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Hannah Hampton World-Class Club GFXGetty/GOAL

Como Hannah Hampton desafiou as probabilidades para ser a heroína da Inglaterra e se tornar uma goleira de elite

Poucos contestariam que a Eurocopa Feminina de 2025 foi de Chloe Kelly. A ponta dominou consistentemente as manchetes enquanto as Lionesses se recuperavam repetidas vezes à beira da eliminação para conquistar seu segundo título continental consecutivo, com contribuições decisivas em cada fase: quartas de final, semifinal e final — esta última decidida por seu pênalti.

Mas a Inglaterra teve outros grandes nomes na Suíça. Michelle Agyemang surgiu como uma sensação, marcando dois gols de empate cruciais que lhe renderam o prêmio de jovem revelação do torneio. Lucy Bronze fez uma atuação verdadeiramente memorável contra a Suécia e impressionou durante todo o mês, mesmo jogando com uma fratura na tíbia. E havia ainda Hannah Hampton, que mostrou exatamente por que Sarina Wiegman a escolheu para ser a nova camisa 1 da seleção inglesa.

Nas quartas de final, Hampton fez duas grandes defesas na disputa por pênaltis para manter a Inglaterra viva, sendo a defesa contra Sofia Jakobsson — que evitou a classificação da Suécia às semifinais — particularmente impressionante. Na semifinal, os heroísmos de Kelly quase evitaram uma nova decisão por pênaltis, mas Hampton voltou a brilhar com uma defesa dupla vital pouco antes do empate dramático de Agyemang. E, na final, a pressão dos pênaltis retornou: a goleira defendeu as cobranças de Mariona Caldentey e Aitana Bonmatí, garantindo o bicampeonato à Inglaterra.

O torneio transformou Hampton em heroína nacional, e a decisão de Wiegman de escolhê-la como titular no lugar de Mary Earps — destaque na Euro 2022 e na Copa do Mundo de 2023 — mostrou-se totalmente acertada. Ainda que já fosse vista como um grande talento desde a estreia pelo Birmingham aos 16 anos, Hampton precisou superar inúmeros obstáculos para se tornar a jogadora de elite que é hoje — incluindo conselhos médicos para que abandonasse o futebol.

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  • Hannah Hampton Birmingham Women 2018-19Getty Images

    Promessa inicial

    O talento de Hampton para o futebol ficou evidente desde cedo — e nem sempre como goleira. Após se mudar para a Espanha aos cinco anos, a jovem nascida em Birmingham foi descoberta pela base do Villarreal, onde atuava como atacante. Ela só mudou de posição ao retornar à Inglaterra alguns anos depois, passando a integrar o grupo do Stoke City.

    Essa formação em um clube como o Villarreal ajudou Hampton a desenvolver uma de suas maiores virtudes como goleira moderna: a qualidade técnica e a precisão na distribuição da bola. Somadas a reflexos apurados, boa leitura de jogo e a oportunidade de atuar em um Birmingham comandado por Marc Skinner — hoje técnico do Manchester United — que valorizava e desenvolvia jovens talentos, essas características levaram Hampton a estrear no time principal aos 16 anos.

    Aos 18, ela já era titular do Birmingham. Aos 19, participou pela primeira vez da seleção principal da Inglaterra como jogadora de treino. Um ano depois, com a transferência para o ambicioso Aston Villa, recebeu sua primeira convocação completa para as Lionesses. E, aos 21 anos, fez sua estreia oficial pela seleção principal.

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  • Hannah Hampton England Women 2025Getty Images

    Superando obstáculos

    Embora sua trajetória pareça linear à primeira vista, a realidade foi bem diferente. Hampton nasceu com uma séria condição ocular, e os médicos chegaram a recomendar que ela não jogasse futebol. Aos três anos, passou por três cirurgias para corrigir o desalinhamento causado pelo estrabismo, mas os resultados não foram totalmente satisfatórios. Mais tarde, aos 12 anos, recebeu o diagnóstico de percepção de profundidade prejudicada. “Eu não consigo julgar distâncias”, contou certa vez. “Então, ser goleira realmente não faz muito sentido!”

    Em entrevista ao jornal i, Hampton relembrou as dificuldades: “No começo, eu não sabia que tinha isso, e a bola me acertava no rosto muitas vezes. Precisei ajustar minha postura para manter as mãos mais à frente, tentando agarrar a bola. Pegar uma bola assim é bem complicado! Tive muitos, muitos sangramentos nasais. Quebrei vários dedos — tentava pegar, mas a bola batia por cima. Todos eles quebraram ao longo dos anos. Foi aí que comecei a me ajustar, porque eu estava cansada disso.”

    É impressionante que Hampton tenha superado desafios tão grandes para não apenas se tornar goleira, mas alcançar o mais alto nível. “Provavelmente fui contra algumas probabilidades”, disse ela, com humildade.

  • Hannah Hampton England Women 2025Getty Images

    'Eu queria desistir do futebol'

    Hampton ainda enfrentaria outros obstáculos em sua trajetória para sair do status de goleira estabelecida na liga inglesa feminina (WSL) e chegar ao topo do futebol, defendendo hoje um dos maiores clubes do mundo, o Chelsea, e sendo titular da Inglaterra, atual bicampeã europeia.

    Um desses desafios surgiu logo após ela integrar o elenco das Lionesses campeão da Euro 2022. Hampton acabou perdendo os dois períodos de treinamento seguintes da seleção, e Sarina Wiegman disse à imprensa: “Ela tem alguns problemas pessoais para resolver, então, neste momento, é melhor que fique no clube.” Semanas depois, o Guardian publicou uma matéria afirmando que, segundo fontes, Hampton havia sido deixada de fora “por causa de comportamento e atitude nos treinos com a seleção”. A jogadora, no entanto, desmentiu essa versão: alguns dias depois, publicou uma foto em um leito de hospital, explicando que vinha “sofrendo com um problema médico há algum tempo” e precisava de “um pequeno procedimento” para resolvê-lo.

