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As finais em jogo único precisam acabar em Libertadores e Copa Sul-Americana

Nada se cria, tudo se copia. Quando Abelardo Barbosa, o Chacrinha, cravou esta frase, estava se referindo à televisão. Mas a sentença carrega consigo uma universalidade gigantesca, que também atinge, dentre outras coisas, o futebol. Ora, não há nada errado em copiar se a inspiração for boa e, caso a ética permitir, se parecer adequado. Só que é preciso fazer direito. E o futebol sul-americano falhou miseravelmente nesta missão.

Quando a Conmebol decidiu que as finais de suas competições de clubes – Libertadores e Copa Sul-Americana – seriam decididas em jogos únicos, como acontece na Europa, e não mais ao longo de encontros em ida e volta, achou que um simples “Ctrl C + Ctrl V” seria o suficiente para transformar algo que dava certo há décadas em um sucesso ainda maior.

A realidade óbvia, contudo, mostra um fracasso constrangedor que põe em cheque, ou ao menos deveria por, as finais únicas de Libertadores e Copa Sul-Americana. Estamos na quinta temporada desde que a Conmebol resolveu mexer em uma das poucas coisas que ninguém reclamava em suas competições. Já tivemos finais que mudaram de sede na última hora, estádios parcialmente vazios e arenas já se repetindo como palco da finalíssima. Está na hora de acabar com isso.

  • Champions League final 2023(C)Getty Images

    Absolutamente desnecessário

    Ao contrário da Liga dos Campeões da Europa, que desde suas primeiras edições, ainda na década de 1950, tinha finais em jogos únicos, a Libertadores da América sempre foi decidida em duelos de ida e volta. A tradição sul-americana se estendeu às diversas outras competições continentais que foram surgindo décadas depois (Copa Conmebol, Mercosul... e entre 2002 e 2018 a Copa Sul-Americana).

    Era uma fórmula que dava certo e trazia consigo aquela magia verdadeira, calcada em uma tradição alimentada ao longo de anos e anos e com novos episódios épicos sendo adicionados nas noites de meio de semana. Se torcedores dos mais diversos clubes com certeza tinham vários motivos para criticar a Conmebol, o formato das finais de suas competições certamente não era uma destas razões. Até alguém chegar com a ideia de copiar o que a Europa faz só porque... a Europa faz.

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  • Final 2022Getty Images

    O óbvio: contextos e realidades diferentes

    Por que a Liga dos Campeões (atual Champions League) sempre foi disputada em finais únicas, com sedes previamente decididas, alternando países e cidades, e a Libertadores não? A resposta é um fio óbvio: na Europa é mais fácil viajar de um país para o outro, além de ser mais barato para os que lá vivem. A infraestrutura dá opções de viagens por avião, trem e ônibus.

    A América do Sul é um continente majoritariamente pobre. Como consequência, viagens são artigos muito caros para o trabalhador comum, além do fato de a malha de opções de traslado não ser tão grande ou confortável quanto do outro lado do oceano. Fica mais difícil de se fazer um intercâmbio. São poucas cidades que oferecem grandes estruturas para eventos anuais de tamanho porte. Copiar, sem nenhum tipo de adaptação, a final única da Europa para a América do Sul é impossível. Portanto, é errado.

    Um exemplo claro foi a final da Sul-Americana entre São Paulo e Independiente del Valle em 2022. Os equatorianos não possuem muita torcida, mas é inegável o tamanho do contingente que o Tricolor poderia ter levado a qualquer estádio. Entretanto, o acesso difícil a Córdoba, a sede escolhida, fez com que vários espaços fossem vistos nas arquibancadas. Dificuldade de viajar até a cidade argentina, valores altos e até pouca opção de hospedagem minaram a festa.

  • Everton Ribeiro, Flamengo Libertadores 2022Getty Images

    Sempre algum problema...

    A primeira final única de Libertadores aconteceu em 2019, entre Flamengo e River Plate. O jogo estava previamente agendado para acontecer no Estádio Nacional de Santiago, no Chile, mas uma onda de protestos contra o então presidente chileno Sebastián Piñera fez com que a Conmebol mudasse o jogo para Lima, no Peru. Deu tudo certo: torcedores argentinos e brasileiros viajaram em massa, o jogo teve roteiro épico e rendeu tudo o que marqueteiros e afins amam: dinheiro. Dinheiro foi gasto em viagens, em consumo... Afinal de contas, era tudo novidade. Mas o formato se sustenta a longo prazo?

    A final da Libertadores de 2020 aconteceu, em janeiro de 2021, dentro de um Maracanã parcialmente restrito por causa da pandemia de Covid-19, situação bastante única. O mítico Centenário de Montevidéu recebeu flamenguistas e palmeirenses naquele mesmo ano. Mas a edição de 2022 obrigou a Conmebol a ter que doar uma carga de ingressos para a finalíssima entre Flamengo e Athletico-PR, no Equador, já que não foi vendido bilhetes suficientes. As imagens do jogo mostram chamativas porções de cadeiras amarelas vazias no estádio Monumental, de Guayaquil. Constrangedor.

    Para 2023, a expectativa é de um Maracanã lotado e vibrante para o encontro de Fluminense e Boca Júnior. Um Maracanã que viu sua presença em risco por causa de picuinha entre clubes, quando todos já sabiam quando e onde a final da Libertadores aconteceria. A insistência do Flamengo para jogar contra o Red Bull Bragantino, em jogo de Brasileirão, no estádio carioca, quase fez a final ser levada, em cima da hora, para outro lugar. Uma baita fragilidade de organização. A cada ano, a impressão é que surge um imprevisto para o prosseguimento da desnecessária final única.

    A decisão entre xeneizes e tricolores poderá ser o sucesso que for, tanto em campo quanto em níveis mercadológicos, mas há milhares de torcedores do Fluminense que perdem a chance de estarem em um estádio com mando seguindo a proporção 90/10, e o mesmo acontece do outro lado.

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  • Copa Sudamericana trofeoGetty

    Sul-Americana, o maior exemplo de fracasso

    Quando nos debruçamos sobre o fracasso das finais únicas da Conmebol, o exemplo maior de fato é a Copa Sul-Americana. Para 2023, a entidade havia escolhido o Estádio Centenário, mais uma vez deixando Montevidéu no radar, só que no meio do caminho resolveu mudar a sede para o Campus de Maldonado, ainda no Uruguai (em Punta Del Este). A motivação? É um estádio com metade da capacidade, o que acaba por corrigir os espaços vazios que, ano após ano, são vistos nas finais nos estádios da Sula.

    Tais espaços vazios não são culpa de torcedores. As torcidas de Fluminense, finalista da Libertadores, e Fortaleza, que disputa o título da Sul-Americana, têm todo o direito de se emocionarem e eventualmente comemorarem um título que seria inédito para ambos. As conquistas não perdem sua importância por causa de um grande erro de avaliação da Conmebol, mas a final única arranca a tradição, seleciona e elitiza desnecessariamente o espetáculo. Não precisava ser assim. Não precisa ser assim.

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