Getty ImagesClube alemão usa inteligência artificial para contratar jogadores, técnico e até dirigente após rebaixamento
Dos sonhos da Bundesliga ao caos estrutural
O retorno do Bochum à Bundesliga em 2021 foi digno de um conto de fadas, marcando a primeira participação do clube na elite do futebol alemão em mais de uma década. Mas apenas três anos depois, esse sucesso deu lugar a uma realidade mais dura. O rebaixamento em 2024 forçou a instituição a reavaliar tudo — da liderança à estratégia de longo prazo.
As rachaduras começaram a aparecer após as demissões do técnico Dieter Hecking e do diretor esportivo Dirk Dufner, em setembro. Desde então, surgiram dúvidas sobre quem conduziria o processo de reconstrução.
O CEO Andreas Luthe e o porta-voz da diretoria, Ilja Kaenzig, acabaram sobrecarregados de responsabilidades, enquanto uma sequência de trocas de treinadores em apenas três semanas escancarou o grau de desorganização interna. A queda do Bochum provocou uma reflexão profunda sobre como o clube pode se reinventar — mais forte, mais moderno e menos dependente de modelos tradicionais de gestão e recrutamento. E, curiosamente, a resposta pode estar na tecnologia.
Getty Images SportInteligência Artificial - O improvável plano de reinício do Bochum
O Bochum está integrando a inteligência artificial em suas operações esportivas e, segundo informações, mantém negociações com a Plaier — uma plataforma de análise de futebol baseada em dados que utiliza algoritmos avançados para observar e prever o desempenho de jogadores. Dentro desse plano, o sistema da Plaier não apenas indicaria possíveis contratações, como também auxiliaria na avaliação de contratos, no acompanhamento do desenvolvimento dos atletas e até na escolha de um novo diretor esportivo.
De acordo com o Sport Bild, a parceria poderia custar mais de €100 mil por ano, com bônus adicionais atrelados a transferências bem-sucedidas e lucros obtidos com jogadores identificados pela IA.
À frente dessa transformação está Till Gronemeyer, nova figura-chave na reconstrução do clube. Ele defende uma abordagem integrada, em que a inteligência artificial complementa — e, em alguns casos, substitui — as estruturas tradicionais de observação e análise. Poucos clubes chegaram a esse nível de integração. Enquanto gigantes europeus como Liverpool, Manchester City, Paris Saint-Germain e Bayern de Munique utilizam a IA principalmente para prevenção de lesões e análise tática, o Bochum pretende dar à tecnologia um papel ativo nas decisões estratégicas do clube.
Quanto um clube pode confiar na IA?
A visão de Till Gronemeyer já começou a influenciar a lista de possíveis reforços e nomes para cargos estratégicos no Bochum. Um dos principais candidatos ao posto de diretor esportivo foi Maximilian Hahn, chefe de scouting do West Ham, reconhecido por sua abordagem baseada em dados. No entanto, o clube alemão não conseguiu atender às suas exigências salariais — seu vencimento no London Stadium ultrapassa os €200 mil anuais, valor bem acima do atual orçamento do Bochum.
Outra alternativa considerada é Bernd Korzynietz, ex-jogador do Borussia Mönchengladbach e atualmente olheiro de jovens talentos no Bayer Leverkusen. Diferentemente de Hahn, Korzynietz adota uma abordagem mais humana e intuitiva. Sua candidatura, supostamente impulsionada por Gronemeyer, reflete a busca do clube por um equilíbrio entre a precisão da inteligência artificial e o instinto humano.
O ex-atacante Simon Zoller também deve desempenhar um papel importante nesse processo, ajudando a integrar a tecnologia de IA ao desenvolvimento de jogadores e à rotina esportiva do clube.
Getty Images SportBochum visa o retorno à Bundesliga
O experimento do Bochum chega em um momento crucial. O rebaixamento do clube escancarou a necessidade de uma renovação estrutural profunda — e a adoção da inteligência artificial pode representar uma vantagem competitiva importante.
Com o uso do banco de dados da Plaier, o Bochum poderá identificar talentos subvalorizados que se encaixem tanto nas suas demandas táticas quanto nas limitações financeiras. Ao projetar o desenvolvimento de jogadores em um horizonte de três a seis anos, o sistema oferece algo que o scouting tradicional muitas vezes não alcança: uma análise preditiva de desempenho.
Ainda assim, o sucesso do projeto dependerá da capacidade de integração. A IA pode traçar o plano, mas serão os elementos humanos — como liderança, motivação e instinto — que determinarão se o Bochum conseguirá se reerguer e retornar à elite do futebol alemão.

