Curiosamente, meu plano para esta semana era falar de dinheiro. Mais precisamente, as diferenças nas premiações de competições masculinas e femininas, e o argumento de que público e patrocínios justificam a disparidade de gênero. (Uma das notícias que eu traria, inclusive, era boa: a Copa da Inglaterra feminina aumentou a premiação em quase 10 vezes e a maior parte do aumento vai beneficiar os clubes de menor expressão, que disputam as primeiras rodadas).
Mas essa história aqui me ajudou a lembrar que, enquanto a diferença de valores de premiações é revoltante, o descaso com o futebol feminino começa desde cedo.
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Jhonson é artilheira da seleção feminina sub-17 no Sul-Americano que está sendo disputado no Uruguai. Ela marcou nove gols em cinco partidas, e é um dos principais nomes do grupo que briga pelo título continental. Com a camisa 9, ela é um dos destaques da base brasileira.
Aos 16 anos e com uma multa rescisória que chega a 10 milhões de dólares em seu contrato com o Toledo (PR), parece que a jogadora tem um futuro brilhante pela frente. O valor não ser condizente com a realidade do futebol feminino mundial - já que, como Renata Mendonça relata na matéria, a maior transação do futebol feminino até hoje não chegou a 1 milhão de dólares, então não é realista imaginar Jhonson saindo do Toledo por enquanto.
O contrato da jogadora é vigente até 2025, quando ela completará 20 anos. Enquanto isso, na sua carteira de trabalho, o salário registrado é um salário mínimo. Apesar das justificativas do treinador, que afirma que ela “ganha o quanto ela pedir” e que a atleta “valoriza outras coisas, que não o dinheiro”, contrato e carteira assinada são uma segurança para o profissional de qualquer área.
Com a maior visibilidade do futebol feminino, vêm também a atenção e o escrutínio. Como assim uma competição entre clubes profissionais da primeira divisão não oferecer premiação à equipe vencedora? Como assim o Brasileiro masculino pagar mais de 100x o valor do feminino? Como assim uma artilheira da seleção receber um salário mínimo?
Por mais que se comemore o crescimento do futebol feminino no Brasil, este avanço ainda não se reflete em dinheiro. Não da maneira que deveria ser. Mulheres, historicamente, recebem menos do que homens quando exercem as mesmas funções. E não quer dizer que os homens, no geral, tenham salários astronômicos - vale lembrar que 96% dos jogadores de futebol no Brasil, em 2016, recebiam menos de R$ 5 mil por mês.
Por isso, é importante falar sobre dinheiro, mas também é importante ir além. Ao invés de se ater às premiações, esta desigualdade vai muito além dos principais torneios. E que a maior atenção, audiência e cobrança - não cornetagem, cobrança mesmo - são também maneiras de garantir que as jogadoras tenham acesso a contratos melhores, salários mais justos e condições ideais para exercer sua arte e brilhar. Mesmo porque, para quem está assistindo aos jogos do Sul-Americano, Jhonson já está brilhando.
Para quem não sabia que a competição estava acontecendo (ou que estava sendo transmitida), ainda há tempo. Vai dar para ver ver Jhonson e suas companheiras brilhando nas partidas restantes do quadrangular final do Sul-Americano Sub-17 contra o Paraguai no dia 16 (às 18h30) e no dia 19 (às 20h30), com transmissão do SporTV.
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