Champions League é a kriptonita de Kylian Mbappé? Eliminação do Real Madrid aponta que o francês não sabe liderar na Europa, lição que o PSG aprendeu bem

A verdade é que o Real Madrid esteve desarticulado na maior parte da temporada. A falta de atividade no mercado de transferências é a principal razão para isso, com a defesa de Ancelotti dizimada por lesões e o buraco deixado por Toni Kroos no meio-campo ainda não preenchido, mas é também inegável que a presença de Mbappé criou um desequilíbrio.

Em 2023/24, Bellingham frequentemente jogou pelo meio e liderou a pressão do Madrid, flanqueado por Vinicius e Rodrygo. Mas desde a chegada de Mbappé, o trabalho defensivo da linha de frente diminuiu significativamente.

Mbappé, Vinicius e Rodrygo negligenciam o esforço defensivo, o que forçou Bellingham e Federico Valverde a recuar e tentar compensar. As equipes adversárias conseguiram atacar o Real Madrid com muita facilidade, resultando na defesa improvisada de Ancelotti ficando exposta contra os principais times.

Foi assim quando o Arsenal derrotou os Blancos por 3 a 0 no Emirates Stadium, e novamente no Santiago Bernabeu na última quarta-feira. Os Gunners garantiram sua vaga nas semifinais da Liga dos Campeões com uma vitória por 2 a 1 na capital espanhola, e no final, o Real teve sorte de o placar agregado final de 5 a 1 não ter sido mais elástico.

Bukayo Saka perdeu um pênalti no primeiro tempo, e Martin Odegaard desperdiçou uma excelente chance contra seu ex-clube no segundo, quando um chute com curva passou perto da trave. No outro extremo do campo, o time da casa teve dificuldades para criar algo de relevante, com mesmo o gol de consolação de Vinicius vindo apenas após um erro atípico de William Saliba.

Mbappé saiu mancando devido a uma lesão aos 75 minutos do segundo jogo, após um encontrão com Declan Rice, mas seria fácil pensar que ele nem começou a partida. De fato, o vencedor da Copa do Mundo não conseguiu um único chute no alvo e tocou na bola apenas quatro vezes na área do Arsenal, sendo efetivamente anulado do jogo por Saliba e Jakub Kiwior.

Um jogador do calibre de Mbappé deveria assumir o controle de jogos como este - foi para isso que o Real Madrid o contratou. Mas ele agora está há quatro partidas da Liga dos Campeões sem um gol ou assistência - a pior sequência de sua carreira até agora - tendo também dificuldades para impactar na vitória nas oitavas de final sobre o Atlético de Madrid.

Parece que Mbappé está perdendo fôlego na reta final da temporada, também, sem contribuições para gol em suas últimas cinco aparições em todas as competições. Isso simplesmente não é bom o suficiente para o atacante titular do Real, ou um jogador que Ancelotti acredita que vai seguir os passos de Cristiano Ronaldo.

Cristiano Ronaldo levou o Madrid a quatro títulos da Liga dos Campeões, marcando 67 gols apenas nas fases eliminatórias, incluindo três em quatro finais. Nos momentos decisivos, o Madrid nunca teve um atacante mais confiável.

No momento, é difícil ver Mbappé se aproximando do nível de CR7. O ex-talismã de Monaco e PSG tem um número muito respeitável de 24 gols no mata-mata da competição mais prestigiosa da Europa, mas apenas um desses gols veio em sete aparições além das quartas de final.

Mbappé foi completamente ineficaz na derrota do PSG nas semifinais contra o Borussia Dortmund na última temporada, e também na eliminação nas semifinais para o Man City em 2020/21. O PSG alcançou sua primeira final em 2019/20, mas perdeu por 1 a 0 para o Bayern de Munique em Lisboa, com Mbappé desperdiçando uma chance clara no primeiro tempo que poderia ter mudado o rumo da partida.

Seria muito severo dizer que Mbappé não é um jogador de grandes jogos; afinal, ele marcou quatro gols pela França em duas finais de Copa do Mundo, e já está em nono lugar na lista dos maiores artilheiros de todos os tempos na Liga dos Campeões. Mas, na competição europeia, o francês parece ter desenvolvido um bloqueio mental e ainda não provou que pode levar uma equipe até o troféu como Cristiano Ronaldo fez.

O Real Madri terá que fazer algumas grandes mudanças para se restabelecer como candidato à Liga dos Campeões novamente na próxima temporada. Isso pode incluir a demissão de Ancelotti, mas uma reformulação da defesa deve ser a prioridade, e talvez a adição de mais um centroavante.

Os números de Mbappé sugerem que ele tem ido bem nesse papel, mas ainda não é algo natural para ele. O capitão da França sempre foi mais perigoso vindo pela esquerda, e esse lugar pode ser novamente seu no Real se Vinícius Junior aceitar jogar na Arábia Saudita.

