Arábia Saudita, efeito Messi e problemas na Premier League: os vencedores e perdedores da janela de transferências da Europa

Havia muitos questionamentos referentes à ida de Cristiano Ronaldo à Arábia Saudita em um primeiro momento - mas a profecia do português de que muitos outros craques se juntariam a ele em poucos meses fez-se verdade.

A tentativa falha em levar Mohamed Salah em um último momento foi um destaque, mas as chegadas de Karim Benzema, N'Golo Kanté, Neymar e muitos outros renomados nomes do mundo do futebol falam mais alto. O interessante é que a liga não focou apenas em aquisições midiáticas, mas também acertou com jovens promessas ou jogadores que ainda podem não ter chegado à sua melhor forma.

Por isso, já parece ser uma movimentação mais significante do que a realizada pela Super League Chinesa, entre 2016 e 2017. Trata-se de um projeto ambicioso, amparado pelo governo e com um poço de dinheiro de petróleo sem fundo que desafiará a Europa nas próximas janelas.

De coração, Jordan Henderson é uma boa pessoa, provou isso com toda sua caridade durante a pandemia. Portanto, não deve ser exemplo para todos os problemas da atualidade no esporte. Ele não é um grande cartola ou influente presidente de algum clube e também não foi o único - nem o primeiro - a aceitar as 'irrecusáveis' propostas da Arábia Saudita. Aos 33 anos e sem tempo garantido em campo no Liverpool, muitos teriam feito o mesmo.

O problema para Henderson é que ele é o único que aparenta ser hipócrita agora. Sua ida para um país que considera a homossexualidade ilegal chocou muitos torcedores, sobretudo aqueles que o consideravam um aliado das causas da comunidade LGBTQ+. Claro, os problemas relacionados aos direitos humanos no futebol são muito maiores do que o meio-campista, mas ele precisava explicar aos seus simpatizantes sua linha de raciocínio - e o fato de ainda não tê-lo feito é decepcionante.

Ninguém cometerá o erro de colocar o Paris Saint-Germain como grande favorito à Liga dos Campeões - trata-se de um dos times com menos sucesso na história do torneio. O time é alvo de piadas e memes em relação ao fato de nunca ter levantado a orelhuda e vive uma situação de constante impasse com Kylian Mbappé, que muda tanto de ideia acerca de uma possível saída e a permanência no Parque dos Príncipes quanto José Mourinho critica arbitragens.

Contudo, firmar a permanência do maior atacante do mundo (Mbappé, não Cristiano Ronaldo) não pode ser considerado nada menos do que uma baita conquista para o PSG, que pareciam já aceitar perder seu maior passe nesta janela - os campeões da Ligue 1, vale lembrar, chegaram a aceitar uma proposta do Al Hilal pelo craque. Claro, Mbappé jamais iria para a Arábia, mas o fato de estar realmente considerando permanecer em Paris é surpreendente.

Acontece, ainda, que este é o elenco mais forte na história recente do PSG, que mudou sua abordagem de formação: abandonou grandes estrelas, como Neymar e Lionel Messi, e focou na aquisição de promessas e estrelas mais jovens. O trabalho de Luis Enrique será um divisor de águas, mas fato é que o técnico espanhol possui uma visão muito clara do que será seu projeto na França

O RB Leipzig tem um modelo de fazer negócios que tem funcionado muito bem nos últimos anos: identificar, contratar, desenvolver e vender jovens talentos por enormes quantias de dinheiro. Esses lucros fazem com que a empresa tenha a chance de permanecer competitiva, tanto na Alemanha quanto na Europa.

Porém, hoje a torcida está preocupada - e não é surpresa. Ao todo, o time perdeu quatro fantásticos jogadores nesta janela, Christopher Nkunku, Dominik Szoboszlai, Josko Gvardiol e Konrad Laimer - tendo todos exercido papeis de protagonismo na última campanha, que terminou com um terceiro lugar no nacional e a conquista da Copa da Alemanha.

Com as saídas, o clube lucrou 220 milhões de euros (cerca de R$ 1,16 bilhão) e foi ao mercado, acertando chegadas interessantes - dentre elas, a de Xavi Simons. Mesmo assim, é impossível não considerar esta janela de quebrar corações para os torcedores. É natural que o time perca jogadores para times maiores, mas perder tantos protagonistas de uma vez só é devastador, inquestionavelmente.

