Diante do Grêmio, às 21h30 desta quarta-feira (23), o Flamengo encara um jogo de fundamental importância para tentar cumprir um compromisso feito em 2012, quando parte do grupo que administra o clube decidiu concorrer às eleições. A promessa era fazer o Rubro-Negro novamente campeão do mundo.
A ideia parecia uma loucura, uma vez que o Flamengo era um dos clubes mais endividados do Brasil. Sete anos depois, o Rubro-Negro se sobressai diante dos adversários não apenas no campo, com o bom desempenho do time de Jorge Jesus, mas também fora dele, com a facilidade de gerar receita e potencial para seguir enchendo os cofres.
CRISE FINANCEIRA E FALTA DE CREDIBILIDADE

(Foto: Flamengo / Divulgação)
Em 2012, no último ano de gestão da presidente Patrícia Amorim, o Flamengo tinha um déficit financeiro anual na casa dos R$ 20 milhões e uma dívida de quase R$ 800 milhões. Além disso, sofria com a falta de credibilidade na praça. Os péssimos resultados dentro e fora de campo, como na condução do caso Ronaldinho Gaúcho, traziam à tona debates sobre o futuro da instituição.
EXECUTIVOS ENTRAM EM AÇÃO
Diante do campo minado em que se transformou a Gávea, em meados de 2012, executivos de sucesso decidiram concorrer às eleições que acontenceriam em dezembro daquele ano. Encabeçados por nomes importantes como Luiz Eduardo Baptista, na ocasião presidente da Sky, Rodolfo Landim, do setor petrolífero, Wallim Vasconcelos, ex-executivo do BNDES, entre outros, eles tinham como objetivo colocar suas experiências e currículos à disposição do Flamengo.
O escolhido para ser presidente foi Wallim Vasconcellos, mas sua candidatura foi impugnada. Assim, Eduardo Bandeira de Mello recebeu o bastão e foi o escolhido para concorrer ao pleito.
Diante das frustrações com a gestão de Amorim, esse grupo, a Chapa Azul, ganhou as eleições.
O CASO VAGNER LOVE

(Foto: Getty Images)
Ainda em 2012, sob o comando da gestão Patrícia Amorim, o Flamengo contratou Vagner Love, atacante que havia passado pelo clube em 2010 e encantado os torcedores. Principal expoente da equipe, Love foi um dos poucos que se salvaram durante a temporada, mas assim que a Chapa Azul assumiu, em janeiro de 2013, o atacante teve que fazer as malas e retornar ao futebol russo.
O Flamengo havia parcelado a compra em quatro pagamentos. Ao todo, o jogador custaria cerca de R$ 27 milhões. Ao longo de 2012, apenas R$ 10 milhões foram pagos ao CSKA. Com o clube atolado em dívidas e penhoras e praticamente toda a receita de 2013 comprometida, a nova diretoria decidiu abrir mão do atacante.
Os russos, que já tentavam a volta do jogador, ofereceram esquecer a dívida em troca do retorno. Vale ressaltar que o jogador ainda tinha mais três anos de contrato, um salário em torno de R$ 500 mil e cerca de R$ 1 milhão em luvas a receber do Flamengo.
Mesmo contra a vontade do atacante e da torcida, o Flamengo não segurou Vagner Love.
O PRIMEIRO TRIÊNIO

(Foto: Gilvan de Souza / Flamengo / Divulgação)
Com a política de reduzir custos e contratar jogadores que cabiam no orçamento, o Flamengo teve um bom momento no primeiro ano. Conseguiu faturar a Copa do Brasil e consequentemente o retorno à Copa Libertadores da América. No entanto, quase caiu no Brasileirão.
Fora de campo, o objetivo era renegociar as dívidas para recuperar a credibilidade do clube. Já no primeiro ano de gestão, o clube acumulou R$ 273 milhões em dívidas e um déficit anual de R$ 20 milhões. Dois anos depois, a receita bruta já estava na casa dos R$ 355 milhões e o lucro, em R$ 130 milhões.
Credibilidade, planejamento e criatividade formaram o tripé rubro-negro. No meio de tudo isso, o clube lançou o projeto do sócio-torcedor, divulgado como uma maneira de os milhões de rubro-negros ajudarem o clube.
Com isso, empresas se reaproximaram do Flamengo, os patrocínios voltaram e a instituição começou a respirar.
A CHEGADA DE PAOLO GUERRERO

(Foto: Gilvan de Souza / Flamengo / Divulgação)
Inicialmente, os investimentos no futebol eram tímidos e não indicavam que o clube brigaria por taças. A Copa do Brasil de 2013 havia sido um bônus. No entanto, o torcedor sempre exigia mais. Então, em meados de 2015, a diretoria deu um aperitivo do que estava por vir: o Flamento contrata Paolo Guerrero, considerado um dos melhores atacantes da América.
O camisa 9 era ídolo no Corinthians, na época exemplo de gestão e que brigava por títulos no futebol sul-americano. Guerrero era o artilheiro da Copa América e a grande referência da seleção peruana. A operação girou em torno de R$ 40 milhões, patamar impensado dois anos antes, com o clube quebrado.
O peruano assinou um contrato de três anos e passou a receber cerca de R$ 650 mil de salário mais R$ 16 milhões em luvas que foram diluídas mensalmente. Os valores foram bem acima do que o Corinthians estava diposto a pagar para renovar com o jogador. A chegada de Guerrero foi motivo de orgulho da gestão que prometia mais "estrelas" de acordo com a evolução financeira da equipe.
AUMENTO NO INVESTIMENTO, CENTRO DE TREINAMENTO E DIEGO RIBAS

