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Florian Wirtz NxGnGetty/Goal

Florian Wirtz: a nova estrela da Bundesliga, que Liverpool e Bayern perderam

O anúncio de que a Bundesliga seria a primeira das maiores ligas nacionais europeias a voltar após a paralisação imposta pelo novo coronavírus teve uma série de significados: um deles, de que poderíamos ver um pouco mais daquilo que é possível vislumbrar para o futuro do futebol.

Claro, as mudanças de protocolos e adaptações para que o esporte profissional possa prosseguir em meio à pandemia é um dos aspectos. Mas temos também, agora, a chance de conhecer mais alguns talentos que podem liderar o futebol mundial na próxima década.

De Erling Haaland a Jadon Sancho, de Alphonso Davies a Kai Havertz e além: a elite do futebol alemão talvez seja o espaço mais prodigioso em projetar as estrelas de amanhã. Ainda assim, foi uma surpresa quando Florian Wirtz ganhou a chance de estrear pelo Leverkusen, que tinha muita coisa em jogo já nessa primeira rodada na retomada da liga.

Os rubro-negros tentam voltar à zona de classificação para a próxima Champions League nessa esperada reta final, mas apostou alto: colocou seu mais jovem jogador na história em campo, já entre os titulares, e não deve ter se arrependido após bater o Werder Bremen por 4 a 1, nessa última segunda-feira. Recordista, Wirtz foi, ainda, o terceiro atleta mais jovem a disputar um jogo da Bundesliga.

Aos 17 anos e 15 dias de idade, o meia-atacante superou o recorde até então detido por Havertz no clube, e só perde para Nuri Sahin (ex-Dortmund) e Yann Aurel Bisseck (Colônia) entre os estreantes mais precoces do torneio. Ele é, ao lado de Harvey Elliott (Liverpool) e Rayan Cherki (Lyon), um dos três jogadores nascidos em 2003 a jogar em uma das cinco grandes ligas do futebol europeu.

No seu primeiro teste, Wirtz mostrou boa compostura, apesar da falta de experiência. E, se Havertz continuar a ser mais utilizado como um falso nove, é provável que ganhe novas oportunidades nas rodadas derradeiras dessa temporada 2019/20

“Ele foi importante para nós”, disse o técnico do Leverkusen, Peter Bosz, após o apito final. “Ele jogou bem desde o início, soube manter a bola e foi bem indo ao ataque.”

Maximilian Eggestein Florian Wirtz Bayer Leverkusen Bundesliga 2020Getty Images

“A estreia é sempre um momento especial, ainda mais quando se tem 17 anos, mas ele não demonstrou nervosismo. No geral, foi uma boa atuação dele.”

O fato de ser Peter Bosz o responsável por dar uma chance a Wirtz não deveria ser surpresa para ninguém: afinal, estamos falando de um profissional acostumado a projetar talentos no Ajax e no Dortmund, e que teve um papel central em garantir que a joia desembarcasse na BayArena.

No começo deste ano, o treinador holandês teve uma reunião com Fernando Carro, CEO do Leverkusen, além dos diretores Rudi Völler e Simon Rolfes. A pauta? Os planos para a janela de transferências que se abria em janeiro. A decisão? Era a hora de fazer uma investida por Florian Wirtz, considerado há algum tempo como o melhor talento jovem do futebol alemão.

Só que havia um problema: o Leverkusen tinha um acordo de cavalheiros com os rivais Colônia e Borussia Mönchengladbach, no qual cada um se comprometia em ‘seduzir’ e fisgar os jovens talentos do outro, como forma de fortalecer o futebol na região. Desde 2001, essa ‘regra não dita’ tem sido seguida à risca, e Wirtz podia ser o pivô do acirramento dos ânimos por ali.

O garoto estava na escolinha do Colônia desde os nove anos de idade, depois de começar no Grun-Weiss Brauweiller, e foi atraindo olhares curiosos ao longo da última década por seu talento – e a possibilidade de se tornar um craque do futuro. Seu clube se sagrou campeão nacional sub-17 em 2019, diante do Borussia Dortmund, mas ele acabou tendo seu aproveitamento no grupo principal atrasado em função de uma lesão nos ligamentos do joelho no período entre temporadas.

