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State of All-Star Games in the U.S.Getty/GOAL

Para que servem os All-Star Games? Jogos festivos nos EUA perdem relevância para nova geração e iniciam debate

Desde o começo, os All-Star Games sempre quiseram dizer mais sobre marketing do que qualquer outra coisa. O primeiro da história foi o da Major League Baseball, em 1933, no Comiskey Park, em Chicago, durante a Feira Mundial. A ideia era que fosse algo pontual, criado para levantar o moral e o caixa em meio à Grande Depressão.

O sucesso foi tão grande que o evento virou uma tradição da cultura americana, atravessando décadas e diferentes esportes.

E dá pra entender o fascínio: os All-Star Games costumam acontecer no meio da temporada, reunindo os maiores nomes da liga em campo ao mesmo tempo. É o famoso “melhor contra o melhor”, como se fosse um videogame ganhando vida. Por uma noite, os ídolos se enfrentam e jogam lado a lado do jeito que os torcedores só conseguem imaginar.

Mas o que acontece quando esses ídolos estão mais acessíveis do que nunca, a um clique de distância? O que acontece quando o jogo vira só um show, sem disputa de verdade? E o que resta para ligas como a MLS, que, assim como NBA, NFL e MLB, tenta transformar o seu Jogo das Estrelas em algo realmente relevante, e não só um evento protocolar no calendário?

Esses jogos estão passando por mudanças. Ou regredindo, dependendo do ponto de vista. Há anos já não conseguem manter a mesma importância de antes.

A MLB tentou dar mais peso ao evento ao colocar em jogo o mando de campo na World Series, depois apelou para ideias como disputa de rebatidas para entreter o público. A NBA já mexeu várias vezes no formato e passou a fazer um "draft" com os principais jogadores, criando um clima de expectativa e discussão antes da bola subir. A NFL simplesmente aposentou o Pro Bowl tradicional e o trocou por um jogo caríssimo de futebol de bandeira.

A própria MLS também viveu seus experimentos. Já trouxe grandes clubes europeus para tentar turbinar a audiência, depois apostou em rivalidades locais, como o duelo entre a liga norte-americana e a mexicana, para vender o espetáculo.

Tudo isso mostra que o All-Star Game mudou. Já não é mais o show que foi um dia, nem tem a mesma importância para uma geração que consome futebol de formas completamente diferentes. Depois de quase um século como vitrine dos esportes americanos, esse tipo de evento está em um momento de transição, e o All-Star Game da MLS, que acontece nesta quarta-feira (23), em Austin, no Texas, também faz parte dessa onda de transformação.

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  • 2025 MLB ASGGetty Images

    História dos All-Star Games

    Ted Williams, lenda do Boston Red Sox, certa vez disse: “Inventaram o Jogo das Estrelas por causa do Willie Mays.” A frase não é literal, já que o primeiro All-Star Game da MLB foi disputado 20 anos antes de Mays brilhar nesse tipo de evento, mas deixa clara a intenção: esses jogos nasceram para exaltar os craques mais carismáticos e populares.

    Durante muito tempo, o Jogo das Estrelas foi uma chance rara para o torcedor comum ver os grandes nomes do esporte em ação. Antes dos contratos de TV nacionais e das plataformas de streaming, um fã da Costa Leste, por exemplo, mal conseguia acompanhar os jogos de Mays em San Francisco, por mais que ele fosse uma superestrela. Até 1997, nem existia confronto entre times das duas ligas na MLB. O All-Star Game era uma das únicas oportunidades de ver todos os melhores reunidos em campo.

    Esse conceito virou parte da cultura esportiva americana.

    A NBA criou seu próprio jogo em 1951 e transformou a data num fim de semana inteiro de atrações, com direito a concurso de enterradas. A NFL tem registros do Pro Bowl desde 1938, mas sempre teve dificuldade para tornar o evento atrativo, devido à natureza física do futebol americano. A NHL também começou com um formato próprio, colocando o campeão da Stanley Cup contra um time de estrelas, mas foi ajustando o modelo ao longo dos anos.

    A MLS seguiu esse caminho ao lançar seu All-Star Game já na primeira temporada, em 1996, apostando na fórmula americana dentro do futebol. Cada liga testou um modelo diferente, mas todas encaram hoje um mesmo desafio: a queda de interesse.

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  • LeBron James NBA ASGGetty Images

    Maior desinteresse

    Os 10 All-Star Games mais assistidos da história da MLB aconteceram entre 1976 e 1987. No auge, o evento chegava a mais de 30 milhões de telespectadores. Na edição da semana passada, segundo a própria liga, foram 8,1 milhões, mesmo com um emocionante "swing-off" no fim. Desde 2015, a MLB não ultrapassa a marca dos 10 milhões. Desde 1995, não alcança os 20 milhões.

    E o problema não é só no beisebol. O All-Star Game da NBA caiu de 9 milhões em 2011 para cerca de 5 milhões nas últimas três edições. O Pro Bowl da NFL teve queda de 18% nesta temporada, mesmo no novo formato com bandeirinhas. A audiência da MLS é difícil de medir, por conta do contrato com a Apple, mas na prática o desinteresse é visível.

    O principal motivo está na forma como o público consome esportes hoje. Segundo a EMarketer, o número de torcedores que assistem digitalmente já supera os que usam TV a cabo. Entre os jovens com menos de 25 anos, está cada vez mais raro ver uma partida inteira, seja qual for o esporte. O consumo acontece por meio de cortes, melhores momentos e clipes em redes sociais.

