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Javier Mascherano, Sergio Busquets, Benjamin CremaschiGetty/GOAL

Como Javier Mascherano engoliu o ego e acertou o Inter Miami antes de desafiar o Palmeiras no Mundial de Clubes

Então, esse tal de Lionel Messi ainda é muito bom, né? Qualquer um que acompanhou a MLS nos últimos dois anos pode confirmar. Ainda há magia nessas pernas — mesmo que elas se movam um pouco mais devagar e passem mais tempo caminhando. E aquele gol de falta para enterrar o Porto? Um lance puro de genialidade, do tipo que ele tem repetido ao longo de toda a carreira.

São momentos assim que ganham manchetes e viralizam nas redes sociais. Afinal, são mais clicáveis — e, até aqui, esse foi o instante mais memorável do Mundial de Clubes de 2025.

Mas, ao olhar além do brilho de Messi, este também foi um marco para Javier Mascherano. Seu Inter Miami trocou a posse de bola excessiva pelo pragmatismo, preferiu o controle ao caos. Mesmo sendo inferior em finalizações contra um bom time do Porto, a forma como o argentino estruturou sua equipe garantiu a vitória por 2 a 1 e três pontos mais do que merecidos — talvez o maior momento da carreira de Mascherano como técnico até agora.

A GOAL analisa a vitória do Inter Miami sobre o Porto — e por que ela foi muito mais do que apenas "dar a bola para o Messi".

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  • Inter Miami CF v FC Porto: Group A - FIFA Club World Cup 2025Getty Images Sport

    Benjamin Cremaschi, em todos os lugares

    Por um tempo, o principal problema de Benja Cremaschi era justamente sua capacidade de fazer demais. O meio-campista da seleção dos EUA é uma bola de energia incansável, cobrindo uma quantidade absurda de terreno — e, por isso, às vezes parecia deslocado em equipes que exigem posicionamento rígido, controle de espaços e ritmo cadenciado.

    Curiosamente, Cremaschi é um raro caso de jogador sul-americano que parece mais confortável sem a bola do que com ela. E esse não é exatamente o estilo do Inter Miami, que prioriza posse de bola e jogo apoiado. Quando algo sai dos trilhos, a missão de recuperar a bola geralmente é de Yannick Bright — mas ele está lesionado, o que criou um problema para Javier Mascherano.

    Na estreia do Mundial de Clubes, no empate sem gols com o Al Ahly, a solução foi usar Federico Redondo. O uruguaio é inteligente e técnico, mas falta explosão física. Contra o Porto, porém, o cenário era diferente — e ideal para Cremaschi. O adversário não exigiria perseguição constante, mas sim intensidade para encarar um meio-campo dinâmico no sistema 3-4-3 dos portugueses. E Cremaschi foi peça-chave nesse contexto.

    Ele começou, nominalmente, como um meia pela direita, mas flutuava para o centro conforme o jogo pedia. Em outros momentos, abria novamente pela direita. Incansável, terminou a partida com mais desarmes e interceptações do que qualquer outro em campo — nada surpreendente para quem o acompanha de perto.

    Com a bola, também foi eficaz. Seu mapa de calor mostra maior atividade no corredor interno direito, onde recebeu e distribuiu passes — geralmente, buscando Messi. Ele também ofereceu amplitude quando necessário, fazendo as corridas que abrem espaço mesmo sabendo que a bola dificilmente viria para ele. Jogar com Messi, muitas vezes, é isso: tirar marcadores do caminho para que o argentino brilhe. O altruísmo de Cremaschi foi essencial.

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  • Maxi Falcon Inter MiamiGetty

    Uma linha defensiva, mais recuada

    Tem sido quase cômico, em certos momentos, observar o quanto Javier Mascherano insiste em manter sua linha defensiva avançada. Uma defesa alta pode ser divertida — que o diga o Barcelona de Hansi Flick —, mas ela depende de quatro pilares fundamentais:

    • Atacantes que saibam pressionar (os do Inter Miami não sabem);
    • Um meio-campo atlético (o de Miami não é);
    • Zagueiros com velocidade e fôlego (os de Miami não têm);

    Um goleiro capaz de sair da área com frequência para salvar o time (Oscar Ustari, dois anos mais novo que Mascherano, claramente não é esse cara).

    O resultado dessa combinação tem sido uma defesa exposta, constantemente correndo para trás. E quando se somam algumas decisões individuais duvidosas — Maxi Falcón, por exemplo, lembra um jovem David Luiz em seus momentos mais caóticos —, o sistema se torna frágil como papel. Ainda assim, Mascherano mantinha a fé em sua proposta. Contra adversários menores da MLS, funciona. Mas diante de uma potência europeia? Beira a loucura.

    Na quinta-feira passada, no entanto, houve um ajuste. O Inter Miami recuou a linha defensiva. A pressão no homem da bola foi mais comedida. Em vez de tentar forçar erros, a equipe optou por fechar os espaços, desafiando os pequenos criadores do Porto a encontrarem soluções.

    Claro, os portugueses ainda conseguiram produzir alguns lances de perigo — Samu, em especial, foi uma ameaça constante. Mas, apesar dos 14 chutes do Porto, apenas três acertaram o alvo. Um foi de pênalti. E mesmo que Falcón tenha sido forçado a salvar uma bola em cima da linha, os Herons demonstraram solidez incomum desde o apito inicial.

  • FBL-WC-CLUB-2025-MATCH01-AHLY-INTER MIAMIAFP

    Sergio Busquets permanece estático - e isso é uma coisa boa

    Houve muita conversa após a estreia do Inter Miami no Mundial de Clubes sobre o estado físico de Sergio Busquets. Nada exatamente novo — afinal, ele nunca foi conhecido por sua velocidade, e, aos 36 anos, está longe do auge físico. Contra o Al Ahly, sua atuação foi discreta, muitas vezes sendo superado por um meio-campo mais jovem e enérgico.

