+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Ter Stegen vs Barcelona GFXGetty/GOAL

Barcelona vs Marc-André ter Stegen: como os campeões espanhóis entraram em guerra com seu goleiro e como isso pode atrapalhar os planos de Hansi Flick

O Barcelona talvez seja o time mais empolgante do futebol mundial no momento. Com um ataque talentoso e uma linha defensiva absurdamente avançada, a equipe de Hansi Flick praticamente garante gols para os dois lados, como ficou claro na emocionante eliminação para a Inter nas semifinais da Champions League.

Mas o Barça também é um espetáculo fora das quatro linhas, especialmente durante as janelas de transferências. Na era Josep Maria Bartomeu, era sempre divertido acompanhar qual contratação cara e desnecessária seria feita. Desde que Joan Laporta, o homem das “alavancas”, voltou à presidência, o foco passou a ser outro: tentar entender como o clube pretende equilibrar as contas.

É sempre hilário ver o Barça contratar jogadores que não tem condições de pagar e, em seguida, se desdobrar em malabarismos para conseguir registrá-los em LaLiga. Nesse sentido, os campeões espanhóis são o sonho de qualquer jornalista: uma fonte inesgotável de polêmicas.

No entanto, mesmo para os padrões já exagerados do clube catalão, a janela do meio de 2025 promete ser especial. O cenário está montado para uma novela digna de horário nobre, protagonizada por Marc-André ter Stegen, e que pode terminar muito mal para o Barça...

📱Veja a GOAL direto no Whatsapp, de graça! 🟢
  • FC Barcelona v Tottenham Hotspur - Pre Season FriendlyGetty Images Sport

    Segurança no gol

    O Barcelona comemorou com entusiasmo a renovação de contrato de Marc-André ter Stegen em agosto de 2023. Não era para menos: o goleiro alemão havia sido eleito o melhor jogador de LaLiga após registrar 26 jogos sem sofrer gols na campanha do título espanhol de 2022/23, igualando o recorde da competição.

    Para Joan Laporta, o Barça tinha nas mãos o melhor goleiro do mundo. “Ter Stegen é uma garantia no gol”, celebrou o presidente na época. “E é uma pessoa de grande valor. Ele se adaptou ao clube, à cidade e ao país e é por isso que é um dos capitães do time. Estamos muito felizes em tê-lo conosco.”

    Ainda mais satisfatório para Laporta foi o fato de que Ter Stegen aceitou parcelar os valores de seu salário de modo a dar mais margem ao clube dentro das rígidas regras salariais de LaLiga. “Temos que agradecê-lo por ter ajustado seu contrato, porque isso nos permitiu contratar outros jogadores”, admitiu o dirigente.

    E não foi a primeira vez que o goleiro ajudou o clube financeiramente. Em sua renovação anterior, assinada durante a crise provocada pela pandemia, ele também topou adiar parte dos vencimentos, o que aliviou bastante a pressão econômica sobre o Barcelona. O problema, agora, é que Ter Stegen já não demonstra a mesma boa vontade com uma diretoria que continua enfrentando sérias dificuldades financeiras.

  • Publicidade
  • FC Barcelona v AS Monaco - Trofeu Joan GamperGetty Images Sport

    Novo líder

    Foi apenas no ano passado que Ter Stegen foi anunciado como novo capitão do Barça após a saída de Sergi Roberto. O alemão já havia usado a braçadeira em diversas ocasiões, e sua escolha não surpreendeu, já que boa parte do elenco votou a favor de um atleta com uma década de clube.

    “Nós começamos esta nova temporada com muito entusiasmo e damos as boas-vindas ao novo treinador (Flick)”, declarou o goleiro em sua primeira fala pública como capitão, em agosto. “Esperamos que seja uma temporada de muitos sucessos.” E, de fato, foi. Apesar da frustração na Champions League, o Barcelona venceu o Real Madrid quatro vezes no total e conquistou uma tríplice coroa nacional.

    Só que Ter Stegen participou pouco dessa retomada. Uma ruptura no tendão patelar do joelho direito o afastou dos gramados por sete meses, e ele fez apenas nove jogos na temporada. Quando voltou a estar à disposição, no início de maio, muita coisa já havia mudado.

  • wojciech-szczesny(C)Getty Images

    Szczesny oportunista

    A lesão de Ter Stegen representou um problema sério para o Barcelona, que precisou encontrar uma solução emergencial e apostou em Wojciech Szczesny. A escolha, no fim das contas, foi um verdadeiro achado.

    O goleiro polonês havia acabado de anunciar sua aposentadoria após deixar a Juventus e foi contratado, inicialmente, apenas como reserva de Iñaki Peña. No entanto, superou as expectativas e se mostrou um substituto muito mais sólido para Ter Stegen. Aos 35 anos, ele acumulou 14 jogos sem sofrer gols em 30 partidas e terminou invicto em todas as rodadas de LaLiga que disputou, o que ajuda a entender por que o Barça decidiu renovar seu contrato até 2027, em anúncio feito no dia 7 de julho.

    Mas, antes disso, o clube já havia fechado outro negócio que deixava claro que Ter Stegen não fazia mais parte dos planos principais.

