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Rodrigo De Paul, Lionel Messi, David BeckhamGetty/GOAL

Como o Inter Miami desafia as regras da MLS para contratar o "guarda-costas" de Lionel Messi

Se alguém ainda achava improvável que o Inter Miami conseguisse contratar Rodrigo De Paul, é porque não estava prestando atenção. Ao longo da história da Major League Soccer — e na curta trajetória do próprio Inter Miami — sempre houve espaço para driblar o sistema.

Não se trata de quebrar regras, mas de encontrar soluções criativas para contornar as rígidas limitações impostas pelo teto salarial da MLS.

Foi exatamente isso que os Herons fizeram para trazer De Paul. No fim, conseguiu o que queria: o famoso “guarda-costas” de Lionel Messi chegou a South Beach para ser o “pitbull” de meio-campo que o time tanto precisava. Ele se junta a um elenco estrelado, que inclui os ex-companheiros de Messi no Barcelona e várias outras contratações de peso realizadas desde a chegada do craque argentino ao clube.

Pelas regras da MLS, ao pé da letra, nada disso deveria ser possível. Os times são limitados pelo teto salarial e pelo número de Jogadores Designados. Mesmo assim, o Inter Miami acaba de adicionar mais um campeão do mundo a um elenco que já conta com Messi, Luis Suárez, Sergio Busquets e Jordi Alba. De Paul é um meio-campista de classe mundial em todos os sentidos.

Como, então, o clube conseguiu fechar a contratação sem infringir as regras?

A resposta está, mais uma vez, na criatividade. Além disso, o Inter Miami tem algo que poucos clubes conseguem oferecer: poder de atração. Os Herons têm usado esse magnetismo para fazer movimentos que outros só podem sonhar em realizar. Não é de hoje: David Beckham, coproprietário do clube, iniciou essa tendência anos atrás e agora colhe os frutos desse modelo, aproveitando toda a força de um grande mercado.

O fato é que o Inter Miami continua a se destacar — e ter Messi no elenco só potencializa esse efeito.

Será que qualquer clube conseguiria repetir o que o Inter fez? Provavelmente não. Mas nada impede que outros times encontrem soluções criativas. Montar um elenco na MLS é uma arte, e o Inter Miami merece crédito por trabalhar dentro do sistema para concretizar mais uma contratação revolucionária.

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  • Rodrigo De Paul Inter Miami 2025Getty Images

    A própria criatividade

    Na MLS, todos os clubes precisam seguir as regras do teto salarial da liga. É um sistema complexo, com diversos mecanismos que permitem montar elencos competitivos. No topo dessa estrutura está a figura do Jogador Designado: cada time pode ter até três. No caso do Inter Miami, as vagas já são ocupadas por Messi, Jordi Alba e Sergio Busquets.

    Mas o que acontece quando outro jogador com nível de DP quer entrar nesse elenco? É aí que todos os envolvidos encontram uma maneira criativa de fazer funcionar.

    Segundo a ESPN, foi o próprio Rodrigo De Paul — e não o Inter Miami — quem deu o primeiro passo. Em meio à possibilidade de deixar o Atlético de Madrid, o meio-campista entrou em contato com os Herons para manifestar seu interesse em jogar ao lado do amigo e companheiro de seleção Lionel Messi. O clube, obviamente, se interessou, mas precisava encontrar um caminho para encaixá-lo no elenco sem ferir as regras.

    E aí entrou a criatividade.

    De Paul não será registrado como Jogador Designado nesta temporada. Ele chega por empréstimo do Atlético, e para viabilizar o negócio, os clubes estenderam seu contrato por mais um ano, incluindo uma cláusula de compra opcional de cerca de 17 milhões de dólares. A palavra-chave aqui é “opcional”.

    Por não haver uma obrigação de compra imediata, De Paul aceitou receber um salário abaixo do limite de DP — um corte significativo para poder jogar ao lado de Messi. Caso o acordo se torne permanente, ele será recompensado financeiramente e, a partir do fim desta temporada, poderá ocupar a vaga de Jogador Designado que ficará aberta com o término do contrato de Busquets.

    “É mais uma contratação histórica para este clube”, afirmou o técnico Javier Mascherano. “Um campeão do mundo, no auge da carreira, que mostra a ambição do Inter Miami em continuar crescendo. Estou muito feliz com a chegada dele e espero que nos ajude como acreditamos que vai. Desejamos a ele o melhor nessa nova etapa.”

