O fantasma de uma Superliga tem assombrado a UEFA há décadas. Desde que o Real Madrid enfrentou o Napoli na primeira rodada da Copa da Europa, em 1987, foi decidido que era vital para os grandes estar no torneio mais seguro possível, pelo maior tempo possível.
A partir daí, a introdução de um campeonato com o objetivo de garantir mais jogos para os campeões da Alemanha, Espanha e Itália, além de aumentar as chances de disputar uma final de competição, se tornou inevitável. Só que mesmo com a ampliação para a Champions League, em 1992, a ideia de uma Superliga seguiu.
Apenas cinco anos depois, a empresa italiana Media Partners tentou iniciar a Superliga, mas a UEFA decidiu expandir a Champions League e incluir mais equipes no torneio com o objetivo de aumentar o número de jogos, demonstrando oposição à ideia de um novo torneio.
A Associação Europeia de Clubes (ECA) é o órgão responsável por cuidar dos interesses de cerca de 220 times em toda a Europa, mas é conhecida por fazer candidatura para os chamados “superclubes”. Atualmente, quem comanda a entidade é Andrea Agnelli, o também presidente da Juventus que assumiu o cargo no lugar de Karl-Heinz Rummenigge, CEO do Bayern de Munique
Rummenigge não escondeu o fato de querer que o Bayern de Munique e outros grandes clubes possam ter acesso ao mesmo lucro que os times da Premier League têm, o que a Champions ainda não conseguiu igualar em termos de direitos de transmissão.
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(Rummenigge, CEO do Bayern de Munique - Foto: Getty Images)
O CEO também desempenhou um papel importante nas negociações com a presidente da Relevent Sports e com a organizador da International Champions Cup, Charlie Stillitano, durante o período que antecedeu a renovação do memorando de entendimento entre a ECA e a UEFA, uma espécie de acordo bilateral entre a Comunidade Europeia e os seus parceiros que definem as prioridades e os orçamentos indicativos durante um determinado período.
Esse acordo oficializa a participação dos clubes nas principais competições feitas pela UEFA, como a Champions League e a Liga Europa. Vale destacar que o ECA obteve concessões significativas nos últimos períodos de renovação, e ao usarem a Superliga como um “deixa” eles garantiram exatamente o que queriam da UEFA.
Os altos valores envolvendo a Premier League teriam sido um dos principais estimulos da mais recente ameaça de uma ruptura.
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(Charlie Stillitano - Foto: Getty Images)
O principal torneio da Inglaterra se tornou o maior e mais popular campeonato da história do futebol com um alto lucro. E com a recente redistribuição, vale mais para um time terminar entre os últimos da Premier League do que entre os primeiros na Champions.
Ao selecionar os superclubes, a ECA prevê um campeonato parecido com o da NFL, principal liga de futebol americano dos Estados Unidos, no qual os melhores enfrentam os melhores, semana após semana, o que garante altos rendimentos em diversas partes. Frente à possível ameaça, a UEFA mais uma vez cedeu.
Em agosto de 2016, o anúncio de um novo formato de competição para a Champions League representou uma grande reviravolta no cenário europeu. Para as temporadas entres 2018 e 2021, as quatro principais federações nacionais - Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália – vão ter quatro equipes que se classificam automaticamente para as fases de grupos da Champions. As outras 16 vagas vão ser divididas entre os demais países e times.
Entre outras medidas, as equipes que tinham feito boas atuações nas temporadas anteriores, mas que atualmente não passam por um bom momento, como Manchester United e Milan, seriam protegidas por uma espécie de bônus histórico. Um total de 30% do dinheiro da participação da UEFA será atribuído com base em classificações de coeficientes baseados no desempenho de dez anos.
O ECA ganhou mais da UEFA na criação de uma nova empresa subsidiária, a UEFA Club Competitions AS, que agora comanda as competições de clubes. Foi um respiro para a Champions League.
Este compromisso, no entanto, não irá durar muito. A UEFA só conseguiu “chutar” a Superliga para o canto dos gramados, mas como os rumores dos possíveis e-mails vazados, tudo indica que a mesma voltará ao centro das atenções o quanto antes.
Os superclubes querem a garantia de que vão receber uma alta quantia em dinheiro, temporada após temporada, independentemente de inconvenientes derrotas em campo. Para times como Juventus, Bayern e Paris Saint-Germain, a atração principal seria menos partidas contra os clubes de suas próprias ligas
A Superliga pode ainda não existir, mas o “cartel” do torneio são os sete grandes times envolvidos nas negociações anteriores, de acordo com as informações da revista alemã Der Spiegel. Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Bayern de Munique, Juventus, Milan e Arsenal. Agora, junte todos ao Liverpool, Manchester City, PSG e Chelsea e você terá 11 clubes supostamente alinhados para participar de uma nova competição.
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As mudanças feitas pela UEFA para as competições continentais seguem até 2022, quando os clubes voltariam a discutir a criação do campeonato, como relata um e-mail vazado do grupo de investimentos Key Capital Partners.
Essas 11 equipes nunca seriam rebaixadas e se juntariam a mais cinco clubes de convidados.
A esse respeito, os clubes devem ser cuidadosos com o que desejam. Esse ritmo repetitivo das mesmas equipes em alcançarem o mesmo estágio ano após ano, pode causar certa “mesmice” com os fãs.
Sem essas garantias, eles podem já ter iniciado sua própria competição. E se Rummenigge e a ECA realmente já tiverem “levantado as mangas” e iniciado um torneio com Stillitano? Por enquanto, só se pode especular sobre isso. Mas a ameaça é suficiente.