Muito se falou sobre o 'efeito Cristiano Ronaldo' na Arábia, mas o 'efeito Lionel Messi' talvez seja ainda mais impressionante, seja em termos econômicos, seja em termos esportivos. Apenas dê uma olhada no que se tornou o Inter Miami desde a chegada do argentino, em junho.

Um período de três meses foi capaz de transformar um franquia que tinha campanha constrangedora na MLS para o grande time do campeonato, formado também por estrelas do Barcelona - por conta de Messi, evidentemente, que convenceu Sergio Busquets e Jordi Alba a jogarem mais uma vez com Tata Martino.

A questão agora é se o camisa 10 conseguirá liderar a equipe aos playoffs - o que corresponderia como um dos maiores milagres da carreira de Messi. De certa forma, contudo, talvez isso nem seja tão importante assim. Isso porque Messi já conquistou a Leagues Cup, fazendo com que o preço dos ingressos decolasse e a audiência disparasse.

Toda a MLS está se beneficiando do 'efeito Messi'.

Taxar o United como um dos grandes perdedores da janela pode parecer um pouco exagerado. Afinal de contas, Andre Onana deve provar-se um acerto, Rasmus Hojlund ainda tem muito potencial e Sofyan Amrabat trará uma combatividade muito importante ao meio-campo nas próximas semanas.

Mas pergunte-se o seguinte: O United está mais forte do que na temporada passada? Não, não está - e isso é meio inimaginável após 200 milhões de libras (aproximadamente, R$ 1,24 bilhão) serem distribuídas nesta janela. Ainda há muitos questionamentos a serem respondidos. Simples assim.

Assim como muitos imaginavam, Mason Mount parece ser um tipo de jogador que não era necessário na equipe, Hojlund ainda precisa se provar como o artilheiro que o clube quer e Onana já cometeu algumas das falhas que assustaram torcedores da Inter na última temporada.

Claro que os três podem dar certo - mas não dá para fugir do fato de que a temporada não começou da maneira que a torcida imaginava - entenda, ninguém esperava ver Sergio Reguilón sendo contratado às pressas no último dia da janela.

O grande objetivo era se aproximar do Manchester City - parece, no entanto, que essa distância só aumentou.

Por várias décadas, os jogadores ingleses evitavam a ideia de sair do Reino Unido. Claro, para todas as regras há suas exceções, indo de David Beckham a Jonathan Woodgate, mas, em temporadas recentes, os atletas da Terra da Rainha passaram a explorar mais os benefícios do restante da Europa. Os grandes destaques eram ambos do Borussia Dortmund, Jadon Sancho e Jude Bellingham.

Sancho, aliás, teve sua queda de rendimento justamente na Inglaterra, quando acertou com o Manchester United. Mas Bellingham optou por seguir longe de casa - apesar de clubes da Premier League terem realizado ofertas -, indo à Espanha para atuar pelo Real Madrid. E, pelo menos neste início, tem dado certo, chegando a ser artilheiro da La Liga, com cinco gols.

Outro nome, agora, se junta a essa lista: Harry Kane, que optou por deixar seu amado Tottenham para jogar pelo Bayern de Munique nesta janela. O atacante estava desesperado para levantar troféus - atividade corriqueira no clube bávaro - e o Bayern, para encontrar um substituto para Robert Lewandwoski. Kane já perdeu sua primeira oportunidade de levantar uma taça na Supercopa da Alemanha, saindo derrotado pelo RB Leipzig, mas o capitão da Inglaterra tem se mostrado em boa forma, marcando três vezes já na Bundesliga, e pode ser peça-chave em uma campanha com expectativas altas também para a Champions League.

O Bayern de Munique esteve muito perto de ter uma janela quase perfeita. Os bávaros conseguiram atingir seus dois principais alvos de transferência ao contratar Kim Min-jae do Napoli e Harry Kane do Tottenham, enquanto também conseguiram contratar Konrad Laimer e Raphael Guerreiro em transferências gratuitas.

No entanto, pouco antes do fim da janela, o Bayern permitiu que Benjamin Pavard se fosse para a Inter de Milão e Ryan Gravenberch se mudasse para o Liverpool, acreditando que teriam tempo suficiente para contratar substitutos.

O prazo final foi um desastre total, no entanto. O Bayern não conseguiu preencher a lacuna deixada pelo versátil Pavard ao tentar Trevoh Chalobah, o que significa que tem pouco elenco tanto na zaga como na lateral-direita. Pior ainda, Thomas Tuchel agora tem poucos jogadores no meio-campo, já que o clube ficou sem tempo enquanto tentava freneticamente fechar um acordo com o Fulham para o meio-campista João Palhinha.

