Jorge Jesus fez 65 anos na noite em que estreou na Libertadores com o Flamengo. E só teve motivos para lamentar: na derrota por 2 a 0 para o Emelec, sofrida no Equador e que complica bastante a classificação para as quartas de final, o português viu absolutamente todas as suas escolhas darem errado. Apesar das falhas defensivas vistas nos gols marcados por Wilmer Godoy, no primeiro tempo, e Romario Caicedo, no segundo, o técnico português volta para o Rio de Janeiro como alvo maior das críticas. E boa parte delas são justas.
Em seu quinto jogo, JJ surpreendeu pela quinta vez ao listar o seu onze inicial. Sem poder contar com os lesionados Everton Ribeiro e Arrascaeta, os dois principais criadores do time, colocou Gerson na esquerda da linha de meias no 4-1-3-2. Normal. Mas surpreendeu ao pôr Rafinha no lado direito do mesmo setor, o que significou a escalação de Rodinei no flanco destro defensivo. A intenção foi boa: como tem habilidade, o camisa 13 poderia oferecer mais organizando o time do que, entre muitas aspas, mais escondido na lateral. Acontece que de boas intenções, como diz o ditado popular, o inferno está cheio. Jesus talvez não esperasse por essa.
A boa ideia na teoria mostrou-se equivocada logo de início, na prática, com o time visivelmente sem conseguir entender o que precisava fazer. Os equatorianos de Guayaquil – cidade que, vale relembrar, não oferece a hostil altitude aos adversários – abriram o placar contando justamente com espaços no meio-campo, além de bola lançada para a direita da defesa rubro-negra. O treinador mudou suas peças no segundo tempo, mantendo sempre o desenho: Lincoln, atacante, entrou no lugar de Rodinei, levando Rafinha de volta para a lateral e fazendo Bruno Henrique recuar para a extrema esquerda [Gerson, então, passou rápidos minutos pela direita até que Lucas Silva entrou, justamente em seu lugar, para ocupar o mesmo setor].
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A ausência de Cuéllar entre os titulares, talvez o erro maior nesta quarta-feira (24), foi reparada na metade do segundo tempo, quando o colombiano entrou no lugar de Willian Arão, para ocupar o mesmo lugar no desenho tático. Mas naquele momento o time já era um arremedo de si próprio. Gabigol, no ataque, foi quem mais tentou, só que desta vez voltou a não acertar a mira [de suas quatro finalizações, apenas uma tomou a direção certa]. Como se os erros não fossem o bastante, o Rubro-Negro nem conseguiu aproveitar a superioridade numérica, fruto da expulsão do zagueiro Leandro Veja após disputa com Rafinha, porque Diego sofreu uma falta dura e saiu de campo gravemente lesionado. Pouco depois, aos 80’, o Emelec aumentou a vantagem.
A primeira derrota do Flamengo sob o comando de Jorge Jesus veio, justamente, no jogo que mais valia. O pior desempenho defensivo foi marcado pela grande efetividade do Emelec, que converteu em bola na rede seus dois únicos chutes a gol – no total de sete, curiosamente o menor número de finalizações sofridas desde a chegada do português, igualando exatamente o visto na vitória por 6 a 1 sobre o Goiás. O início de JJ na Gávea tem bons momentos e é promissor, especialmente sob o prisma ofensivo e de ousadia, mas o seu time sofreu gols em todos os jogos. Em mata-mata, costuma a ser fatal e também pesou na queda para o Athletico, na Copa do Brasil.
“Quando vires uma equipa que não defende bem, aí podes culpar o treinador”, disse Jesus ainda quando fazia, no Benfica, o melhor de seus trabalhos. O seu Flamengo está aquém neste sentido, deixando evidente aonde o time precisa melhorar. Hoje, por suas escolhas e pelo resultado, JJ leva boa parte da culpa. Mas o desempenho defensivo já era sintomático.
Na próxima semana, o Rubro-Negro precisará fazer um jogo perfeito para bater os equatorianos e avançar às quartas de final – coisa que não acontece há nove anos. Ter apenas um ataque prolífico não será o bastante: não sofrer gols, algo que seria inédito nesta nova era do Fla, será fundamental. Jorge Jesus jamais conseguiu reverter, tanto em Champions quanto em Europa League, uma desvantagem de dois gols no mata-mata. O Flamengo, na Libertadores, também não. O Maracanã lotado da próxima semana terá que testemunhar a história para comemorar no fim.
