Roberto Firmino ou Gabriel Jesus? A dúvida no ataque perseguiu Tite até a eliminação nas quartas de final do Mundial de 2018, e o remorso por não ter feito a alteração ainda na Rússia ajudou a colocar, de vez, Firmino como titular. A sombra de Jesus continuava pelos gols anotados só nos amistosos, embora comparando a fase de ambos em seus respectivos clubes Firmino seguisse melhor no Liverpool do que Gabriel no Manchester City. Em seu maior desafio desde os 2 a 1 para a Bélgica, entretanto, a resposta para Tite à pergunta que abre o texto foi: os dois!
Embora o craque da vitória por 2 a 0 sobre a Argentina, terça-feira (02), no Mineirão, pela semifinal da Copa América, tenha sido Daniel Alves, o desempenho dos atacantes foi decisivo. Contra uma Albiceleste que apresentou o seu melhor futebol nesta edição do torneio, dando bastante trabalho à forte defesa do Brasil, os jogadores que antes brigavam por uma única vaga como centroavantes fizeram o que dos centroavantes se espera: resolveram na única chance que tiveram. Primeiro foi Jesus, aproveitando passe de Firmino. E no segundo tempo os papéis se trocaram.
O curioso desta história foi o entendimento de ambos: como acontece no Liverpool - que tem um desenho diferente ao do Brasil – e vem acontecendo também nesta Copa América, Firmino ficou mais fora da área do que esperado. Quase meia, quase centroavante. Diante de equipes mais retrancadas não vinha dando certo, mas funcionou na expectativa para a criação e exploração máxima dos espaços diante dos argentinos. E isso aconteceu, dentre outras coisas, pelo bom entendimento com Gabriel Jesus: o camisa 9, que vinha atuando como ponta-direita, saía muito do flanco para marcar presença na área.
Os respectivos mapas de calor de Firmino e Gabriel Jesus: movimentações funcionaram perfeitamente
Foi como um verdadeiro centroavante que ele abriu o placar, aproveitando passe de um Firmino que estava justamente na “sua” ponta-direita. E também foi no estilo “camisa 9 trombador” que Jesus disparou para o campo de ataque argentino, já no segundo tempo, lutou e brigou antes de ter feito a escolha perfeita. Disputa após disputa, o instinto comum levaria Jesus a finalizar ao gol de Armani, mesmo que não tivesse tanto ângulo. Mas em uma fração de segundo foi como se o jogador do City fizesse o mundo ficar em câmera lenta: respirou e teve a calma de, em meio à briga por levar a bola adiante, ver Firmino sozinho na área. Fez o passe e Roberto decretou o 2 a 0.
“A dupla está dando certo. Não só a dupla, como o conjunto. Graças a Deus está dando certo, agora é pensar na final”, disse Roberto Firmino durante conversa na zona mista do Mineirão, questionado sobre o entendimento com o antigo concorrente.
Getty ImagesDe Firmino para Jesus... (Foto: Getty Images)
Getty ImagesDe Jesus para Firmino (Foto: Getty Images)
Ambos estufaram as redes nas suas únicas finalizações: precisão tão milimétrica quanto o entrosamento para mudarem constantemente de posição na última terça-feira. Firmino saindo da área e Jesus fazendo de tudo um pouco desde a função defensiva pela ponta quanto marcando presença como referência.
“O gol é uma coisa que eu venho buscando desde o primeiro segundo do primeiro jogo da Copa, mas às vezes não acontece. Aconteceu hoje”, observou com calma e exatidão Gabriel Jesus, depois de enfim ter balançado as redes pelo Brasil em torneios deste tipo. Em Copas Américas, a seleção brasileira já foi campeã com grandes duplas de ataque. Nestes 2 a 0 sobre a Argentina, Firmino e o Jesus da camisa 9 começaram a querer flertar com esta possibilidade.
