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FLUMINENSE 2-1GOAL

Como Nelson Rodrigues escreveria o épico do Fluminense no Mundial de Clubes de 2025 até a semifinal contra o Chelsea

O Fluminense está fora do Mundial de Clubes de 2025. Os tricolores foram derrotados por 2 a 0 contra o Chelsea, da Inglaterra. Retratar apenas em registros simples ou imagens banais o valor histórico da campanha do clube das Laranjeiras não parece dar o tom real do que vimos nos Estados Unidos. Foi então que optamos por um exercício ousado: como seria se Nelson Rodrigues escrevesse o último ato deste verdadeiro épico tricolor?

Antes de mais nada, o óbvio: é impossível descobrir. E como é uma pretensão de altíssimo grau, cabe aquela mea-culpa se o objetivo não tiver sido minimamente alcançado. Mas cabe, ainda assim, a tentativa de homenagear tanto Nelson quanto a campanha do Fluminense neste Mundial – afinal de contas, eles, Nelson e Fluminense, são como se fossem uma coisa só.

O exercício, transformado em texto que você pode ler abaixo, selecionou algumas palavras-chave usadas pelo romancista em suas históricas crônicas boleiras, assim como textos escritos por Nelson após duas eliminações do time na Taça Brasil (de 1960, contra o Palmeiras, e 1966, contra o Cruzeiro), para inspirar a criação de um texto – obviamente sem nenhum tipo de uso de inteligência artificial. Sem mais delongas, e enumerando os parágrafos como era comum em sua coluna À Sombra das Chuteiras Imortais, do jornal O Globo, vamos lá:

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  • 1

    Confesso, e não há nenhum problema nisso: encontrava-me em júbilo dentro deste MetLife Stadium, em Nova Jersey. Na véspera do jogo, varando a madrugada, começaram a aparecer ainda mais tricolores do que os que ali já estavam, a léguas e léguas do Brasil. A Terra do Tio Sam se encontrou apinhada das três cores que traduzem tradição. Em um rompante cheio de ar, imaginei que a invasão fora do país já profetizava a vitória. Mas, de repente, fiquei atônito e o ar hesitou: estaria, eu, sendo óbvio demais? O suspiro de tranquilidade foi pensar que o Fluminense não é nada óbvio, como as histórias daqueles que transformaram "timinhos" em "Timaços" atestam.

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  • 2

    Durante todo o dia do jogo, o que dava mais nas esquinas e botecos, e até nestes pub's, era o sotaque carioca. Comecei a achar que o Chelsea ia entrar por um cano deslumbrante. Germán Cano! Quando entrei no MetLife Stadium, o sol brilhava como único refletor, sendo luz forte e opressiva até para uma tarde como a de hoje. As bandeiras tremulando de um lado para o outro em meio ao Astro Rei escaldante passavam até a impressão de estarmos em um jogo de Campeonato Carioca. Foi quando, sem me importar com o que viria em campo, cravei -- e cravo -- com toda a certeza: ganhamos!

  • 3

    Não importava o que viria acontecer antes de a bola rolar, o Fluminense já era o vencedor. Chegou desacreditado aos Estados Unidos: um Patinho Feio entre todos e até mesmo entre os outros brasileiros, Botafogo, Flamengo e Palmeiras. Como se fosse um Odisseu, Renato soube tirar o máximo de sua inteligência sem perder a malandragem que lhe corre as veias. Como se tivéssemos dois Nestores, tal qual o matuzalênico herói grego mais velho a estar em Troia, Fábio e Thiago Silva mostraram que seguem decisivos apesar da idade e sabem muito bem o que fazer. Jhon Arias, ah, este fez quase tudo. E quando parecia que não teríamos força, acionávamos nosso Hércules particular. Quer roteiro mais heroico? Mas nem todo troféu é materializado em prata e o Fluminense caiu derrotado por 2 a 0.

  • 4

    Amigos, o jogo com o Chelsea foi uma alta lição. Digo “lição” para o ataque do Fluminense. Os nossos dianteiros aprenderam como não devem jogar, em hipótese nenhuma. Eles não jogaram bem, nem mal. Jogaram errado. Rigorosamente errado. Se Thiago Silva, brioso, dinâmico, por vezes épico, cumpriu a sua missão, os demais jogadores foram o que se pode imaginar de vago, platônico, estéril, inofensivos.

  • 5

    E com o agravante: o ritmo lento. Foi lerdo, arrastado, como se sofrêssemos tanto com o sol quanto um time frio da fria Inglaterra. Passos para os lados, para trás e nenhuma velocidade. Dir-se-ia que não passava pela cabeça de nenhum dos nossos dianteiros a mais tênue, remota preocupação de gol. Parecia uma demonstração, uma exibição bonitinha e nada mais.

  • 6

    A grande dor mesmo foi ver o Fluminense ser ferido, tal qual Júlio César no senado, por quem há pouco tempo estava em sua casa. João Pedro, jogador de DNA tricolor revelado neste lugar mágico que chamam de Xerém, nos dava orgulho pelos feitos que vinha escrevendo por Watford ou Brighton. Mas justo agora, neste momento, foi contratado pelo Chelsea. A abriu o placar com um chute dos mais indefensáveis dentro dos indefensáveis – pois sob a baliza tricolor, afinal de contas, estava Fábio.

  • 7

    A grande ira, contudo, fica com os idiotas da objetividade – sempre eles! Talvez até reforçados pelos da subjetividade, pois nada explica a mão na bola do zagueiro do Chelsea não ter sido pênalti. Dentro de campo com apito na boca, ou de frente a televisores, o erro ululante é imperdoável. Mas voltemos ao jogo.

  • 8

    A meu ver, houve no Fluminense um erro nítido, insofismável, taxativo: a substituição de Germán Cano. Alguém dirá que o argentino não estava assombrando e eu concordo. Mas, meus amigos, estamos falando do maior chama-gol que vestiu o manto tricolor desde que Fred usava bigodes e saboreava caipi-saques. Se tivesse sido ele, e não Hércules, a ter chutado aquela bola, ainda no primeiro tempo, nem dois Cucurellas teriam conseguido salvar em cima da linha.

  • 9

    Em seu lugar, entrou Everaldo e o ataque parecia se afundar de vez. Era desesperador: um 9 que não chuta quando é para chutar, que não dribla quando é para driblar ou que não toca quando é para tocar. Creio não exagerar dizendo que, em nenhum momento após aquela substituição, o Fluminense ameaçou o seu adversário. Minto. Houve um momento, sim, em que Everaldo esteve para marcar e não soube fazê-lo. Seu erro foi punido, claro. Logo depois, nasceu o contra-ataque que acabou selando o nosso destino nesta heroica guerra de triste batalha final. E mais uma vez o ex-nosso João Pedro desferiu o golpe.

  • 10

    E, por fim, que falta imensa e clamorosa faz o Ganso! É ele que cria em nosso ataque, o espírito, o fogo do gol. O jogo está acelerado demais? Ele sabe quando teria que ser a pausa. Está parado demais, por causa do calor? Então cada segundo para ele é como se fossem séculos para descobrir qual seria a melhor jogada. Com seus toques, ele infunde mais gana, mais garra, e a fúria ofensiva, sem o que nenhum ataque tira o zero do placar. Mas, amigos, o insucesso na semifinal deste Mundial de Clubes é tão real, pelo título que não veio, quanto irreal, para aqueles que não conseguem apreciar a grandeza de uma história quando veem uma – mais uma vez, os idiotas da objetividade.