  • RCD Espanyol de Barcelona v Atletico de Madrid - La Liga EA SportsGetty Images Sport

    Proposta irrecusável

    No dia 18 de junho, o Barcelona anunciou a contratação de Joan García, goleiro do rival Espanyol, após pagar a cláusula de rescisão de € 25 milhões (R$ 161 milhões). A chegada de mais um nome para a posição levantou muitas dúvidas. Com Ter Stegen recuperado e Szczesny em ótima fase, o time tinha outras prioridades mais urgentes.

    Mesmo assim, o diretor esportivo Deco argumentou que não dava para perder a chance de contratar um dos goleiros mais promissores da Espanha por um preço tão acessível. “Tenho muito respeito pelo Marc, mas com o Joan tivemos que pensar no presente e no futuro”, disse o ex-meia à La Vanguardia. “Ele pode jogar agora, pode começar no banco ou assumir daqui um ou dois anos. Essa será uma decisão do técnico.”

  • Ter StegenGetty Images

    Revelação chocante sobre cirurgia

    As palavras de Deco foram reforçadas por Joan Laporta, que também deixou claro que caberá a Hansi Flick decidir quem será o goleiro titular do Barcelona na nova temporada. No entanto, chamou a atenção o fato de o presidente blaugrana ter revelado que o treinador havia indicado a necessidade de “reforçar a posição de goleiro”, o que sugere uma insatisfação prévia com Ter Stegen, algo que, segundo alguns analistas, remonta ao período em que ambos trabalharam juntos na seleção da Alemanha.

    “Foi um bom negócio em todos os sentidos, porque um goleiro da qualidade do Joan, se fôssemos procurar no mercado, sairia mais caro e seria mais difícil de contratar”, explicou Laporta ao Mundo Deportivo. “Então, o Joan García já era um alvo nosso, surgiu a oportunidade e o Deco foi atrás.”

    O presidente continuou: “O Marc-André obviamente é um jogador importante do elenco, é o capitão e já nos deu muitas alegrias. Mas, depois da lesão no joelho, ele passou a ter um problema na lombar que piorou, o que o impediu de treinar. Agora, está decidindo se vai passar por uma cirurgia ou seguir um tratamento mais conservador.”

    A decisão de Ter Stegen de optar pela cirurgia não surpreendeu o Barcelona. O que realmente causou espanto foi a escolha do goleiro de revelar publicamente o tempo exato de recuperação.

    No dia 24 de julho, Ter Stegen publicou uma carta aberta aos torcedores nas redes sociais, afirmando que precisaria de três meses para se recuperar da operação nas costas. Ele, claro, tinha todo o direito de compartilhar a previsão médica. Ainda assim, a atitude foi vista como incomum e interpretada pela imprensa espanhola como uma represália direta ao Barcelona, que teria tentado forçá-lo a sair e ainda prejudicar sua imagem no processo.

    De acordo com o regulamento de LaLiga, um clube pode utilizar até 80% do salário de um jogador lesionado para registrar uma nova contratação, desde que o atleta em questão fique afastado por pelo menos quatro meses. O Barça, inclusive, usou esse artifício na temporada passada para inscrever Dani Olmo após a lesão de Andreas Christensen. Por isso, a referência exata aos “três meses” de recuperação foi vista por muitos como uma jogada calculada de Ter Stegen para impedir que o clube se beneficiasse novamente da regra.

    Alguns veículos chegaram a afirmar que Laporta, Deco e Flick estão tão irritados com o capitão que cogitam tirar dele a braçadeira. Também chama atenção o vazamento de diversas informações à imprensa catalã que colocam Ter Stegen em má posição, incluindo a alegação de que ele teria se recusado a viajar para Milão, para apoiar o time na semifinal contra a Inter, por estar chateado com a exclusão de seu nome da lista da Champions League.

  • Joan LaportaGetty Images

    Confusão criada pelo próprio Barça

    Independentemente da veracidade desse episódio, o que está claro é que a lesão de Ter Stegen, somada à sua publicação nas redes sociais, colocou o Barcelona em uma situação financeira ainda mais delicada.

    No cenário ideal, o clube teria negociado o goleiro logo no início da janela de transferências. Chegou-se até a dizer que o Barça estava disposto a liberá-lo de graça, já que Ter Stegen ainda tem direito a receber mais € 42 milhões (R$ 271 milhões) em salários até o fim de seu contrato, que vai até 2028. O jogador, porém, sempre deixou claro que não pretendia sair, e agora, lesionado, o clube ficará preso a um capitão que não quer mais... pelo menos até janeiro.

    O que vai acontecer daqui para frente nessa guerra entre clube e capitão é impossível prever, especialmente com o Barcelona ainda lidando com a bomba dos “três meses”. Laporta, por sua vez, já avisou que não haverá mais contratações até o fim da janela, o que certamente frustrou Flick, que vinha cobrando a chegada de um novo zagueiro. Ainda assim, focar apenas em vendas, ao menos por ora, parece uma atitude inusitadamente sensata por parte do Barça, já que só conseguir registrar Joan García a tempo da estreia de LaLiga já será uma missão complicada, depois do balde de água fria que Ter Stegen jogou.

    No fim das contas, o Barcelona está mais uma vez atolado em um caos criado por ele mesmo, e sair dessa confusão vai ser tudo, tudo menos simples. Um desastre para o clube… mas um prato cheio para quem assiste de fora.