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Forest's fall from grace.jpgGetty/GOAL

Como o Nottingham Forest passou da luta pelo Top 4 à luta contra a queda na Premier League com direito ao caos de Ange Postecoglou

A arrancada do Nottingham Forest rumo ao Top 4 da Premier League foi a história mais inspiradora da temporada 2024/25 e, embora uma queda no fim tenha feito o time de Nuno Espírito Santo terminar em sétimo, ainda assim foi o melhor desempenho do clube na elite do futebol inglês em 30 anos. O clima de festa no City Ground reacendeu três meses depois, quando o Forest foi promovido da Conference League para a Europa League, após o Crystal Palace ser punido de forma controversa por violar as regras de propriedade múltipla de clubes da Uefa.

Enquanto isso, o Forest fez 13 novas contratações na janela de transferências do meio do ano para se preparar para sua primeira campanha europeia desde 1996/97, incluindo o ponta do Bologna Dan Ndoye, o jovem talento do Ipswich Town Omari Hutchinson e o matador ex-Botafogo Igor Jesus. Visto de fora, parecia que um dos grandes gigantes caídos do futebol inglês finalmente estava de volta ao caminho do topo.

Mas, avançando até meados de outubro, todos aqueles torcedores que ousaram sonhar agora veem seus piores pesadelos se tornando realidade. O Forest caiu para o 17º lugar na tabela depois de vencer apenas um dos oito primeiros jogos da Premier League nesta temporada, e é o ataque menos produtivo da liga, com apenas cinco gols.

O time também foi eliminado da Carabao Cup na terceira rodada pelo Swansea City, da segunda divisão, antes de iniciar sua jornada na Europa League com um empate por 2 a 2 com o Real Betis e uma derrota decepcionante por 3 a 2 em casa para o FC Midtjylland. O adorado Nuno foi surpreendentemente demitido após apenas três jogos da nova temporada e rapidamente substituído pelo polêmico “facilitador do caos” Ange Postecoglou. Ele, por sua vez, teve apenas oito partidas antes de o implacável dono Evangelos Marinakis puxar o gatilho novamente — e, para o constrangimento de Postecoglou, a notícia foi entregue minutos após o apito final que selou a derrota por 3 a 0 para o Chelsea neste sábado.

Um retorno humilhante à Championship é uma possibilidade real se algo não mudar rapidamente. A pergunta é: como o Forest passou de candidato à Champions League para candidato ao rebaixamento em tão pouco tempo?

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  • Nottingham Forest v Chelsea FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Vaga na UCL fica no limbo

    Quando o Forest venceu o Manchester United por 1 a 0 no City Ground, em 1º de abril, graças a um gol logo no início do ex-jogador dos Red Devils Anthony Elanga, o time ocupava o terceiro lugar na Premier League, com 57 pontos — apenas quatro atrás do vice-líder Arsenal e dez à frente do Newcastle, que estava em sexto, fora da zona de classificação para a Champions League.

    Com apenas oito jogos restantes, o destino do Forest estava em suas próprias mãos.

    Mas então o time ficou completamente sem fôlego. Os comandados de Nuno venceram apenas dois dos sete jogos seguintes, sofrendo ainda derrotas para Aston Villa, Everton e Brentford, o que os fez despencar para o sétimo lugar. Ainda assim, chegaram à última rodada sabendo que uma vitória em casa sobre o quarto colocado Chelsea garantiria a tão sonhada vaga na Champions League.

    Entretanto, o Forest desperdiçou sua última chance, perdendo por 1 a 0 para o Chelsea em uma partida carente de qualidade técnica. O time mostrou muito esforço, mas faltou criatividade para furar a defesa dos Blues, conseguindo apenas dois chutes no alvo, enquanto um gol de curta distância de Lewis Colwill fez a diferença entre as duas equipes.

    Considerando que o Forest havia garantido a permanência na Premier League apenas na última rodada da temporada 2023/24, o sétimo lugar foi uma conquista enorme, e a torcida no City Ground deu a Nuno e seus jogadores uma recepção calorosa na volta olímpica.

    No entanto, as razões subjacentes para a queda de desempenho na reta final foram amplamente ignoradas.

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  • FBL-ENG-PR-NOTTINGHAM FOREST-MAN CITYAFP

    'O sucesso nunca foi sustentável'

    O redator sênior da GOAL e torcedor apaixonado do Nottingham Forest, Chris Burton, foi um dos poucos que previu a queda do time.

    “O sucesso da última temporada nunca foi sustentável — o xG do Chris Wood, os jogos sem sofrer gols, e o estilo de contra-ataque”, diz ele. “As coisas começaram a desandar na primavera, e o Forest nunca se recuperou de verdade.”

