe o caminho para baixo

    Ou talvez ele siga o mesmo caminho de Mourinho e Solskjaer e acabe na Turquia, onde o dinheiro não falta. Provavelmente terá de esperar bastante tempo antes de voltar a um grande clube das cinco principais ligas europeias — se é que algum dia voltará.

    Os recentes problemas de Ten Hag, assim como os de Mourinho e Solskjaer, devem servir de alerta para Rúben Amorim enquanto ele continua no comando do Manchester United. Porque, enquanto jogadores como Scott McTominay e Antony prosperaram desde que deixaram Old Trafford — tornando-se ídolos no Napoli e no Betis, respectivamente — os técnicos que fracassaram no United nunca conseguiram se recuperar.

    Mourinho virou um personagem e nenhum clube de ponta parece disposto a contratá-lo agora. Solskjaer ficou quatro anos sem emprego antes de sua breve passagem pelo Besiktas e Ten Hag entrou para a história na Alemanha pelas razões erradas.

    O único sobrevivente da experiência tortuosa de treinar o Manchester United após Sir Alex Ferguson é David Moyes, que vem fazendo um grande trabalho no Everton 11 anos depois de sua desastrosa passagem como o sucessor escolhido por Ferguson em Old Trafford. Mas o escocês atua em um patamar diferente e não foi mais considerado para cargos no grupo dos seis primeiros desde que saiu dos Red Devils.

    Os acontecimentos da última semana devem, portanto, servir como um lembrete para Rúben Amorim: uma vez que você deixa o Manchester United, o caminho tende a ser só para baixo. Portanto, é melhor ele acertar.

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