Lesões e suspensões haviam impedido Thomas Tuchel de escalar o seu PSG com força total no ataque, ou seja: montando o time com Di María, Mauro Icardi, Kylian Mbappé e Neymar na frente. Mas a partir do momento em que conseguiu, enfim, listar o quarteto o número de gols pareceu ser imparável.
Não demorou para que o apelido “Os Quatro Fantásticos” aparecesse, especialmente após a goleada por 4 a 0 sobre o Amiens, no último jogo do clube em 2019: Neymar e Icardi fizeram gols e deram assistências, enquanto Mbappé também estufou as redes e Di María foi garçom.
Após o 6 a 1 sobre o Saint-Étienne, pela Copa da Liga, em mais uma exibição perfeita do quarteto, um ponto da conversa chamou a atenção. Em meio aos elogios mútuos sobre a vocação ofensiva, o alerta sobre como o quarteto também precisaria se dedicar na fase defensiva foi repetido por diferentes personagens.
“Estou convencido de que é um esforço de equipe ofensiva e defensiva”, disse o técnico Thomas Tuchel após o jogo. “Estamos trabalhando para melhorar, tendo um jogo em grupo, para atacar juntos, para defender juntos, para fazer da melhor maneira”, destacou Icardi.
No emocionante empate em 3 a 3 com o Monaco, em duelo transmitido com exclusividade pelo DAZN e válido pela 20ª rodada da Ligue 1, o ataque seguiu funcionando com grande efetividade. Desta vez com destaque para os dois gols de Neymar, além do tento contra de Ballo-Toure cujo lance foi construído por Di María e concluído pelo brasileiro.
O problema foi a defesa, que no último domingo (12) teve uma de suas piores atuações: na atual temporada os parisienses ainda não haviam sofrido três gols.
Neymar: irritado com razão
Na zona mista do Parque dos Príncipes após o empate, que mantém o PSG isolado na liderança, Neymar foi perguntado por que o quarteto de ataque não funcionou. Não gostou do questionamento e lembrou que o time fez três gols – com participações diretas sua, Di María e de Mbappé, que sofreu o pênalti no terceiro tento.
A irritação de Neymar faz certo sentido se pensarmos na sua grande atuação e de sua entrega defensiva face ao resultado decepcionante. O brasileiro teve, segundo a Opta Sports, oito ações defensivas no duelo contra o Monaco. Nenhum atacante se comprometeu mais defensivamente do que o camisa 10.
Os Quatro Fantásticos na fase defensiva
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Neymar recuperou a posse seis vezes, dando prosseguimento à excelente entrega quando o time não tem a bola, repetindo os números das últimas partidas e ficando apenas a mais uma recuperada de igualar seu recorde pessoal nesta temporada (7). Fez um desarme e ainda conseguiu interceptar um passe.
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Di María teve, contra o Monaco, o seu segundo melhor número em recuperações de bola (5, uma delas no terço final), mas não conseguiu fazer nenhum desarme – algo até normal, uma vez que aconteceu outras 14 vezes em seu total de 26 jogos disputados. Também foi a 23ª partida na qual não fez nenhuma interceptação. Somou cinco ações defensivas diretas.
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Icardi, que no geral teve o pior desempenho na comparação com seus companheiros, recuperou quatro vezes a posse de bola (duas delas no terço final, algo entendível uma vez que é o atacante mais avançado), seu melhor número até aqui. Não fez nenhum desarme, o que está longe de ser novidade, assim como a falta de interceptações. Cinco ações defensivas.
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Mbappé recuperou a bola duas vezes e fez um desarme apenas, na média de suas poucas participações defensivas: três ações do tipo.
Desatenção atrás
Para armar o seu quarteto, Thomas Tuchel passou a desenhar o PSG em um 4-4-2, mas a verdade é que, salvo nas poucas situações em que Di María recuou mais para o meio, o time pôde ser encarado como um 4-2-4. Sob o ponto de vista ofensivo, ótimo. Mas equipes assim costumam sofrer com a desvantagem numérica na faixa central do gramado.
PSG (azul) e Monaco (amarelo): inferioridade numérica no meio é dor de cabeça para Tuchel
Entretanto, em nenhum dos três gols sofridos o PSG tinha, naquele momento, a desvantagem numérica – e o terceiro gol veio com um toque de sorte.
Desatenção dos jogadores mais recuados pode ajudar a explicar, um pouco, a pior exibição defensiva do PSG na temporada. Mas isso não quer dizer que não tenha sido um alerta para Tuchel.
Tamanha vocação ofensiva, cujo calcanhar de Aquiles é um meio-campo mais vulnerável, conseguirá ser suficiente para o duelo de Champions League contra o Borussia Dortmund, nas oitavas de final? Icardi e Mbappé precisam ser mais combativos sem a bola? Di María tem que ficar mais recuado? O quarteto seria uma opção segura para se começar um jogo contra um adversário mais poderoso?
A sorte de Tuchel é que, nesta quarta-feira (15), o PSG reencontra justamente o Monaco, em duelo atrasado da 15ª rodada e que será transmitido pelo DAZN. Contra o mesmo adversário, o treinador alemão terá mais uma chance de ajustar a sua estratégia e ver se o quarteto é viável como arma principal... ou se é melhor utilizá-lo como alternativa durante um duelo.




