Rogério Ceni pela primeira vez irá enfrentar, como treinador, o São Paulo no estado que leva o nome do Tricolor do Morumbi. E se o clube encontrou muitas dificuldades para ter um goleiro que agradasse a torcida após a aposentadoria de Ceni, em 2015, nesta atual temporada Tiago Volpi enfim conseguiu fazer isso. E faz com o melhor aproveitamento em defesas de todo o Brasileirão (81%), que também é o mais alto desde a saída do camisa 01.
Em entrevista exclusiva concedida à Goal Brasil, Volpi falou sobre o desafio de ser goleiro do São Paulo tendo que estar à altura do atual técnico do Fortaleza, adversário deste sábado (05), pela 23ª rodada do Brasileirão, e foi além: falou sobre as mudanças já feitas pelo técnico Fernando Diniz, posicionamento de Daniel Alves e as diferenças entre ele e Ronaldinho Gaúcho, com quem atuou no México, o sonho de título em 2019, seleção brasileira e o otimismo em relação à permanência no Morumbi. Confira abaixo como foi a longa conversa.
Como se sente no São Paulo?
“Eu me sinto bem, cada dia mais adaptado. Acho que é um orgulho enorme poder vestir a camisa do São Paulo, então me sinto bem, me sinto muito feliz”.
Quando o São Paulo te procurou, o clube ainda vinha encontrando dificuldades para encontrar um goleiro que atendesse às exigências da torcida em relação ao Rogério Ceni. Como foi para você lidar com esta responsabilidade de início?
“Eu sabia do tamanho da responsabilidade. O Rogério, para mim, é o maior ídolo da história do clube. Então, é lógico que é uma responsabilidade muito grande, mas eu estava ciente disso e queria muito assumir este desafio na minha carreira. Eu acho que quando é uma situação assim, um desafio tão grande, poder substituir alguém que foi tão importante dentro do clube, quando isso dá certo este sentimento é muito maior".

"Eu tinha noção do que eu enfrentaria, da responsabilidade que eu enfrentaria. Então eu estou, a cada dia que passa, me sentindo melhor, mais confiante, mais adaptado, e espero que até o final do ano esta história seja contada de uma maneira positiva e que tenha um final muito feliz, no sentido de poder ter dado conta do recado”.
O torcedor chegou a achar que a sua assinatura com uma marca esportiva era, na verdade, a assinatura da permanência no clube. Aliás, como está esta questão?

“Eu vi isso (disse). Essa situação do contrato com o São Paulo é uma situação que eu já deixei bem claro pra todo mundo, todos sabem que eu estou emprestado até o fim do ano, e que existe uma cláusula, com opção de compra, que esta opção pode ser feita em dezembro, então é muito difícil que aconteça algo até dezembro, mas acredito que tudo está se encaminhando para um final feliz”.
Como foi que os líderes do elenco chegaram à conclusão de que o Diniz seria o cara ideal para comandar o time?
“Sobre a chegada do Diniz, é um nome que a diretoria gostava e que foi unanimidade dentro de todos os jogadores pela forma que trabalha, pelo profissional que é, então foi unanimidade entre todo o grupo, todo o plantel”.
Já deu para, em meio aos treinamentos, notar alguma diferença no método? Acha que, dentro de campo, será algo perceptível em quanto tempo?

