Um Fluminense confiante, com filosofia de jogo e conviccção. Esse é o time que Fernando Diniz conseguiu montar com pouco tempo de trabalho na equipe carioca. Mesmo com um elenco com poucos nomes badalados, o Flu ganhou destaque no cenário nacional nesta semana após eliminar o Flamengo pela semifinal da Taça Guanabara.
Em entrevista ao blog de Mauro Cezar Pereira, do Uol, Fernando Diniz explicou como enxerga o futebol brasileiro na atualidade.
"Aqui no Brasil está defasado o que temos praticado já há muito tempo. Cada um tem uma maneira de ver, gosto de apreciar o jogo e que os jogadores joguem bem, se divirtam. O futebol pelo qual me apaixonei quando criança é o que tento fazer, e está na essência do jogo, que é o jogador. É isso que me motiva a acordar para dar treinos", disse.
Retomada de bola rápida, posse e paciência são algumas das características da equipe de Diniz, que explicou como fez e faz para implantar a ideia em seus jogadores.
"Tenho esse compromisso comigo e com os jogadores e temos que trabalhar muito. Não fico no padrão do que estão fazendo, nem aqui nem na Europa. Estive lá agora dando uma olhada. Vou citar o que considero de melhor, o Manchester City, só que no Brasil tenho que trabalhar mais, com um volume maior de treinamento, pois há coisas parecidas e diferentes. Faço isso porque gosto, acho melhor e é o mais simples para mim", afirmou.
Fluminense FC
(Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC)
"Trabalho mais preocupado com a minha ideia do que com a dos outros. Grandes jogadores me fizeram gostar de futebol e acho que todos os profissionais já foram 'o melhor' em algum momento, na rua, na escola, na base… Em algum momento da vida deles. E se você resgata, isso terá mais confiança, mais coragem, recuperando a auto-estima do cara, gerando um efeito promissor. É preciso acreditar no trabalho e nos caras. Mas tem pressão, entrega de resultado, imprensa…", continuou.
Apesar do bom resultado no clássico, Diniz entende que não há motivos para euforia. "Vou aprendendo as coisas e essa é a intenção, tenho apenas essa preocupação, não com o que vão falar de mim. Me preocupo com o que acontece internamente. Sabemos que a Taça Guanabara tem um valor diminuído, ela leva apenas a uma semifinal estadual, mas o valor simbólico da vitória no Fla-Flu é grande. E a nossa realidade não pode mudar muito. Uma das coisas que temos de estar sempre atentos e conter a euforia, fizemos uma partida boa, mas foi só isso, temos uma porrada de coisas para melhorar", afirmou.
O treinador acredita que pode ajudar Ganso, recém-contratado pelo clube, a recuperar o futebol vitoso de outros anos. "Falei para ele desde o começo. Essa história começou em 2016, nos 4 a 1 do Audax sobre o São Paulo. Eu lhe disse que queria ter o prazer de ser o treinador dele um dia. No ano passado, num jogo do Athletico, conheci o empresário do Ganso, e ele me disse que o jogador lembrava do que falei, que ficou contente. E agora soube que ele gostaria de jogar conosco, no Fluminense. Foi o primeiro passo, acredito que as qualidades dele potencializam muito dentro do que desenvolvemos no futebol. Tivemos um bom entendimento. Estou confiante de que vai dar certo", disse.
Fluminense FC
(Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC)
Diniz para explicar como enxerga o futebol de Ganso, o comparou a Zico e Xavi. "Ele não tem obrigatoriedade de entrar na área, e tem mais de Xavi do que de Zico. E tem mais genialidade do que tinha o Xavi, pode fazer coisas que Xavi não fazia. Falo do potencial. Se conseguirmos ajuda-lo a botar pra fora esse potencial… Ele tem genialidade, é um jogador incomum. O futebol ficou mais físico e às vezes não comporta as qualidades que tem. Uma equação que não é das mais fáceis, mas se jogar bem será bom para todos nós, principalmente para o futebol. Ele faz coisas que nos estimulam a gostar de futebol, e o Brasil perdeu jogadores com essa característica. É um talento diferente", analisou.
O comandante do Tricolor, por fim, revelou o que planeja para a temporada no clube. "Que adquira com o passar dos treinamentos a ideia da coletividade. Quero trazer jogadores que melhorem a qualidade do time, mas nunca planejando em médio ou longos prazos, não faço isso, gosto de pensar que posso ter um time cada vez mais competitivo, harmonioso e com jogadores que gostam de viver juntos e trabalhar coletivamente. O Fluminense passa por momento de dificuldade financeira e política, precisa de ajuda e estou feliz por estar num clube com o qual tenho identificação. Eu e o Fluminense nos encontramos num bom momento para os dois, estou fazendo o máximo para ajudar".