Mesmo que o brasileiro permaneça, alguma forma de reorganização é necessária. Os Blancos regrediram com Mbappé no ataque, algo que até mesmo um de seus próprios companheiros de equipe reconheceu.

O goleiro do Real Madrid, Thibaut Courtois, disse à CBS Sports após a derrota em casa para o Arsenal: "Eles são uma equipe que defende bem, é bem organizada, pressiona bem, e é difícil encontrar espaço. Fizemos muitos cruzamentos, mas este ano não temos Joselu, um centroavante natural na frente."

Courtois não estava sugerindo que o ex-jogador do Stoke City é melhor que Mbappé, mas apenas apontando que ele dava ao Real Madrid uma dimensão diferente. De fato, seu último triunfo europeu provavelmente não teria se materializado sem Joselu, que marcou dois gols espetaculares no fim para eliminar o Bayern nas semifinais.

Sendo "engenheiro de obra pronta", o Real foi rápido demais ao facilitar a transferência de €1,5 milhão de Joselu para o Al Gharafa, do Qatar. Ele contribuiu com 17 gols em 48 aparições pelos campeões espanhóis na temporada passada, apesar de ter começado como titular apenas 18 vezes, e Ancelotti não conseguiu encontrar outra opção B no ataque desde sua saída.

"Somos uma equipe, mas às vezes sinto que jogamos de forma muito individual", acrescentou Courtois. "Quando eles fazem marcação dupla no Vini ou Kylian, às vezes dá certo, mas três, quatro vezes, não. Se quisermos vencer, precisamos ser melhores."

Os comentários do camisa 1 também alimentaram sugestões de que Mbappé e Vinicius estão muito focados em tentar superar um ao outro. Vinicius tem sido certamente mais "egoísta" nesta temporada, ironicamente resultando em menos participações em gols, enquanto o ego inflado de Mbappé continua a impedi-lo de alcançar o próximo nível.

No PSG, Mbappé muitas vezes se colocava à frente do coletivo e odiava dividir os holofotes, como evidenciado por seu relacionamento conflituoso com Neymar. O atleta revelado pelo Monaco ainda conseguiu conquistar seis títulos da Ligue 1 no Parc des Princes, mas a Liga dos Campeões permaneceu fora de seu alcance porque o PSG nunca funcionou como uma unidade de elite quando ele estava no elenco.

Eles estão fazendo exatamente o oposto sem Mbappe, no entanto. Todos no elenco do PSG estão agora indo na mesma direção sob o comando de Luis Enrique, que os transformou em uma das equipes mais temidas da Europa, exigindo esforço máximo sem a bola e incentivando a liberdade de expressão com ela.

Com a jovem dupla francesa Desire Doue e Bradley Barcola, o ex-Barcelona Ousmane Dembele, e a contratação de janeiro Khvicha Kvartskhelia causando estragos no terço final, ninguém no PSG ainda sente falta de Mbappé. Isso não é apenas por causa do talento e genialidade do quarteto, mas também por sua disposição em se esforçar ao máximo pelo time - uma característica que Mbappé ainda não possui.

Luis Enrique tentou trazer isso à tona em Mbappé, para ser justo. Em um documentário que acompanha o primeiro ano do espanhol no comando do PSG, ele foi visto chamando o astro para uma reunião individual antes da volta das quartas de final da Liga dos Campeões contra o Barcelona e enfatizou a importância de cumprir responsabilidades defensivas, enquanto comparava o atacante a uma lenda da NBA.

"Eu li que você é como Michael Jordan," disse Luis Enrique. "Bem, Michael Jordan pegava seus companheiros pelos colhões e defendia como um filho da p*. Você é um fenômeno, de alto nível Mas isso não é suficiente para mim. Eu preciso que você lidere quando se trata de pressionar e defender. Você sabe o que teremos então? Uma máquina do c*. É isso que eu quero de você nesses dois meses que você tem [com o PSG]. Quero que você saia em grande estilo."

Para ser justo, Mbappé inicialmente aceitou o desafio do seu treinador, marcando dois gols quando o PSG venceu o Barça por 4 a 1 no Estadi Olimpic Lluis Companys para garantir uma vitória agregada de 6 a 4. Mas isso só tornou suas performances desastrosas contra o Dortmund nas semifinais ainda mais frustrantes.

Mbappé só dá tudo quando está com vontade, como o Real Madrid agora também está descobrindo. Foi vexatório como os Blancos entregaram sua coroa europeia de forma tão tímida, e superar o Barcelona no título de La Liga ou vencer seus rivais na final da Copa do Rei não será suficiente para compensar isso.

A principal razão do Real para trazer Mbappé era ajudar a garantir o contínuo domínio deles na Liga dos Campeões, então esta temporada já deve ser considerada uma decepção. O novo garoto-propaganda do Bernabéu tem alguma autorreflexão séria a fazer agora; Luis Enrique estava certo sobre Mbappé ser um jogador de futebol de alto nível, mas ele não colocará as mãos no maior prêmio do futebol de clubes até se tornar um verdadeiro jogador de equipe.