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Adriano Emperor GFXGOAL

Adriano, ascensão e queda do Imperador da Inter de Milão

Adriano Leite Ribeiro - mais conhecido simplesmente como Adriano - é considerado o herói para uma certa geração de torcedores de futebol. O Brasil produziu uma linha aparentemente interminável de talentosos jogadores de ataque ao longo de sua história, desde o glorioso auge de Pelé até a atual era liderada por Neymar. Mas Adriano foi um caso especial.

Nunca houve um atacante que despertasse medo em seus companheiros como o titã carioca de 1,90m. Ele era forte, incrivelmente rápido e tecnicamente brilhante, com um canhão no pé esquerdo que lhe rendeu estatísticas de chute avassaladoras no Pro Evolution Soccer.

Até mesmo o sueco Zlatan Ibrahimovic ficou completamente admirado com a qualidade de Adriano nos primeiros anos de sua carreira. "Ele podia chutar de todos os ângulos, ninguém podia enfrentá-lo, ninguém podia tomar a bola dele, era um animal puro", disse o ex-atacante da Inter ao Sport Bible em 2020.

No entanto, havia uma ressalva na avaliação de Ibrahimovic. "Gostei de jogar com ele, jogar contra ele, mas é uma pena que tenha durado tão pouco tempo", acrescentou. "Cinquenta por cento de tudo o que você faz é a parte mental. Se você não tiver isso na cabeça, é difícil."

Adriano marcou 74 gols em 177 jogos durante seu tempo na Inter e fez outros 27 pela seleção do Brasil - o que seria um total respeitável para a maioria dos centroavantes. Mas ele poderia ter quebrado o recorde se não fosse pelo seu temperamento imprevisível.

Seu tempo no topo durou muito pouco, e seu declínio público foi doloroso de assistir. A carreira de Adriano pode ser a história de "e se?" mais angustiante que o futebol já conheceu.

No entanto, isso não impediu que sua lenda crescesse ano após ano. E agora que a Inter está em a um jogo de conquistar sua quarta Copa dos Campeões da Europa, parece ser um momento apropriado para relembrar o incrível impacto de Adriano em San Siro e no mundo do futebol em geral.

  • Adriano-Flamengo-2000Getty

    Das favelas para o Flamengo

    Adriano nasceu na famosa favela Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, um ambiente hostil, repleto de crime, violência e corrupção. Ele cresceu na pobreza e com apenas as necessidades básicas para sobreviver, mas isso não o abateu.

    Ele desenvolveu uma determinação tranquila em meio ao caos ao seu redor e encontrou uma fuga no futebol. Adriano ia para as ruas e para os campos de terra descalço para aprimorar suas habilidades, praticando incansavelmente para ganhar uma chance em algum time.

    Ao lembrar aqueles dias em uma entrevista ao Player's Tribune, Adriano falou apenas da "diversão", insistindo que se beneficiou de uma "infância de verdade, não essa besteira de tap, tap, tap nas telas que essas crianças têm agora".

    Aos sete anos de idade, ele entrou para a escolinha do Flamengo, depois que seus familiares juntaram dinheiro para que ele frequentasse a escola na Gávea. Durante os oito anos seguintes, ele trabalhou para atingir seu objetivo final de se tornar um jogador de futebol profissional. Adriano nunca teve dúvidas de que chegaria lá. "A bola sempre esteve no meu pé. Ela foi colocada lá por Deus", disse ele.

    Ele acabou chegando no time principal do Flamengo aos 16 anos de idade, apesar de algumas ressalvas dos técnicos em relação ao seu tamanho. Adriano abriu o placar em sua segunda partida no time principal, contra o São Paulo, e sua estrutura física intimidadora logo se tornou uma arma que ele usaria a seu favor.

    Adriano balançou as redes nove vezes em sua temporada de estreia, em 2000, tornando-se um dos estreantes mais jovens da seleção brasileira, aos 18 anos. No início da temporada seguinte, marcou três gols em seus cinco primeiros jogos na Série A do Brasileirão. Naquele momento, a Inter já o havia identificado como seu próximo grande astro.

