Neymar Lucas Paquetá seleção Brasil Copa América 2021Lucas Figueiredo/CBF

Neymar e Paquetá: entrosamento na seleção entre fã e ídolo tem até amizade nos games

A Copa América de 2021 tem vários assuntos distintos. Para a seleção brasileira não é diferente, e um dos temas que chamou a atenção foi a ascensão de Lucas Paquetá ao time titular e seu bom entendimento com Neymar durante o torneio. A sintonia foi mostrada tanto nas ações com bola e movimentações, quanto na hora de celebrar os gols. A dancinha da dupla já virou uma das marcas registradas no caminho que levou a camisa canarinho até a final, que será disputada contra a Argentina dentro do Maracanã.

Seja qual for o resultado na decisão deste sábado (10), a sintonia entre Neymar e Paquetá dentro de campo é uma das melhores notícias desta participação brasileira. Sintonia esta que não se restringe às quatro linhas. A história do bom entendimento entre as partes começa lá em 2016, em um treino da equipe olímpica antes dos jogos do Rio, passa pelo interesse em comum no mundo dos games e, claro, foi amadurecida pela admiração mútua de um lado e do outro.

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Como tudo começou

Uma das primeiras interações registradas entre Neymar e Paquetá aconteceu em 2016. Lucas ainda engatinhava no futebol, saindo de uma campanha vitoriosa na Copa São Paulo de Futebol Júnior e experimentando ainda suas primeiras chances entre os profissionais do Flamengo, enquanto Ney já era um astro mundial – campeão da Libertadores pelo Santos e da Champions League pelo Barcelona, dentre outras taças.

Enquanto fazia parte da seleção sub-20, Paquetá ajudou a completar um dos treinos que a seleção olímpica – cuja principal estrela era Neymar – realizava na Granja Comary, em Teresópolis. Desafiado pela ousadia do camisa 10, o então rubro-negro não titubeou: se Neymar havia tentado driblá-lo com um movimento de ‘lambreta’, daqueles em que o jogador levanta a bola por trás de seu próprio corpo para encobrir a si e ao adversário, Paquetá demonstrou resposta rápida para evitar que o belo drible fosse finalizado.

Admiração mútua já em 2018

De ‘sparring’ em treino de seleção olímpica, dois anos depois Lucas Paquetá passou a ser visto com mais atenção por Tite – que inclusive o incluiu na lista de pré-selecionados para a Copa do Mundo na Rússia – e por Neymar. Em janeiro de 2018, o ainda jogador do Flamengo não teve vergonha de demonstrar a emoção com o elogio recebido pelo camisa 10 em post nas suas redes sociais.

Neymar e Lucas Paquetá seleção brasileira 2016 treino postReprodução/Instagram(Foto: Reprodução/Instagram)

“Show, tá bem demais. Parabéns e segue assim. Tô acompanhando de longe. Boa sorte, vou pro jogo. Beijo dançarino”, elogiou Neymar em mensagem direcionada a Paquetá, que respondeu com a palavra “ídolo” seguido por emojis de corações em sua conta no Instagram. Mal saberia o jovem que, poucos anos depois, estaria emplacando dancinhas com o ídolo.

Ainda naquele ano, Paquetá faria sua estreia pela seleção principal: ainda visto mais como um ponta para ser alternativa a Philippe Coutinho, ele saiu do banco de reservas quando a vitória por 2 a 0 sobre os Estados Unidos, no primeiro amistoso após a eliminação para a Bélgica no Mundial de 2018, já estava sacramentada. Se contra os estadunidenses e, depois, diante de El Salvador, Paquetá não fez gol ou deu assistência, ele apareceu para defender. Defender Neymar das críticas que o craque vinha recebendo após suas reações exageradas às faltas recebidas nos gramados russos durante o Mundial – cenas que viraram piada mundo afora.

Neymar e Lucas Paquetá treino seleção brasileira Brasil EUA 2018Lucas Figueiredo/CBF(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

“Queria entender como conseguem criticam o Neymar. É um cara que faz tudo pelo país, veio de lesão, é um gênio. Não o critico em nada. Leva muita pancada, acontece. Ele tem que se prevenir, se proteger. Acho que foram muito exageradas (as críticas). É um craque que faz tudo pelo Brasil", disse o novato em 2018.

Neymar, por outro lado, passou a aumentar os elogios feitos ao então jogador do Flamengo – que naquela época era especulado no PSG – e foi enfático ao, naquela época, classificar o nível de futebol do garoto.

“Ainda não falei com ele sobre o PSG. É um grande jogador e sei de suas qualidades. Tenho certeza que é um craque”, afirmou em entrevista coletiva.

Camisa 10: criação, gols e responsabilidade

Lucas Paqueta Czech Republic Brazil Friendly 26032019Pedro Martins/MoWaPaquetá contra a República Tcheca (Foto: Pedro Martins/MoWa)

Paquetá acabou tomando um caminho diferente ao do futebol francês em um primeiro momento. Já como atleta do Milan, em 2019 o ex-flamenguista teve a responsabilidade de envergar a camisa 10 do Brasil nos amistosos contra Panamá e República Tcheca enquanto Neymar se recuperava de lesão. A escolha levantou polêmica depois que o pentacampeão Rivaldo criticou, em suas redes sociais, a entrega da 10 para alguém tão jovem. Neymar “curtiu” o post de Rivaldo, que após ver Paquetá marcar o seu primeiro gol pelo Brasil justamente sobre os panamenhos se explicou: disse que suas palavras foram desferidas como forma de “não queimar” um jovem atleta.

