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Frenkie de Jong Barcelona GFX HIC 16:9GOAL

Como Frenkie de Jong renasceu e finalmente se porta como um meio-campista do Barcelona

No meio do mês passado, Frenkie de Jong concedeu uma entrevista ao jornal El Periódico. Ao longo da conversa, reconhece que quase deixou o Barcelona no meio de 2022. Admitiu saber de todas as críticas que regularmente recebia durante seus primeiros anos no clube. Porém, deixou claro que, agora, não deseja jamais sair.

As primeiras quatro temporadas do ex-Ajax não foram exatamente como o esperado, mas fato é: a chegada de Xavi mudou os rumos da carreira do holandês, hoje um jogador indispensável para o Barça. Dá, portanto, para dizer: já fez jus a todos os 75 milhões de euros (hoje, quase R$ 390 milhões) que custou aos cofres da equipe, em 2019.

  • Frenkie de Jong BarcelonaGetty

    Um início de carreira promissor

    A passagem de De Jong no Barcelona não deveria ter sido tão tumultuada. Quando o holandês chegou, devia estar pronto para suceder Sergio Busquets como comandante do meio de campo catalão. Ele vinha de um estrelado time do Ajax, que não chegou à final da Liga dos Campeões, em 2019, por conta do histórico hat-trick de Lucas Moura, pelo Tottenham.

    O preço pago pelos catalães parecia alto - De Jong, afinal, só havia tido uma único ótima temporada, no Ajax. Claro, trata-se daquele 'antigo' Barcelona em seu modo 'gastão'. E mais, os 75 milhões de euros nele investidos pareciam uma pechincha perto dos 160 milhões de euros (aproximadamente, R$ 830,6 milhões no atual câmbio) gastos pelos serviços de Philippe Coutinho, meses antes.

    "Estou muito feliz de estar aqui finalmente. Quando era criança, sonhava em jogar no Barça. Estar aqui é ótimo", disse, durante sua apresentação.

    Em linhas gerais, sua contratação tinha uma justificativa sólida, mas o restante do elenco era errático - e caro. O brasileiro Malcom, recém-chegado por 41 milhões de euros (R$ 212,8 na atual cotação), e o badalado Antoine Griezmann, que custou outros 120 milhões de euros (quase R$ 623 milhões atualmente) foram bons exemplos do descontrole financeiro.

    Some a isso a chegada de um pouco inspirado Quique Setién, demitido após poucos meses no cargo, e uma derrota avassaladora para o Bayern de Munique, por 8 a 2, na Champions, e ficava claro: não era o Barça que haviam prometido a De Jong.

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  • Frenkie de Jong Barcelona 2021-22Getty Images

    A 'saga Manchester United'

    A partir dali, as coisas não melhoraram tanto assim. O Barcelona 'seguiu em frente' com duas temporadas miseráveis, período no qual viu Lionel Messi sair, entrou em uma grave crise financeira e uma série de fracassos dentro de campo. A temporada passada prometia ser o início de uma nova caminhada, com boas movimentações no mercado, mas, significou sacrificar De Jong.

    O próprio técnico Xavi não parecia muito comprometido em firmar a permanência do meio, o colocando para jogar fora de posição durante a pré-temporada do ano passado, nos EUA, como zagueiro.

    A mensagem era clara: o holandês não tinha titularidade certa e, caso fosse a campo, ainda poderia atuar em uma posição pouco familiar e que, como Xavi com certeza sabia, não era a melhor para ele.

    Mas De Jong não desistiu da passagem na Catalunha. Ele disse 'não' ao Manchester United, apesar das várias tentativas de um endividado Barça em acertar sua saída - e lutou de novo pela vaga no meio-campo.

    Essa decisão confundiu muitos nos bastidores. Embora Joan Laporta, presidente do clube, à época, insistisse que De Jong não seria vendido, o fato de que o Barça aceitou várias propostas pelo jogador provam que o clube estava mais do que disposto a deixá-lo seguir a vida em outro lugar pela quantia financeira certa.

  • Frenkie de Jong 2022-23 Barcelona Getty Images

    A reviravolta

    Os números sugerem que De Jong estava em constante evolução quando o United demonstrou o primeiro interesse. Seus passes, recuperação de bola e roubadas de bola melhoraram em 2021 e seguiram bem em 2022. Embora houvesse um debate acerca de seu papel, ainda havia esperanças, baseadas nas estatísticas, que De Jong tivesse bom futuro no Camp Nou.

    A reputação do clube, claro, não ajudava muito. Dificilmente, jogadores que tinham dificuldades iniciais ganhavam tempo de adaptação. Aparentemente, o que mantinha o holandês lá eram quesitos financeiros, e não esportivos.

    Aí entra as adaptações táticas de Xavi, que enxergou o potencial em De Jong. Sempre houve um foco no clube em colocá-lo como um criador de jogadas - efetivamente atuando como um substituto de Busquets. Mas o treinador percebeu que carecia de mais atributos físicos naquele meio.

    Assim, realocou o atleta, mais à esquerda. A ideia era aproveitar as passagens em profundidade do lateral-esquerdo Alejandro Balde e dos bons atributos ofensivos de Gavi, utilizando De Jong mais ao fundo. Busquets, então, atuava mais à direita, com maiores responsabilidades defensivas e com foco em distribuir a bola para o holandês participar das transições.

  • Frenkie de Jong Barcelona 2023-24Getty Images

    Culé para o resto da vida?

    E assim, De Jong fez sua melhor temporada no clube. Não surpreendeu com vários gols e assistências, mas justamente porque não era esse seu papel. Tornou-se um meio-campista box-to-box.

    Fundamentalmente, recebia muito a bola e levantava a cabeça com intuito de esticar as jogadas. Dessa forma, teve seu melhor ano em progressão de passes, além de ter mostrado evolução no que se refere à progressão de jogadas e, talvez mais importante, na retenção de bola.

    Essa combinação é bem rara no futebol. Dá para contar no dedo todos que talvez façam melhor esse trabalho do que De Jong. Modric, talvez - com mais elegância, possivelmente. Talvez isso venha a ser o fator definidor da carreira do meia na Catalunha.

    Por quatro anos, era um jogador interessante com boas habilidades - mas sem muito espaço para mostrá-las. Agora, tem sido melhor utilizado e em um sistema que já mostrou sucesso. Efetivamente, Xavi criou a 'posição De Jong'.

    Ele poderá evoluir muito ali. O Barça passou vários anos tentando - e falhando miseravelmente - reencontrar aquele De Jong do Ajax. No fim, aceitou que, nesse modelo de jogo, ele pode atuar de outra maneira.

    Assim, o jogador antes substituível agora é peça essencial do Barcelona.