
Considerando as cinco principais ligas nacionais europeias, a Juventus tem a terceira melhor defesa [sofreu 16 gols, menos apenas do que Barcelona e Atlético de Madrid], sendo que é a que menos permite que os adversários finalizem suas jogadas [65 finalizações na direção dos goleiros].
Mas a infelicidade histórica da Velha Senhora é que a Europa não é a Itália, onde sempre dominou. A ironia é que, se está perto de garantir o sétimo título de Serie A consecutivo [o 34º de sua história], a terceira taça de Champions League não chega. E já são 22 anos de espera, desde 1996.
A charada para vencer uma defesa que conta com Giorgio Chiellini na zaga e Buffon no gol não é fácil, embora seja menos difícil na Champions do que na Serie A. Mas fosse um problema matemático dos mais complexos, Cristiano Ronaldo resolveria com a simplicidade de quem diz que 2+2 são 4.

O português demonstrou isso na primeira finalização do jogo de ida válido pelas quartas de final da Champions League, em Turim: teve inteligência para mudar o ritmo dentro da área oposta, e fugir da marcação em linha para transformar a bela jogada de Isco em assistência. Em três minutos, o maior artilheiro da Champions League jogou um balde de água fria nas aspirações juventinas.
A MUDANÇA NA JUVE
A Juventus entrou em campo escalada em um 4-4-2 cuja grande novidade era a presença de Alex Sandro, lateral-esquerdo de origem, na meia canhota. Se o Real Madrid entrou com o mesmo time [também um 4-4-2] que dez meses atrás goleou a Juve por 4 a 1 na decisão europeia da última temporada, Allegri apostou que poderia levar perigo pelo flanco esquerdo – onde nasceu a jogada do único gol juventino na final de Glasgow. Uma decisão boa, já que não poderia contar com Pjanic, líder em assistências do time.
O PRESENTE DE CRISTIANO RONALDO
GettyObra de arte (Foto: Getty Images)Atrás no placar, a Juve tentou reagir e obrigou Keylor Navas a fazer uma defesa incrível após cabeçada de Higuaín, aos 22 minutos. E só. O Real Madrid chegava menos ao ataque, mas com muito mais perigo. Além do gol de CR7, Kroos ainda acertou a trave na etapa inicial.
Mas foi na metade do segundo tempo que o jogo, pesado pela história dos times na competição, tomou uma proporção histórica. Na entrevista anterior ao confronto, Chiellini disse que era impossível parar Cristiano Ronaldo. É incrível o peso que o português tem no futebol atual, a ponto de deixar assustado um dos melhores zagueiros do mundo.
Pressionado por CR7, Chiellini se atrapalhou com Buffon. Como consequência, o goleiraço italiano precisou fazer grande defesa no desenrolar da jogada, quando Lucas Vásquez recebeu cruzamento de Cristiano e finalizou. Ato contínuo, o luso se posicionou dentro da área para receber o cruzamento de Carvajal na sequência. Confortável e com ótima leitura do espaço dentro da área italiana, acertou a bicicleta histórica.
CARRASCO DE BUFFON, E VAGA QUASE GARANTIDA

Em sua 11ª finalização a gol em jogos contra aquele que é considerado por muitos [inclusive por quem escreve aqui] o melhor goleiro da história, Cristiano fez o seu 9º gol sobre Buffon. O jogo poderia ter até mesmo terminado ali, e de certa forma até foi o que aconteceu. O tempo parou para uma das cenas mais emblemáticas na história da competição: a orgulhosa torcida adversária se rendendo ao talento do craque e aplaudindo o carrasco.

Para a Juventus seria melhor até mesmo que o jogo tivesse terminado, porque CR7 ainda deu o passe para Marcelo fechar o placar em 3 a 0. A mesma diferença de gols da final de Cardiff. Resultado que deixa a missão da Juventus muito difícil para o jogo de volta, na próxima semana, na Espanha – ainda mais sem Dybala, expulso infantilmente.
E que mantém o cenário atual no futebol europeu quando se analisam ambos os times: um parece ter nascido para a Champions League, o outro não consegue levar a dominância que tem em seu país para o continente.