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  • Adriano-ParmaGetty

    O herdeiro de Ronaldo

    Adriano se apresentou aos torcedores nerazzurri logo em seu primeiro jogo: um glorioso amistoso de pré-temporada contra o Real Madrid no Santiago Bernabeu. Ele não mostrou sinais de nervosismo depois de entrar em ação como substituto no segundo tempo, correndo contra a defesa do Real em todas as oportunidades.

    Quando o Inter ganhou uma falta perigosa bem na entrada da área, ele não perdeu tempo e se colocou à frente para cobrá-la. Adriano deu um longo passo à frente e acertou um chute indefensável no ângulo superior do goleiro Iker Casillas.

    O gol especial, que ele afirmou ter atingido em uma velocidade recorde mundial de 105 km/h, selou a vitória da Inter por 2 a 1. E seu desempenho geral causou uma grande impressão no capitão do clube, Javier Zanetti. O argentino disse aos repórteres após o jogo: "Eu disse a mim mesmo: 'Este é o novo Ronaldo'".

    Daquele momento em diante, as comparações com O Fenômeno seguiriam Adriano por onde quer que ele fosse. Mas ele teve de esperar pela sua grande chance na Inter, que decidiu que o melhor para que ele seguisse seu desenvolvimento seria um período de empréstimo.

    A Fiorentina o contratou para a segunda metade da temporada 2001/02, e ele marcou seis gols em seus primeiros 15 jogos pela La Viola, mas a Inter optou por não trazê-lo de volta. A Fiorentina fechou um acordo de co-propriedade de dois anos com o Parma ao final da temporada, e Adriano logo começou a fazer jus à sua fama de herdeiro de Ronaldo no Estádio Ennio Tardini.

    Nas duas temporadas seguintes, Adriano marcou 23 gols em 37 jogos da Série A pelo Parma, formando uma parceria mortal com Adrian Mutu, e a Inter percebeu que havia cometido um erro ao deixá-lo ir embora. Os italianos agiram rapidamente para recontratar Adriano por 23 milhões de euros em janeiro de 2004, em um contrato de quatro anos.

    "Estou feliz por voltar para casa", disse ele em sua apresentação. "Tenho certeza de que, jogando com a Inter, me tornarei um grande jogador." Como se viu, sua previsão não estava errada.

  • Adriano-Inter-Empoli-2004Getty

    "O Imperador de Milão"

    Adriano não perdeu tempo e mostrou à Inter o que eles estavam perdendo. Ele foi imparável no final da temporada 2003-04 do clube, com nove gols marcados em 16 jogos na Serie A, incluindo dois gols impressionantes na última rodada contra o Empoli.

    O Empoli foi o primeiro a sair na frente, mas Adriano empatou nos acréscimos do primeiro tempo com uma cabeçada brilhante que passou por cima do gol depois de ficar suspenso no ar pelo que pareceu uma eternidade. Sua comemoração também foi icônica: ele tirou a camisa e foi flexionar os músculos na frente da torcida visitante. Mas o melhor ainda estava por vir.

    Adriano confirmou os três pontos com um gol impressionante, em uma jogada individual, a 20 minutos do fim, quando passou por três defensores depois de pegar a bola no meio do campo do Empoli. O imponente brasileiro então enganou o goleiro com uma manobra brilhante e rolou a bola para o gol vazio.

    Sua comemoração foi mais discreta desta vez, mas ele foi cercado pelos colegas da Inter. Eles sabiam que haviam testemunhado algo extraordinário, assim como os jogadores do time adversário. Esse foi o dia em que o "Imperador de Milão" nasceu, e o ex-zagueiro do Empoli, Emilson Cribari, lembra-se dele com clareza. "Em seu auge, ele está ao lado de Ronaldo como o jogador mais difícil de parar em campo", disse Cribari à ESPN em 2022. "Há aquela famosa foto dele, comemorando sem camisa no jogo que lhe deu o apelido de Imperador... Era eu quem estava marcando ele. Foi golaço contra nós. Naquele dia eu vi toda a sua força e qualidade."

    Sua atuação deslumbrante na vitória por 3 a 2 no Estádio Carlo Castellani lhe rendeu um lugar permanente no coração dos torcedores da Inter, já que o time de Alberto Zaccheroni garantiu o quarto lugar e a classificação para a Liga dos Campeões.

    Adriano marcou 28 gols em todas as competições na temporada seguinte e conquistou a Copa da Itália, estabelecendo-se firmemente como um dos melhores atacantes da Europa. Mas ele não conseguiu permanecer no topo, em grande parte devido a eventos fora do seu controle.