    De fato, Wood marcou 20 dos 58 gols do Forest na Premier League na temporada passada — o melhor número de toda a sua carreira, e isso com apenas 32 finalizações no alvo. O atacante neozelandês superou sua métrica de gols esperados (xG) de 13,4 em 6,6 gols, sendo que apenas Bryan Mbeumo, do Brentford, teve um desempenho superior nesse quesito (diferença de 7,7 entre gols reais e esperados).

    O Forest também tinha, após a vitória sobre o United, mais jogos sem sofrer gols do que qualquer outro time da liga (13), mas não conseguiu repetir o feito nas oito partidas finais, e Wood marcou apenas duas vezes nesse período.

    A principal razão foi que os adversários começaram a entender as táticas unidimensionais de Nuno.

    As equipes passaram a ceder mais posse de bola ao Forest, em vez de recuar e permitir os contra-ataques. Isso fez com que o Forest tivesse mais campo para defender com menos jogadores e tivesse dificuldade para acionar Wood em posições perigosas com a mesma frequência.

    “Nuno manteve sua forma de jogar e acabou sendo descoberto”, acrescenta Burton.

  • Nuno-EduGetty/GOAL

    'Guerra' com Edu Gaspar

    De acordo com o The Telegraph, Nuno queria adaptar o estilo de jogo do Forest durante o meio do ano para competir com os grandes clubes, mas foi atrapalhado pela falta de agilidade da equipe de recrutamento do clube.

    O Forest investiu £196 milhões (R$ 1,4 bilhão) em novos jogadores, mas vários negócios importantes só foram concluídos no fim da janela de transferências, e o técnico expressou sua frustração publicamente.

    “Lidar com incertezas é a pior coisa que se pode ter no futebol”, disse ele antes da estreia do Forest na nova temporada, contra o Brentford.

    “Quem vai ficar aqui? Quando é que os novos reforços vão chegar? Todas essas coisas criam dúvidas. Nossa pré-temporada foi muito, muito ruim. Não vencemos nenhum jogo e marcamos apenas um gol. Os jogadores não são super-homens — vamos precisar revezá-los. Isso é um grande problema, considerando a intensidade e as exigências das partidas.”

    Um dos principais alvos de Nuno era o ponta do Fulham, Adama Traoré, com quem ele havia trabalhado no Wolves. No entanto, o negócio foi supostamente bloqueado por Edu Gaspar, ex-CBF e Arsenal e o novo diretor global de futebol do Forest.

    O The Athletic afirma que Nuno não simpatizou com Edu desde a primeira conversa, e uma “guerra interna” completa se instalou — a ponto de os dois pararem de se falar completamente. Mas era uma batalha que Nuno simplesmente não poderia vencer, já que Edu fazia parte do projeto de longo prazo que estava sendo montado pelo dono grego Evangelos Marinakis.

  • Evangelos Marinakis Nuno Espirito Santo Nottingham ForestGetty

    Demissão de Nuno 'inevitável'

    Edu e Marinakis levaram as críticas públicas de Nuno “para o lado pessoal” e, embora o técnico tenha melhorado o clima nos bastidores ao conquistar uma vitória por 3 a 1 sobre o Brentford, o efeito foi apenas temporário.

    Nuno continuava insatisfeito e acabou provocando a ira de Marinakis com outro desabafo explosivo em sua coletiva pré-jogo antes da partida do Forest contra o Crystal Palace.

    “Sempre tive uma relação muito boa com o dono. Na temporada passada, era algo muito próximo, quase diário. Nossa relação mudou. Já não é tão próxima”, admitiu. “Não está bem — todos no clube deveriam estar unidos, mas essa não é a realidade.”

    As declarações de Nuno imediatamente trouxeram à memória o episódio em que Marinakis aparentemente confrontou o treinador em campo após o empate por 2 a 2 com o Leicester City, em maio. Na ocasião, o clube explicou que o dono apenas demonstrava preocupação com o atacante Taiwo Awoniyi, que havia jogado mesmo com uma lesão abdominal — que mais tarde exigiu cirurgia.

    Naquele momento, qualquer ideia de atrito maior foi descartada, e Nuno chegou a assinar um novo contrato de três anos no mês seguinte. Mas Marinakis começou a reconsiderar o acordo depois de ver o técnico expor seus problemas de forma tão aberta.