“Sim, é muito notório, principalmente porque a gente teve uma semana cheia para trabalhar também. São treinos muito intensos, de uma dinâmica muito grande. Sem sombra de dúvidas que, para este jogo contra o Fortaleza, o torcedor que for ao estádio, que acompanhar pela televisão, vai ter um São Paulo completamente diferente dentro de campo, pela forma, por esta ideia de jogo, pela ordem tática que o Diniz implantou nesta semana de trabalho”.
No Fluminense (aliás, onde você também passou), os torcedores ficavam assustados com a troca de passes perto da área, com participação do goleiro. Ter a bola no pé nunca foi problema pra você, mas esses passes “de risco” te assustam de alguma maneira? Como você vê isso?
“Esta questão dos passes de risco é muito de ponto de vista, até porque a intenção é jogar na segurança. A partir do momento que você tem as opções para jogar, você acaba escolhendo a de menos risco. É lógico que, talvez, para muitas pessoas, isso possa parecer algo arriscado, ou uma loucura, mas não é. É algo trabalhado todos os dias, e na intenção de fazer com segurança, com responsabilidade, então a equipe tem trabalhado muito bem durante esta semana as formas de jogar, inclusive a saída de bola. Não me assusta, porque no México eu já tinha trabalhado desta maneira também, então não é algo novo na minha carreira”.
Pegando por esta questão do passe: ter o Daniel Alves na lateral direita eventualmente poderia te ajudar, diretamente, nesta questão. Ele já disse, contudo, que pode ser mais decisivo atuando mais avançado; onde você preferiria jogar com ele?
“O Daniel, independente da posição que jogue, ele é muito importante para todos nós, e a gente também tem que levar em consideração que temos outros dois laterais direitos que, quando jogam, também jogam em grande nível, que são o Juanfran e o Igor Vinícius, então não vejo problema nenhum em o Daniel jogar na meia, até porque não é algo novo na carreira dele".

"É algo que ele já fez por outros clubes que ele passou, então não tem nenhum problema o fato de ele não estar na lateral. É um jogador que tem uma qualidade técnica impressionante, e acho que qualquer setor do campo que ele jogue, ele faz a diferença”.
Você já atuou no Querétaro ao lado do Ronaldinho, um craque de renome mundial, como foi receber o Dani Alves? Quais foram suas primeiras impressões dele?
“Eu posso dizer que sou um privilegiado, por ter a oportunidade de ter jogado com o Ronaldinho e agora com o Dani também. A gente o recebeu de uma forma muito bacana, e ele também é um cara de uma simplicidade muito grande, um astral superpositivo, uma humildade muito grande. Quando é assim, as coisas se encaixam e as coisas se facilitam, então este recebimento dele foi nota dez, e, bom, ele dispensa comentários”.
Tanto ele quanto Ronaldinho tinham idades parecidas quando você atuou com eles – respectivamente 35 e 36 anos. Quais são, na sua opinião, as diferenças de um para o outro em relação a forma de lidar com o futebol?
“Talvez a maior diferença seja um pouquinho na forma de pensar quanto ao que querer ainda na carreira. O Dani ainda tem muito claro o objetivo de jogar uma Copa do Mundo, e naquela época que eu joguei com o Ronaldinho, a gente sabia, o próprio Ronaldinho falava que a aposentadoria dele estava chegando perto, que talvez ele já tinha vivido tudo o que tinha vivido no futebol e já pensava na aposentadoria".

"Com o Daniel é o contrário, porque o Dani ainda pensa em jogar mais uma Copa do Mundo, pensa em jogar em alto nível, então esta talvez esta seja a principal diferença entre os dois no mesmo momento”.
Na sua opinião, qual é a briga do São Paulo neste Campeonato Brasileiro?
“Acho que a principal briga do São Paulo, neste Campeonato Brasileiro, é primeiro encontrar uma regularidade. A gente sabe que não temos sido uma equipe regular, temos tido muitos altos e baixos, e quando você quer conquistar, especialmente o Campeonato Brasileiro, algo grande, você precisa ser uma equipe estável, que brigue na parte de cima e não oscile tanto como temos oscilado".

