Alexander Isak, Liverpool gastador e quem ganhou e quem perdeu na janela de transferências na Europa

Um ano atrás, os torcedores do Liverpool estavam mais uma vez xingando os donos do clube pela suposta mesquinharia, já que o Fenway Sports Group (FSG) havia entregue a Arne Slot apenas um reforço: Federico Chiesa. Agora, porém, John Henry e companhia estão sendo elogiados por sua visão estratégica, já que a prudência do último verão abriu caminho para uma janela de gastos recorde que abalou as estruturas do futebol inglês.

Claro, não há garantia de que todas as contratações darão certo, e perder Guehi foi, sem dúvida, um baque. Mas a turma do #FSGOUT ficou em silêncio absoluto, porque o Liverpool não apenas gastou pesado, como também vendeu de maneira brilhante, recuperando quase metade do investimento recorde em saídas, o que significa zero problemas com as regras de sustentabilidade financeira (PSR).

Em resumo: o Liverpool é hoje o melhor time da Premier League e, talvez, também o clube mais bem administrado da liga.

Esta já seria uma passagem de temporada difícil para o Bayer Leverkusen. Era inevitável que vários integrantes do time campeão da dobradinha nacional de 2023/24 deixassem o clube junto com Xabi Alonso. Mas ninguém poderia prever que a transição seria tão traumática.

O Leverkusen já demitiu o sucessor de Alonso, Erik ten Hag, e isso após apenas dois jogos de Bundesliga. Além disso, Piero Hincapié e Victor Boniface se juntaram a Florian Wirtz, Jeremie Frimpong, Jonathan Tah e Granit Xhaka na lista de estrelas que deixaram o Bay Arena, com os dois primeiros se transferindo para Arsenal e Werder Bremen, respectivamente, no deadline day.

O pobre Jarell Quansah deve estar se perguntando no que se meteu ao deixar o campeão da Premier League para integrar o mais novo clube em crise do futebol europeu!

Isak e Wissa foram duramente criticados por se recusarem a jogar por Newcastle e Brentford, respectivamente, em uma tentativa de forçar transferências. Guehi, em contraste, foi aclamado como exemplo de profissionalismo durante toda a sua novela com o Liverpool.

Mas, enquanto Isak e Wissa conseguiram as mudanças que desejavam, Guehi segue no Crystal Palace, que cancelou sua transferência para os Reds na última hora. Inevitavelmente, fica a sensação de que um precedente preocupante foi estabelecido nesta janela: a triste moral da história é que fazer greve funciona.

A ascensão da "classe média" da Premier League foi uma das histórias da última temporada. Como Pep Guardiola repetidamente apontou, ficou mais difícil do que nunca para os gigantes vencerem times bem treinados como Brentford e Bournemouth.

Mas esta janela foi brutal para os “acima da média”. O Brentford perdeu o técnico e seus dois melhores atacantes, enquanto a defesa do Bournemouth foi desmontada.

Além disso, os sonhos do Aston Villa de consolidar o progresso notável sob o comando de Unai Emery foram esmagados pela não classificação para a Champions League, obrigando o clube a depender do mercado de empréstimos. O Newcastle, por sua vez, foi lembrado de forma dolorosa do seu lugar no “food chain” quando Isak partiu e vários jogadores rejeitaram a chance de vestir a camisa alvinegra.

Com a elite da Premier League mostrando todo seu poderio financeiro nesta janela de transferências, tudo indica que veremos a reestabilização da velha ordem nesta temporada, o que certamente reacenderá debates sobre a desigualdade estrutural no futebol inglês.

No meio da empolgação causada pela fúria do Liverpool no mercado, muitos parecem ter esquecido que o Arsenal, na verdade, teve um gasto líquido ainda maior que os Reds, após reforçar todas as áreas do elenco.

Com Viktor Gyokeres, os Gunners finalmente têm à disposição um camisa 9 goleador. Martin Zubimendi parece a peça que faltava no meio-campo, Eberechi Eze tem potencial de mudar jogos, enquanto Cristhian Mosquera e Hincapié oferecem cobertura de altíssimo nível na defesa.

De fato, há quem diga que Mikel Arteta agora possui o elenco mais profundo da Premier League. O lado negativo disso é que, a partir de agora, lesões não podem mais ser usadas como desculpa para a falta de títulos. O Arsenal já gastou quase £ 1 bilhão em contratações desde que Arteta assumiu em dezembro de 2019, e a falha em justificar esse investimento extraordinário com troféus pode muito bem custar o emprego do espanhol.

O Manchester United conseguiu se livrar de muito “peso morto” neste verão europeu, com Tyrell Malacia sendo o único integrante do famoso “Bomb Squad”, grupo de jogadores afastados das atividades e convidados a deixar o clube, que não encontrou novo destino.

O Chelsea também se saiu relativamente bem nesse sentido, mesmo que tenha precisado recorrer à manobra de vender Ben Chilwell ao Strasbourg, que basicamente é o clube-irmão dos Blues. Mas Raheem Sterling segue nos livros do clube de Londres.

Após um empréstimo desastroso ao Arsenal, onde nada deu certo, a esperança era que ele ao menos conseguisse um novo destino antes do fechamento da janela. Não aconteceu. Isso significa que o atacante de 30 anos encara agora a perspectiva bastante inglória de passar uma temporada inteira encostado.

Sinceramente, é difícil pensar em um jogador cujo declínio tenha sido tão drástico. Sterling foi, possivelmente, a primeira contratação de impacto da era Boehly-Clearlake no Chelsea; hoje, parece cada vez mais a pior de todas, o que não é pouca coisa.

