
Tirar alguma coisa da inércia não é tarefa fácil. Por isso, podemos dizer que o gol de Fernando Torres contra a Alemanha, o único na decisão da Euro 2008, foi o mais importante de sua carreira.
Afinal de contas, a seleção que ‘jogava como nunca, mas perdia como sempre’, enfim voltava a ser campeã após 44 anos. E uma vez em movimento, conquistaria a Eurocopa seguinte - também com gol de Torres na final, um 4 a 0 sobre a Itália – e o Mundial de 2010.
O atacante também colecionou títulos importantes por clubes: uma Champions e uma Europa League pelo Chelsea, onde não fez a quantidade de gols que se esperava ainda que tenha sido decisivo nestes troféus. Com os azuis de Londres também viu do banco de reservas a conquista de uma FA Cup vencida sobre o Liverpool. Justamente o clube que, em 2007, havia pagado 32 milhões de euros por aquele jovem de 23 anos que jogava como veterano em um Atlético de Madrid sofrível.
O gol que tirou a Espanha da inércia, em 2008 (Foto: Getty Images)
Por mais importante que tenha sido para a seleção espanhola, Fernando Torres foi ainda mais no Atleti. Graças à relação de amor rescíproca tanto com o clube quanto com a torcida.
Na segunda divisão, depois de ser rebaixado pela primeira vez em sua história, o Atlético de Madrid estava em uma crise tão grande que precisava de uma luz no fim do túnel – uma esperança, para encorajar os torcedores a acreditarem no acesso. Foi quando aquele atacante de 17 anos apareceu e assumiu a responsabilidade: um fenômeno, mas apenas um menino. O apelido a ser dado era óbvio: 'El Niño'.
(Foto: Getty Images)
O Atleti subiu em 2002, e Fernando permaneceu no agora antigo Vicente Calderón até o dinheiro da Premier League o levar para Anfield... e ajudar o clube do seu coração, pelo qual torcia ao lado de seu avô Eulalio, a receber uma grana importante em tempos de crise. Quando voltou para casa, em 2015, não era nem de longe o atacante goleador de outrora. Mas seguia importante. Acima de tudo, era amado mesmo que não tocasse na bola.
O Atlético de Madrid também estava diferente: voltara a ser campeão na Copa do Rei, liga espanhola e voltou até mesmo a flertar com o sonho de Champions. Em seu último ano, agora em casa nova, o Wanda Metropolitano, e com escudo redesenhado ao peito, Fernando Torres ainda não havia conquistado um título de expressão pelo seu time. Isso mudou na quarta-feira (16), com a vitória por 3 a 0 sobre o Olympique de Marseille, na decisão da Europa League.
Getty Images
Getty ImagesO momento tão esperado (Fotos: Getty Images)
Torres já havia feito gol na decisão do certame, nos tempos de Chelsea. Mas o único toque que deu na bola, após ter entrado nos acréscimos para substituir Antoine Griezmann, o herói do título de 2017-18, valeu mais do que a maioria dos seus 127 tentos pelos Colchoneros. Porque enfim o agora experiente atacante, de 34 anos, pôde levantar um título pelo seu Atleti, o clube que sempre amou e onde sempre será amado.
“É o meu maior título. Eu pertenci à melhor geração de jogadores espanhóis, mas este era o meu sonho de criança. Eu vi que os sonhos podem ser realizados”, disse Torres, que neste domingo (20) se despede mais uma vez do Atlético de Madrid e deverá ter os últimos minutos de sua carreira nos Estados Unidos.
(Foto: Getty Images)
Jogou pelo clube de seu coração, ajudou a tirá-lo do buraco e depois voltou para vê-lo em uma realidade diferente. Otimista com o futuro. Melhor ainda: comemorou título dentro de campo, vestindo as suas cores.
É a história que qualquer torcedor gostaria de ter com o seu time. O roteiro de Fernando Torres com o Atleti é daqueles tantos que define o amor no futebol: aquele sentimento que bate forte desde quando você é apenas uma criança, ou no caso de Fernando Torres... um ‘Niño’.