    Logo, ganhou força o discurso de que "o futebol o deixou para trás". Mas esse é um erro comum — e subestima um dos jogadores mais inteligentes de sua geração. O que muita gente esquece é que Busquets sempre foi extremamente versátil. É, com justiça, considerado o protótipo do moderno camisa 6, mas também sabe atuar como zagueiro central ou jogar mais adiantado contra equipes que controlam a posse.

    Mais do que qualquer outra coisa, porém, Busquets é um mestre em ler o jogo. Peça a ele para se posicionar e fechar espaços, e ele o fará com uma eficiência quase clínica. Correr em direção a ele parece, às vezes, como tentar atravessar uma parede fina de tijolos: você passa, mas se atrapalha. Mesmo sem explosão física, ele continua sendo um especialista em vencer duelos.

    E foi exatamente isso que ele mostrou contra o Porto. Busquets venceu o terceiro maior número de duelos da partida, acertou quase todos os desarmes que tentou e, como de costume, cometeu faltas “limpas” que raramente renderam cartões — sempre usando o mínimo de contato necessário para convencer o árbitro.

    Mais impressionante ainda foi sua economia de movimento. Busquets quase não se mexeu. Atuando logo à frente da zaga, recebia a bola, girava o corpo e encontrava Messi. Repetidas vezes. Nenhum outro jogador do Miami teve mais toques ou deu mais passes para o terço final.

    Messi costuma dizer que aprendeu a arte de caminhar para prolongar a carreira. Busquets, ao que parece, dominou a arte de ficar parado — e foi exatamente isso que levou o Inter Miami à vitória.

  • Inter Miami CF v FC Porto: Group A - FIFA Club World Cup 2025Getty Images Sport

    Lionel Messi, mágico

    A seleção argentina campeã da Copa do Mundo de 2022 deixou claro, em diversas entrevistas, que sua principal missão em campo era simples: lutar todas as batalhas por Lionel Messi — e, depois disso, sair do caminho. Pode soar estranho em teoria. Afinal, há muitos craques naquele elenco. Por que pedir que se limitem a tarefas simples, tudo por causa de um jogador?

    Bem, porque esse jogador é simplesmente o melhor que já chutou uma bola. E, quando é esse o caso, a lógica da estratégia "Dê a bola para Messi" — ou, como dizem os argentinos, "¡Balón a Messi!" — faz todo o sentido. Aliás, quando bem aplicada, ela ainda é extremamente eficaz.

    Foi exatamente isso que funcionou para o Inter Miami diante do Porto. A diferença em relação a outros craques veteranos é que Messi ainda participa muito do jogo. Enquanto outros atletas em fim de carreira aparecem pontualmente, Messi permanece ativo, mantendo-se em movimento com passes curtos e simples — muitas vezes só para manter o ritmo e o calor.

    Na quinta-feira, ele teve o segundo maior número de toques entre os jogadores do Miami. Passou boa parte do tempo tocando de lado, esperando o momento certo para acelerar. E, claro, deixou sua marca. O empate de Telasco Segovia só aconteceu porque Messi iniciou a jogada com um passe angulado pela direita.

    No fim, ele criou duas chances claras, liderou em assistências esperadas e coroou a noite com um golaço de falta. Quando houver dúvida, a resposta ainda é a mesma: dê a bola para o camisa 10.

  • Inter Miami CF v FC Porto: Group A - FIFA Club World Cup 2025Getty Images Sport

    Mascherano, flexível?

    É difícil subestimar o quanto essa vitória pode representar no contexto da trajetória de Javier Mascherano à frente do Inter Miami. Ele não está exatamente sob pressão em South Beach, mas tampouco havia convencido por completo até aqui. Quando assumiu o cargo, muita gente sugeriu que sua contratação tinha mais a ver com sua amizade com Lionel Messi do que com sua competência como treinador — e talvez haja um fundo de verdade nisso. Mas, diante do Porto, Mascherano demonstrou, pela primeira vez, um entendimento tático verdadeiro e maduro.

    Treinadores raramente recebem o devido crédito por deixar o orgulho de lado, abrir mão de convicções rígidas e reconhecer que, frente a um adversário superior, o melhor é ajustar o plano. Mascherano fez exatamente isso. E, além disso, parece ter acendido uma nova chama competitiva em sua equipe.

    "Querer mais" é uma daquelas frases abstratas que, por si só, dizem pouco. Mas os números desta partida sustentam a sensação clara de que o Miami jogou com outra energia. O time venceu 50 duelos, contra 34 do Porto. Ganhou mais disputas aéreas, desarmes e ações defensivas. Esses são os chamados "intangíveis" que técnicos adoram destacar — e Miami conquistou todos. Até Luis Suárez, que desperdiçou uma ou duas boas chances, esteve presente em praticamente todas as disputas.

    “Se tivermos um plano e permanecermos unidos — e se tivermos coragem de jogar — podemos competir,” disse Mascherano após a partida. “A maneira como a equipe superou a adversidade, permanecendo fiel à nossa identidade, foi admirável. Todos se mantiveram comprometidos com o que estamos tentando construir.”

    É verdade que o Inter Miami contou com alguma dose de sorte. Se Maxi Falcón não tivesse salvado em cima da linha, ou se Messi tivesse errado por centímetros a cobrança de falta, talvez a história fosse diferente. Mas isso não diminui o feito. Foi uma atuação inteligente, flexível, em que o treinador soube abandonar certezas, reorganizar sua equipe e colocá-la no caminho das oitavas de final do Mundial de Clubes — e, por isso, Mascherano merece todos os méritos.

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