Já estava claro, muito antes do fim da temporada passada, que Jack Grealish precisava sair do Manchester City. Especialmente se quisesse manter vivas as esperanças de disputar a Copa do Mundo de 2026 pela Inglaterra.

E, embora não tenha aparecido na primeira convocação de Thomas Tuchel, o ponta não deve estar longe de um retorno, depois do início empolgante que teve com a camisa do Everton.

É verdade que se pode argumentar que, aos 29 anos, Grealish apenas encontrou o seu nível: um time de meio de tabela da Premier League. Mas os primeiros sinais indicam que o atacante recuperou a faísca que Pep Guardiola havia apagado no Etihad. E, ainda que ele nunca vá admitir publicamente, Grealish deve estar se deliciando com o fato de que o City parece carecer justamente daquela liberdade criativa que já o transformou em ídolo imediato no magnífico Hill Dickinson Stadium.

É preciso ter um pouco de compaixão por James Trafford neste momento. O goleiro inglês estava compreensivelmente animado depois de ser readquirido pelo Manchester City durante a janela do meio do ano, em reconhecimento ao papel fundamental que desempenhou no acesso do Burnley à Premier League. Com Ederson em declínio, Trafford parecia muito bem posicionado para se tornar o novo camisa 1 de Pep Guardiola.

No entanto, pouco mais de uma semana depois de falhar feio contra o Tottenham, em um erro que levantou dúvidas sobre o real potencial de classe mundial do goleiro de 22 anos, Trafford viu o City ir ao mercado e contratar Gianluigi Donnarumma, possivelmente o melhor goleiro do mundo na atualidade.

Há dúvidas legítimas sobre a adequação do italiano ao estilo de jogo de Guardiola, baseado na construção desde a defesa, mas é certo que Donnarumma não foi contratado para ser reserva. Esse deve ser o papel de Trafford, o que seria uma frustração amarga para o jovem goleiro da seleção inglesa, já que a falta de minutos foi justamente o motivo de sua saída do City no passado.

Um dos principais motivos para Real Madrid, Barcelona e Juventus terem lutado tanto pela criação da Superliga Europeia é que seus presidentes estavam seriamente preocupados com o poderio financeiro da Premier League. E, de fato, suas preocupações estavam muito bem fundamentadas, já que a diferença monetária entre a elite inglesa e seus concorrentes continentais só aumentou nos últimos anos.

A última janela foi um exemplo gritante disso. Os 20 clubes de LaLiga gastaram pouco mais de £ 500 milhões em transferências no total; o Liverpool sozinho desembolsou mais de £ 400 milhões. Assim, mesmo com o fracasso da Superliga Europeia, fica claro que a Inglaterra conseguiu criar sua própria Superliga, e não há absolutamente nada que o restante do continente possa fazer a respeito.

Raramente o caminho para o sucesso é simples. Lesões podem frear o progresso de um jogador, mas uma mudança de treinador também pode ter esse efeito, como Kobbie Mainoo e Rodrygo descobriram da pior forma.

Mainoo foi titular pela Inglaterra na final da Eurocopa 2024 após se firmar na equipe de Erik ten Hag no Manchester United. No entanto, rapidamente ficou claro que o sucessor do holandês, Rúben Amorim, não via o meio-campista como peça ideal para seu esquema 3-4-3, o que levou o jovem a pedir um empréstimo nesta janela. O United, porém, recusou liberar o jogador de 20 anos, que deve permanecer como peça de rotação no elenco por um bom tempo.

A situação de Rodrygo no Santiago Bernabéu é igualmente frustrante. O atacante era peça-chave para Carlo Ancelotti no Real, mas perdeu espaço desde a chegada de Xabi Alonso. A expectativa era de que o brasileiro pudesse sair pelo preço certo, mas o interesse especulado de clubes da Premier League, como Manchester City, Arsenal e Liverpool, não se transformou em proposta concreta.

Assim, tanto Rodrygo quanto Mainoo enfrentam uma dura batalha por minutos de jogo a menos de um ano da Copa do Mundo de 2026.

Nas duas últimas temporadas, os três times recém-promovidos à Premier League caíram imediatamente. Será que o Sunderland pode quebrar essa tendência preocupante?

Os Black Cats foram agressivos na janela de transferências, investindo cerca de £ 180 milhões em reforços, incluindo a dupla do Ajax Brian Brobbey e Bertrand Traoré, o ex-ponta do Brighton Simon Adingra e, acima de todos, o ex-capitão do Bayer Leverkusen, Granit Xhaka.

Para felicidade do Sunderland, a aposta já está dando resultado: o time de Régis Le Bris venceu duas das três primeiras partidas. Desafios mais duros certamente virão, mas, pelo que se viu até aqui, o elenco reformulado parece totalmente capaz de aproveitar uma sequência inicial de jogos relativamente acessíveis.

O Barcelona não planejou gastar muito na janela de transferências de 2025. Principalmente, é verdade, porque não tem recursos para isso. No entanto, os culés queriam fazer uma contratação de peso e acreditavam ter um acordo fechado pelo antigo alvo Nico Williams.

No entanto, o ponta recusou dramaticamente a mudança para a Catalunha, já que o clube não conseguiu oferecer garantias de que poderia registrá-lo em LaLiga. Williams, então, optou por assinar uma renovação de 10 anos com o Athletic Bilbao.

O temor do jogador se mostrou correto, pois o Barcelona só conseguiu registrar Joan García e Marcus Rashford graças a mais uma “conveniente” lesão de Marc-André ter Stegen, que abriu espaço no limite salarial. A boa notícia para os culés é que Hansi Flick já conta com um elenco competitivo, mas esta janela foi mais um lembrete doloroso da delicada situação financeira do clube.