O mês de novembro é o mês da Consciência Negra e, como todo ano, o futebol se volta ao debate sobre o racismo. Clubes lançam camisas, entidades e jogadores se manifestam nas redes sociais, emissoras e veículos de comunicação divulgam especiais sobre o tema. Um avanço importante, considerando que até poucos anos atrás se defendia a máxima de que não há racismo no futebol.
Mas qual o próximo passo nessa luta? É extremamente importante que seja chamar a atenção das pessoas para este problema - só olhar o número de casos de racismo denunciados pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol para entender que não são “casos isolados”. O futebol, com todos os indivíduos e entidades envolvidos, é uma ferramenta importante para conscientizar a população brasileira de que racismo é crime e deve ser tratado como tal.
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No entanto, os casos continuam acontecendo. Dois dias antes do Dia da Consciência Negra, o STJD vai julgar o recurso do Brusque, que perdeu três pontos na Série B do Brasileiro após um dirigente ser acusado de racismo contra o jogador Celsinho, do Londrina. O mesmo Brusque, cujo zagueiro Sandro relatou sofrer ofensas racistas da torcida do Brasil de Pelotas. Os julgamentos do clube do Rio Grande do Sul e o do torcedor acusado serão no mesmo dia.
No entanto, o racismo no futebol vai muito além dos xingamentos racistas. Ele passa pela falta de políticas de inclusão em cargos mais altos nos clubes e federações, pela falta de treinadores negros e até pelas poucas perspectivas para o pós-carreira de jogadores.
Ricardo Chicarelli/LondrinaRecentemente, a Goal publicou uma entrevista com Tyrone Mings em que ele fala sobre a importância da união dos jogadores para a luta contra o racismo no futebol inglês. Ele afirma que a falta de apoio para que os jogadores se posicionassem foi fundamental para estimular que eles se unissem para agir.
“Muita gente não quer que nós nos envolvamos tão profundamente com a política. Entendo que as pessoas querem que o futebol seja um escapismo e queiram manter política e esporte separados, mas esse nunca vai ser o caso”, ele diz.
Na Inglaterra, assim como no Brasil e em vários outros lugares, o racismo no futebol é um problema a ser combatido. Lá, 11 pessoas em agosto foram presas por cometerem crimes de ódio pela internet contra jogadores da seleção durante a Eurocopa. No início de agosto, um torcedor do Chelsea que publicou tweets racistas e antissemitas contra a torcida do Tottenham foi preso.
A Fifa se posiciona contra a discriminação de qualquer tipo em seu estatuto. Se há responsabilidade com relação ao combate, também deve haver responsabilidade com relação à prevenção. As entidades do futebol - clubes, federações, confederações - devem ser responsabilizadas. A CBF, como entidade vinculada, também deve seguir este mesmo código. Os clubes também são regidos pelo mesmo estatuto.
Por isso, é importante pensar além. As campanhas de conscientização são importantes para a prevenção, mas elas são uma promessa antiga de que algo mais será feito. Restritas a novembro, elas se tornam um marco do ano para que o mundo do futebol mostre que é contra o racismo, mas e no resto do ano? E nos casos menos divulgados, que não envolvem o futebol profissional masculino?
O combate ao racismo no futebol precisa ser realizado de forma mais efetiva no dia a dia. As campanhas são um primeiro passo, que vem sendo ampliado ao longo dos anos. No entanto, é hora de pensar no segundo.
