Antero Greco deixa saudades, lições e especialmente ótimas lembranças

Criado em 1979, o SportCenter (SC) é considerado o principal programa da ESPN. É como se fosse o seu Big Mac: independentemente de quantas franquias ou sucursais ou idiomas adaptassem um produto aqui ou outro ali, o SportCenter tinha que seguir intacto. Assim como um Big Mac.

A partir de meados dos anos 1990, contudo, uma revolução silenciosa e feliz começou a acontecer aqui no Brasil. Antero Greco passou a fazer parte do SportCenter e a dupla com o apresentador Paulo Soares, o Amigão, foi daquelas escritas nas estrelas.

Notícias sérias eram dadas como notícias sérias. Notícias comuns eram dadas como notícias comuns. Comentários importantes, informativos e relevantes eram feitos com grande qualidade. Tudo com seriedade, sem a necessidade da piada pela piada, ou da polêmica pela mera viralização de internet. Sem piadinha pronta, mas com um toque leve de humor, que aparecia como um carinho no coração de cada fã de esportes que acompanhou toda a jornada da dupla. Era natural, e não há nada tão lindo quanto a natureza.

Quem ligava a TV para ver o SportCenter o fazia para saber novidades esportivas, para ver gols do seu time de futebol. É claro. Mas com Antero e Amigão, o SC atingiu um feito raro: no dia seguinte, as pessoas – rivais de times ou irmãos de camisa – perguntavam, umas para as outras, com um sorriso feliz e um brilho no olho: “viu o SportCenter ontem? Viu o Antero e o Amigão ontem?”... e sorriam juntas.

Antero Greco com certeza deixa muitas lições para quem o conheceu no seio da intimidade, ou dentro de uma sala de aula ou em salas de redação e estúdios de TV.

Mas foi além e também as compartilhou para milhões, que, apesar de não o conhecerem pessoalmente, o admiravam e até o consideravam uma espécie de amigo: é possível ser competente sendo feliz e leve; é preciso ser sério na hora de ser sério; não se pode ser um refém do “vale tudo pelo clique” ou da viralização forçada como ponto de partida. É preciso respeitar o sentimento que um torcedor tem pelo seu clube.

Antero fazia, como todos, críticas duras a clubes, dirigentes e árbitros e sistema de futebol brasileiro. Mas, como poucos, se preocupava em ser respeitoso com o sentimento do torcedor do time em questão. O pensamento não era baseado, como ponto de partida, em atingir algoritmo. Isso é carinho, é amor a tudo o que ele se dispunha a fazer. E é também por isso que a sua despedida deixa um enorme buraco, não apenas em familiares e amigos, mas em todos os que o acompanharam nestas décadas.

Antero Greco foi inspiração e tomara que surjam cada vez mais profissionais e pessoas como Antero. As lições estão aí para serem seguidas. A saudade será grande, tão grande quanto as ótimas lembranças de termos vivido a “era” do SportCenter com Antero e o Amigão: entre golaços e feitos históricos, críticas e notícias sérias e risadas verdadeiras que nos levam de volta ao melhor que uma quinta-série pode ter. Lágrimas de rir, lágrimas de chorar. Obrigado, Antero!