    No passado, o All-Star Game era a única chance de ver um Ted Williams ou um Willie Mays jogando. Hoje, qualquer jogada do Shohei Ohtani está a um clique de distância. LeBron James, Giannis Antetokounmpo, Stephen Curry, Lionel Messi… todos eles aparecem em tempo real no celular. Os ídolos estão mais acessíveis do que nunca, e isso faz com que o Jogo das Estrelas perca o ar de evento especial. Parece só mais uma quarta-feira à noite.

  • AllStars Valderrama MVPGetty Images Sport

    Versões diferentes da MLS

    Desde o início, a MLS tentou equilibrar tradição europeia, cultura esportiva americana e entretenimento para se firmar no mercado. Isso gerou algumas ideias malucas, como as disputas de pênaltis em "shootouts", lá nos primeiros anos.

    O All-Star Game faz parte dessa busca por identidade e já passou por vários formatos. No começo, o duelo era entre conferências, Leste x Oeste, com uma rápida exceção em 1998, quando testaram EUA contra o Resto do Mundo.

    A partir de 2002, a liga começou a escalar suas estrelas contra clubes europeus de renome. Manchester United, Chelsea, Bayern de Munique, Arsenal, Real Madrid, Chivas Guadalajara e até a seleção dos Estados Unidos já foram adversários.

    A proposta era divertida, mas a imagem deixada nem sempre era boa. As vitórias eram tratadas como meros acidentes contra times fora de forma. As derrotas, por outro lado, reforçavam a diferença de nível entre a MLS e o futebol europeu, como nos 5 a 2 e 4 a 0 sofridos contra o Manchester United em anos seguidos.

    A partir de 2021, com exceção do reencontro com o Arsenal em 2023, a MLS trocou o adversário europeu pelo confronto contra os melhores do Campeonato Mexicano. Foi uma tentativa de equilibrar forças, valorizar a rivalidade continental e manter o evento vivo na cabeça do torcedor.

  • Diego Ross, German Berterame MLS ASG 2024Getty Images

    As conexões com a Liga Mexicana

    Não é segredo que a MLS e a Liga Mexicana vêm colaborando nos últimos anos, e o Jogo das Estrelas é apenas uma parte disso. A Leagues Cup foi criada justamente para fomentar a disputa direta entre as duas ligas, assim como a Campeones Cup. Ambas têm colhido bons resultados.

    “Precisamos de mais confrontos entre MLS e Liga MX”, afirmou o comissário da MLS, Don Garber, antes da final da MLS Cup de 2024. “Esse sempre foi o objetivo da Leagues Cup desde o começo. Estamos tentando encontrar o melhor formato. Acho que conseguimos acertar com a Leagues Cup. O torneio funcionou muito bem no primeiro ano. E não foi só por causa do Messi, foi pela forma como o campeonato foi estruturado. Agora estudamos modificações que devem focar ainda mais no que queremos alcançar, que é essa grande rivalidade entre as duas ligas.”

    O All-Star Game também faz parte dessa estratégia. A ideia era dar um valor real à partida, mas sem exageros como, por exemplo, valer mando de campo na final da liga. Ainda assim, o fator orgulho tem peso. A expectativa é que o simples fato de representar sua liga em um duelo entre MLS e Liga MX torne o jogo mais competitivo e interessante.

    Dentro de campo, o nível tem sido bom. A MLS venceu as duas primeiras edições, sendo a primeira nos pênaltis, antes de ser derrotada por 4 a 1 no ano passado. O Desafio de Habilidades rendeu momentos divertidos e até alguns virais, e embora não tenha a mesma energia de um concurso de enterradas ou do Home Run Derby, cumpre bem esse papel dentro do universo do futebol.

    “É disso que se trata a celebração do All-Star”, disse Garber. “É a chance de fazer uma pausa no meio da temporada. E também de pegar um dos nossos ativos mais importantes, os nossos melhores jogadores, colocá-los frente a frente com um time muito competitivo — as estrelas da Liga MX — e mostrar isso para o mundo por meio da Apple.”

  • Charlotte MLS All-StarMLS

    Qual o futuro dos All-Star Games?

    A MLS já confirmou que o Jogo das Estrelas de 2026 será no Bank of America Stadium, casa do Charlotte FC. Depois de realizar edições recentes em estádios menores, próprios para o futebol, a liga quer encher um estádio da NFL no meio do ano de 2026.

    “Já tivemos All-Star Games em estádios grandes que foram um sucesso”, disse Garber. “O Charlotte FC tem enchido esse estádio tanto nos jogos da liga quanto em amistosos internacionais. Não tenho dúvidas de que teremos uma grande multidão. Vai ser uma grande celebração, e isso é importante porque o jogo tem transmissão global.”

    Mais do que números de audiência, a MLS quer transformar o All-Star em um evento de vários dias. O estado da Carolina do Norte concedeu um subsídio de 2 milhões de dólares para levar o evento a Charlotte como parte de uma semana inteira de festividades. A liga espera que a Copa do Mundo de 2026 seja o aquecimento ideal para a empolgação em torno do All-Star, e pretende surfar essa onda para transformar o jogo em um grande momento do calendário.

    “Temos uma oportunidade única com a Copa do Mundo acontecendo pouco antes”, disse Garber. “Vamos imaginar que Estados Unidos e México cheguem à final. Seria incrível ver MLS e Liga MX se enfrentando logo depois. Vamos ver como as coisas se desenrolam.”

    O que vem pela frente ainda é incerto. O interesse pelo futebol cresce nos Estados Unidos, mas a MLS ainda busca seu espaço na cultura popular. Em relação ao All-Star Game, a expectativa da liga é que ele ganhe cada vez mais força. Para isso, no entanto, será preciso evitar o destino de outras ligas americanas, cujos eventos mais tradicionais perderam relevância ao longo do tempo.

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