Crédito a quem merece: o Barcelona ainda consegue contratar bons jogadores, apesar de quase não ter dinheiro para trabalhar. O clube ainda está a contabilizar o custo do reinado catastrófico de Josep Maria Bartomeu como presidente, que forçou o sucessor Joan Laporta a puxar as "alavancas" econômicas em todas as oportunidades possíveis.

É claro que é na Europa que reside o verdadeiro dinheiro, por isso a primeira participação no mata-mata da Liga dos Campeões em três anos é fundamental esta temporada.

Apesar de terem gasto apenas cerca de 10 milhões de euros, o Barça conseguiu reforçar o seu plantel com as adições de Gundogan, Inigo Martinez (ambos com transferência gratuita), Oriol Romeu, João Cancelo e João Félix. É verdade que alguns desses jogadores são muito melhores do que outros - e não podem ser interpretados como nada além de soluções de curto prazo - mas não é um mau negócio, especialmente quando se considera que eles acumularam mais de 70 milhões de euros com a venda de Nico González, Franck Kessié e Ousmane Dembélé.

Geralmente são os atacantes que são as maiores vendas durante a janela de transferências. Afinal, são eles os homens que marcam os gols - o bem mais precioso do futebol. No entanto, este ano, os volantes provaram ser indiscutivelmente os jogadores mais valiosos do mercado, o que talvez faça sentido.

Nesta era de linhas altas, atacantes rápidos e laterais construtores, as defesas provavelmente precisam de mais proteção do que nunca. Consequentemente, os especialistas da camisa 5 tornaram-se muito procurados. E eles não são facilmente encontrados, como o Liverpool descobriu ao tentar encontrar um substituto para Fabinho, e é por isso que vimos nomes como Moisés Caicedo e Declan Rice buscando taxas recordes de nove dígitos e meio-campistas defensivos inexperientes, como como Roméo Lavia sendo comprado por quantias surpreendentes.

Obviamente, os homens do dinheiro louco do Chelsea foram responsáveis pela compra de dois dos jogadores mencionados, mas é claro que o papel que desempenham é agora considerado totalmente essencial para as esperanças de sucesso de uma equipe no jogo moderno.

Pode parecer que Mauricio Pochettino está numa posição fantástica. Como Jurgen Klopp comentou recentemente com uma pitada de ciúme, normalmente um treinador do Chelsea consegue o que quer no mercado de transferências - e isso é provavelmente ainda mais verdadeiro agora do que foi sob o comando de Roman Abramovich.

Na verdade, os atuais proprietários do clube aumentaram os seus gastos desde que assumiram o comando no ano passado, com outra onda de gastos histórica nesta janela. O resultado líquido é que o novo técnico, Pochettino, viu seu elenco fortalecido com uma infinidade de possíveis superestrelas.

A palavra-chave aqui, porém, é “potencial”. Poderiam jogadores como Cole Palmer se tornarem grandes jogadores? Com certeza, mas não há garantias. E, na verdade, é provavelmente mais provável que acabem por lutar igualmente para provar o seu valor num ambiente tão caótico como o de Mykhailo Mudryk.

É função de Pochettino garantir que isso não aconteça. É sua responsabilidade não apenas tirar o melhor proveito desta promissora safra de jovens - isso ele poderia fazer com um pouco de paciência. Ele não receberá nenhum em Stamford Bridge, no entanto. O Chelsea, lembre-se, iniciou um projeto com Graham Potter, mas abandonou-o implacavelmente - e ao técnico - depois de menos de sete meses.

João Félix está destinado a se tornar o novo Álvaro Morata? Os primeiros sinais são promissores, com o português garantindo mais uma transferência para uma equipe de elite sem fazer muito. Ele claramente ainda tem um longo caminho a percorrer para igualar Morata: até agora, apenas um clube desperdiçou muito dinheiro com ele.

No entanto, é inegavelmente impressionante que Félix tenha conseguido convencer o Barça a abrir espaço para ele no Camp Nou, enviando Ansu Fati para o Brighton – depois de marcar apenas quatro gols enquanto estava emprestado ao Chelsea no início deste ano.

Além disso, quem sabe, com uma temporada decente, Felix poderá até conseguir garantir uma transferência permanente e multimilionária para a Catalunha, o que realmente o colocaria em posição de desafiar Morata pelo título de atacante mais misteriosamente caro da história do futebol mundial.