Tite vê a responsabilidade aumentar na sua seleção e “abraça” esta tensão com alguma leveza. Com uma risada, ao mesmo tempo tão sincera quanto nervosa, de quem sabe que um ponto de inflexão está em sua frente. Claramente tenso, mas não sisudo. Nesta terça-feira (02), o Brasil decide, contra a Argentina, uma vaga na final desta Copa América. Utilizando de tudo o que tem ao seu dispor para buscar o resultado positivo dentro do Mineirão, o técnico escondeu a escalação e não quis nem mesmo falar sobre a situação do lateral-esquerdo Filipe Luís, dúvida por questões físicas.
“É a minha percepção do momento”, justificou-se durante entrevista coletiva prévia ao duelo, ao responder o motivo do mistério. E neste momento, Tite sequer sente estabilidade em seu cargo – apesar da promessa de continuidade feita pelo presidente da CBF, Rogério Caboclo. Ao peso de um jogo de vida ou morte contra o maior rival da seleção brasileira, o treinador gaúcho também vê a responsabilidade crescer exatamente pelo contraste entre o seu trabalho de quase quatro anos em comparação aos três comandantes que passaram pela Albiceleste desde a vitória por 3 a 0 do Brasil, em 2016, pelas Eliminatórias, no mesmo Mineirão que receberá o jogaço nesta terça.
Teria a sua equipe uma responsabilidade maior - além de jogar em casa e de ser favorito também pela fragilidade argentina dos últimos anos - por causa desta estabilidade no trabalho? “Talvez sim”, respondeu o treinador. Nesta Copa América, o Brasil tem números melhores aos da Argentina em quase tudo: gols marcados [8 a 5], menos gols sofridos [0 a 3], maior posse de bola [70% a 51%] e acerto no passe [89.6% a 82.5%]. Um ponto mais importante em que não tem vantagem é nas finalizações a gol: ambos acertaram 23 tentativas. Mas a Albiceleste tem aproveitamento melhor, acertando 50% das vezes a mira em relação a 41% da seleção brasileira.
Evitar que os rivais consigam bons arremates é uma das preocupações do treinador brasileiro, que ao mesmo tempo em que perde o sono ao imaginar como os hermanos poderão entrar em campo [com ou sem Aguero ou Di María entre os titulares], mostra-se resignado com qualquer chance de encontrar a solução para parar individualmente Lionel Messi.
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“A gente falou não só da individualidade da Argentina. Cresceu em termos coletivos também. O coletivo potencializa a individualidade. Não se anula Messi. Não. Pode-se diminuir as ações dele. Mas não pode se neutralizar as ações dele. Assim como não neutraliza-se Coutinho. Firmino, David Neres. Eles vão, em algum momento, ser decisivos”.
Esta questão do ataque do Brasil foi também bastante citada, aliás: dentre os quatro titulares mais avançados, apenas Everton Cebolinha chama atenção positivamente. E por ter superado expectativas. Roberto Firmino, Coutinho e Gabriel Jesus ainda estão abaixo do esperado: “Ordem e organização é um processo sem bola do que com bola. Qualquer empresa sabe que o processo criativo surge a partir de uma premissa de organização. Para fechar, nos dados: dribles, em toda competição, primeiro é o Brasil. Essa é minha resposta”.
MoWa PressTreinador disse que sente uma tensão igual à de 2016... será? (Foto: Pedro Martins/MoWa Press)
Tite confia no seu trabalho. Apesar de ter “a mesma expectativa” em relação à véspera daqueles 3 a 0 no Mineirão, em 2016, não quer olhar para trás. Seja para relembrar aquele triunfo emblemático, marcante do período de Lua de Mel com torcida e crítica, quanto para citar o 7 a 1 do Brasil para a Alemanha, em 2014, justamente em uma semifinal dentro do Gigante da Pampulha – ainda que de Copa do Mundo. O treinador garantiu pensar apenas no que está em sua frente, com expectativa, insônia, mas também na fé de que, dentro do imponderável que é o futebol, independentemente do resultado, o placar mostre um time coeso e justo.
“Claro que temos expectativas, sou humano. Mas a maior vitória que queremos é produzir o nosso melhor. Saber que tem que vencer com lealdade, que não pode ter malandragem”, disse.
Boa exibição, mas claramente preocupado com o resultado... que no futebol jamais é garantia.
