
José Mourinho surpreendeu quando levou o Porto ao título da Champions League na temporada 2003-04.
Após 17 anos, um time português voltava a estar na maior posição para um clube europeu depois de bater o Monaco na final. Mas embora contasse com jogadores habilidosos, como Deco e Carlos Alberto, o time de Mourinho era um franco atirador.
Quando chegou ao Chelsea, mudou o status do clube londrino na Europa: conquistou títulos importantes com um futebol eficiente, no qual a ambição por troféus era muito maior do que a obrigação de agradar o público com o futebol jogado.
Na Internazionale, fez o time de Milão reconquistar o máximo troféu europeu após 45 anos. Conseguiu isso honrando o DNA das conquistas interistas da década de 60: foco absoluto na fortaleza defensiva aliada à habilidade de jogadores inteligentes, rápidos e efetivos. Mas naquele ano de 2010, em que tudo terminou nas cores azul e preto, a Inter não era favorita na Champions League.
GettyInternazionale, o ponto alto de Mourinho (Foto: Getty Images)
José Mourinho é um treinador vitorioso, histórico e considerado dos melhores que o futebol já viu. Mas há tempos não honra estes títulos: o seu Manchester United é o ponto mais baixo de sua carreira.
FRACASSO PARA ENCANTAR
Getty ImagesEstilo do Real de Mourinho não agradou torcedores (Foto: Getty Images)
No Real Madrid, entre 2010 e 2013, os torcedores não queriam de Mourinho apenas uma vitória: exigiam um futebol mais ofensivo, daqueles que no mínimo flertam com o encantamento.
Foi o seu primeiro fracasso ao ser cobrado contra o próprio pragmatismo.
E ainda que no seu primeiro ano em Old Trafford, 2016-17, o Manchester United tenha conquistado a Copa da Liga e Europa League, a atual temporada apresentou um peso diferente.
Getty Images(Foto: Getty Images)
Afinal de contas, Mourinho tem o terceiro elenco mais caro da Europa [vale o equivalente a R$ 3 bilhões] em mãos. E em um clube como o United, não dá para insistir tanto no pragmatismo com essas condições. O futebol pede mais, a torcida pede mais... e Mourinho entrega cada vez menos.
Sorteio das quartas da Champions: quando, como é e mais informaçõesO time ocupa a vice-liderança da Premier League inglesa, mas está longe de encantar. A situação piora quando nem mesmo o sistema defensivo, que sempre foi o ponto forte das equipes do luso, consegue ser efetivo.
NEM A DEFESA SALVA
Desempenho espetacular de De Gea 'mascara' erros defensivos do time (Foto: Getty Images)
Considerando as cinco principais ligas domésticas da Europa, a defesa do United é a nona que menos sofreu gols. Foram 23 em 30 jogos. Mas a posição neste Top 10 é não é creditada ao jogo de equipe quando o time precisa se defender : é fruto apenas de uma pessoa, o goleiro David De Gea.
Dentre as grandes potências da Europa, nenhum outro time viu tantas finalizações chegarem em seu goleiro: foram 119, e De Gea fez incríveis 97 defesas. No jogo de ida das oitavas de final da Champions League contra o Sevilla, o empate sem gols só aconteceu graças aos milagres do arqueiro espanhol.

O roteiro não se repetiu no jogo de volta, nesta terça-feira (13). Em pleno Old Trafford, o maior campeão inglês, e que soma três títulos da Champions, foi pressionado pelo Sevilla e viu o conjunto espanhol ter superioridade nas chegadas ao ataque [21 finalizações contra 17; 6 no gol contra 3].
A derrota por 2 a 1, e consequente eliminação na Champions League, revoltou o torcedor. E muito disso está no comportamento de um time que, hoje, é dos mais entediantes de se assistir.
Mais uma vez ao ser confrontado com a obrigação de encantar torcedores com um futebol mais ousado, Mourinho fracassa com uma estratégia que vai em direção contrária. E desta vez, nem mesmo resultados construídos com o seu pragmatismo podem o salvar das críticas. Já passou da hora de repensar o seu trabalho.
