As 10 novelas de transferências mais dramáticas do futebol: de Alexander Isak no Liverpool a Neymar no Barcelona

Poucos jogadores têm a coragem de atravessar a rivalidade feroz de um El Clásico, mas foi exatamente isso que Luis Figo fez em 2000, quando se tornou o jogador mais caro do mundo ao trocar o Barcelona pelo Real Madrid. A decisão, segundo ele, veio da sensação de estar sendo desvalorizado no Camp Nou e do descontentamento com a maneira como o clube catalão era administrado na época.

A transferência foi vista como uma traição pelos torcedores do Barça e gerou uma reação virulenta. O episódio mais marcante aconteceu em 2002, quando, em seu primeiro retorno ao Camp Nou, Figo foi recebido sob uma tempestade de objetos — incluindo a famosa cabeça de porco arremessada em sua direção enquanto se preparava para cobrar um escanteio.

Apesar da hostilidade, Figo acabou levando a melhor: conquistou a Bola de Ouro em 2001 e ergueu a taça da Champions League em 2002, consolidando seu nome como um dos grandes da história do futebol.

Em 2005, tudo indicava que José Mourinho havia convencido Steven Gerrard a deixar o clube de sua infância para se juntar à revolução que ele comandava no Chelsea. Depois de uma tentativa frustrada no ano anterior, os Blues voltaram à carga com uma proposta de £32 milhões de libras naquele verão europeu. A investida aconteceu em meio a um momento turbulento: o meia havia dado sinais de que poderia sair, o que gerou revolta entre os torcedores do Liverpool, com alguns chegando a queimar camisas com seu nome e pichar a palavra “traidor” no centro de treinamento dos Reds.

A proposta foi rejeitada, e o Real Madrid também entrou na disputa. Naquele momento, Gerrard, então com 25 anos, chegou a entregar um pedido formal de transferência, mesmo tendo em mãos uma oferta recorde do clube de £100 mil libras por semana. “Foi a decisão mais difícil que já tive de tomar”, afirmou na época.

Para surpresa de todos, apenas 24 horas depois, ele voltou atrás, retirou o pedido e assinou um novo contrato com o Liverpool, enquanto o clube reconhecia erros na condução das negociações e pedia desculpas ao capitão.

O outro atacante sueco envolvido em uma novela de transferências neste verão é Viktor Gyokeres. Depois de mais uma temporada artilheira pelo Sporting, em Portugal, já se esperava que ele fosse protagonista de uma grande movimentação assim que a janela fosse aberta. A única dúvida era onde – e quando – isso aconteceria.

Apesar do forte interesse de vários clubes, ficou claro rapidamente que o destino seria o Arsenal. No entanto, tanto os Gunners quanto o jogador precisaram enfrentar uma verdadeira batalha para que o negócio fosse concretizado. Gyokeres entrou em rota de colisão com o presidente do Sporting, acusando-o de romper um acordo de cavalheiros que permitiria sua saída, e chegou a desaparecer no início da pré-temporada como forma de pressão.

As negociações se arrastaram por causa de bônus e cláusulas, mas, no fim, o Arsenal conseguiu fechar a contratação por £64 milhões de libras.

Na primeira janela de transferências após a compra do clube por um grupo apoiado por Abu Dhabi, em setembro de 2008, o Manchester City estava determinado a transformar Kaká, então astro do Milan, no rosto do novo projeto ambicioso. O clube inglês chegou a apresentar uma proposta sem precedentes: £100 milhões de libras — valor recorde na época — e um contrato milionário de £500 mil libras por semana.

A pressão foi enorme, mas Kaká acabou recusando a proposta. A forte reação negativa da torcida do Milan à possibilidade de saída pesou na decisão. “No momento, não quero mudar nada”, disse o brasileiro na época. “Todas as mensagens que recebi diziam para escolher com o coração, e acho que, no fim das contas, foi isso que fiz. Não se trata absolutamente de dinheiro.”

Silvio Berlusconi, então proprietário do Milan, comemorou a decisão: “Kaká recusou a oferta do Manchester City, priorizando o Milan, seus companheiros e os torcedores. E eles estão encantados. Recusar tanto dinheiro é algo admirável.”

Ironicamente, menos de um ano depois, em junho de 2009, Kaká se transferiria para o Real Madrid por um valor bem menor, citando a crise financeira global e a necessidade de ajudar financeiramente o clube italiano.

Em 2021, Harry Kane chegou ao limite com o Tottenham. Após uma temporada decepcionante — na qual os Spurs terminaram fora das vagas para competições europeias na Premier League, viram José Mourinho ser demitido e pouco fizeram na janela de transferências para reforçar o elenco — o atacante decidiu que era hora de buscar novos ares. Até então leal ao clube, Kane sentiu que tinha chegado ao seu limite.

O interesse do Manchester City foi imediato. Pep Guardiola chegou a admitir publicamente que queria contar com o atacante, e tudo indicava que a negociação avançaria, especialmente depois que Kane não se apresentou no início da pré-temporada, acreditando ter um acordo de cavalheiros para ser liberado.