    O Forest empatou por 1 a 1 com o Palace, mas, àquela altura, já circulavam amplamente rumores de que Ange Postecoglou estava sendo preparado para substituir Nuno. A derrota por 3 a 0 para o West Ham, no City Ground, em 31 de agosto, foi o golpe final para o treinador, que acabou demitido durante a pausa internacional.

    Foi uma decisão chocante, considerando o status de Nuno como o técnico mais bem-sucedido do Forest na era moderna, mas também “inevitável”, segundo Chris Burton, da GOAL. “Nuno fez birra quando não conseguiu os reforços que queria e perdeu parte do prestígio com os torcedores por causa de seu comportamento”, afirmou Burton.

  • Real Betis Balompie v Nottingham Forest FC - UEFA Europa League 2025/26 League Phase MD1Getty Images Sport

    Pagando pela miopia de Ange

    Antes mesmo da saída de Nuno, vários técnicos foram cotados para assumir o comando do Forest — entre eles o bicampeão da Champions League José Mourinho e o treinador do Fulham, Marco Silva, ambos capazes de trazer estabilidade a curto prazo.

    No entanto, Marinakis preferiu apostar em Ange Postecoglou. Nuno era um técnico pragmático, que priorizava disciplina e organização acima de tudo.

    O “Ange-ball” está a anos-luz dessa filosofia: Postecoglou exige uma linha defensiva extremamente alta, pressão agressiva e domínio da posse de bola, buscando romper as linhas adversárias com trocas de passes rápidas.

    É uma fórmula ofensiva que já rendeu sucessos concretos, o mais recente deles no Tottenham, onde Postecoglou encerrou um jejum de 17 anos sem títulos ao conquistar a Europa League. Mas esse estilo também carrega riscos enormes, já que suas equipes costumam ser muito vulneráveis nas transições defensivas.

    Foi exatamente por isso que o Spurs sofreu 68 gols e registrou um recorde negativo de 22 derrotas, terminando em 17º lugar na Premier League na última temporada — o que levou à demissão de Postecoglou, apesar do título continental.

    Mesmo assim, Marinakis se deixou deslumbrar pelo currículo do treinador de 60 anos, que inclui títulos de liga na Escócia, no Japão e na Austrália, e ignorou as falhas gritantes de sua abordagem tática. Agora, o Forest paga o preço dessa visão limitada, com o time em uma situação ainda pior apenas 39 dias após a nomeação de Postecoglou.

  • Swansea City v Nottingham Forest - Carabao Cup Third RoundGetty Images Sport

    Surpreendidos pelo Swansea

    Postecoglou teve apenas um treino com o novo elenco antes de estrear no comando do Nottingham Forest — uma viagem de volta ao norte de Londres para enfrentar o Arsenal, arquirrival do seu ex-clube, o Tottenham.

    Não foi surpresa, portanto, que os Gunners venceram com facilidade por 3 a 0, e Postecoglou rapidamente prometeu dias melhores.

    “Não vai levar meses, não vai levar semanas… Vai ser na quarta-feira”, disse Postecoglou, referindo-se ao jogo da Copa da Liga (Carabao Cup) contra o Swansea. “Não posso perder tempo. Na quarta-feira, já veremos os princípios sendo aplicados. Não vai demorar — e eu não vou deixar demorar. Vou garantir que mudemos esse cenário, porque temos uma oportunidade incrível de causar impacto.”

    Por uma hora, o Forest cumpriu a promessa. Os visitantes marcaram dois belos gols coletivos no primeiro tempo, ambos finalizados por Igor Jesus, e o Swansea não conseguia lidar com a fluidez do jogo adversário.

    O emprestado do Arsenal, Oleksandr Zinchenko, e Nicolo Savona alternavam de laterais para meio-campistas quando o time tinha a bola, o que dava liberdade para Douglas Luiz, outro reforço da janela, avançar e criar chances — que continuaram surgindo no início da segunda etapa.

    Mas Jair Cunha desperdiçou a melhor delas, e o Swansea respondeu com um contra-ataque rápido que resultou em escanteio.

    Cameron Burgess subiu mais alto e cabeceou para o gol, mudando completamente o rumo da partida. Zan Vipotnik empatou aos 92 minutos, e Burgess marcou o segundo nos acréscimos para selar a virada.

    Foi o tipo de colapso que os torcedores do Tottenham haviam se acostumado a ver sob o comando de Postecoglou na temporada anterior. Os Spurs saíram na frente em 22 jogos da Premier League, mas venceram apenas 11, com 7 empates e 4 derrotas.

    Postecoglou traz um futebol fluido e empolgante, mas sem controle — suas equipes podem desmoronar a qualquer momento.