(Foto: Gilvan de Souza / Flamengo / Divulgação)
Apesar da grande contratação e do impacto, Paolo Guerrero sozinho não era capaz de trazer competitividade para o time do Flamengo, que terminou o ano na 12ª posição do Campeonato Brasileiro. Então, em 2016, o Flamengo dá o primeiro grande salto.
Aumentou-se o gasto no futebol graças à redução da dívida, que foi permitindo ao clube fazer investimentos mais fortes. Além disso, um objetivo foi traçado: entregar o Centro de Treinamento.
Muricy Ramalho foi escolhido para iniciar essa nova era, mas acabou deixando o clube de forma precoce por conta de um problema de saúde. Porém, a promessa da diretoria feita a ele foi cumprida: a entrega do CT pronto no fim do ano.
Antes disso, outra contratação de impacto: Diego Ribas. O meia voltou ao Brasil depois de 12 anos na Europa para defender o Flamengo. Numa transação semelhante à de Paolo Guerrero, pagando salários e luvas, o atleta se juntou ao elenco em meados de 2016.
O atleta correspondeu: liderou o Flamengo na briga pelo título do Campeonato Brasileiro com o Palmeiras, que se sagrou campeão. Diego ajudou a colocar o Rubro-Negro de volta à Libertadores e confirmou o início de uma nova era no clube carioca.
MAIS INVESTIMENTOS
Com a torcida empolgada com as contratações, o desempenho do time no Campeonato Brasileiro e o dinheiro em caixa, o número de sócios torcedores aumentou, mas a exigência também. Foi então que o Flamengo começou a investir ainda mais forte na montagem do elenco. Em 2017, desembolsou 6 milhões de euros para contratar Everton Ribeiro, uma das contratações mais caras da história do clube até então, além de Diego Alves e outros nomes. Ao todo, a diretoria fez um investimento de mais de R$ 58 milhões no time.
BASE FORTE
Flamengo/Divulgação
(Foto: Gilvan de Souza / Flamengo / Divulgação)
Um ponto positivo da gestão anterior de Patrícia Amorim foi o início de uma reestruturação na categoria de base do Flamengo liderada por Carlos Noval. Devido ao bom trabalho, o executivo seguiu na gestão que entrou em 2013 e teve ainda mais ferramentas para evoluir. Nomes começaram a aparecer e a serem importantes para o clube, como Samir e Jorge.
Depois deles, outros surgiram, como Lucas Paquetá e Vinicius Júnior. Este último, rendeu uma venda histórica ainda em 2017: o Real Madrid desembolsou cerca de 43 milhões de euros pelo jovem atacante e só o levaria um ano mais tarde.
Em meio a todo esse processo, uma tragédia na base do Flamengo chocou o futebol mundial. Dez meninos das categorias de base do clube morreram em um incêndio que atingiu a estrutura provisória que servia de alojamento no Centro de Treinamento e era usada desde 2011, quando o clube começou a construção do CT.
Uma semana depois, os mesmos meninos herdariam a estrutura construída em 2016, para o time profissional. O Flamengo teve o CT interditado e o local só foi reaberto após o clube cumprir algumas exigências. O clube fechou acordos de indenização com as famílias de quatro vítimas, enquanto as demais ainda negociam. Uma delas pede o indiciamento do presidente do Fla, Rodolfo Landim, e do presidente da CBF, Rogério Caboclo.
UMA POTÊNCIA RESSURGE
Alexandre Vidal & Marcelo Cortes / Flamengo
(Foto: Alexandre Vidal / Flamengo / Divulgação)
Com todo o trabalho feito de reestruturação financeira, o Flamengo estava pronto para mais investimentos, que aconteceram em 2018. No entanto, resultados no campo ainda faltavam. Apesar de contratações importantes e vendas impactantes, o torcedor não conseguiu gritar "é campeão" de um campeonato grande.
No meio de tudo isso, Bandeira de Mello terminou seus seis anos de gestão ao ver o grupo opositor (no qual grande parte dos idealizadores do projeto de reestruturação financeira do clube fazem parte) ganharem as eleições em dezembro de 2018. No discurso, a hora de colher os frutos de um trabalho bem feito.
Com dinheiro em caixa, o Flamengo decidiu investir forte na montagem do elenco e contratou oito titulares, entre eles a maior contratação da história: o uruguaio Arrascaeta custou aos cofres do clube cerca de R$ 63 milhões.
O fato de seduzir nomes como Rafinha e Filipe Luís, que tinham mercado na Europa, reforça o bom cenário em campo. Atualmente, o Flamengo é uma potência financeira. Para o próximo ano, o clube pretende contratar Gabigol em definitivo, numa transação que pode girar em torno de R$ 100 milhões, algo impensável para o futebol brasileiro há poucos anos.
EXPANSÃO
Getty Images
(Foto: Getty Images)
Agora, o foco é a confirmação de títulos e a internacionalização da marca. A chegada do treinador português Jorge Jesus, por exemplo, deixou o clube na boca do povo em Portugal, que já até transmite os jogos do Rubro-Negro. No campo, os dez pontos à frente do Palmeiras no Brasileirão deixam o clube bem perto de voltar a ser campeão de algo importante.
Além disso, nesta quarta-feira, a semifinal diante do Grêmio pode colocar o Flamengo de volta a uma final de Libertadores 38 anos depois que a melhor geração da história do clube atingiu o feito.