    No Aston Villa, a situação gerou ainda mais confusão. Na mesma época, a então treinadora Carla Ward declarou que Hampton estava “disponível” para enfrentar o Chelsea, mas a deixou fora da partida por “algo que aconteceu” e disse acreditar que “era melhor para a equipe e para o grupo que (Hampton) ficasse em casa”. Dias depois, Ward mudou o tom, explicando que a goleira lidava com “uma lesão muscular recorrente” que exigia uma intervenção médica simples. Esse período turbulento colocou a jovem goleira sob os holofotes da mídia pela primeira vez — e não da maneira que ela gostaria.

    “Acho que eu realmente não estava preparada para o lado negativo da mídia”, disse Hampton à ITV no início deste ano. “Eu queria desistir do futebol. Queria largar tudo. Eu não estava feliz. Não sabia a quem recorrer, porque sentia que todos estavam contra mim. Para alcançar tudo o que desejo e todos os objetivos que tracei, é preciso enfrentar a adversidade. Você precisa se forçar a passar por situações que não são agradáveis. Sempre quis provar que as pessoas estavam erradas. Desde o início foi assim, e esse foi apenas mais um obstáculo para mim.”

  • Hannah Hampton England Women 2025Getty Images

    Saindo por cima

    Hampton demonstrou sua capacidade de superação com o que veio a seguir. Poucas semanas depois, retornou ao gol do Aston Villa, voltou a figurar na seleção inglesa em abril do ano seguinte e, em seguida, integrou o grupo das Lionesses que alcançou a final da Copa do Mundo Feminina, além de conquistar uma grande transferência para o Chelsea naquele mesmo ano. Foi, entretanto, após esse torneio que sua carreira pela seleção realmente começou a ganhar velocidade.

    Até então, Mary Earps era a incontestável número 1 da Inglaterra. Ela teve desempenhos excepcionais na Eurocopa e na Copa do Mundo, conquistando prêmios consecutivos de melhor goleira do mundo da FIFA e uma série de outros reconhecimentos, além de alcançar a melhor colocação já obtida por uma goleira na votação da Bola de Ouro Feminina.

    Mas Hampton vinha impressionando no Chelsea, que conquistava todos os títulos, e se aproximava cada vez mais de desafiar sua colega de seleção pela titularidade. Em abril de 2024, jogou uma partida oficial no lugar de Earps — algo que não acontecia desde que Ellie Roebuck fez isso 18 meses antes — e aproveitou ao máximo as oportunidades que surgiram após a lesão da número 1 da Inglaterra.

    À medida que o ano chegava ao fim, ficou claro que Hampton começava a despontar como favorita para ser a goleira titular das Lionesses na Euro 2025 e, no Ano Novo, já estava — nas palavras de Wiegman — “um pouco à frente”.

    Quando Earps anunciou sua aposentadoria surpreendente, uma semana antes da convocação para o torneio, veio à tona que Wiegman havia informado Earps de que Hampton seria a nova número 1, o que teve papel importante na decisão inesperada. Foi uma reviravolta notável para a jovem de 24 anos, menos de três anos depois de seu futuro ter sido seriamente questionado pela mídia.

  • Hannah Hampton England Women 2024Getty Images

    Sentindo-se indesejada

    Mas, mesmo com Hampton provando repetidamente ser uma goleira incrível para a Inglaterra — com grandes atuações jogo após jogo e tendo tomado para si a camisa número 1, antes usada por uma das maiores goleiras da história das Lionesses — ela enfrentou um novo obstáculo: parte dos torcedores da equipe estava insatisfeita com sua presença no gol no torneio, preferindo Earps.

    “É difícil quando você vê torcedores ingleses não quererem você no gol, não quererem você na equipe”, disse Hampton à ITV. “Isso machuca porque eu não fiz nada para merecer esse ódio. Sim, a sua jogadora favorita se aposentou, mas essa não foi uma decisão minha. Então, quando você vê pessoas dizendo ‘não a queremos’, fica complicado. Aí a resposta é só uma: ‘Vou provar que estão errados’.”

    “Você não quer que as pessoas te coloquem para baixo, nem que tirem esse sorriso do seu rosto — e pode acreditar, eu não vou deixar — mas é difícil quando vê torcedores que não querem você no gol.”

  • Hannah Hampton England Women Euro 2025 trophyGetty Images

    Provando que as pessoas estão erradas

    O que Hampton fez na Euro 2025 certamente provou que as pessoas estavam erradas. Não houve goleira mais impressionante na Suíça no mês passado do que a jovem de 24 anos, que enfrentou o desafio do seu primeiro grande torneio como titular com muita confiança. Seja pelas defesas, pela distribuição ou pela capacidade de brilhar nos momentos mais decisivos, havia muito a se admirar.

    Ela esteve sob constante pressão durante todo o torneio. Se tivesse apresentado atuações abaixo do esperado, ou demonstrado hesitação entre as traves, a decisão de Wiegman em escolhê-la no lugar de Earps teria sido amplamente contestada. Afinal, não era simplesmente assumir o lugar de qualquer goleira — ela substituía alguém que se destacou como uma das melhores em grandes palcos por seleções.

    Mas Hampton fez parecer fácil, apoiando uma campanha de tríplice coroa no Chelsea com uma Eurocopa excepcional, tornando-se uma heroína nacional e, contra todas as probabilidades, consolidando seu status como goleira de elite.