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Raheem Sterling Manchester City 2019-20Getty Images

É preciso falar sobre Sterling e o seu papel no futebol de hoje

Raheem Sterling não é o maior artilheiro europeu do momento, tampouco o líder de assistências considerando as cinco principais ligas europeias. Contudo, nenhum jogador está influenciando tanto na parte ofensiva de um time quanto o ponta do Manchester City.

Neste sábado (26), Sterling fez o gol que abriu o placar na vitória por 3 a 0 sobre o Aston Villa em duelo válido pela décima rodada da Premier League. Depois de um primeiro tempo sem gols, marcado pela dificuldade dos Citizens em traduzir efetivamente a sua superioridade, o inglês de 24 anos aproveitou a sobra de bola após chutão do goleiro Ederson, disparou em velocidade, avançando diante dos adversários, e concluiu de forma objetiva, por entre as pernas do goleiro Heaton.

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Quando analisamos a soma entre gols, assistências e oportunidades criadas, não há ninguém na frente do camisa 7 do Manchester City considerando times das cinco principais ligas europeias. Além dos 13 gols, número menor somente ao de Robert Lewandowski, do Bayern, Sterling tem quatro assistências em 32 oportunidades criadas. No total, levou perigo efetivo em 45 jogadas nestes primeiros meses da temporada 2019-20.

Sterling abriu o placar e o Manchester City aproveitou os espaços que o Aston Villa foi obrigado a abrir quando passou a se arriscar mais. Gundogan fez o terceiro gol, que levou os atuais campeões ingleses a 22 pontos, diminuindo a diferença em relação ao Liverpool (que ainda joga na rodada) para três pontos. O segundo foi creditado a David Silva, mas ainda que não tenha entrado nas estatísticas oficiais também foi uma jogada com participação vital de Sterling – que desviou da trajetória da bola, de certa forma dificultando o tempo de reação do goleiro.

O que também não entra em estatística é o caráter que Sterling vai demonstrando fora das quatro linhas. Vale destacar que a postura do inglês rivaliza com seus feitos esportivos. Em meio ao aumento nos episódios de racismo dentro do futebol, o atacante virou uma voz ativa na luta contra o preconceito .

“Eu não queria ser um líder. Eu não acho que sou um líder. É apenas uma coisa que eu vejo acontecendo há um tempo e acho que seja triste e quero conscientizar as pessoas disso”, disse em 2018 após ter sido alvo de torcedores racistas do Chelsea – um deles acabou sendo banido para sempre dos jogos dos Blues .

Sterling também protagonizou outro momento emblemático nesta luta de uma vida quando, em campo pela seleção inglesa, desafiou racistas de Montenegro em um jogo fora de casa, em março de 2019, pelas Eliminatórias para a Euro 2020. Os ingleses venceram por 5 a 1, mas o duelo ficou marcado pelas imitações de macacos feitas pelos montenegrinos. Quando o juiz apitou pela última vez, Sterling provocou de volta, segurando as pontas das orelhas em uma imagem que horas depois ganhou a seguinte legenda do jogador: “a melhor maneira de calar os haters (e, sim, eu quero dizer racistas)”.

Como alguém que ao longo de toda a vida conviveu com este tipo de violência, o jamaicano criado desde cedo em Londres não acredita que abandonar os jogos seja a melhor resposta para racistas.

“Se você sai, eles ganham. Pessoalmente eu não concordo em abandonar o campo. Vencer o jogo os machucaria ainda mais”, afirmou.

Só que, mais recentemente, a seleção inglesa se viu obrigada a quase ter que abandonar uma partida. Ciente dos problemas que também teriam na Bulgária , em outro compromisso pelas Eliminatórias da Eurocopa, o técnico Gareth Southgate reuniu-se com seus jogadores para decidir qual tipo de atitude seria tomada em caso dos prováveis abusos raciais que viriam das arquibancadas do estádio búlgaro.

Ficou decidido que os ingleses levariam ao pé da letra o protocolo de ação feito pela UEFA para lidar com a questão. Com 27 minutos, o arbitro precisou interromper o jogo pela primeira vez devido aos cânticos racistas que soavam nas arquibancadas búlgaras – em meio, também, a saudações nazistas de alguns elementos que lá estavam. A Inglaterra já vencia por 3 a 0 quando o duelo foi paralisado mais uma vez.

Na descida para o intervalo, com goleada por 4 a 0, a chance de a partida ser abandonada era real. Entretanto, o time de Southgate voltou ao gramado e finalizou o cotejo em 6 a 0. O placar só não foi tão grande quanto o óbvio recado dado pelos Três Leões : o protocolo da UEFA ainda é brando demais para um problema tão sério. Sério a ponto de ter envergonhado Hristo Stoichkov, maior craque na história do país, que não segurou as lágrimas ao dizer que a seleção búlgara deveria, como punição, passar anos proibida de jogar.

Sterling fez dois gols e deu uma assistência naquela partida, e lamentou pelos búlgaros não-racistas que acabam tendo a imagem manchada por tantos idiotas. Ainda que não fosse sua intenção, transformou-se em um personagem ainda maior.

Sterling não apenas reage: ele planta sementes para serem colhidas futuramente. Uma boa colheita. Na semifinal da FA Cup que seria vencida pelo City, na última temporada, o atacante bancou ingressos para levar mais de 500 crianças carentes ao jogo contra o Brighton.

“Quando tinham jogos eu nunca pude entrar no estádio até eu conseguir um ingresso de graça. Eu vi a final de Copa entre Chelsea e Manchester United e aquilo mudou a minha vida. Eu quis dar a eles a mesma oportunidade”, explicou para a BBC na ocasião.

Um atleta pode virar ídolo pelo que faz profissionalmente, mas quando usa a sua imagem para, de forma verdadeira, passar uma mensagem tão importante como faz Raheem Sterling é inevitável o caminho para se transformar em algo além. Raheem Sterling é um ícone.

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