Antes de Garrincha chegar ao Botafogo para vestir a camisa 7 e se tornar um imortal do futebol, o Anjo das Pernas Tortas escutou muitos “nãos” nas peneiras que participou. Algumas décadas depois, a grande joia do Alvinegro é também um ponta que mostrou perseverança para conseguir um lugar ao sol. Aos 18 anos, Luís Henrique já atrai olhares da Europa com seu futebol de arrancadas, dribles e finalizações que fazem muitos verem até mesmo uma semelhança com o jogo do francês Kylian Mbappé.
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“É o que as pessoas falam”, disse, entre risos, em entrevista exclusiva para a Goal. “Falam muito do Mbappé, do Henry, já falaram que a arrancada parece a do Ronaldo Nazário”, completou o jovem cuja cláusula de rescisão de seu contrato, válido até 2022, é de 30 milhões de euros.
Mas até chegar ao estágio atual e despertar tantas expectativas, o caminho foi bem longo. Quase 4 mil quilômetros, mais precisamente, entre a saída do “Livro na mão, Bola no pé”, escolinha de futebol administrada por seu pai, na pacata Solânea, no interior da Paraíba, até o TAC, da fria e também pacata Três Passos, no Rio Grande do Sul. A mudança representou de vez a aposta no futuro como jogador de futebol e a necessidade de se adaptar à vida longe da família.
“Sair do interior da Paraíba para o Sul é uma mudança grande”, relembra Luís Henrique. Mas mudança mesmo aconteceu após uma viagem para a Europa, quando o paraibano fez gol e deu assistência em uma vitória por 2 a 1 do TAC sobre o time de base do Bayern de Munique. O atacante surpreendeu os alemães e foi convidado a passar duas semanas atuando com a camisa da equipe bávara – que desde então mantém um olho no brasileiro.
Fotos: arquivo pessoalLuís, na escolinha de Solânea, com a camisa do TAC e no período com o Bayern (Foto: arquivo pessoal)
“Ele tinha só 16 anos. Então deixaram a porta aberta e vão permanecer observando”, disse Sandro Becker, empresário de Luís em entrevista ao GloboEsporte.com.
De volta ao Brasil, o Botafogo apareceu na vida de Luís Henrique como um sonho transformado em realidade. Literalmente. O jovem, que anos antes havia sido recusado em peneiras feitas no Sport Recife e no ABC de Natal, tendo feito testes também no Fluminense, soube do interesse do Glorioso pouco depois de escutar uma profecia certeira de sua madrinha.
“Ela tinha sonhado com o time que eu jogaria. E era um time preto e branco. Depois de uns dias veio a notícia. Fiquei feliz demais”, conta Luís Henrique, que já desenvolveu uma ligação especial com o Glorioso: “É um time que tem história, muito grande aqui no Brasil. Vou ser sempre grato ao Botafogo e espero retribuir dentro de campo. Tenho um sentimento muito grande pelo clube. Eu só quero retribuir este carinho”.
Vítor Silva/Botafogo(Foto: Vítor Silva/Botafogo)
E Luís Henrique tem conseguido retribuir. No clube desde o sub-17, o jovem fez sua estreia entre os profissionais dias antes de completar 18 anos. Naquele Brasileirão 2019, foram apenas duas partidas, sendo uma como titular, e uma assistência. Dentre os jovens nascidos a partir de 2000, nenhum outro arriscou (dez) ou completou (cinco) tantos dribles em tão pouco tempo de jogo. Não demorou a surgirem notícias de interessados da Europa, inclusive com relatos de que Jorge Mendes, empresário de Cristiano Ronaldo, estava de olho no botafoguense – assim como a Juventus de Turim.
Goal Brasil
(Arte: Goal)
Nesta temporada 2020, Luís Henrique virou titular e é quem mais contribui diretamente para gols (dois gols e cinco assistências) na equipe comandada por Paulo Autuori. O treinador, inclusive, não esconde que imagina ver o seu jovem talento saindo rumo à Europa em pouco tempo se mantiver esse desempenho.
“Temos que ser pragmáticos, há uma possibilidade real que ele, na próxima janela, possa sair. Tem pouca idade, mas é muito forte, física e mentalmente, tem muita maturidade para a idade”, afirmou Autuori.
Vítor Silva/Botafogo(Foto: Vítor Silva/Botafogo)
Enquanto ganha cada vez mais protagonismo e vê seu nome especulado em gigantes europeus, Luís Henrique segue o mantra ensinado pelo seu pai: viver o dia-a-dia e se entregar ao máximo nos treinos e jogos.
Herdeiro da mítica 7 de Garrincha e comparado a Mbappé por quem o vê de perto, Luís Henrique busca brilho próprio para continuar vencendo distâncias.