  • Newcastle United v Nottingham Forest - Premier LeagueGetty Images Sport

    Confiança começando a despencar

    O Forest também desperdiçou vantagens em suas duas partidas seguintes, empatando em 1 a 1 com o recém-promovido Burnley, no Turf Moor, e depois no 2 a 2 contra o Real Betis. Ainda assim, Postecoglou saiu animado com as atuações — especialmente com a jogada coletiva que resultou no primeiro gol do Forest na Espanha, marcado por Igor Jesus.

    “Eu sei que estou fora do tom com esse tipo de coisa, mas ainda vejo beleza nisso. Amo que minhas equipes joguem esse tipo de futebol. Acho que momentos construídos dessa forma são o que tornam o nosso jogo tão bonito — e eu adorei isso”, disse ele aos repórteres.

    Sobre o processo de adaptação da equipe ao seu estilo, Postecoglou acrescentou: “Alguns dos momentos de futebol que tivemos foram excepcionais, e este grupo de jogadores tem sido muito receptivo ao que estamos tentando fazer. O desafio agora é garantir que eles não abaixem a cabeça, mesmo sem as vitórias chegando.”

    Mas é justo dizer que ele não conseguiu cumprir esse desafio. O Forest sentiu o peso das partidas europeias, sofrendo uma derrota por 1 a 0 em casa para o Sunderland três dias depois, e em seguida caiu por 2 a 0 diante do Newcastle, logo após a surpreendente derrota para o Midtjylland.

    Contra Sunderland e Midtjylland, foi a mesma história de sempre: erros defensivos em excesso e falta de precisão no ataque. Já contra o Newcastle, o Forest foi forçado a jogar no ritmo do adversário, mostrando uma queda clara de intensidade e concentração coletiva — algo comum quando a confiança despenca.

    Antes mesmo do jogo contra o Chelsea, Postecoglou já estava em sérios apuros. Na verdade, ele se tornou o primeiro técnico do Forest desde 1925 a não vencer nenhum dos sete primeiros jogos, mas manteve o tom confiante característico antes da partida de sábado.

    “É uma luta, é uma batalha — e não há nada de errado nisso”, disse ele à Sky Sports após o apito final em St. James’ Park. “Eu poderia estar sentado no sofá assistindo vocês, mas prefiro estar aqui, bem no meio disso, onde posso ter impacto — e acredito que terei.”

  • Sean DycheGetty Images Sport

    Homem perfeito para o trabalho?

    Mas é exatamente no sofá que Postecoglou se encontra agora.

    Segundo o The Telegraph, Evangelos Marinakis já considerava demitir o técnico — o segundo da temporada — e acabou tomando a decisão de forma implacável, minutos após assistir à derrota por 3 a 0 para o Chelsea.

    E agora? O nome mais cotado para assumir o comando é o de Sean Dyche, que surge como favorito para o cargo. Outro candidato é Marco Silva, mas o Fulham exigiria uma alta compensação financeira para liberá-lo.

    Dyche, por outro lado, está livre no mercado desde que foi demitido do Everton em janeiro — e tem fortes laços com o Nottingham Forest, onde atuou nas categorias de base durante a era Brian Clough.

    Morador de Nottingham e presença frequente nos jogos em casa do clube, Dyche levaria consigo dois ídolos do Forest, Ian Woan e Steve Stone, que integram sua equipe técnica há anos, desde os tempos de Burnley e Everton. Além disso, Dyche é conhecido como um grande motivador, capaz de tirar o melhor de elencos em crise.

    Sob seu comando, o Burnley conquistou duas promoções à Premier League e chegou a terminar em sétimo lugar na temporada 2017-18, garantindo vaga em competições europeias pela primeira vez em 51 anos. No Everton, mostrou a mesma capacidade de resistência, mantendo o clube na elite em meio a deduções de pontos e turbulência administrativa.

    O estilo de Dyche pode não ser tão agradável aos olhos quanto o de Postecoglou, mas ele traria estabilidade defensiva — algo que o Forest possuía sob o comando de Nuno Espírito Santo.

    Marinakis, ao que tudo indica, não acreditava que Postecoglou conseguiria tirar o time da crise, e por isso agiu rápido e sem sentimentalismo.

    A esperança agora é que uma mudança de técnico traga resultados imediatos, melhore a posição do clube na tabela e, de quebra, convença jogadores importantes — como Elliott Anderson, Morgan Gibbs-White e Murillo — a permanecerem, já que todos atraem interesse de grandes clubes europeus.

    A derrota para o Chelsea e a demissão subsequente de Postecoglou deixaram o Forest em chamas — e Sean Dyche pode ser o homem certo para apagar o incêndio.