Uma proposta de £100 milhões de libras foi recusada, e, mesmo com a disposição do City em elevar a oferta para um recorde britânico de £127 milhões de libras, o negócio acabou não saindo do papel. Após semanas de negociações sem progresso, Kane anunciou que permaneceria no Tottenham.

Talvez a novela de transferência mais longa da história do futebol tenha sido a de Kylian Mbappé. Depois de anos de especulação, o francês finalmente concretizou, em 2024, a tão aguardada ida para o Real Madrid. O desfecho, no entanto, só aconteceu após uma série de capítulos que mantiveram o Paris Saint-Germain em suspense e, ao mesmo tempo, custaram ao clube parisiense a chance de lucrar provavelmente mais de £100 milhões de libras com sua venda.

Apontado como um futuro jogador do Real Madrid desde criança e fã declarado de Cristiano Ronaldo, Mbappé foi alvo dos merengues ainda em 2021, quando o clube fez uma oferta de €160 milhões de euros no fim da janela de verão. O PSG recusou e, mesmo depois disso, ignorou propostas subsequentes. Como o contrato do atacante estava chegando ao fim, parecia inevitável que ele fosse para o Real de graça em 2022. Mas, surpreendendo a todos, em maio daquele ano o PSG anunciou que Mbappé havia assinado um novo contrato — um acordo de dois anos extremamente lucrativo, com opção de renovação por mais uma temporada — decisão que deixou o clube espanhol furioso.

Essa, porém, não seria a última reviravolta. Em junho de 2023, veio à tona que Mbappé não pretendia cumprir a cláusula para permanecer por mais um ano. Em fevereiro de 2024, ele firmou verbalmente um acordo com o Real Madrid e, três meses depois, anunciou oficialmente sua saída. No verão europeu, enfim, Mbappé se tornou jogador do Real Madrid.

A transferência que ninguém realmente queria — nem o Barcelona, nem Lionel Messi — foi forçada pela dura realidade financeira que ainda assombra o gigante catalão. Em 2021, as severas regras de limite salarial da La Liga impediram o clube de oferecer um novo contrato ao seu maior ídolo, e, por mais doloroso que fosse, Messi teve que deixar o Barça, marcando o fim de uma era brilhante.

Com o apoio financeiro do Qatar, o PSG conseguiu oferecer a Messi um novo lar, com um salário astronômico. A saída do argentino do Barcelona ficou eternizada numa coletiva de imprensa que ficou para a história — em que Messi anunciou a despedida e chorou diante do mundo, em um momento carregado de emoção.

Uma transferência que levou quatro anos para ser concluída, Neymar parecia destinado a brilhar em um grande clube europeu desde sua ascensão no futebol brasileiro pelo Santos, em 2009. Em 2013, o Barcelona saiu vitorioso na corrida pela contratação do craque, superando o Real Madrid. Porém, essa vitória marcou apenas o começo de uma longa saga, que se desenrolou em diversos tribunais.

O pai de Neymar, foi um dos acusados em um processo por fraude fiscal relacionado ao negócio, enquanto a diretoria do Barça também foi implicada após a revelação de que o clube havia pago muito mais pelo atacante do que o valor inicialmente declarado. Durante três anos, promotores investigaram o caso até que tudo fosse finalmente resolvido — só para Neymar, surpreendentemente, deixar o Camp Nou apenas um ano depois.

Quando o Real Madrid bate à porta, geralmente consegue o que quer — e o Manchester United sentiu isso da maneira mais dura em 2009. Os merengues demonstraram interesse em Cristiano Ronaldo já no verão europeu de 2008, ao ponto de o United ter registrado uma queixa à Fifa, alegando que o clube espanhol tentava desestabilizar seu principal jogador.

A novela se arrastou durante aquele verão europeu, mas Cristiano Ronaldo chegou a afirmar que estava feliz em Old Trafford e que permaneceria para a próxima temporada, com o United como atual campeão da Champions League. No entanto, a semente da dúvida já estava plantada. Durante toda a temporada 2008/09, o atacante, então com 24 anos, não cessou de alimentar especulações sobre seu futuro, até que, em julho seguinte, realizou uma transferência recorde mundial de £80 milhões de libras para o Real Madrid.

Outro grande astro a cruzar a divisão do derby de Manchester foi Carlos Tevez, que trocou o lado vermelho pelo azul em uma transferência altamente controversa. Após rejeitar a chance de transformar seu empréstimo pelo Manchester United em uma contratação definitiva, o argentino se transferiu para o Manchester City no verão europeu de 2009, com o clube acreditando ter pago impressionantes £25,5 milhões de libras aos seus representantes para garantir o negócio.

Tevez estava insatisfeito com a falta de oportunidades no United, onde frequentemente ficava no banco, mesmo após marcar 15 gols na temporada 2008/09, e com a Copa do Mundo de 2010 se aproximando rapidamente. Contudo, ele negou ter recebido qualquer garantia de tempo de jogo no City.

“Não tenho garantias sobre meu lugar e preciso conquistar o respeito dos meus companheiros enquanto luto para ser titular”, afirmou o atacante na época. A rivalidade entre os clubes ganhou ainda mais fogo quando outdoors com os dizeres “Welcome to Manchester”, em azul celeste, foram exibidos pela cidade, celebrando sua chegada ao City.