  • Adriano-Copa-America-Brazil-2004Getty

    Tragédia após a glória na Copa América

    Adriano teve de esperar um pouco para se tornar titular da seleção brasileira, mas sua paciência valeu a pena quando ele foi convocado por Carlos Alberto Parreira para a Copa América de 2004. Seus primeiros seis meses de volta à Inter tornaram impossível para o treinador deixá-lo de fora do time.

    Membros importantes da equipe brasileira campeã da Copa do Mundo de 2002 receberam folga, incluindo Ronaldinho, Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo, enquanto Parreira tentava formar a próxima geração de estrelas do país. Adriano foi acompanhado por jogadores como Julio Cesar, Maicon, Luis Fabiano e Vagner Love enquanto o Brasil buscava seu sétimo título da Copa América no Peru.

    Adriano literalmente ocupou o lugar de Ronaldo no torneio e conseguiu superar as expectativas. O Brasil abriu sua campanha na fase de grupos com uma difícil vitória de 1 a 0 sobre o Chile, antes de golear a Costa Rica por 4 a 1.

    O "Imperador" da Inter marcou três gols magníficos, cada um deles mostrando seus melhores atributos: técnica sublime, força, habilidade aérea e compostura.

    O Brasil passou para as quartas de final e enfrentou o México, onde Adriano foi mais uma vez o centro das atenções. Ele marcou dois gols para ajudar a equipe de Parreira a vencer por 4 a 0 e garantir a classificação para as quartas de final contra o Uruguai. A Celeste foi um teste mais duro para o Brasil, que empatou em 1 a 1 após o tempo normal e a prorrogação, com Adriano marcando mais uma vez. Ele também converteu na disputa de pênaltis, quando a seleção venceu por 5 a 3 nas cobranças de pênaltis. Inevitavelmente, a única equipe que ficou no caminho do troféu foi a eterna rival Argentina.

    E o Brasil se viu diante de uma derrota desoladora quando César Delgado deu à Argentina uma vantagem de 2 a 1 aos 87 minutos do segundo tempo. Enquanto os segundos passavam e o Brasil ficava cada vez mais desesperado, Adriano provou ser o homem mais frio dentro do Estádio Nacional.

    Ele reagiu rapidamente a uma bola solta na área argentina e, de costas para o gol, a colocou em posição de chute antes de disparar um voleio perfeitamente executado no canto inferior. Adriano tirou a camisa e a balançou sobre o ombro repetidamente como um laço, enquanto corria para longe com alegria, e a dinâmica da competição mudou.

    O Brasil conquistou o troféu após outra disputa de pênaltis, com Adriano marcando o primeiro gol na vitória por 4 a 2. "Não consigo explicar como estou me sentindo agora... Este é, sem dúvida, o melhor momento da minha carreira", disse ele, enquanto lutava contra as lágrimas após o jogo. "Esse título pertence ao meu pai. Ele é meu grande amigo na vida, meu parceiro. Sem ele, eu não sou nada."

    Adriano tinha o mundo a seus pés. Ele voltou para Milão com a medalha de campeão da Copa América e o prêmio de melhor jogador do torneio, mas então recebeu a notícia que mudou sua vida para sempre.

    Em 3 de agosto de 2004, Adriano foi informado por telefone que seu pai havia morrido aos 44 anos após um ataque cardíaco. Em um piscar de olhos, ele perdeu sua maior fonte de apoio, o homem que o criou nas condições mais difíceis possíveis e que o ajudou a realizar seu sonho.

    “Quando ele recebeu o telefonema sobre a morte de seu pai, estávamos na sala”, Zanetti disse mais tarde ao Tuttomercatoweb. "Ele bateu o telefone [de volta no gancho] e começou a gritar de uma forma que não se pode imaginar. Até hoje me arrepio. Depois daquele telefonema, nada foi como antes."

  • Ronaldo-Adriano-BrazilGetty

    "Meu amor pelo futebol nunca mais foi o mesmo"

    A temporada prolífica de Adriano em 2004-05 foi surpreendente, considerando a bagagem emocional que ele carregava. Seus gols foram dedicados ao falecido pai, apontando para o céu no que se tornou sua nova comemoração característica, mas, no fundo, ele estava lutando para lidar com a situação.