"Então a gente espera que, com esta chegada do Diniz, a gente possa encontrar esta estabilidade com vitórias, para poder brigar na parte de cima. Ainda tem muito campeonato pela frente. A gente sabe que a diferença para o líder é muito grande, mas existe um grande número de jogos... e brigar pela parte de cima, quem sabe por um título, e focando que a Libertadores seria uma obrigação para nós”.
O que dá para melhorar no time?
“Volto a frisar no tema da regularidade: ser uma equipe mais regular que não oscile tanto com altos e baixos”.
Qual foi, pra você, o jogo mais difícil, o que você mais teve trabalho até aqui?
“O jogo do Cruzeiro, no Pacaembu, onde a gente empatou em 1 a 1, acho que foi o jogo que eu mais trabalhei com a camisa do São Paulo Acho que foi meu melhor jogo com a camisa do São Paulo”.
Você é o goleiro que, desde a época do Ceni, tem o melhor aproveitamento em defesas no Brasileirão (81%, o maior do campeonato também segundo a Opta Sports). Sabia disso?
“Não sabia destes números. Fico contente, acho que é uma prova de que está sendo feito um bom trabalho. Saber destes números é novo e fico muito contente”.
Sempre quis ser goleiro?
“Como criança eu queria fazer gol, né? Mas (risos) as coisas foram se encaminhando para ser goleiro, e lógico que, hoje, ser goleiro é uma paixão muito grande. Não conseguiria me imaginar em uma posição que não seja o gol. Amo o que eu faço. Não consigo me imaginar em outra posição”.
Quais foram suas inspirações, maiores ídolos no futebol?
“Um dos meus maiores ídolos é o Júlio César. Na minha época de categorias de base, peguei o Júlio César no seu auge, como melhor goleiro do mundo na Inter de Milão, ganhando a Champions, e foi uma grande inspiração pra mim. E, não porque estou no São Paulo, mas o Rogério marca para qualquer goleiro. Não só pelos gols, mas pela liderança, personalidade, então são dois caras que eu tenho um carinho e admiração muito grande”.
No primeiro turno (vitória por 1 a 0 sobre o Fortaleza, no Castelão), chegou a falar algo com Rogério Ceni, a ter algum tipo de contato com ele?
“Sim, conversei com ele. A gente acabou trocando uma ideia no final do jogo. Ele me presenteou uma luva. Eu já tinha a camisa dele, a gente jogou contra na época em que eu estava no Figueirense, e com o par de luva a colação ficou completa”.
Você foi eleito jogador do mês de setembro no São Paulo e é tido como melhor jogador do time. Imaginava que conseguiria, em sua temporada, ser tão importante?
“Fico bem contente, bem orgulhoso. Lógico que, quando a gente vem para um clube novo, que iniciamos um trabalho, sempre queremos que as coisas ocorram da melhor maneira possível, então poder estar vendo isso acontecer é algo que me deixa muito feliz, contente. Talvez eu nem imaginasse que seria desta forma que está sendo, com todo este carinho, toda esta admiração das pessoas. Então fico bem contente, bem feliz”.
Seleção brasileira, é um sonho?
“É um sonho que eu persigo há muito tempo, e um dos maiores incentivadores, de talvez voltar ao Brasil, foi poder ir atrás deste sonho. Fazer com que este sonho possa se tornar mais viável, estando em um grande clube como o São Paulo. Por mais difícil que pareça, estaria mentindo se dissesse que não sonho isso”.
Última pergunta: como você tem acompanhado esta situação do Figueirense? Ainda fala com alguém lá de dentro? Chegou a falar com gente da sua época lá?
“Sim, tenho acompanhado. É uma situação muito delicada que o clube está vivendo. Foram praticamente três anos que joguei lá (2012 a 2014), então a gente ainda tem muitos amigos, tem outros amigos que, devido a todas estas circunstâncias, tiveram que sair da instituição também. É um momento triste pelo clube, a gente fica triste pelo clube, mas pelo que foi feito lá é muito complicado que as coisas deem certo".

"Infelizmente, o clube e torcida estão tendo que pagar o preço por uma má administração, diversos fatores que ocorreram, mas é lógico: como torcedor, e eu sempre declarei que sou torcedor do Figueirense, por ser de Santa Catarina e por ter jogado lá, a gente fica triste e torce para que o clube possa se reerguer e possa sair desta situação o mais rápido possível”.