Mas Wirtz precisou de pouco tempo para se recuperar, marcando oito gols em 10 jogos pelo time sub-17, com direito a um hat-trick em seu último jogo pelo sub-17 contra o Wuppertal. Inesquecível, de fato, especialmente com um gol antológico do meio de campo, com apenas cinco segundos de partida, abrindo o placar para os 10 a 0.

Foi o bastante para atrair os olhares de todo o público alemão, mas entre os clubes da Europa a história já era bem diferente. Wirtz já estava sob a lupa daqueles dispostos a lhe dar uma chance, com uma estrutura melhor e perspectivas de carreira ainda mais ambiciosas. E seus responsáveis sabiam disso.

Quando um jogador chega ao sub-16, na Alemanha, ele recebe uma oferta para um contrato juvenil, válido por três anos e estendível por mais um, geralmente por valores mais próximos ao praticado no profissional. Os pais de Wirtz, porém, recusaram a proposta, negociando um vínculo válido por apenas dois anos e que não teria tal cláusula de extensão. Foi o bastante para os olhos da concorrência brilharem.

Isso aconteceu no verão europeu de 2018, quando Juliane, irmã de Florian e jogadora das seleções de base da Alemanha, trocou o Colônia pelo Leverkusen. As teorias conspiratórias brotaram de todo lado, mas, seja como for, o fato é que Wirtz chegou em janeiro deste ano com apenas seis meses restantes de contrato, o que o deixaria livre para assinar por qualquer equipe em questão de meses.

“O garoto tem um talento imenso. Ele poderia ter ido par ao Liverpool, para o Bayern de Munique, para o Dortmund. Todo mundo queria ele”, contou Patrick Helmes, técnico da base do Leverkusen, ao Sport1, tão logo o prodígio chegara. “Ele tem coisas que simplesmente não se ensinam.”

Rolfes, um dos homens fortes no clube, contou à Goal e SPOX sobre o interesse já duradouro que havia sobre Wirtz. “Eu o conhecia desde que ele tinha 14 anos. Surgiu a oportunidade de contratá-lo, já que seu vínculo estava terminando, então achamos por bem tentar.”

“Sabia que havia muitos clubes interessados, então imaginamos: ‘antes que ele escolha para onde ir, vamos tentar que venha para cá e possa ficar perto de casa’.”

Florian Wirtz NxGn GFXGetty/Goal

O Leverkusen conseguiu selar com Wirtz até 2022, um contrato longo que enfureceu o Colônia. O Leverkusen se defende, dizendo que o garoto tinha um contrato em circunstâncias diferentes aos demais da sua idade, já que ele logo se tornaria profissional ao invés de seguir nas categorias de base. O Colônia, que recebeu uma quantia irrisória por um jogador que tinha como “o melhor a passar pela nossa base nos últimos 30 anos”, ficou estupefato.

Em sua defesa, Wirtz não deixou que as polêmicas em torno de sua transferência afetassem seu futebol. Em suas quatro primeiras partidas pelo sub-19 do Leverkusen, marcou dois gols e distribuiu três assistências antes que o Covid-19 fizesse congelar todo o calendário do futebol mundial. Mesmo com a pequena amostra, Peter Bosz ficou convencido de que o menino merecia confiança, e o promoveu ao time principal dois meses depois.

“Tentamos mostrar a Florian nas nossas conversas que, do ponto de vista esportivo, estar aqui (entre os titulares) seria benéfico para ele”, Völler afirmou em texto publicado na revista Kicker, em janeiro, como parte de sua coluna de opinião. “Já demos chances a jovens jogadores como Kai Havertz, Julian Brandt e Benjamin Henrichs no passado, até mesmo em jogos na Champions League.”

Hoje, o Leverkusen está a apenas um ponto da zona de classificação à Champions League e terá um teste de fogo diante do Gladbach, terceiro colocado no momento. Não será surpresa que Wirtz ganhe mais uma oportunidade para impressionar uma plateia global – e fazer alguns dos grandes clubes lamentarem a chance de não terem à disposição um dos talentos mais brilhantes do futebol alemão.

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