    "Meu amor pelo futebol nunca mais foi o mesmo", disse ele ao Player's Tribune. "Eu estava do outro lado do oceano, na Itália, longe da minha família, e simplesmente não conseguia lidar com isso. Fiquei muito deprimido, cara. Comecei a beber muito. Eu realmente não queria treinar. Não tinha nada a ver com a Inter. Eu só queria ir para casa".

    O peso de Adriano começou a aumentar e as lesões se tornaram cada vez mais frequentes. Felizmente, ele ainda jogava em uma equipe muito forte da Inter, o que ajudava a disfarçar as rachaduras que surgiam em seu desempenho. Roberto Mancini levou os nerazzurri a mais um título da Coppa Italia e da Suppercoppa Italia em 2005-06, além de conquistar seu primeiro Scudetto desde 1989, apesar de ter terminado a temporada da Série A em terceiro lugar. A Juventus, vencedora inicial, e o Milan, segundo colocado, foram punidos por sua participação em um escândalo de manipulação de resultados, com a primeira sendo rebaixada para a Série B e a segunda recebendo uma penalidade de oito pontos para a temporada seguinte.

    Adriano terminou a temporada com 19 gols em 47 jogos e fez parte da convocação do Brasil para a Copa do Mundo de 2006. Ele finalmente se juntaria a Ronaldo na Alemanha, bem como a Ronaldinho e Kaká - mas os titulares eram uma sombra da equipe que levantou o troféu na Coréia do Sul e no Japão quatro anos antes.

    O Brasil avançou para as oitavas de final com relativa facilidade, liderando seu grupo com o máximo de pontos. Adriano marcou na vitória de 2 a 0 sobre a Austrália, mas Ronaldo o ofuscou com dois gols na vitória de 4 a 1 sobre o Japão. Ambos balançaram as redes na goleada da seleção sobre Gana na primeira fase de mata-mata, mas voltaram a cair nas quartas de final contra a França. Adriano teve de se contentar com uma participação especial no banco de reservas quando Zinedine Zidane inspirou os Bleus a vencerem por 1 a 0.

    Com apenas 24 anos de idade, Adriano ainda deveria ter vivido os melhores anos de sua carreira. Mas a motivação do atacante da Inter caiu ainda mais depois do torneio.

  • Adriano-MourinhoGetty

    O longo divórcio com a Inter

    No início da temporada 2006-07, Adriano estava lutando contra o vício. Ele começou a se desentender com os dirigentes da Inter nos bastidores e a faltar aos jogos com regularidade. Os nerazzurri conquistaram o Scudetto novamente, mas ele só conseguiu marcar seis gols, com Ibrahimovic e Hernan Crespo liderando a linha de frente na maioria das vezes para Mancini. A situação ficou ainda mais fora de controle na temporada seguinte.

    Em novembro de 2007, Adriano foi enviado ao Brasil para uma licença não remunerada de 18 meses. "Eu não conseguia dormir e me apresentava bêbado nos treinos todos os dias", disse ele ao falar sobre esse período de sua vida ao R7. Ele se submeteu a um extenso programa de reabilitação física e psicológica no centro de treinamento do São Paulo e foi oficialmente emprestado ao clube em dezembro daquele ano. Adriano marcou 11 gols em 19 partidas pelo Tricolor, mas continuou a aparecer nas manchetes por sua vida fora dos gramados.

    Ele continuava a faltar aos treinos e era visto semanalmente em casas noturnas, e não demorou muito para ser mandado de volta à Milão. O diretor esportivo do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, disse em junho de 2008: "Temos um time equilibrado e foi melhor para o Adriano voltar".

    Ele retornou ao San Siro supervisionado por um certo José Mourinho, que havia sido contratado para substituir Mancini com a missão de conquistar a Liga dos Campeões. E o português deixou clara sua posição em relação a Adriano quando questionado sobre seu possível papel na equipe.

    "A equipe é mais importante do que Adriano, ele é um dos 30 jogadores que tenho à minha disposição", disse Mourinho. "Adriano será titular quando eu disser, não a imprensa."

