Ex-auxiliar técnico do Flamengo, Mauricio Souza foi demitido na última segunda-feira (10), seis meses após ser promovido ao cargo na comissão permanente do clube. Em bate-papo com a GOAL, o técnico contou os bastidores de sua saída, que aconteceu a pedido de Paulo Sousa.
"Sábado eu dei treino, teve a folga no domingo e na segunda eu dei treino. Depois, tive uma conversa com o Bruno (Spindel) para alinhar como ficaria a minha situação, já que desde o ano passado eu virei auxiliar da casa. Ele me pediu alguns minutos, depois me chamou numa sala e falou que tinha tido conversas com Paulo Sousa a respeito do meu cargo e que ele estava irredutível, que ele não queria ninguém desse tipo na comissão dele (auxiliar do clube). O Bruno me passou que o Paulo não queria que eu seguisse nesse cargo, pediu desculpas, me agradeceu por tudo, mas não tinha outra forma a não ser me desligar".
Mauricio revelou que chegou a ter uma rápida conversa por chamada de vídeo com Paulo Sousa, antes do técnico desembarcar no Brasil.
"O Paulo solicitou uma chamada por zoom para entender como estava sendo montado o processo para o Carioca. A gente teve uma conversa, durou cinco minutos apenas. Ele fez algumas perguntas, falou de alguns jogadores e comentou especificamente do Lázaro, falou a posição que gostari que o Lázaro atuasse, mas foi muito curta. Eu expliquei, durou cinco muitos. Eu não dei informações sobre o elenco, isso aconteceu por outro departamento".
Abaixo, confira outros trechos da entrevista exclusiva com Mauricio Souza
"Quando me convidaram para ser auxiliar da casa, eu não imaginava que ia durar apenas seis meses. Achei que o Flamengo de alguma forma ia convencer o (novo) treinador da importância justamente por causa desses momentos (troca de comando técnico), para ter alguém para absorver e continuar tocando o trabalho. Eu entendo que o Flamengo não veja tanta necessidade, se não, não teria interrompido.
Goal: Quando o Jorge Jesus saiu, você assumiu a equipe antes da chegada do Dome. Você tinha alguma base do trabalho do Jorge Jesus?
Mauricio: "Na verdade não tinha absolutamente nada do Jorge, não ficou nada, a não ser alguns exercícios que ele aplicava e que nós também aplicávamos. A ideia do Jorge ele levou com ele porque não tinha ninguém lá para escutar e nem reproduzir. Quando cheguei lá foi pedido para fazer as mesmas atividades, lembro que teve uma coisa que me recusei a fazer que era o treino que a gente chama de 10-0. Eu falei, esse eu não vou fazer porque isso é muito particular. Esse treino você tem que jogar a sua ideia, o que quer de movimentação quando a bola está nesse setor, quando o lateral está aqui, ali e eu não conhecia a ideia do Jorge. Eu ia soltar a bola e falar: reproduz ai? O que eu ia corrigir? Um erro muito grande, na minha opinião é a gente achar que vamos encontrar no outro treinador a figura daquele ou esse treinador, não vai", continou
"O desejo naquele momento era que a gente continuasse com as mesmas ideias do Jesus, mas quem sabia as mesmas ideias? Não adianta eu falar, faz esse treino porque o Jesus fazia também. Eu falo, o grande treinador que o Jesus é, não se resume aos treinos que ele dá, e sim como ele corrige, como ele mostra o que ele quer, a forma como ele passa o que ele quer, como ele quer, isso só ele sabe como fazer, eu não consigo porque eu não estive com ele. Posso ter até ideias similares, parecidas, mas eu não sei quais são as dele. Os mesmos feedbacks, eu não tinha como dar aquilo porque eu não estive com ele".
Goal: Depois teve a chegada do Domenec Torrent, vocês chegaram e ter mais interação?
Maurício: "O Dome eu tinha certeza que a interação ia ser muito grande com ele, ele me pareceu um treinador de abraçar o clube, de trazer para fazer parte, abraçar os profissionais. Ele pegou um momento de muita turbulência, os resultados começaram a não ser aquilo que se esperava, aconteceu a pandemia, perder muitos jogadores, ele teve que usar muito a base. Nesse momento começou a perguntar, ele e o Jordi, auxiliar dele. Eles gostaram muito do que viram em relação a base do Flamengo".
Goal: Você trabalhou com muitos jogadores da base como Matheuzinho, Lázaro... como você vê a situação deles hoje?
Maurício: "O Lázaro ainda não conseguiu colocar para fora todo seu potencial. Ele entende que tem que aumentar a intensidade. Ele é dedicado, quer fazer esse ano um ano de virada. O processo do Lázaro talvez não tenha sido bem administrado. Quando ele volta da seleção sub-17, teve aquela empolgação, o que também é natural. Mas ele é sério, profissional, educado", continuou
"Se hoje eu assumo um time e eu posso escolher levar um jogador, eu gostaria de levar o João Gomes. É um jogador extraordinário. O Matheuzinho tenho certeza que esse ano vai dar muito mais trabalho ao Isla do que ano passado. É um jogador extremamente competente, aprimorou muito a parte defensiva. É inteligente na parte decisiva do campo, tem força, velocidade, muita clareza. Define com a bola alta, rasteira e para mim é gratificante ver esse amadurecimento".