    Essa “ajuda” só foi possível graças a uma compreensão profunda — e, de certa forma, um jogo de cintura — em relação às regras da liga, aliada ao forte desejo das duas partes de se unirem. Esse é o poder de atração do Inter Miami. E esta não é a primeira vez que o clube aposta alto para reforçar seu elenco.

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  • Inter Miami CF v FC CincinnatiGetty Images Sport

    Inter Miami mira nas estrelas

    Desde a sua criação, o Inter Miami tem sido ousado. Liderado por David Beckham e pelos irmãos Jorge e Jose Mas, o clube deixou claro desde o início que buscaria sempre o melhor. Foi essa mentalidade que, eventualmente, levou Messi a vestir a camisa rosa.

    Mesmo antes da chegada do craque argentino, porém, o Inter Miami já fazia de tudo para montar um elenco competitivo — mesmo que os resultados, nos primeiros anos, não tenham correspondido às ambições. Em 2021, por exemplo, o clube foi punido por violar as regras de formação de elenco em sua temporada de estreia, em 2020. Na época, os Herons extrapolaram o número permitido de Jogadores Designados.

    O time contava com Blaise Matuidi, Andrés Reyes, Leandro González Pirez, Nicolás Figal e Julián Carranza, e a liga concluiu que o clube havia mascarado a remuneração desses atletas. A penalização veio pesada: uma multa recorde de 2 milhões de dólares e restrições adicionais no teto salarial. Como consequência, os primeiros anos do Inter Miami foram marcados por dificuldades, até que um certo argentino bateu à porta em meados de 2023.

    A contratação de Messi — seguida pela chegada de alguns de seus ex-companheiros do Barcelona — não foi um ponto fora da curva. Foi, na verdade, a continuação de um processo que começou no nascimento do clube. O Inter Miami deixou claro que fará o que for preciso para vencer, uma postura revigorante em uma MLS construída sobre regras de paridade e equilíbrio.

    “Eu adoro que o Inter Miami, Jorge Mas e David Beckham queiram quebrar barreiras”, disse Alexi Lalas em seu podcast State of the Union. “Eles querem fazer coisas grandes — e devem ter essa liberdade, claro, dentro das regras. Mas o que eu não quero é que eles sejam punidos ou impedidos por suas aspirações. Não há nada que impeça outros times — Columbus, Colorado ou qualquer um — de pensar grande e tentar algo ousado.”

    “Sim, existe o fator Messi. Sim, Miami tem um atrativo que talvez outros lugares não tenham. Mas se um clube quer gastar muito dinheiro e fazer movimentos grandes, ousados — ouso dizer até arrogantes — eu apoio 100%”, completou Lalas.

    Os Mas recebem muito crédito, mas também dividem os méritos com o lendário meio-campista que está sempre ao lado deles. Afinal, ele foi o responsável por obrigar a MLS a reescrever seu próprio livro de regras.

  • Al Ahly FC v Inter Miami CF: Group A - FIFA Club World Cup 2025Getty Images Sport

    Beckham muda o jogo

    Na época, a MLS — e especificamente o LA Galaxy — não tinha como competir financeiramente com o que Beckham poderia ganhar na Europa. A questão é que a liga e o clube puderam oferecer algo diferente.

    Com a chegada de Beckham, nasceu a regra do Jogador Designado (DP), que permitiu às equipes contratar nomes de peso sem violar o teto salarial. E, como parte do contrato, a liga foi criativa: concedeu a Beckham a opção de adquirir os direitos de uma futura franquia de expansão em qualquer mercado dos Estados Unidos por apenas 25 milhões de dólares. Essa franquia, como se sabe, acabou se tornando o Inter Miami.

    Dois anos antes da fundação do Miami, o Los Angeles FC havia pago 110 milhões de dólares pela taxa de expansão. Na mesma época em que o clube da Flórida entrou na liga, Nashville desembolsou 150 milhões de dólares. Já em 2023, San Diego se tornou a franquia mais recente, mediante um valor impressionante de 500 milhões de dólares. Ou seja, a verdadeira vitória de Beckham não foi o salário da época, e sim essa cláusula — um passo estratégico que garantiu, após a aposentadoria, a realização do sonho de ter seu próprio time.

    Quando chegou o momento de tornar esse sonho realidade, Beckham já não era um novato na MLS. Ele conhecia como poucos os bastidores e sabia exatamente como funcionava a engenharia necessária para trabalhar dentro — e nas brechas — das regras da liga. Não por acaso, o acordo que trouxe Messi ao Inter Miami exigiu uma cooperação semelhante da MLS, assim como havia acontecido quando Beckham desembarcou nos Estados Unidos anos atrás.