    Adriano se concentrou em seu futebol por um breve período depois disso, e foi usado com moderação por Mourinho, mas mostrou lampejos do brilhantismo que o tornou um astro em sua juventude para ajudar a Inter em sua busca pelo quarto título consecutivo da Série A. Mas ele não conseguiu manter um nível consistente de concentração e disciplina.

    A escrita estava na parede quando ele não retornou à Inter no início de abril, depois de jogar as eliminatórias da Copa do Mundo contra Equador e Peru pelo Brasil. "Não sei se vou ficar um, dois ou três meses sem jogar. Vou repensar minha carreira", disse ele ao tentar justificar sua decisão.

    Adriano também negou os relatos de que estaria sofrendo de depressão. "Muitas coisas foram ditas nos jornais, mas tudo o que eu fiz foi pensado", acrescentou. "Eu não estou doente. Adriano não está morto."

    A Inter não teve outra escolha a não ser rescindir o contrato de Adriano um ano antes do previsto. Mourinho mostrou-se surpreendentemente compreensivo antes da confirmação da saída do jogador, quando disse aos repórteres: "A Inter fez de tudo para ajudar Adriano antes de eu chegar e comigo, como técnico e ser humano, assim como o presidente e seus companheiros de equipe. O importante é que ele esteja feliz. Se ele estiver feliz assim, se você perder o jogador, mas o homem estiver feliz, perfeito."

  • Adriano-Flamengo-titleGetty

    De volta do Brasil

    Apesar da saída amarga da Inter, o Flamengo recebeu Adriano de volta ao clube de braços abertos. Ele assinou um contrato de um ano com o clube carioca em maio de 2009, e teve uma recepção gloriosa em sua estreia. Foi relatado que o clube vendeu 50.000 ingressos a mais devido à presença do atacante na equipe para um confronto contra o Athletico, com a multidão cantando após sua saída do túnel: "O Imperador voltou".

    Adriano marcou a ocasião com um gol na vitória do Flamengo por 2 a 1, e os gols continuaram a aparecer depois disso. Parecia que ele havia redescoberto sua paixão pelo futebol.

    "As pessoas acham que foi loucura abrir mão do contrato milionário [na Inter] que eu tinha, mas a verdade é que não há dinheiro suficiente para compensar a família", disse ele em outubro daquele ano. "Abri mão de tantos milhões, mas comprei a felicidade."

    O Flamengo conquistou seu primeiro campeonato brasileiro em 17 anos e Adriano terminou como o artilheiro da competição, com 19 gols. Mas, nos bastidores, as coisas não eram tão cor-de-rosa quanto pareciam. A condição física de Adriano ainda era motivo de preocupação e ele teve problemas com vários membros do elenco. Além disso, também foi interrogado pela polícia sobre sua suposta ligação com um conhecido traficante de drogas.

    A explicação oficial para sua ausência na penúltima rodada da temporada resumiu o caos. Ele não pôde jogar depois de aparecer com uma lesão no pé, que supostamente teria sido contraída ao pisar em uma lâmpada, mas ninguém na imprensa brasileira acreditou nessa desculpa.

    No final, o Flamengo achou que ele era muito difícil de administrar. Mas Adriano havia feito o suficiente para convencer alguns espectadores de que ainda era capaz de atuar em alto nível, e surgiu a possibilidade de um retorno surpreendente à Europa.

  • Roma-AdrianoGetty

    A aposta da Roma sai pela culatra

    Em junho de 2010, a Roma se empenhou em contratar Adriano, que estava livre no mercado, apesar de ele ter ficado de fora da seleção brasileira de Dunga na Copa do Mundo da África do Sul. Os Giallorossi inexplicavelmente lhe deram um contrato de três anos no valor de 5 milhões de euros por temporada, e ele falou bem em sua primeira entrevista coletiva.

    "Estou feliz por estar de volta à Itália e por vestir a camisa da Roma, que carrega tanta responsabilidade", disse Adriano. "Hoje, estou mais maduro e voltei para provar isso." Os torcedores que caíram na conversa dele ficaram rapidamente com o rosto vermelho.

    Adriano ainda estava acima do peso quando se apresentou para a pré-temporada e rapidamente provocou a ira do técnico Claudio Ranieri. "Acorde", teria dito o treinador italiano ao novo camisa 9 da Roma em uma das primeiras sessões de treinamento. "Mais rápido, mais rápido, mais concentrado. É como se você não soubesse o que fazer com a bola nos pés."

