Antoine Griezmann segue fundamental no Atlético de Madrid - mas já é uma "Last Dance" antes de uma transferência à MLS?

Quando Griezmann voltou ao Metropolitano pela primeira vez após trocar o Atlético de Madrid pelo Barcelona, em 2019, a recepção foi hostil. Revoltados, alguns torcedores deixaram ratos de brinquedo na placa que levava seu nome do lado de fora do estádio. Dentro, uma faixa no setor mais fervoroso da torcida dizia: "Você quis ter um nome e esqueceu de ser homem." Durante o aquecimento, gritos de "Griezmann, morra!" ecoaram pelo estádio.

A saída em si não foi o que mais irritou os colchoneros, mas sim a forma como aconteceu. No ano anterior, o francês havia lançado o documentário "A Decisão", no qual disse que o carinho da torcida foi fundamental para rejeitar o Barça.

"Quando te mostram amor em casa, você não vai para outro lugar", declarou ao L'Équipe. No entanto, bastou um novo chamado de Josep Maria Bartomeu na janela seguinte para Griezmann mudar de ideia e deixar os Rojiblancos na mão.

Não foi surpresa que os torcedores do Atleti tenham zombado das dificuldades de Griezmann no Barcelona. Ele saiu em busca do título espanhol, mas, ironicamente, viu o Atlético ultrapassar o Barça e conquistar La Liga em 2020/21, liderado por Luis Suárez – o mesmo jogador que Bartomeu descartou sem cerimônia no ano anterior. Para os rojiblancos, trazer Griezmann de volta em 2021 foi, no mínimo, questionável.

Mas Diego Simeone nunca perdeu a admiração pelo atacante e o recebeu de braços abertos. O Atleti havia investido pesado em João Félix para substituir Griezmann, mas o português não conseguiu preencher o vazio deixado pelo camisa 7. Faltava-lhe a inteligência tática e a dedicação exigidas no esquema de Simeone.

Griezmann, por outro lado, sempre foi o oposto. Inteligente, altruísta, dedicado e comprometido, é um dos raros craques dispostos a se sacrificar pelo time – uma qualidade que tanto Simeone quanto Didier Deschamps sempre valorizaram.

O retorno de Griezmann ao Metropolitano teve obstáculos. Um deles foi a cláusula em seu contrato de empréstimo, que obrigava o Atleti a comprá-lo por 40 milhões de euros (R$ 238,3 milhões) caso ele jogasse pelo menos 45 minutos em metade das partidas do time. Para evitar o gasto, o clube adotou uma estratégia inusitada: usá-lo apenas no segundo tempo.

A situação acabou resolvida em outubro de 2022, quando o Atlético fechou um acordo com o Barça e adquiriu Griezmann por 20 milhões de euros (R$ 119 milhões na cotação atual). A partir daí, como era de se esperar, seu desempenho melhorou rapidamente, tanto no clube quanto na seleção.

Griezmann mostrou sua versatilidade como nunca na Copa do Mundo de 2022, sendo peça-chave na campanha da França até a final. Após o torneio, voltou ao Atleti e rapidamente se destacou como o melhor jogador de La Liga.

Em 2023, participou diretamente de 37 gols em todas as competições, mais do que qualquer outro atleta do Campeonato Espanhol. Já em janeiro de 2024, fez história ao se tornar o maior artilheiro da históra do Atleti, superando Luis Aragonés, ídolo que tem uma estátua no Metropolitano. Com sua recente entrada no top 10 de jogadores com mais partidas pelo clube, Griezmann pode muito bem ganhar a sua própria.

Mas essa é uma conversa para o futuro. Por enquanto, ninguém no Atlético quer pensar em sua despedida, ainda mais com ele em alto nível.

Simeone só pede que ele continue nesse ritmo, e tudo indica que isso vai acontecer. Griezmann marcou 24 gols na última temporada, sua melhor marca desde 2018, e já tem 15 nesta. Alguns deles, verdadeiras obras-primas. Simeone não esconde a importância de Griezmann para o Atlético, mesmo aos 33 anos. "Desde que chegou ao clube, Antoine sempre foi decisivo para nós", diz o treinador. E isso não é exagero.

Apenas Raul, Cristiano Ronaldo e Messi conquistaram mais pontos para um clube da La Liga com participações diretas em gols. Ainda assim, Griezmann nunca recebeu o reconhecimento que seu talento merece, talvez por ter tido o azar de viver seus melhores dias à sombra do duopólio CR7-Messi.

Ele também teve sua parcela de culpa. Escolheu o pior momento para ir ao Barcelona, desgastando sua relação com a torcida do Atleti e prejudicando sua própria reputação.

Mas isso ficou no passado. Um pedido sincero de desculpas, a admissão de que merecia as críticas e muita dedicação em campo ajudaram a reconquistar os torcedores — sem falar nos muitos gols e assistências.

Griezmann tem mostrado talento ao seu estilo nos últimos meses. Em novembro, marcou um golaço contra o Real Valladolid. Também garantiu a vitória de virada sobre o Villarreal com um gol no fim, fazendo Simeone comemorar feito louco (como sempre). No último fim de semana, selou o 2 a 0 sobre o Mallorca com um toque sutil de pura classe.

Para Simeone, o mais importante nem são os gols, mas o impacto que Griezmann tem no time. Desde que voltou do Barcelona, o francês mostrou ser um líder, algo que o técnico sempre admirou.

Griezmann se tornou um exemplo dentro do elenco, com sua dedicação dentro e fora de campo. Isso fica claro no que dizem seus companheiros. Julián Álvarez, recém-chegado e agora parceiro de ataque do francês, torce para que ele fique pelo menos mais uma temporada.

"Todos sabemos da classe do Antoine – ele faz o time jogar melhor", disse o argentino. "Por tudo o que ele deu a este clube e ao futebol, é um prazer jogar com ele."

Para qualquer fã de futebol, também seria um prazer ver "O Pequeno Príncipe" conquistar mais um título de La Liga antes de, inevitavelmente, seguir para a MLS.