Em meio a este princípio de polêmica motivada pelas palavras do ex-jogador, Paquetá ficou alheio e sentindo nada além do que orgulho. Ao dizer que emolduraria a camisa 10 que usou, Lucas evocou a presença de Neymar, ao lado de gigantes do nosso futebol, mesmo em sua ausência: “Eu lembrei de Neymar, Ronaldinho, Pelé e Zico. São tantos jogadores que vestiram essa camisa, e eu espero corresponder às expectativas", afirmou ainda antes dos referidos amistosos.

Não é só (no) futebol: os ‘gamers’ do Brasil

Enquanto amadurecia o seu futebol na Europa, e seguia ganhando pontos na seleção brasileira, um traço forte que também une Neymar e Paquetá ficou mais evidente do que nunca em 2019. Durante preparação para um amistoso contra a Colômbia, eles posaram – ao lado de Casemiro e Arthur – vestindo a camisa da Fúria, equipe de e-sports focada no game CS:GO. Paquetá, inclusive, comandou o time que venceu a equipe de Neymar em uma das edições do Mix Furioso, evento de CS:GO, em maio de 2019.

“Costumo jogar com o Neymar, Casemiro, Arthur, Gabriel Jesus e entre outros. Mas os quatro primeiros são os com os quais jogo com mais frequência”, disse Paquetá em entrevista para o site especializado em games Draft5. O atleta, atualmente, é um dos tantos que investe em sua própria equipe de e-sports, a Paqueta Esports Gaming.

Disputas na França reforçam amizade e admiração

Neymar e Lucas Paquetá Lyon PSG 2020Getty Images(Foto: Getty Images)

Enquanto passava a ser nome certo na seleção, Paquetá via seu futuro como incerto no Milan. O início bom foi substituído por oscilações e, enfim, às poucas oportunidades. Foi em 2020 que apareceu o Lyon, e foi na França, em meio a disputas com o PSG de Neymar, que o carioca não apenas recuperou o bom futebol, mas evoluiu.

Jogando como meio campista, daqueles que pressionam o adversário sem a bola e, com a esfera nos pés, cria como um meia, Paquetá foi ganhando destaque. Em dezembro de 2020, pela 14ª rodada da Ligue 1, o Lyon bateu o PSG por 1 a 0. Paquetá não fez gol nem deu a assistência, mas saiu exaltado como melhor em campo pelo trabalho defensivo e distribuição do jogo – atributos que também seriam visíveis, meses depois, na Copa América de 2021.

Neymar, que além de ter sido criticado naquela partida pelo excesso de individualismo ainda deixou o campo chorando, após sofrer falta dura de Thiago Mendes, teve sua vingança no encontro seguinte. Os parisienses venceram por 4 a 2, em jogo que protagonizou também a imagem curiosa de Paquetá puxando a camisa de Neymar enquanto tentava marcá-lo. Retornando então de mais um período lesionado, assim como havia sido o cenário na derrota de dezembro para o Lyon, o ex-santista foi às redes sociais brincar com o amigo. Uma provocação? Sem dúvida. Mas com um tom de carinho muito evidente.

Neymar e Lucas Paquetá PSG Lyon Instagram camisa 2021Getty Images/Instagram(Fotos: Getty Images/Instagram)

“Ele tentou ficar com a minha camisa, mas eu fiquei com a dele”, escreveu Neymar, enquanto exibia uma foto sua com a indumentária de Lucas Paquetá.

Entrosamento decisivo na Copa América de 2021

Neymar Lucas Paquetá seleção Brasil Copa América 2021Lucas Figueiredo/CBF(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Foi este o caminho que a relação entre Neymar e Lucas Paquetá traçou até a realização da Copa América de 2021, no Brasil. Mas foram nos criticados gramados brasileiros que a dupla passou a mostrar, para quem quisesse ver, que o entrosamento poderia render bons frutos também para a seleção brasileira.

A fluidez com a qual a dupla se entende em campo tem sido nítida nas movimentações de construção, criação e finalização. No caminho até chegar à final, onde enfrentará a Argentina dentro do Maracanã, Paquetá fez os gols das magras vitória sobre Chile e Peru – nas quartas e semifinal, respectivamente.

Contra os chilenos, tabelou bonito com o camisa 10 antes de entrar na área, como se fosse um atacante, para estufar as redes – a assistência não foi creditada a Neymar apenas por um desvio na defesa adversária. Contra os peruanos, Paquetá mais uma vez estava pisando na área para concluir após jogada de craque feita pelo melhor driblador do futebol mundial na atualidade.

Neymar Paqueta Copa America mapa de calorImagem: SofaScoreMapas de calor de Neymar e Paquetá, respectivamente, nesta Copa América (Imagem: SofaScore)

Centralizados e buscando os espaços entrelinhas, Neymar e Paquetá se buscam a toda hora em campo, seja através dos passes ou nas comemorações. As dancinhas feitas pela dupla após os gols brasileiros nesta Copa América são a cereja do bolo para os atletas, comemorando juntos o júbilo do momento mais esperado do esporte enquanto deixam claro que o bom entendimento não se resume apenas ao que acontece em campo.

Neymar Lucas Paquetá seleção Brasil Copa América 2021Lucas Figueiredo/CBF(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

“Paquetá é um grande jogador e está crescendo a cada jogo. Ele teve uma grande temporada em seu clube e é um jogador muito importante para a seleção brasileira”, enalteceu Neymar após a vitória sobre os peruanos. Paquetá, por sua vez, comemorou o fato de ter marcado um gol pelo segundo jogo seguido e se disse feliz com a parceria com ‘Ney’. “Estou muito feliz por poder ajudar a seleção e Neymar”, declarou o meia.

Seja qual for o resultado da final contra a Argentina de Messi, o entrosamento entre Neymar e Paquetá na competitiva equipe treinada por Tite é uma das melhores notícias que esta Copa América trouxe para a seleção brasileira.

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