    As lesões voltaram a atormentar Adriano no início da temporada de 2010-11, e ele não conseguiu ter um desempenho consistente na equipe. Ele fez uma rara aparição em um confronto da Copa da Itália contra a Lazio, arquirrival da Roma, em janeiro, mas sua noite foi interrompida depois que ele quebrou o braço direito e deslocou o ombro em uma queda infeliz.

    Adriano recebeu permissão para retornar ao Brasil para continuar sua recuperação, mas ficou mais tempo do que o esperado. Depois de perder uma série de voos de volta à Itália e não comparecer a um exame médico, a Roma classificou seu comportamento como "não profissional e indefensável".

    O ex-jogador da seleção brasileira emitiu um pedido de desculpas quando finalmente aterrissou em Roma, mas não aprendeu a lição. "Cometi um erro, mas acho que não havia necessidade de toda essa controvérsia", acrescentou ele em sua declaração.

    A Roma liberou Adriano apenas alguns dias depois. Ele não conseguiu marcar um único gol para os Giallorossi, que ficaram envergonhados com todo o caso.

  • Adriano-ParanaenseGetty

    "Tenho um buraco no meu tornozelo e outro na minha alma"

    Adriano buscou consolo em sua terra natal mais uma vez e se preparou para uma terceira passagem pelo Flamengo. No entanto, o então técnico Vanderlei Luxemburgo teria bloqueado a transferência devido aos contínuos problemas do atacante fora do futebol.

    O Corinthians ficou feliz em oferecer a ele mais uma chance de se redimir, e Adriano ainda estava convencido de que tinha muito a oferecer. "O Corinthians não vai se arrepender, sou um jogador de luta. Não vou para lá para criar problemas, mas para marcar gols", disse ele à Folha de S. Paulo.

    Adriano também negou que seu estilo de vida descontrolado tenha sido a principal razão por trás de sua saída da Roma, acrescentando: "Simplesmente não vi razão para continuar, me lesionei três vezes, não tive continuidade de jogos, achei que era um sinal para voltar ao Brasil."

    Menos de um mês após sua apresentação, Adriano rompeu o tendão de Aquiles em um treinamento, o que atrasou sua estreia no Corinthians em sete meses. Na verdade, ele nunca se recuperou de fato da lesão, e deixou o clube em março de 2012, com dois gols, sendo um deles importantíssimo para a conquista do título do Brasileirão de 2011.

    Ele só voltaria a jogar em agosto do ano seguinte, quando o Flamengo acabou cedendo à pressão externa para lhe dar uma última chance. No entanto, o atacante só recebeu um contrato baseado em "produtividade" até o final da temporada, o que mostrava que o clube não tinha muita fé em seu ídolo em decandência.

    Inevitavelmente, ele durou apenas três meses no Maracanã e teve passagens igualmente malsucedidas pelo Athletico-PR e pelo Miami United, nos Estados Unidos, antes de finalmente pendurar as chuteiras em 2016, aos 34 anos. Adriano admitiu desde então que sabia que estava acabado muito antes disso.

    "Quando eu rompi o tendão de Aquiles em 2011? Cara, eu sabia que era o fim para mim, fisicamente", concluiu ele ao Players' Tribune. "Minha explosão tinha acabado. Meu equilíbrio se foi. M****, eu ainda ando mancando".

    "Foi a mesma coisa quando meu pai morreu. Só que a cicatriz estava dentro de mim." Em seguida, ele fez uma confissão de partir o coração: "Tenho um buraco no meu tornozelo e outro na minha alma."

    Adriano pode não ter atingido seu potencial máximo, mas isso não significa que ele não será lembrado como uma lenda do esporte. Ele ainda ostenta um repertório de destaques com o qual a maioria dos jogadores só sonha, e é um herói para aqueles que o viram em seu auge com a camisa da Inter e do Brasil.

    Em 2021, ele foi incluído na Calçada da Fama do Estádio do Maracanã, uma honra que o levou às lágrimas. Apenas os jogadores mais icônicos da história do futebol ganharam esse privilégio, com Adriano ao lado de grandes nomes como Ronaldinho, Pelé, Romário, Zico e Garrincha.

    Adriano certamente merece ser mencionado no mesmo fôlego. Vida longa ao L'Imperatore.

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