    Vale lembrar, no entanto, que o Inter Miami não é o único clube a fazer movimentos ousados desse tipo. A história mostra que essas manobras acontecem muito antes de o time de South Beach transformar seu projeto em realidade.

  • New York Red Bulls v Los Angeles GalaxyGetty Images Sport

    As equipes de LA se beneficiam

    Beckham foi o exemplo mais emblemático de como o LA Galaxy soube aproveitar o poder de atração de Los Angeles. Mas ele não foi o único. Ao longo dos anos, o clube trouxe diversas estrelas de renome internacional, assinando com nomes como Robbie Keane, Steven Gerrard e Zlatan Ibrahimovic.

    A chegada de Ibrahimovic, por exemplo, veio acompanhada de um acordo criativo: ele disputou a primeira temporada recebendo através do mecanismo conhecido como Targeted Allocation Money (TAM). Posteriormente, seu contrato foi reestruturado para compensá-lo adequadamente, um modelo que, de certa forma, abriu caminho para negócios como o de De Paul.

    O Galaxy, aliás, foi o primeiro time a se beneficiar do TAM. Usaram o mecanismo pela primeira vez em 2015 para recontratar Omar Gonzalez, logo após sua criação. Outras contratações ousadas, como a de Cristian Pavón — que acabou resultando em punições — e Nigel de Jong, também mostraram como o clube explorou ao máximo as brechas do teto salarial da MLS.

    O rival local, LAFC, seguiu pelo mesmo caminho criativo. Em 2022, o clube contratou Gareth Bale por meio de um acordo TAM que, segundo informações, pagava ao astro galês cerca de 1,3 milhão de dólares. O resultado não poderia ter sido melhor: Bale chegou, conquistou a MLS Cup e se aposentou, deixando um legado marcante em um dos negócios mais baratos e eficazes da liga.

    Ou seja, o que o Inter Miami fez não é novidade — e Rodrigo De Paul está longe de ser o maior nome a ser atraído por esse tipo de estratégia. A diferença é que o Inter Miami conseguiu executar mais uma dessas jogadas com sucesso.

  • Inter Miami CF v FC CincinnatiGetty Images Sport

    O que isso significa para todos os outros

    “Eu amo cada segundo de ver o Inter Miami forçar os limites do teto salarial e das regras de elenco da MLS”, escreveu o analista da AppleTV+ e ex-jogador da liga, Taylor Twellman, em suas redes sociais. “Porque isso significa que outros também podem fazer o mesmo, se quiserem.”

    A declaração, no entanto, veio acompanhada de uma enxurrada de críticas. Nem todos os clubes têm o apelo de Miami — e nenhum outro tem o poder de atração que Lionel Messi representa. A contratação de Rodrigo De Paul só foi possível por conta de uma tempestade perfeita que, convenhamos, só poderia acontecer em South Beach.

    Mas isso não é um problema de regulamento da MLS. É, antes de tudo, uma escolha de estilo de vida para jogadores. Significa apenas que, em outros mercados, será necessário trabalhar um pouco mais para encontrar e explorar uma vantagem competitiva.

    O Philadelphia Union, por exemplo, optou por investir pesado em sua base, construindo uma academia capaz de formar talentos em vez de comprá-los. Já o Atlanta United, nos seus primeiros anos, apostou em Gerardo “Tata” Martino, ex-Barcelona e seleção argentina, que serviu tanto como treinador quanto como peça-chave no recrutamento de jogadores.

    Clubes como New York Red Bulls e NYCFC contam com a força de megaclubes internacionais como proprietários. Embora essas parcerias não sejam exploradas tanto quanto se esperava, elas têm potencial para render empréstimos estratégicos, vendas vantajosas e redes de olheiros globais.

    Em outras palavras: cada time pode criar a sua própria vantagem. É verdade que alguns mercados carregam desvantagens geográficas, mas isso também ocorre em outros esportes nos EUA. E, mesmo com um teto salarial rígido, não existe limite para investimentos em infraestrutura, comissão técnica ou gestão esportiva.

    Há sempre caminhos para melhorar um time — nem todos óbvios ou diretos. Como Twellman destacou, o foco deveria ser encontrar essas soluções criativas, em vez de reclamar do Inter Miami por saber explorar as suas.

    Rodrigo De Paul é apenas o exemplo mais recente, e certamente não será o último. Enquanto a MLS mantiver sua estrutura de teto salarial — e mesmo que um dia ela deixe de existir — sempre haverá clubes dispostos a encontrar formas inteligentes de se mover dentro do sistema. Para todos os outros, a lição é clara: a disputa também se dá fora de campo, enquanto Miami continua empurrando os limites do possível na liga.

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